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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

The Martian, de Andy Weir

Me desculpem Arthur C. Clarke, Kim Stanley Robinson, Robet Zubrin, e outros grandes escritores do gênero – gosto muito de vocês, mesmo –, mas esta é a melhor ficção científica hard sobre Marte já escrita! O novato Andy Weir criou um carismático astronauta que está encalhado em Marte; sozinho, sem comunicação com a Terra e que só pode contar com sua engenhosidade, força de vontade e bom humor para vencer o ambiente hostil de um planeta que pode matá-lo de todas as formas imagináveis. Cada detalhe da história, cada reviravolta na trama e cada solução encontrada está firmemente baseada na realidade. Esta com certeza será uma leitura obrigatória para todos os técnicos, engenheiros e astronautas que estarão envolvidos nas futuras missões tripuladas à Marte.

Andy Weir
O autor Andy Weir é um programador que criou a história despretensiosamente, liberando periodicamente os capítulos em sua página na internet. Depois de vários pedidos de seus leitores ele publicou um ebook na Amazon através da plataforma Kindle Direct Publishing. O ebook foi um sucesso e rapidamente vendeu dezenas de milhares de cópias. Weir foi procurado então por um agente de uma grande editora dos Estados Unidos que republicou o livro de forma profissional nos formatos impresso e digital, e este chegou ao topo da lista dos livros mais vendidos de ficção científica da Amazon, chegando até mesmo a figurar na lista dos mais vendidos do jornal New York Times. Os direitos foram comprados para uma adaptação cinematográfica que está sendo produzida diretor Ridley Scott, com Matt Damon no papel principal. A previsão de estreia é para novembro de 2015.

Capa da edição brasileira
Na história o botânico e engenheiro Mark Watney é um astronauta da terceira missão tripulada à Marte, que é abortada após uma colossal tempestade de areia que destrói a antena de comunicação do módulo de habitação e atravessa um pedaço de metal em seu corpo. Seus companheiros decolam às pressas achando que ele está morto, e ele fica ferido, com suprimentos limitados e sem ter como se comunicar com a Terra para avisar que está vivo, em um ambiente totalmente hostil à qualquer forma de vida. Marte tem uma temperatura de dezenas de graus abaixo de zero, atmosfera equivalente a menos de 1% da atmosfera terrestre (quase vácuo) e com água quase inexistente; o planeta é mais gelado que a Antártida e mais seco que o deserto mais estéril aqui da Terra; qualquer ser vivo exposto à estas condições morreria instantaneamente fora de um ambiente pressurizado. Mesmo contra todos estes obstáculos, Mark Watney não desiste e segue em uma obstinada luta pela sobrevivência.

Sua única esperança é sobreviver até a chegada da próxima missão tripulada, prevista para chegar quase quatro anos depois. Ele então contabiliza minuciosamente seus suprimentos, como água, alimentos, etc e traça um plano para viver até lá. Cada obstáculo apresentado pelo planeta vermelho é superado com soluções bem engenhosas, como sua ideia de criar uma plantação no módulo de habitação utilizando uma mistura de solo terrestre, solo marciano e suas próprias fezes, que servem como adubo para cultivar batatas e estender seu suprimento de alimentos – apesar do cheiro horrível!  Eventualmente a Nasa descobre que ele está vivo ao detectar suas atividades na superfície, e um ousado plano é iniciado para trazê-lo de volta. Mas Marte é muito mais perigoso que Watney e os cientistas da Nasa imaginam, e muitos imprevistos mortais surgirão.

O livro é de tirar o fôlego. Mark Watney é como um MacGyver do espaço, adaptando o que tem à sua disposição para inventar uma solução criativa para cada desafio que Marte o faz encarar. A história tem muito suspense a cada página; o azarado astronauta tem que lutar o tempo todo para sobreviver aos perigos do planeta e às falhas nos equipamentos em momentos cruciais. Cada solução é genial e firmemente calcada na realidade; as descrições da missão e seus equipamentos são impressionantes. Com o sucesso das primeiras versões do livro, Andy Weir recebeu sugestões de alguns cientistas e técnicos que o ajudaram a corrigir algumas falhas técnicas na história.

A história lembra muito o épica resgate dos astronautas da Apollo 13 na década de 70, quando parte desta nave foi danificada em uma explosão quando viajava à Lua. Nesta história real a tripulação, engenheiros e técnicos da Nasa somaram forças e também criaram soluções engenhosas para trazer todos vivos para a Terra, em um evento que causou comoção mundial.

O livro foi traduzido para o português e lançado pela editora Arqueiro em outubro deste ano com o horroroso título “Perdido em Marte”. A capa é a mesma da edição americana. Torço outros livros do gênero como Red Mars, de Kim Stanley Robinson, ou First Landing, de Robert Zubrin, também sejam lançados por aqui.

Não perca por nada este livro!


Website do autor:

Página onde o autor comenta a criação do Livro:

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Neymar vale mais que um professor?

Na verdade ele vale mais que mil professores, se usarmos como parâmetro os ganhos dele e os compararmos com os de um professor da rede estadual de ensino do estado do Rio de Janeiro, por exemplo. Absurdo? Não, afinal o esporte em que ele é o mais valioso craque brasileiro da atualidade movimenta bilhões todos os anos. Por que? Porque eu, você, dezenas de milhões de pessoas no Brasil e centenas de milhões de pessoas ao redor no mundo adotam um time/seleção do coração e vamos aos estádios assistir e torcer por nossa equipe ou assistimos as partidas pela televisão – e também ao marketing de centenas de marcas e produtos –, compramos camisas e outros produtos, pagamos o jornal somente para ler o caderno de esportes, clicamos naquela notícia sobre futebol da internet, visitamos o blog daquele comentarista de futebol, conversamos e discutimos com os amigos e às vezes chegamos até as vias de fato! Seja no bar, no trabalho, na rua, na festa; na fila do banco, barbeiro, restaurante, médico, metrô, trem ou ônibus; dedicamos muito de nosso tempo para falar de futebol. O Neymar vale mais que mil professores do Brasil porque nós – eu, você e uns 200 milhões de brasileiros – valorizamos mais o futebol do que a escola; valorizamos mais o entretenimento que o conhecimento.

Tempo é realmente dinheiro e na disputa pelo nosso aqui no Brasil, o futebol ganha de goleada – é difícil até se comunicar sem uma analogia fulebolística! Sentimos tanto orgulho da seleção brasileira, que já ganhou 5 vezes a Copa do Mundo de Futebol, e dos nossos times de futebol, que já ganharam 17 vezes a Copa Libertadores da América e 10 vezes a Copa Intercontinental e o Campeonato Mundial de Clubes, entre tantas outras competições internacionais; mas nunca um brasileiro ganhou um Prêmio Nobel ou Oscar, nosso número de patentes registradas é irrisório e no ranking das melhores universidades do mundo, não temos nenhuma nem entre as cem primeiras, apesar de sermos a 7ª maior economia do planeta. Jogadores profissionais de futebol são milionários, moram em mansões e desfilam pelas ruas com carros de luxo, além de namorar atrizes, modelos e algumas das mulheres mais lindas e desejadas do momento que nos são apresentadas pela grande mídia. Em dias de jogos da Copa do Mundo ou finais de campeonatos, as ruas ficam desertas e feriados são decretados informalmente – e até oficialmente. O sonho de uma criança crescendo nesta sociedade certamente não será o de se tornar um grande cientista ou um grande escritor; e o professor certamente não será o profissional mais valorizado e admirado.

E o pior é que como vivemos em uma democracia e em uma sociedade democrática a vontade do povo tem que ser respeitada (para bem ou para o mal), bilhões de reais (públicos e privados) são gastos na construção de estádios e na criação e manutenção de uma enorme estrutura de transporte público, segurança e atendimento ao torcedor. Dinheiro jogado fora? Não, pois tudo isto é investimento, e o retorno aos cofres públicos – e às contas bancárias de entidades privadas – é alto, afinal, futebol no Brasil dá dinheiro, muito dinheiro. Não vamos jogar no governo nossa culpa pelo futebol ser um esporte tão popular e rentável. Se as Olimpíadas Internacionais de Astronomia movessem multidões e despertassem tanta paixão no Brasil, muitos e muitos bilhões seriam investidos nesta área em nosso país, alguns dos melhores astrônomos seriam brasileiros e teríamos o maior telescópio do mundo na cidade do Rio de Janeiro, que se chamaria “Grande Telescópio Maracanã”.


Cabe ao governo mudar esta situação? Sim, mas e nós, também não? O governo não é o pai dos nossos filhos, não liga e sintoniza nossas TVs, não escolhe os livros, jornais e websites que lemos, nem administra nossas agendas e rendas familiares. Se você não consegue fazer estas coisas direito sozinho e deseja que alguém o faça por você, sinto muito informar mas você é um idiota e provavelmente morrerá um idiota; se a grande massa é igual a você e também não consegue... então, pobres gerações futuras, que continuarão a viver em uma sociedade em que um jogador de futebol vale muito mais que um professor.

terça-feira, 13 de maio de 2014

A Estação Espacial Internacional e a vista do planeta Terra ao vivo

Vista da Terra no ISS HD Earth Viewing Experiment
No dia 30 de abril de 2014 foram instaladas 4 câmeras de vídeo na Estação Espacial Internacional, que podem ser acessadas gratuitamente através de streaming e possibilitam observar a Terra em tempo real do espaço no  ISS HD Earth Viewing Experiment. Esta iniciativa tem o objetivo de avaliar o desgaste sofrido por equipamentos eletrônicos no ambiente espacial, além de testar novas tecnologias para gravação de vídeos no espaço para futuras missões. Você pode ver as imagens ao vivo no website da USTREAM clicando no link abaixo:


Caso a imagem mostrada seja uma tela negra, significa que a Estação está no lado escuro da Terra e passando por uma zona desabitada; se a tela está cinza, está acontecendo uma troca entre as câmeras. A estação está em uma altitude média de 360 Km e completa uma volta ao redor do planeta a cada 90 minutos com uma velocidade aproximada de 27.000 Km/h.

Estação Espacial Internacional


A Estação Espacial Internacional é a maior estrutura já construída pelo homem no espaço, e pode ser vista até a olho nu! Para saber a posição da Estação e o dia em que ela pode ser vista de sua localidade, acesse o link abaixo do website da NASA e selecione seu país e a cidade mais próxima:




Módulo Zaria
A Estação Espacial Internacional é um laboratório orbital que foi construído através da colaboração entre 16 países (incluindo o Brasil!) a um custo de mais de 100 bilhões de dólares. Seus módulos foram construídos em terra pela Agência Espacial americana (NASA), Agência Espacial Russa (ROSKOSMOS), Agência Espacial Europeia (ESA), Agência Espacial Canadense (CSA/ASC) e Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa (JAXA); e lançados ao espaço em foguetes russos e ônibus espaciais americanos.

A primeira missão de montagem foi em 20 de novembro de 1998 com a ISS Assembly Mission 1 A/R, quando um foguete russo Proton-K lançou o módulo de controle Zaria, responsável por fornecer energia elétrica através de baterias e pelo armazenamento de combustível. Em 24 de fevereiro de 2014 – após treze anos e quarenta lançamentos de foguetes russos e ônibus espaciais americanos – a ISS Assembly Mission ULF5 realizada pelo ônibus espacial Discovery instalou os módulos Leonardo e EXPRESS Carrier 4 e finalizou a Estação. Apesar de sua conclusão oficial em 2011, ainda há projetos para a instalação de mais módulos e a realização de várias melhorias na estação, que ficaram um pouco atrasados agora por causa da crise na economia internacional e a redução dos investimentos no espaço. Com a atual tensão entre a Rússia e os países da União Europeia e Estados Unidos por causa dos conflitos na Ucrânia, talvez estas melhorias estarão ainda mais longe no futuro.

Atual configuração da Estação Espacial Internacional:



Desde o ano 2000 ela é permanentemente tripulada com um mínimo de dois e um máximo de seis astronautas, que realizaram milhares de experimentos em áreas diversas como medicina, engenharia, astronomia, geologia, biologia, eletrônica, entre outras. Estas pesquisas possibilitaram o desenvolvimento de novas tecnologias que, segundo especialistas, possibilitaram um retorno estimado de seis vezes o valor investido na construção da estação. Apesar de todo este sucesso, muitos criticam a opção pelo projeto da Estação Espacial em detrimento de uma missão tripulada à Marte ou a construção de novos telescópios orbitais e o desenvolvimento de mais missões não tripuladas ao Sistema Solar, projetos que segundo os críticos trariam muito mais retorno científico.

O astronauta brasileiro Marcos Pontes
O Brasil tinha um acordo com a NASA desde o ano de 1996 e foi um dos países que assinaram o acordo de cooperação para a construção da Estação Espacial Internacional, e seria o responsável pela construção do módulo EXPRESS (clique aqui) e de vários outros equipamentos, em um investimento estimado de 120 milhões de dólares. Nessa época o Capitão da Força Aérea Brasileira Marcos Pontes foi o escolhido para ser o primeiro astronauta brasileiro e realizou treinamento na NASA para tripular um ônibus espacial, mas o acidente com o Columbia, que matou sete astronautas, atrasou os planos. Ele foi mandado então para a Rússia, onde treinou pela Agência Espacial ROSKOSMOS e acabou tripulando uma nave Soyuz em 2006 na “Missão Centenário”, que comemorou os 100 anos do voo de Santos Dumont no 14 Bis. Após sucessivos atrasos na liberação de verbas e no pagamento das empresas desenvolvedoras, e a opção em ir para o espaço com os russos, o país foi cortado do consórcio em 2007 pela NASA e suas associadas, sem conseguir cumprir com sua parte no acordo. Hoje a bandeira do Brasil não figura mais entre as dos países membros do projeto.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Viés de Confirmação

Viés de confirmação é a tendência que todos nós temos em levar em consideração apenas as informações que estão de acordo com nossas crenças. Seja quando lemos um livro, notícia no jornal, internet ou revista; assistimos a uma notícia no telejornal, um filme, aula, ou mesmo numa conversa entre amigos; inconscientemente absorvemos aquelas informações que fortalecem nossas crenças e rejeitamos aquelas que vão de encontro a elas, independentemente das evidências, das provas, do senso comum, e muitas vezes, até mesmo do bom senso. É a interpretação seletiva e tendenciosa da realidade de acordo com nossos desejos mais íntimos e crenças mais arraigadas. Todos agimos assim - em menor ou maior grau.

O viés de confirmação é o pai de todas as crenças.

Até hoje existem aqueles que acreditam em criacionismo, deuses astronautas, curas quânticas, telepatia, telecinese, milagres, astrologia e mais uma infinidade de ideias sem base na realidade. Estas crenças se tornam ainda mais fortes se aqueles que creem são confrontados com provas de que aquilo em que acreditam não tem fundamento, por mais sólidas que as evidências sejam. Elas se fecham naquilo em que acreditam e nada as dissuadirá do contrário. Rebaterão com todas as controvérsias e lacunas no conhecimento que porventura existam sobre o assunto em questão - por mais bem estabelecido que seja - mas nunca colocarão em questão suas crenças - por mais absurdas que sejam. Paradoxalmente nos aconselharão a “abrir a mente” e “buscar o conhecimento”, mas nunca admitirão que se questionem suas crenças.

Há diferenças insuperáveis entre o “conhecimento” e a “crença”: o primeiro tem a ver com a razão, a realidade e a avaliação criteriosa das evidências; a segunda tem a ver com nossas emoções e com aquilo que desejamos que seja verdade, independentemente das contradições e das evidências. O conhecimento é o filho da razão e a crença é filha de nossos desejos e temores. O conhecimento é amigo das provas e das evidências: admite falhas, muda e assim se fortalece; a crença só admite o que convém e lhe reforça. Algumas vezes a verdade é contraintuitiva e as relações de causa e efeito nem sempre são evidentes, mas a natureza nunca mente. Ela é o juiz supremo de todos os litígios do conhecimento.


Uma maneira bem segura de saber se algo em que acreditamos está sendo influenciado viés de confirmação é saber o que a ciência e os especialistas dizem sobre o assunto. A ciência não é perfeita, mas teorias científicas são permanentemente revisadas e se autocorrigem, impedindo os efeitos nocivos do viés de confirmação. Se a ciência vai de encontro com o que pensamos, devemos entrar em alerta. Ela é e sempre será nossa melhor guia na busca do conhecimento.

"As pessoas quase sempre encontram o que estão esperando encontrar
se deixam suas expectativas guiarem suas buscas." Bart Ehrman

sexta-feira, 7 de março de 2014

O Maior de Todos os Mistérios, de Miguel Nicolelis e Giselda Laporta Nicolelis


O Maior de Todos os Mistérios (Claroenigma, 2014) é um livro de divulgação científica infanto-juvenil escrito pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis em parceria com sua mãe, a escritora Giselda Laporta Nicolelis, e ilustrado por Nik Neves. O livro adapta para as crianças e adolescentes os assuntos tratados no livro Muito Além do Nosso Eu (resenha deste blog aqui), em que Nicolelis fala sobre as últimas descobertas sobre o cérebro humano e suas pesquisas sobre interfaces cérebro-máquina. 

Miguel Nicolelis talvez seja o maior cientista brasileiro vivo e neste livro ele faz o que todos os cientistas deveriam fazer, que é defender o método científico e falar da importância de suas pesquisas para o grande público. Em países desenvolvidos é imensa a quantidade de livros de divulgação científica para o público leigo, que desempenham o papel fundamental de chamar a atenção da população para a importância da ciência e dos investimentos em pesquisa. Em tempos onde o misticismo, as superstições e as pseudociências estão em alta e a ciência e o pensamento racional são cada vez mais ignorados no mundo todo, o lançamento deste livro vem em boa hora. Principalmente se levarmos em conta que ele foi escrito para os mais jovens, que ainda não foram contaminados pelo monte de baboseiras que vemos por aí, e que o livro foi publicado no Brasil por um cientista brasileiro de renome internacional.

Miguel Nicolelis
Nas 112 páginas do livro estão as mesmas questões presentes nas 552 páginas de Muito Além do Nosso Eu. Um pouco da história da neurociência, como funcionam os neurônios, como são formados os pensamentos e as memórias, como o cérebro comanda todas as funções vitais de nossos corpos, e, o mais interessante, como a neurociência revolucionará nossa comunicação com as máquinas possibilitando coisas fantásticas como controlar computadores remotamente, transmissão de pensamentos e sentimentos, controle de próteses robóticas, e até a construção de uma grande rede de cérebros interligados eletronicamente.

Giselda Laporta Nicolelis
São apresentadas também as experiências que Nicolelis realizou na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, em que macacos controlam robôs através de sinais emitidos pelo cérebro destes animais. Durante a abertura da Copa do Mundo de Futebol, que será realizada em junho deste ano no Brasil, será realizada uma ambiciosa demonstração desta tecnologia, quando uma pessoa paraplégica levantará de uma cadeira de rodas usando um exoesqueleto controlado pelo cérebro e dará o pontapé inicial no jogo da seleção brasileira.

Nik Neves
A coautora Giselda Laporta Nicolelis é escritora de livros infanto-juvenis que já recebeu diversos prêmios, incluindo o cobiçado Prêmio Jabuti. A ela coube adaptar para as crianças e adolescentes de uma forma divertida e didática as últimas descobertas no campo da pesquisa do cérebro humano. O texto é enriquecido pelas ilustrações de Nik Neves, artista que já trabalhou para diversas revistas no Brasil e no exterior e foi considerado um dos dez melhores ilustradores da América Latina pelo American Illustration. Seus desenhos não são meros enfeites, pois sempre ilustram de forma perfeita as ideias presentes no texto.


Excelente livro de divulgação científica que também será de grande valia para os adultos interessados em saber um pouco mais sobre a coisa mais fantástica criada pela natureza, que é o cérebro humano. O maior de todos os mistérios do título, que aos poucos vai sendo desvendado pela melhor de todas as ferramentas criadas por este mesmo cérebro: o método científico.




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

The Mars Underground

The Mars Underground é um documentário sobre a possibilidade de futuras missões tripuladas ao planeta Marte utilizando o Mars Direct, criado pelo engenheiro aeroespacial Robert Zubrin. O vídeo questiona os motivos de missões tripuladas à Marte ainda não terem acontecido, discute a necessidade da exploração e colonização humana do planeta vermelho e sua importância para o futuro da humanidade. Outro assunto discutido no documentário é a atual estagnação do programa espacial americano. Após o sucesso total do Programa Apollo, que colocou os primeiros seres humanos na Lua, a NASA optou pelo desenvolvimento dos ônibus espaciais e a construção da Estação Espacial Internacional, em detrimento de uma missão tripulada à Marte.

Planeta Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar e fica distante entre 206 e 249 milhões de quilômetros do Sol, bem mais afastado que a Terra, que fica entre 147 e 152 milhões de quilômetros. Ele possui 6.792 Km de diâmetro, pouco mais da metade do diâmetro da Terra, que tem 12.756,2 Km. A atmosfera é constituída em cerca de 95% por dióxido de carbono, mas a pressão atmosférica equivale a menos de 1% da terrestre, com temperaturas baixíssimas de até -143 0C, mas que podem chegar acima de 20 0C durante o verão equatorial. Ele possui um dia de 24 horas e 40 minutos, quase o mesmo que o dia terrestre. Apesar da atmosfera extremamente rarefeita e das baixas temperaturas, é o local mais parecido com a Terra em todo o Sistema Solar e possui uma área de terra firme maior que a de nosso planeta, pelo fato de não possuir oceanos. Devido a todas essas características, Marte tem o melhor potencial para se tornar o segundo lar dos seres humanos. Robert Zubrin argumenta que com a tecnologia atual, uma missão tripulada poderia ser desenvolvida num prazo de 10 anos, caso houvesse recursos financeiros e vontade política.

Robert Zubrin
Robert Zubrin faz duras críticas à NASA, que segundo ele, estaria sem rumo desde os últimos pousos na Lua no início dos anos 70. Após o Programa Apollo, ao invés de investir em uma missão à Marte, a opção pelo desenvolvimento dos Ônibus Espaciais e posteriormente a construção da Estação Espacial Internacional, e desde então nenhum ser humano deixou a órbita baixa terrestre nas últimas 4 décadas. Em 1989, durante o governo Bush, houve uma tentativa de se criar um programa espacial que levaria o homem à Marte, que resultou em um projeto orçado em 450 bilhões de dólares e que envolvia a construção de uma gigantesca estação espacial, instalações industriais na Lua e a montagem de uma enorme nave com propulsão nuclear que faria uma viagem de ida e volta ao planeta vermelho com a previsão de apenas alguns dias de estada na superfície. Este projeto foi imediatamente rejeitado pelo congresso americano devido ao seu custo astronômico.

Ônibus Espacial
Após a rejeição do projeto, Robert Zubrin e alguns colaboradores que trabalhavam na empresa Martin Marietta Astronautics (atual Lookhed Martin) desenvolveram um projeto de missão que ficou conhecido como Mars Direct, cuja filosofia era viajar leve, rápido e barato. Diferentemente da gigantesca nave nuclear prevista no plano proposto durante a administração do presidente Bush, uma nave pequena aproveitaria o melhor alinhamento entre a Terra e Marte viajando apenas com o combustível de ida. Um módulo lançado previamente produziria o combustível da viagem de retorno utilizando como matéria prima a própria atmosfera marciana na superfície. Como mais de 90% do peso de um foguete é o seu combustível, o peso da nave seria bem menor, ela poderia viajar mais rápido e o seu custo seria bem mais baixo. A tripulação ficaria um ano e meio explorando a superfície e por fim aproveitaria o melhor alinhamento entre os planetas para realizar a viagem de retorno.

Estação Espacial Internacional
Zubrin faz uma defesa apaixonada da exploração humana de Marte e sua colonização, como forma de se criar um novo e dinâmico ramo da civilização, que poderia trazer benefícios para toda a humanidade. Além das novas tecnologias para o dia a dia que surgiriam no desenvolvimento da missão, se criaria um capital incalculável através da inspiração dos mais jovens a se tornarem engenheiros e cientistas, que desenvolveriam as novas tecnologias a serem utilizadas pelas futuras gerações. Além disso, aqueles que realizassem tais missões gravariam eternamente seus nomes como heróis na história da humanidade. Outra ideia, esta mais especulativa, seria a possibilidade de “terraformar” Marte, tornando o planeta mais parecido com Terra e habitável para os seres humanos.

Excelente documentário. Inspirador na forma como mostra que o futuro pode ser belo e vibrante se investirmos agora em grandes projetos para o bem das gerações futuras. Como citado no documentário, daqui a alguns séculos ninguém saberá quais eram as crises econômicas, as disputas políticas e as guerras da década de 60, mas todos se lembrarão dos primeiros passos do homem na Lua. Muita gente acha que investimentos em ciência e exploração são gastos desnecessários que poderiam ser usados melhor na solução dos problemas atuais da humanidade. Mas as soluções dos problemas atuais virão do futuro, e o futuro tem que ser construído no presente, e envolve novas tecnologias e a distribuição e o aperfeiçoamento das que já existem.



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Zen Pencils

Zen Pencils é um fantástico blog criado pelo cartunista australiano Gavin Aung Than que adapta para tiras em quadrinhos algumas citações de grandes nomes da literatura, quadrinhos, ciência, poesia, história, política, entre outros. O Site foi criado no ano de 2012 após Gavin pedir demissão de seu trabalho como designer gráfico, onde atuou por 8 anos, para se dedicar à sua verdadeira paixão que é desenhar cartoons. São tirinhas com mensagens edificantes sobre o sentido da vida, a beleza do universo, e, principalmente, ir em busca de seus sonhos. Há várias delas já traduzidas para o português.



Gavin Aung Than


Endereço do blog (em inglês):

Em português:


Algumas Tiras:




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

The Voices of a Distant Star, de Makoto Shinkai e Mizu Sahara

The Voices of a Distant Star (Hoshi No Koe, Panini Comics/Planet Manga, 2010) é um mangá escrito pelo japonês Makoto Shinkai e desenhado por Mizu Sahara. Apesar do nome em inglês, que significa “Vozes de uma estrela distante”, este mangá foi publicado em português pela Panini Comics/Planet Manga no Brasil. Diferentemente das centenas de volumes de outros mangás, este tem apenas dez capítulos em um volume único de 244 páginas. A história se passa no ano de 2047 e conta a história de um casal de jovens amigos, Mikako Nagamine e Noboru Terao, separados devido a uma guerra entre a humanidade e alienígenas conhecidos como Tharsians. Os dois são apenas adolescentes na escola quando Mikako é convocada para lutar na guerra contra os Tharsians como piloto de um Tracer, que é um gigantesco robô de combate. Enquanto Noburu continua seus estudos na Terra, Mikako inicia seu treinamento em Marte e depois viaja à bordo da nave de guerra Lysithea para Júpiter, Nuvem de Oort, e, por fim, a guerra em um planeta da estrela Sirius, distante 8,6 anos-luz do Sol.

Voices of a Distant Star (anime)
Os dois se comunicam por mensagens de texto enviadas através de telefone celular, que demoram cada vez mais a chegar conforme Mikako vai se afastando do Sistema Solar, primeiro alguns minutos, depois horas, meses, até 8 anos quando ela está na guerra em Sirius. Isto ocorre por que a velocidade da luz no vácuo é de cerca de 300.000 Km/h, e como as transmissões são feitas por ondas de rádio que viajam nesta velocidade, há um atraso devido à distância em que os dois se encontram, que é de dezenas de milhões de quilômetros entre a Terra e Marte, quase um bilhão até Júpiter, dezenas de bilhões de quilômetros até a nuvem de Oort e dezenas de trilhões de quilômetros até Sirius.

A história não é bem uma ficção científica hard, nem uma Space Opera, mas uma bela história de amor que faz um bom uso dos efeitos da dilatação temporal prevista na teoria da relatividade. Segundo esta teoria, confirmada por inúmeros experimentos e observações, o tempo passaria mais devagar para alguém viajando em uma nave viajando próximo à velocidade da luz do que para alguém que ficasse na Terra. Por este motivo, enquanto Noburu envelhecia na Terra, Mikako permaneceu com praticamente a mesma idade à bordo da nave Lysithea. É uma história belíssima sobre a amizade, o primeiro amor e a dor da separação. Contada com muita sensibilidade, é uma história de um amor e amizade que apesar das vastas distâncias no espaço-tempo, não morre nunca.

Eu tenho saudade de várias coisas.
Das nuvens de verão e da chuva gelada.
Do aroma do vento de outono e da maciez da terra na primavera.
Da sensação de conforto ao encontrar uma loja de conveniência aberta no meio da noite.
Do ar fresco no caminho de volta para casa depois da aula.
Do cheiro do apagador do quadro negro.
Eu sempre quis partilhar essas sensações com você.


Infelizmente a edição brasileira da Panini está esgotada, mas para quem estiver interessado em adquirir um exemplar, poderá encomendar um na loja virtual Comix por apenas R$ 19,90 mais o valor do frete. Também há um anime, que pode ser encontrado facilmente no Youtube.







quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Carolyn Porco nos leva a Saturno

Carolyn Porco
Esta é a transcrição da palestra para o TED da cientista planetária Carolyn Porco, que trabalha para a NASA na missão Cassini-Huygens. Ela fala um pouco sobre a história da exploração do espaço e sobre algumas das descobertas realizadas pela sonda Cassini, que chegou em Saturno no ano de 2004 e até hoje orbita o planeta, e da Huygens, que em janeiro de 2005 pousou na lua Titã. Esta gigantesca lua possui uma densa atmosfera que acredita-se ser parecida com a atmosfera da Terra há bilhões de anos atrás, e possui imensos lagos de metano líquido nos pólos. Ficamos sabendo ainda das incríveis descobertas realizadas na lua Encélado, que se mostrou um dos locais mais interessantes do Sistema Solar para a busca de vida fora da Terra. Esta pequena lua possui um oceano subterrâneo de água líquida e gêiseres que expelem vapor a centenas de quilômetros no espaço.

Gêiseres em Encélado

Titã atrás dos anéis de Saturno

Imagens de radar de alguns lagos e rios de metano em Titã




Para ver o vídeo legendado clique aqui e em Show transcript acione as legendas Portuguese, Brazilian.  


Carolyn Porco nos leva a Saturno
Durante os próximos 18 minutos, eu os levarei em uma jornada. E é uma jornada em que eu e vocês estivemos por muitos anos agora, e ela começou a aproximadamente 50 anos atrás, quando humanos pela primeira vez deram um passo para fora de nosso planeta. E nesses 50 anos, não apenas nós literalmente, fisicamente pisamos na Lua, mas também lançamos sondas robóticas para todos os planetas -- todos os oito -- e aterrissamos em asteroides, fizemos contato com cometas, e neste exato momento, temos uma nave em seu caminho para Plutão, o corpo celeste previamente conhecido como um planeta. E todas essas missões robóticas são parte de uma jornada humana maior: uma viagem para entender algo, para termos uma noção do nosso lugar no cosmos, para entender algo de nossas origens, e como a Terra, nosso planeta, e nós, vivendo nela, surgimos.
E de todos os lugares no sistema solar aos quais nós podemos ir procurar respostas para perguntas como essas, há Saturno. E nós já estivemos em Saturno antes -- nós o visitamos no início dos anos 80 -- mas nossas investigações de Saturno tornaram-se muito mais profundas e detalhadas desde que a sonda Cassini, viajando através do espaço interplanetário por sete anos, planou para órbita em Saturno no verão de 2004, e tornou-se naquele momento o mais distante posto robótico que a humanidade já estabeleceu em torno do Sol.
Saturno é um sistema planetário muito rico. Ele oferece mistério, conhecimento científico e, obviamente, um esplendor sem igual. E a investigação desse sistema oferece um enorme entendimento cósmico. Na verdade, estudando apenas os seus anéis, aprendemos muito sobre os discos de estrelas e gás que nós chamamos de galáxias espirais. E aqui está uma bela imagem da Nebulosa de Andrômeda, que é a maior e mais próxima galáxia da Via Láctea. E eis uma bela imagem composta da Galáxia do Rodamoinho, tirada pelo telescópio espacial Hubble.
Então essa viagem de volta para Saturno é na verdade parte de -- e também uma metáfora para -- uma jornada humana muito maior para entender as inter-conexões de tudo o que nos cerca, e também onde os humanos se encaixam nisso. E é uma pena que eu não possa lhes dizer tudo o que aprendemos com a Cassini -- eu não posso lhes mostrar todas as belíssimas fotos que tiramos nos últimos 2 anos e meio, porque eu simplesmente não tenho esse tempo. Então eu vou me concentrar em duas das histórias mais interessantes que emergiram dessa grande expedição exploratória que estamos conduzindo em torno de Saturno, e em que estivemos nos últimos 2 anos e meio.
Saturno é acompanhado por uma grande e diversa coleção de luas. Elas variam de tamanho de poucos quilômetros até o tamanho dos EUA. A maioria das fotos que tiramos de Saturno, na verdade, mostram Saturno acompanhado de algumas de suas luas. Aqui está Saturno com Dione, e aqui está Saturno mostrando os anéis em pefil, mostrando o quanto eles são finos verticalmente, com a lua Encélado. Duas das 47 luas de Saturno são especiais.
Elas são Titã e Encélado. Titã é a maior lua de Saturno, e até Cassini chegar lá, era a maior área única de terreno inexplorado que tínhamos em nosso sistema solar. E é um corpo que há muito tem intrigado pessoas que observam os planetas. Ela tem uma grande e espessa atmosfera, e, na verdade, acreditava-se que o ambiente de sua superfície fosse mais semelhante ao ambiente que temos aqui na Terra, ou ao menos que tivemos no passado, do que qualquer outro corpo no sistema solar. Sua atmosfera é predominantemente de nitrogênio molecular, como o que vocês estão respirando aqui nesta sala, exceto que sua atmosfera é impregnada de substâncias orgânicas simples como metano, propano e etano. E essas moléculas no alto da atmosfera de Titã são quebradas, e seus produtos se combinam para formar partículas de névoa. Essa névoa é onipresente, global e envolve Titã por completo. E é por isso que não podemos observar a superfície com nossos olhos, utilizando a região visível do espectro.
Mas essas partículas de névoa, se conjecturou, antes de chegarmos lá com Cassini, no decorrer de bilhões e bilhões de anos lentamente se depositaram e cobriram a superfície na forma de um espesso lodo orgânico. O que seria o equivalente, em Titã, ao alcatrão, ou petróleo -- nós não sabíamos o quê. Mas isso é o que nós suspeitávamos. E essas moléculas, especialmente o metano e o etano, podem ser líquidos à temperatura da superfície de Titã. E então acontece que o metano é para Titã o que a água é para a Terra. Ele se condensa na atmosfera, e ao se reconhecer essa circunstância abre-se um mundo de possibilidades bizarras. Podemos ter nuvens de metano, Ok, e acima dessas nuvens existem dezenas de quilômetros de névoa que impedem que qualquer raio solar chegue à superfície. A temperatura na superfície é de aproximadamente 210 ºC abaixo de zero.
Mas apesar desse frio, poderia haver chuva caindo na superfície de Titã. E fazendo em Titã o que a chuva faz na Terra, ela escava ravinas, forma rios e cataratas. Pode criar cânions, acumular-se em grandes bacias e crateras. Ela pode arrastar o lodo do alto de montanhas e colinas para planícies. Então pare e pense por um minuto. Tente imaginar o que a superfície de Titã pode parecer. É escuro -- a noite em Titã é tão escura quanto o crepúsculo subterrâneo na Terra É frio, é sombrio, é nebuloso, pode estar chovendo, e você pode estar às margens do Lago Michigan completamente preenchido com thinner.
Esta era a visão que nós tínhamos da superfície de Titã antes de chegarmos lá com Cassini, e eu posso lhes dizer que o que encontramos em Titã, embora não seja o mesmo em detalhe, é tão fascinante quanto essa história. E para nós tem sido como -- para o pessoal da Cassini tem sido como uma verdadeira aventura de Júlio Verne. Como eu disse, ela tem uma espessa e extensa atmosfera. Essa é uma imagem de Titã contra o Sol, com os anéis formando um belo plano de fundo. E mais uma lua ali -- eu nem mesmo sei qual é. É uma atmosfera muito extensa. Nós temos instrumentos na Cassini que podem observar a superfície através da atmosfera, e meu sistema de câmeras é um deles. E nós tiramos fotos como essa. E o que você vê são regiões claras e escuras, e isso é até onde nós podemos chegar. Foi tão mistificante -- nós não conseguíamos entender o que estávamos vendo em Titã. Quando você olha mais próximo para esta região, você começa a ver coisas como canais sinuosos, nós não sabíamos. Você vê algumas coisas redondas. Isso, nós descobrimos mais tarde, é na verdade uma cratera, mas existem muito poucas crateras na superfície de Titã, significando que essa é uma superfície muito jovem. E existem alguns artefatos que parecem ser tectônicos. Parecem que eles foram separados. Sempre que você vê algo linear num planeta, quer dizer que houve uma fratura, como uma falha. Então, foi tectonicamente alterado.
Mas nós não conseguíamos achar sentido em nossas imagens, até seis meses depois de entrar em órbita, ocorreu um evento que muitos consideraram o auge da investigação de Titã pela Cassini. E isso foi o lançamento da sonda Huygens, a sonda espacial Huygens, construída na Europa, que Cassini carregou durante sete anos através do sistema solar. Nós a lançamos na atmosfera de Titã, e ela levou duas horas e meia para descer, aterrissando na superfície. E eu só gostaria de enfatizar o quão significante é esse evento. Esse é um dispositivo fabricado por humanos, e ele aterrissou no sistema solar externo pela primeira vez na história da humanidade. Isso é tão significante que, na minha cabeça, esse foi um evento que deveria ter sido celebrado com grandes paradas em todas as cidades através dos EUA e Europa, e infelizmente esse não foi o caso. (Risos)
E foi significante por outra razão. Essa foi uma missão internacional, e essa evento foi celebrado na Europa, na Alemanha, e as apresentações celebratórias foram dadas em sotaques ingleses, sotaques americanos, sotaques alemães, franceses, italianos e holandeses. Foi uma demonstração comovente do que as palavras "Nações Unidas" deveriam significar: uma verdadeira união de nações, juntas num colossal esforço para o bem. E nesse caso, foi um empreendimento massivo para explorar um planeta e chegar ao entendimento de um sistema planetário que por toda a história da humanidade tem sido inalcançável, e agora, humanos o tocaram. Então foi -- quer dizer, eu estou tendo arrepios só de falar nisso, foi um evento tremendamente emocional e é algo que eu pessoalmente nunca esquecerei, e vocês também não deveriam. (Aplausos)
Enfim, a sonda fez medições da atmosfera no seu caminho para a superfície, e também tirou fotos panorâmicas. E eu não sou capaz de descrever como foi ver as primeiras fotos da superfície de Titã vindas da sonda. E isso foi o que nós vimos. E foi uma surpresa, porque era tudo o que nós queríamos que aquelas outras imagens tiradas em órbita fossem. Era um padrão não-ambíguo, um padrão geológico. É um padrão de drenagem dendrítica que só pode ser formado pelo fluxo de líquidos. E você pode seguir esses canais e ver como todos eles convergem. E eles convergem nesse canal aqui, que drena para essa região. Vocês estão olhando para um litoral. Era um litoral de fluidos? Nós não sabíamos. Mas era algo como um litoral.
Essa imagem foi tirada a 16 quilômetros de altura. Essa foi tirada a 8 quilômetros, Ok? De novo, a margem do litoral. Ok, então 16 quilômetros, 8 quilômetros -- é aproximadamente a altitude de cruzeiro de um avião. Se você fosse fazer uma viagem de avião através dos EUA, você estaria voando nessas altitudes. Então essa seria a imagem que você teria se estivesse na janela de um avião das Aerolinhas Titânicas ao sobrevoar a superfície de Titã. (Risos)
E então, finalmente, a sonda pousou na superfície, e eu irei lhes mostrar, senhoras e senhores, a primeira foto já tirada da superfície de uma lua no sistema solar externo. E aqui está o horizonte, Ok? Isso são, provavelmente, pedras de água congelada, sim! (Aplausos) E, obviamente, a sonda pousou em uma dessas regiões planas e escuras e ela não afundou. Então não era fluido, aquilo em que aterrissamos. Aquilo no que a sonda pousou era basicamente o equivalente a uma superfície lamacenta em Titã. Isso é um terreno não-consolidado que é impregnado de metano líquido. E esse material provavelmente foi arrastado dos planaltos de Titã através desses canais que nós vimos, e foi drenado através de bilhões de anos para encher essas bacias. E foi nisso em que a sonda Huygens aterrissou.
Mas ainda assim, não havia sinais em nossas imagens, ou mesmo nas imagens da Huygens, de quaisquer grandes corpos de fluidos. Onde eles estavam? As coisas ficaram ainda mais enigmáticas quando achamos dunas. Ok, então esse é o nosso filme da região equatorial de Titã, mostrando essas dunas. Essas são dunas com 100 metros de altura, separadas por alguns poucos quilômetros, e elas continuam por milhas e milhas e milhas. Existem centenas, chegando a 1600 ou 1900 quilômetros de dunas. Esse é o deserto Saara de Titã. É um lugar obviamente muito seco, ou então não haveriam dunas.
Então, de novo, foi enigmático não existirem fluidos, até que finalmente nós vimos lagos nas regiões polares. E aqui está a cena de um lago na região polar sul de Titã. É aproximadamente do tamanho do Lago Ontário. E então, há apenas uma semana e meia atrás, nós sobrevoamos o pólo norte de Titã e achamos, novamente, nós achamos uma formação do tamanho do Mar Cáspio. Então, aparentemente, líquidos, por alguma razão que nós não entendemos, ou durante pelo menos essa estação, estão aparentemente nos pólos de Titã. E eu acho que vocês concordariam que nós achamos Titã um lugar excepcional e místico. É exótico, alienígena, mas, no entanto, ainda muito parecido com a Terra, e tendo formações geológicas que lembram as Terrestres e uma tremenda diversidade geográfica, e é um mundo fascinante, cujo único rival no sistema solar em complexidade e riqueza é a própria Terra.
E então, agora, partimos para Encélado. Encélado é uma pequena lua, aproximadamente um décimo do tamanho de Titã, e você pode vê-la aqui ao lado da Inglaterra. É só para lhes mostrar o tamanho; não é para ser considerado uma ameaça. (Risos) E Encélado é muito branco, muito brilhante, e sua superfície é obviamente devastada por fraturas, é um corpo muito ativo geologicamente. Mas a grande quantidade de descobertas em Encélado foram feitas no pólo sul -- e nós estamos olhando para o pólo sul aqui -- onde nós achamos esse sistema de fraturas. E elas são de uma cor diferente porque tem uma composição diferente. Elas são revestidas. Essas fraturas são revestidas de materiais orgânicos. Além disso, toda essa região, a região do pólo sul, possui temperaturas elevadas. É o lugar mais quente do planeta, do corpo. Isso é tão bizarro quanto descobrir que a Antártica na Terra é mais quente que os trópicos.
E então, quando nós tiramos mais fotos, descobrimos que dessas fraturas são expelidos jatos de finas partículas de gelo que se estendem por centenas de milhas para o espaço. E quando nós colorizamos essa imagem para realçar os fracos níveis de luz, nós vemos que esses jatos alimentam uma pluma que nós de fato vemos, em outras imagens, se estende por milhares de milhas para o espaço sobre Encélado. Meu time e eu examinamos imagens como essa, e como essa, e pensamos sobre os outros resultados de Cassini, E nós chegamos à conclusão de que esses jatos podem estar irrompendo a partir de bolsões de água líquida sob a superfície de Encélado.
Então nós temos, possivelmente, água líquida, materiais orgânicos e calor em excesso. Em outras palavras, nós provavelmente nos topamos com o Graal da exploração planetária moderna. Ou, em outras palavras, um ambiente que é potencialmente adequado para organismos vivos. E eu não acho que eu preciso lhes dizer que a descoberta de vida em algum outro lugar do nosso sistema solar, quer seja em Encélado ou outro lugar, teria enorme implicações culturais e científicas. Porque se nós pudéssemos demonstrar que a Gênese ocorreu não uma, mas duas vezes, independentemente em nosso sistema solar, então isso significa, por dedução, que ela ocorreu um imenso número de vezes através do universo e durante sua história de 13,7 milhões de anos.
Neste momento, a Terra é o único planeta que conhecemos que está repleto de vida. Ela é preciosa, é única, ela ainda é, até agora, o único lar que conhecemos. E se qualquer um de vocês esteve alerta e coerente nos anos 60 -- e nós perdoamos se você não esteve, Ok -- você se lembraria dessa famosa imagem tirada pelos astronautas da Apollo VIII em 1968. Foi a primeira vez que a Terra foi fotografada do espaço, e ela teve um enorme impacto na percepção do nosso lugar no universo, e nosso senso de responsabilidade pela proteção de nosso próprio planeta.
Bem, nós, com a Cassini, também tiramos uma "primeira" equivalente, uma imagem que nenhum olho humano viu antes. É um eclipse total do Sol, visto do outro lado de Saturno. E nessa foto inacreditavelmente bela você vê os principais anéis de Saturno contra a luz do Sol, você vê a imagem refratada do Sol e você vê o anel criado, na verdade, pelas exalações de Encélado. Mas como se isso não fosse brilhante o suficiente, nós podemos achar nessa bela imagem, uma vista do nosso próprio planeta, embalado nos braços dos anéis de Saturno.
Agora, existe algo profundamente comovente em a nós mesmos de tão longe, e capturar a vista do nosso pequeno planeta azul-oceano nos céus de outros mundos. E isso, e a perspectiva de nós mesmos que ganhamos disso, pode ser, no final, a melhor recompensa que receberemos dessa jornada de descobertas que começamos meio século atrás. E muito obrigado.
(Aplausos)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Brian Cox: Por que precisamos dos exploradores

Esta é a transcrição da fantástica palestra do físico do CERN Brian Cox, um dos melhores divulgadores da ciência da atualidade, autor de diversos livros e apresentador de diversos documentários que pretendo divulgar aqui em breve. Nesta palestra ele fala um pouco sobre a importância da ciência para a humanidade, principalmente as áreas voltadas para a exploração dos limites do conhecimento, como por exemplo a exploração do espaço e a física de partículas. São áreas que exigem o trabalho de milhares de técnicos, engenheiros e pesquisadores e consomem bilhões anualmente, cujos recursos sempre são diminuídos em tempos de crise. Ele nos mostra como as descobertas realizadas pela ciência tornam possíveis tecnologias que rendem muito mais recursos do que aqueles que são aplicados.

Mas infelizmente os governos ainda consideram os investimentos em ciências como gastos desnecessários e ainda gastam milhares de vezes mais com gastos militares do que com pesquisa. Isto falando de países desenvolvidos, que ainda investem, pois se falarmos sobre países em desenvolvimento como o Brasil...


  
Para ver o vídeo legendado clique aqui e em Show transcript acione as legendas Portuguese, Brazilian.  



Brian Cox: Por que precisamos dos exploradores
Nós vivemos em tempos econômicos difíceis e desafiadores, é claro. E uma das primeiras vítimas de tempos econômicos difíceis, é gasto público de qualquer natureza, mas certamente na linha de tiro no momento é gasto público com ciência, em específico a ciência levada pela curiosidade e exploração. Então, quero tentar convencê-los em cerca de 15 minutos que isso é uma coisa ridícula de se fazer.
Mas para explicar a situação, quero mostrar -- o próximo slide não é uma tentativa de mostrar o pior TED slide na história do TED, mas é um pouco desorganizado. (Risos) Na verdade, não é minha culpa; é do jornal The Guardian. E é na verdade uma linda demonstração de quanto a ciência custa. Pois, já que eu quero falar sobre continuar investindo em ciência pela curiosidade e exploração, devo mostrar o quanto custa. Este é um jogo chamado "ache o orçamento para a ciência." Este é o gasto governamental do Reino Unido. Como podem ver, é cerca de 620 bilhões por ano.
O orçamento da ciência está -- se olharem para a esquerda, tem um conjunto de bolhas roxas e um conjunto de bolhas amarelas. E é um dos conjuntos de bolhas amarelas em volta da grande bolha amarela. É cerca de 3,3 bilhões de libras por ano dos 620 bilhões. Isso financia tudo no Reino Unido de pesquisa médica, exploração espacial, aonde eu trabalho, na CERN em Genebra, física de partículas, engenharia, até mesmo artes e humanitárias, financiados pelo orçamento da ciência, que é minúscula bolha amarela de 3,3 bilhões em volta da bolha laranja no canto esquerdo da tela. É sobre isso que estamos discutindo. Aquela porcentagem, na verdade, é mais ou menos a mesma nos EUA, na Alemanha e na França. Pesquisa e Desenvolvimento na economia, financiado pelo governo, consiste em cerca de 0,6% do PIB. Então é isso que estamos discutindo.
A primeira coisa que quero dizer, e isso vem direto do [programa da BBC] "Maravilhas do Sistema Solar," é que nossa exploração do sistema solar e do universo nos mostrou que é indescritivelmente lindo. Esta é uma foto que foi mandada pela sonda espacial Cassini em Saturno, depois que filmamos "Maravilhas do Sistema Solar." Então não está na série. É da lua Encélado. Então aquela esfera grande no canto é Saturno, que está no fundo da foto. E aquela crescente ali é a lua Encélado, que é tão grande quanto às Ilhas Britânicas. Tem cerca de 500 km de diâmetro. Lua minúscula. O que é fascinante e lindo... esta é uma foto não processada, devo dizer. É preta e branca, direto da órbita de Saturno.
O que é lindo é -- vocês podem ver ali na borda tufos de uma quase fumaça bem fraca saindo da borda. É assim que visualizamos isso no "Maravilhas do Sistema Solar." É uma imagem linda. Descobrimos que aqueles tufos fracos são na verdade fontes de gelo saindo da superfície desta lua minúscula. É fascinante e lindo por si só, mas achamos que o mecanismo que que dá força a essas fontes requer a existência de lagos de água líquida embaixo da superfície desta lua. E o importante nisso é que, no nosso planeta, na Terra, aonde encontramos água líquida, encontramos vida. Então, encontrar fortes evidências de líquido, poças de líquido, abaixo da superfície de uma lua a mais de um bilhão de quilômetros da Terra é realmente impressionante. O que estamos dizendo essencialmente é que talvez haja um habitat para vida no sistema solar. Bom, isso foi um gráfico. Eu quero mostrar esta foto. É mais uma foto de Encélado. Foi quando Cassini voou embaixo de Encélado. Foi um voo bem baixo, somente alguns quilômetros acima da superfície. E, de novo, uma foto real das fontes de gelo levantando para o espaço, absolutamente fascinante.
E este não é o primeiro candidato à vida no sistema solar. Existe um lugar, que é uma lua em Júpiter, Europa. E tivemos que voar até o sistema Joviano para ter uma ideia de que esta lua, assim como outras luas, não era apenas uma bola morta de rochas. É na verdade uma lua de gelo. Estamos olhando para a superfície da lua Europa, que é uma camada grossa de gelo, provavelmente uns 100 km. Mas ao medir a maneira que Europa interage com o campo magnético de Júpiter, e ao observar como as rachaduras no gelo que vocês veem ali naquele gráfico se movem inferimos enfaticamente que existe um oceano de líquido envolvendo toda a superfície de Europa. Então abaixo do gelo, existe um oceano de líquido em volta da lua. Achamos que poderia ter quilômetros de profundidade. Achamos que é água salgada, e isso significa que existe mais água nessa lua de Júpiter do que existe em todos os oceanos da Terra juntos. Então esse lugar, uma lua ao redor de Júpiter, é provavelmente o primeiro candidato para achar vida numa lua ou num corpo fora da Terra, que temos conhecimento. Uma descoberta enorme e linda.
Nossa exploração do sistema solar nos ensinou que o sistema solar é lindo. Também pode ter indicado o caminho para responder uma das questões mais profundas que podemos imaginar, "Estamos sozinhos no universo?" Existe algum outro uso para exploração e ciência além de questionamentos? Bem, existe sim. Esta é uma foto muito famosa tirada na minha primeira véspera de Natal, 24 de dezembro de 1968, quando eu tinha mais ou menos oito meses. Foi tirada pela Apollo 8 à medida que passava por trás da Lua. O "nascer da Terra" da Apollo 8. Uma foto famosa; muitos dizem que foi a foto que salvou 1968, que foi um ano turbulento -- a revolta dos estudantes em Paris, o auge da Guerra do Vietnã. A razão porque muitas pessoas pensam isso desta foto, e Al Gore disse isso muitas vezes no palco do TED, é que esta foto foi, possivelmente, o começo do movimento ambientalista. Porque, pela primeira vez, nós vimos nosso mundo não como um lugar sólido, imóvel e meio que indestrutível, mas um mundo muito pequeno e frágil pendurado na escuridão do espaço.
O que geralmente não é dito sobre exploração espacial, sobre o programa Apollo, é a sua contribuição econômica. Ao mesmo tempo que você argumenta que foi uma façanha tremenda e maravilhosa e proporcionou fotos como esta, foi muito caro, certo? Na verdade, muitos estudos foram feitos sobre a efetividade econômica, o impacto econômico do [programa] Apollo. O maior deles foi em 1975 pela Chase Econometrics. E mostrou que para cada dólar gasto no Apollo, 14 dólares retornaram para economia dos EUA. Então o programa Apollo se pagou em inspiração, em engenharia, conquistas e ao inspirar jovens cientistas e engenheiros 14 vezes mais. Então exploração pode se pagar.
E quanto à descoberta científica? E quanto ao incentivo à inovação? Isto parece uma foto de quase nada. Isto é uma foto do espectro de hidrogênio. Nos anos 1880, 1890, muitos cientistas, muitos observadores, olharam para a luz que saía dos átomos. E eles viram imagens estranhas como esta. O que você vê quando coloca isso através de um prisma é que você esquenta hidrogênio e isso não brilha como uma luz branca, isso emite luz em cores específicas, vermelho, azul claro, alguns azuis escuros. Isso levou a um entendimento da estrutura atômica pois isso explica que o átomo é um núcleo singular com elétrons movendo-se ao seu redor. E os elétrons só podem estar em lugares específicos. E quando eles pulam para o próximo lugar possível e voltam para o lugar anterior, eles produzem luz de cores específicas.
Então o fato de que os átomos quando aquecidos emitirem luz de cores muito específicas, foi um dos incentivos chave que levou ao desenvolvimento da teoria quântica, a teoria das estruturas dos átomos. Eu gostaria de mostrar esta foto pois isso é extraordinário. Esta é uma foto do espectro do Sol. E esta é uma foto de átomos na atmosfera do Sol absorvendo luz. E novamente, eles só absorvem luz em cores diferentes quando elétrons pulam e voltam, pulam e voltam. Mas olhem para o número de linhas pretas naquele espectro. E o elemento Hélio foi descoberto somente por observar a luz do Sol porque algumas das linhas pretas vistas não correspondiam a um elemento existente. E é por isso que Hélio é chamado de Hélio. É chamado "helios" -- helios do Sol.
Isso pode parecer esotérico, e na verdade foi uma busca esotérica, mas a teoria quântica rapidamente levou ao entendimento dos comportamentos dos elétrons em matérias, como o silício, por exemplo. A maneira como o silício se comporta, o fato de podermos construir transístores, é um fenômeno puramente quântico. Então sem o entendimento levado pela curiosidade da estrutura dos átomos, que resultou nessa teoria esotérica, mecânica quântica, não teríamos os transístores, não teríamos chips de silício, não teríamos o que é simplesmente a base da nossa economia moderna.
Tem mais uma surpresa neste conto maravilhoso. Em "Maravilhas do Sistema Solar," enfatizamos várias vezes que as leis da Física são universais. Uma das coisas mais incríveis sobre a Física e a compreensão da natureza que temos na Terra, é que podemos transportar, não somente aos planetas, mas até as estrelas e galáxias mais distantes. E uma das previsões surpreendentes da mecânica quântica, somente ao olhar para estrutura dos átomos -- a mesma teoria que descreve os transístores -- é não existem estrelas no universo que atingiram o fim de sua vida que são maiores que, especificamente, 1,4 vez a massa do Sol. Este é o limite imposto à massa das estrelas. Você pode calcular num pedaço de papel no laboratório, pegar um telescópio, apontar para o céu e descobrir que não há estrelas mortas maiores do que 1,4 vez a massa do Sol. Esta é uma previsão incrível.
O que acontece quando se tem uma estrela quase no limite dessa massa? Bem, esta é uma foto. Esta é uma foto de uma galáxia, uma galáxia típica "nosso jardim" com, o quê?, 100 bilhões de estrelas como nosso Sol. É somente uma das bilhões de galáxias no universo. Existem bilhões de estrelas no centro galático, e é por isso que brilha tão intensamente. Está distante cerca de 50 milhões de anos-luz, então é uma das nossas galáxias vizinhas. Mas aquela estrela brilhante ali é uma das estrelas da galáxia. Então aquela estrela também está distante 50 milhões de anos-luz. É parte da galáxia, e brilha tão intensamente quanto o centro da galáxia com um bilhão de estrelas. É uma explosão supernova Tipo 1a. É um fenômeno incrível porque é uma estrela que só está lá. É chamada de anã carbono-oxigênio. Ela é mais ou menos 1,3 vez a massa do Sol. E tem uma companhia binária que move ao seu redor, então uma estrela grande, uma grande bola de gás. E o que ela faz é sugar o gás da sua estrela companheira, até chegar ao limite chamado limite Chandrasekhar, e então ela explode. Ela explode e ela brilha tão intensamente quanto um bilhão de estrelas por cerca de duas semanas, e ela libera não somente energia, mas uma quantidade enorme de elementos químicos no universo. Na verdade, aquela é uma anã carbono-oxigênio.
Agora, não havia carbono e oxigênio no universo no Big Bang. E não havia carbono e oxigênio no universo durante a primeira geração de estrelas. Foi produzido em estrelas como esta, aprisionado e então devolvido ao universo em explosões como essa para então recondensar em planetas, estrelas, novos sistemas solares e, de fato, pessoas como nós. Acho que esta é uma demonstração extraordinária do poder e beleza e universalidade das leis da Física, porque entendemos o processo, porque entendemos a estrutura dos átomos aqui na Terra.
Esta é uma citação que achei -- estamos falando sobre acaso aqui -- de Alexander Fleming. "Quando eu acordei logo após a aurora em 28 de setembro de 1928, certamente não planejei revolucionar toda a medicina ao descobrir o primeiro antibiótico do mundo." Agora, os exploradores do mundo do átomo não pretendiam inventar o transístor. E certamente não pretendiam descrever a mecânica das explosões de supernovas, que acabou no fim nos dizendo onde os blocos de montar da vida foram sintetizados no universo. Então, acho que ciência pode ser -- acaso é importante. Pode ser lindo. Pode revelar coisas surpreendentes. Também pode finalmente revelar as ideias mais profundas sobre nosso lugar no universo e realmente o valor do nosso planeta.
Esta é uma foto espetacular do nosso planeta. Não parece ser o nosso planeta. Parece ser Saturno porque, é claro, é Saturno! Foi tirada pela sonda espacial Cassini. Mas é uma foto famosa, não por causa da da beleza e majestade dos anéis de Saturno, mas por causa de um pequeno ponto apagado pendurado embaixo de um dos anéis. E se eu aumentar a área, vocês podem ver. Parece ser uma lua, mas é na verdade uma foto da Terra. Foi uma foto da Terra tirada naquela parte de Saturno. Aquele é o nosso planeta a mais de um bilhão de quilômetros de distância. Acredito que a Terra tem um estranho fator que quanto mais nos distanciamos dela, mais linda ela se parece.
Mas esta não é a foto mais distante ou mais famosa do nosso planeta. Foi tirada por essa coisa, que é chamada de nave Voyager. E esta é uma foto minha na frente da nave para uma ideia de tamanho. A Voyager é uma máquina minúscula. Está atualmente a 16 bilhões de quilômetros da Terra, transmitindo com aquela "antena" com uma potência de 20 watts, e ainda estamos em contato com ela. Visitou Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. E depois que a nave visitou esses quatro planetas, Carl Sagan, que é um dos meus maiores heróis, teve a maravilhosa ideia de girar a Voyager e tirar uma foto de cada planeta visitado. E tirou esta foto da Terra. É difícil ver a Terra ali, é chamada de foto do "Ponto Azul Fraco", mas a Terra está suspensa naquela faixa de luz. Esta é a Terra a cerca de 6,5 bilhões de quilômetros.
E eu gostaria de ler para vocês o que Sagan escreveu sobre isso, para terminar, porque eu não consigo achar palavras tão lindas para descrever o que ele viu na foto que ele acabou tirando. Ele disse: "Considere de novo aquele ponto. Aquilo é aqui. Aquilo é nossa casa. Aquilo somos nós. Sobre ele, todos que você ama, todos que você conhece, todos que você já ouvir falar, cada ser humano que já viveu sua vida. O conjunto de alegria e sofrimento milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada um que caça e busca comida, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, criança esperançosa, inventor e explorador, cada professor de moral, cada político corrupto, cada celebridade, cada líder supremo, cada santo e pecador na história de nossa espécie, viveu ali, numa bola de poeira, suspensa num raio de sol. Foi dito que astronomia é uma experiência humilde e formadora de caráter. Talvez não haja demonstração melhor da insensatez da prepotência humana do que esta imagem distante do nosso pequeno mundo. Para mim, isso destaca nossa responsabilidade em lidar melhor com os outros, e preservar e estimar o ponto azul fraco, o único lar que conhecemos."
Lindas palavras sobre o poder da ciência e exploração. O argumento foi sempre dito, e sempre será dito, que conhecemos o suficiente sobre o universo. Poderia ser dito nos anos 1920; não teríamos tido a penicilina. Poderia ser dito nos anos 1890; não teríamos o transístor. E é dito hoje nessa época de dificuldades econômicas. Certamente, sabemos o suficiente. Não precisamos descobrir mais nada sobre o universo.
Deixarei as últimas palavras para alguém que está rapidamente se tornando um herói meu, Humphrey Davy, que foi cientista na virada do século 19. Ele estava claramente sob fogo cruzado o tempo todo. Sabemos o suficiente na virada do século 19. Apenas explore, apenas construa coisas. Ele disse isso: "Nada é mais fatal para o progresso da mente humana do que achar que nossas visões da ciência são definitivas, que nossos triunfos são completos, que não há mistérios na natureza, e que não há mundos novos a conquistar."
Obrigado.

(Aplausos)