Me desculpem Arthur C. Clarke,
Kim Stanley Robinson, Robet Zubrin, e outros grandes escritores do gênero –
gosto muito de vocês, mesmo –, mas esta é a melhor ficção científica hard sobre
Marte já escrita! O novato Andy Weir criou um carismático astronauta que está
encalhado em Marte; sozinho, sem comunicação com a Terra e que só pode contar com
sua engenhosidade, força de vontade e bom humor para vencer o ambiente hostil
de um planeta que pode matá-lo de todas as formas imagináveis. Cada detalhe da
história, cada reviravolta na trama e cada solução encontrada está firmemente baseada
na realidade. Esta com certeza será uma leitura obrigatória para todos os técnicos,
engenheiros e astronautas que estarão envolvidos nas futuras missões tripuladas
à Marte.
Andy Weir
O autor Andy Weir é um
programador que criou a história despretensiosamente, liberando periodicamente os
capítulos em sua página na internet. Depois de vários pedidos de seus leitores
ele publicou um ebook na Amazon
através da plataforma Kindle Direct
Publishing. O ebook foi um sucesso e rapidamente vendeu dezenas de milhares
de cópias. Weir foi procurado então por um agente de uma grande editora dos
Estados Unidos que republicou o livro de forma profissional nos formatos impresso
e digital, e este chegou ao topo da lista dos livros mais vendidos de ficção
científica da Amazon, chegando até
mesmo a figurar na lista dos mais vendidos do jornal New York Times. Os direitos foram comprados para uma adaptação
cinematográfica que está sendo produzida diretor Ridley Scott, com Matt Damon
no papel principal. A previsão de estreia é para novembro de 2015.
Capa da edição brasileira
Na história o botânico e
engenheiro Mark Watney é um astronauta da terceira missão tripulada à Marte,
que é abortada após uma colossal tempestade de areia que destrói a antena de
comunicação do módulo de habitação e atravessa um pedaço de metal em seu corpo.
Seus companheiros decolam às pressas achando que ele está morto, e ele fica
ferido, com suprimentos limitados e sem ter como se comunicar com a Terra para
avisar que está vivo, em um ambiente totalmente hostil à qualquer forma de vida.
Marte tem uma temperatura de dezenas de graus abaixo de zero, atmosfera
equivalente a menos de 1% da atmosfera terrestre (quase vácuo) e com água quase
inexistente; o planeta é mais gelado que a Antártida e mais seco que o deserto mais
estéril aqui da Terra; qualquer ser vivo exposto à estas condições morreria
instantaneamente fora de um ambiente pressurizado. Mesmo contra todos estes obstáculos,
Mark Watney não desiste e segue em uma obstinada luta pela sobrevivência.
Sua única esperança é sobreviver
até a chegada da próxima missão tripulada, prevista para chegar quase quatro
anos depois. Ele então contabiliza minuciosamente seus suprimentos, como água,
alimentos, etc e traça um plano para viver até lá. Cada obstáculo apresentado
pelo planeta vermelho é superado com soluções bem engenhosas, como sua ideia de
criar uma plantação no módulo de habitação utilizando uma mistura de solo
terrestre, solo marciano e suas próprias fezes, que servem como adubo para
cultivar batatas e estender seu suprimento de alimentos – apesar do cheiro
horrível! Eventualmente a Nasa descobre
que ele está vivo ao detectar suas atividades na superfície, e um ousado plano
é iniciado para trazê-lo de volta. Mas Marte é muito mais perigoso que Watney e
os cientistas da Nasa imaginam, e muitos imprevistos mortais surgirão.
O livro é de tirar o fôlego. Mark
Watney é como um MacGyver do espaço, adaptando o que tem à sua disposição para inventar
uma solução criativa para cada desafio que Marte o faz encarar. A história tem
muito suspense a cada página; o azarado astronauta tem que lutar o tempo todo
para sobreviver aos perigos do planeta e às falhas nos equipamentos em momentos
cruciais. Cada solução é genial e firmemente calcada na realidade; as
descrições da missão e seus equipamentos são impressionantes. Com o sucesso das
primeiras versões do livro, Andy Weir recebeu sugestões de alguns cientistas e
técnicos que o ajudaram a corrigir algumas falhas técnicas na história.
A história lembra muito o épica resgate
dos astronautas da Apollo 13 na década de 70, quando parte desta nave foi
danificada em uma explosão quando viajava à Lua. Nesta história real a tripulação,
engenheiros e técnicos da Nasa somaram forças e também criaram soluções
engenhosas para trazer todos vivos para a Terra, em um evento que causou
comoção mundial.
O livro foi traduzido para o
português e lançado pela editora Arqueiro em outubro deste ano com o horroroso
título “Perdido em Marte”. A capa é a mesma da edição americana. Torço outros
livros do gênero como Red Mars, de
Kim Stanley Robinson, ou First Landing,
de Robert Zubrin, também sejam lançados por aqui.
Na verdade ele vale mais que mil
professores, se usarmos como parâmetro os ganhos dele e os compararmos com os
de um professor da rede estadual de ensino do estado do Rio de Janeiro, por
exemplo. Absurdo? Não, afinal o esporte em que ele é o mais valioso craque brasileiro
da atualidade movimenta bilhões todos os anos. Por que? Porque eu, você,
dezenas de milhões de pessoas no Brasil e centenas de milhões de pessoas ao
redor no mundo adotam um time/seleção do coração e vamos aos estádios assistir
e torcer por nossa equipe ou assistimos as partidas pela televisão – e também
ao marketing de centenas de marcas e produtos –, compramos camisas e outros produtos, pagamos o jornal somente para
ler o caderno de esportes, clicamos naquela notícia sobre futebol da internet,
visitamos o blog daquele comentarista de futebol, conversamos e discutimos com
os amigos e às vezes chegamos até as vias de fato! Seja no bar, no trabalho, na
rua, na festa; na fila do banco, barbeiro, restaurante, médico, metrô, trem ou ônibus;
dedicamos muito de nosso tempo para falar de futebol. O Neymar vale mais que
mil professores do Brasil porque nós – eu, você e uns 200 milhões de
brasileiros – valorizamos mais o futebol do que a escola; valorizamos mais o
entretenimento que o conhecimento.
Tempo é realmente dinheiro e na
disputa pelo nosso aqui no Brasil, o futebol ganha de goleada – é difícil até
se comunicar sem uma analogia fulebolística! Sentimos tanto orgulho da seleção
brasileira, que já ganhou 5 vezes a Copa do Mundo de Futebol, e dos nossos
times de futebol, que já ganharam 17 vezes a Copa Libertadores da América e 10 vezes
a Copa Intercontinental e o Campeonato Mundial de Clubes, entre tantas outras
competições internacionais; mas nunca um brasileiro ganhou um Prêmio Nobel ou
Oscar, nosso número de patentes registradas é irrisório e no ranking das melhores
universidades do mundo, não temos nenhuma nem entre as cem primeiras, apesar de
sermos a 7ª maior economia do planeta. Jogadores profissionais de futebol são milionários,
moram em mansões e desfilam pelas ruas com carros de luxo, além de namorar atrizes,
modelos e algumas das mulheres mais lindas e desejadas do momento que nos são
apresentadas pela grande mídia. Em dias de jogos da Copa do Mundo ou finais de
campeonatos, as ruas ficam desertas e feriados são decretados informalmente – e
até oficialmente. O sonho de uma criança crescendo nesta sociedade certamente
não será o de se tornar um grande cientista ou um grande escritor; e o professor
certamente não será o profissional mais valorizado e admirado.
E o pior é que como vivemos em
uma democracia e em uma sociedade democrática a vontade do povo tem que ser respeitada
(para bem ou para o mal), bilhões de reais (públicos e privados) são gastos na
construção de estádios e na criação e manutenção de uma enorme estrutura de
transporte público, segurança e atendimento ao torcedor. Dinheiro jogado fora?
Não, pois tudo isto é investimento, e o retorno aos cofres públicos – e às
contas bancárias de entidades privadas – é alto, afinal, futebol no Brasil dá
dinheiro, muito dinheiro. Não vamos jogar no governo nossa culpa pelo futebol
ser um esporte tão popular e rentável. Se as Olimpíadas Internacionais de Astronomia
movessem multidões e despertassem tanta paixão no Brasil, muitos e muitos bilhões
seriam investidos nesta área em nosso país, alguns dos melhores astrônomos seriam
brasileiros e teríamos o maior telescópio do mundo na cidade do Rio de Janeiro,
que se chamaria “Grande Telescópio Maracanã”.
Cabe ao governo mudar esta
situação? Sim, mas e nós, também não? O governo não é o pai dos nossos filhos,
não liga e sintoniza nossas TVs, não escolhe os livros, jornais e websites que
lemos, nem administra nossas agendas e rendas familiares. Se você não consegue
fazer estas coisas direito sozinho e deseja que alguém o faça por você, sinto
muito informar mas você é um idiota e provavelmente morrerá um idiota; se a grande
massa é igual a você e também não consegue... então, pobres gerações futuras,
que continuarão a viver em uma sociedade em que um jogador de futebol vale
muito mais que um professor.
No dia 30 de abril de 2014 foram
instaladas 4 câmeras de vídeo na Estação Espacial Internacional, que podem ser
acessadas gratuitamente através de streaming
e possibilitam observar a Terra em tempo real do espaço no ISS HD Earth Viewing Experiment. Esta iniciativa tem o
objetivo de avaliar o desgaste sofrido por equipamentos eletrônicos no ambiente
espacial, além de testar novas tecnologias para gravação de vídeos no espaço
para futuras missões. Você pode ver as imagens ao vivo no website da USTREAM clicando
no link abaixo:
Caso a imagem mostrada seja uma
tela negra, significa que a Estação está no lado escuro da Terra e passando por
uma zona desabitada; se a tela está cinza, está acontecendo uma troca entre as
câmeras. A estação está em uma altitude média de 360 Km e completa uma volta ao
redor do planeta a cada 90 minutos com uma velocidade aproximada de 27.000 Km/h.
Estação Espacial Internacional
A Estação Espacial Internacional
é a maior estrutura já construída pelo homem no espaço, e pode ser vista até a
olho nu! Para saber a posição da Estação e o dia em que ela pode ser vista de
sua localidade, acesse o link abaixo
do website da NASA e selecione seu
país e a cidade mais próxima:
A Estação Espacial Internacional é
um laboratório orbital que foi construído através da colaboração entre 16
países (incluindo o Brasil!) a um custo de mais de 100 bilhões de dólares. Seus
módulos foram construídos em terra pela Agência Espacial americana (NASA), Agência
Espacial Russa (ROSKOSMOS), Agência Espacial Europeia (ESA), Agência Espacial
Canadense (CSA/ASC) e Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa (JAXA); e lançados
ao espaço em foguetes russos e ônibus espaciais americanos.
A primeira missão de montagem foi
em 20 de novembro de 1998 com a ISS
Assembly Mission 1 A/R, quando um foguete russo Proton-K lançou o módulo de controle Zaria, responsável por fornecer energia elétrica através de
baterias e pelo armazenamento de combustível. Em 24 de fevereiro de 2014 – após
treze anos e quarenta lançamentos de foguetes russos e ônibus espaciais
americanos – a ISS Assembly Mission ULF5
realizada pelo ônibus espacial Discovery
instalou os módulos Leonardo e EXPRESS Carrier 4 e finalizou a Estação.
Apesar de sua conclusão oficial em 2011, ainda há projetos para a instalação de
mais módulos e a realização de várias melhorias na estação, que ficaram um
pouco atrasados agora por causa da crise na economia internacional e a redução dos
investimentos no espaço. Com a atual tensão entre a Rússia e os países da União
Europeia e Estados Unidos por causa dos conflitos na Ucrânia, talvez estas
melhorias estarão ainda mais longe no futuro.
Atual configuração da Estação
Espacial Internacional:
Desde o ano 2000 ela é
permanentemente tripulada com um mínimo de dois e um máximo de seis
astronautas, que realizaram milhares de experimentos em áreas diversas como
medicina, engenharia, astronomia, geologia, biologia, eletrônica, entre outras.
Estas pesquisas possibilitaram o desenvolvimento de novas tecnologias que,
segundo especialistas, possibilitaram um retorno estimado de seis vezes o valor
investido na construção da estação. Apesar de todo este sucesso, muitos
criticam a opção pelo projeto da Estação Espacial em detrimento de uma missão
tripulada à Marte ou a construção de novos telescópios orbitais e o
desenvolvimento de mais missões não tripuladas ao Sistema Solar, projetos que
segundo os críticos trariam muito mais retorno científico.
O astronauta brasileiro Marcos Pontes
O Brasil tinha um acordo com a
NASA desde o ano de 1996 e foi um dos países que assinaram o acordo de
cooperação para a construção da Estação Espacial Internacional, e seria o
responsável pela construção do módulo EXPRESS(clique aqui) e de vários outros equipamentos, em um investimento estimado de 120 milhões de
dólares. Nessa época o Capitão da Força Aérea Brasileira Marcos Pontes foi o
escolhido para ser o primeiro astronauta brasileiro e realizou treinamento na
NASA para tripular um ônibus espacial, mas o acidente com o Columbia, que matou sete astronautas, atrasou
os planos. Ele foi mandado então para a Rússia, onde treinou pela Agência Espacial
ROSKOSMOS e acabou tripulando uma nave Soyuz
em 2006 na “Missão Centenário”, que comemorou os 100 anos do voo de Santos
Dumont no 14 Bis. Após sucessivos
atrasos na liberação de verbas e no pagamento das empresas desenvolvedoras, e a
opção em ir para o espaço com os russos, o país foi cortado do consórcio em
2007 pela NASA e suas associadas, sem conseguir cumprir com sua parte no
acordo. Hoje a bandeira do Brasil não figura mais entre as dos países membros
do projeto.
Viés de confirmação é a tendência
que todos nós temos em levar em consideração apenas as informações que estão de
acordo com nossas crenças. Seja quando lemos um livro, notícia no jornal,
internet ou revista; assistimos a uma notícia no telejornal, um filme, aula, ou
mesmo numa conversa entre amigos; inconscientemente absorvemos aquelas
informações que fortalecem nossas crenças e rejeitamos aquelas que vão de
encontro a elas, independentemente das evidências, das provas, do senso comum,
e muitas vezes, até mesmo do bom senso. É a interpretação seletiva e
tendenciosa da realidade de acordo com nossos desejos mais íntimos e crenças
mais arraigadas. Todos agimos assim - em menor ou maior grau.
O viés de confirmação é o pai de
todas as crenças.
Até hoje existem aqueles que
acreditam em criacionismo, deuses astronautas, curas quânticas, telepatia,
telecinese, milagres, astrologia e mais uma infinidade de ideias sem base na
realidade. Estas crenças se tornam ainda mais fortes se aqueles que creem são
confrontados com provas de que aquilo em que acreditam não tem fundamento, por
mais sólidas que as evidências sejam. Elas se fecham naquilo em que acreditam e
nada as dissuadirá do contrário. Rebaterão com todas as controvérsias e lacunas
no conhecimento que porventura existam sobre o assunto em questão - por mais
bem estabelecido que seja - mas nunca colocarão em questão suas crenças - por
mais absurdas que sejam. Paradoxalmente nos aconselharão a “abrir a mente” e “buscar
o conhecimento”, mas nunca admitirão que se questionem suas crenças.
Há diferenças insuperáveis entre o
“conhecimento” e a “crença”: o primeiro tem a ver com a razão, a realidade e a
avaliação criteriosa das evidências; a segunda tem a ver com nossas emoções e
com aquilo que desejamos que seja verdade, independentemente das contradições e
das evidências. O conhecimento é o filho da razão e a crença é filha de nossos
desejos e temores. O conhecimento é amigo das provas e das evidências: admite
falhas, muda e assim se fortalece; a crença só admite o que convém e lhe reforça.
Algumas vezes a verdade é contraintuitiva e as relações de causa e efeito nem
sempre são evidentes, mas a natureza nunca mente. Ela é o juiz supremo de todos
os litígios do conhecimento.
Uma maneira bem segura de saber
se algo em que acreditamos está sendo influenciado viés de confirmação é saber
o que a ciência e os especialistas dizem sobre o assunto. A ciência não é
perfeita, mas teorias científicas são permanentemente revisadas e se
autocorrigem, impedindo os efeitos nocivos do viés de confirmação. Se a ciência
vai de encontro com o que pensamos, devemos entrar em alerta. Ela é e sempre será
nossa melhor guia na busca do conhecimento.
"As pessoas quase sempre encontram o que estão esperando encontrar
se deixam suas expectativas guiarem suas buscas." Bart Ehrman
O Maior de Todos os Mistérios (Claroenigma, 2014) é um livro de
divulgação científica infanto-juvenil escrito pelo neurocientista brasileiro
Miguel Nicolelis em parceria com sua mãe, a escritora Giselda Laporta Nicolelis,
e ilustrado por Nik Neves. O livro adapta para as crianças e adolescentes os
assuntos tratados no livro Muito Além do
Nosso Eu (resenha deste blog aqui), em que Nicolelis fala sobre as últimas
descobertas sobre o cérebro humano e suas pesquisas sobre interfaces
cérebro-máquina.
Miguel Nicolelis talvez seja o
maior cientista brasileiro vivo e neste livro ele faz o que todos os cientistas
deveriam fazer, que é defender o método científico e falar da importância de
suas pesquisas para o grande público. Em países desenvolvidos é imensa a
quantidade de livros de divulgação científica para o público leigo, que
desempenham o papel fundamental de chamar a atenção da população para a
importância da ciência e dos investimentos em pesquisa. Em tempos onde o
misticismo, as superstições e as pseudociências estão em alta e a ciência e o
pensamento racional são cada vez mais ignorados no mundo todo, o lançamento
deste livro vem em boa hora. Principalmente se levarmos em conta que ele foi
escrito para os mais jovens, que ainda não foram contaminados pelo monte de
baboseiras que vemos por aí, e que o livro foi publicado no Brasil por um
cientista brasileiro de renome internacional.
Miguel Nicolelis
Nas 112 páginas do livro estão as
mesmas questões presentes nas 552 páginas de Muito Além do Nosso Eu. Um pouco da história da neurociência, como
funcionam os neurônios, como são formados os pensamentos e as memórias, como o
cérebro comanda todas as funções vitais de nossos corpos, e, o mais
interessante, como a neurociência revolucionará nossa comunicação com as
máquinas possibilitando coisas fantásticas como controlar computadores
remotamente, transmissão de pensamentos e sentimentos, controle de próteses
robóticas, e até a construção de uma grande rede de cérebros interligados
eletronicamente.
Giselda Laporta Nicolelis
São apresentadas também as
experiências que Nicolelis realizou na Universidade de Duke, nos Estados
Unidos, em que macacos controlam robôs através de sinais emitidos pelo cérebro
destes animais. Durante a abertura da Copa do Mundo de Futebol, que será
realizada em junho deste ano no Brasil, será realizada uma ambiciosa demonstração
desta tecnologia, quando uma pessoa paraplégica levantará de uma cadeira de
rodas usando um exoesqueleto controlado pelo cérebro e dará o pontapé inicial
no jogo da seleção brasileira.
Nik Neves
A coautora Giselda Laporta
Nicolelis é escritora de livros infanto-juvenis que já recebeu diversos
prêmios, incluindo o cobiçado Prêmio Jabuti. A ela coube adaptar para as
crianças e adolescentes de uma forma divertida e didática as últimas
descobertas no campo da pesquisa do cérebro humano. O texto é enriquecido pelas
ilustrações de Nik Neves, artista que já trabalhou para diversas revistas no
Brasil e no exterior e foi considerado um dos dez melhores ilustradores da
América Latina pelo American Illustration.
Seus desenhos não são meros enfeites, pois sempre ilustram de forma perfeita as
ideias presentes no texto.
Excelente livro de divulgação
científica que também será de grande valia para os adultos interessados em
saber um pouco mais sobre a coisa mais fantástica criada pela natureza, que é o
cérebro humano. O maior de todos os mistérios do título, que aos poucos vai
sendo desvendado pela melhor de todas as ferramentas criadas por este mesmo
cérebro: o método científico.
The Mars Underground é um documentário sobre a possibilidade de
futuras missões tripuladas ao planeta Marte utilizando o Mars Direct, criado pelo engenheiro aeroespacial Robert Zubrin. O
vídeo questiona os motivos de missões tripuladas à Marte ainda não terem
acontecido, discute a necessidade da exploração e colonização humana do planeta
vermelho e sua importância para o futuro da humanidade. Outro assunto discutido
no documentário é a atual estagnação do programa espacial americano. Após o sucesso
total do Programa Apollo, que colocou os primeiros seres humanos na Lua, a NASA
optou pelo desenvolvimento dos ônibus espaciais e a construção da Estação
Espacial Internacional, em detrimento de uma missão tripulada à Marte.
Planeta Marte
Marte é o quarto planeta do
Sistema Solar e fica distante entre 206 e 249 milhões de quilômetros do Sol, bem
mais afastado que a Terra, que fica entre 147 e 152 milhões de quilômetros. Ele
possui 6.792 Km de diâmetro, pouco mais da metade do diâmetro da Terra, que tem
12.756,2 Km. A atmosfera é constituída em cerca de 95% por dióxido de carbono,
mas a pressão atmosférica equivale a menos de 1% da terrestre, com temperaturas
baixíssimas de até -143 0C, mas que podem chegar acima de 20 0C
durante o verão equatorial. Ele possui um dia de 24 horas e 40 minutos, quase o
mesmo que o dia terrestre. Apesar da atmosfera extremamente rarefeita e das
baixas temperaturas, é o local mais parecido com a Terra em todo o Sistema
Solar e possui uma área de terra firme maior que a de nosso planeta, pelo fato
de não possuir oceanos. Devido a todas essas características, Marte tem o
melhor potencial para se tornar o segundo lar dos seres humanos. Robert Zubrin
argumenta que com a tecnologia atual, uma missão tripulada poderia ser
desenvolvida num prazo de 10 anos, caso houvesse recursos financeiros e vontade
política.
Robert Zubrin
Robert Zubrin faz duras críticas
à NASA, que segundo ele, estaria sem rumo desde os últimos pousos na Lua no
início dos anos 70. Após o Programa Apollo, ao invés de investir em uma missão
à Marte, a opção pelo desenvolvimento dos Ônibus Espaciais e posteriormente a
construção da Estação Espacial Internacional, e desde então nenhum ser humano deixou
a órbita baixa terrestre nas últimas 4 décadas. Em 1989, durante o governo
Bush, houve uma tentativa de se criar um programa espacial que levaria o homem
à Marte, que resultou em um projeto orçado em 450 bilhões de dólares e que
envolvia a construção de uma gigantesca estação espacial, instalações industriais
na Lua e a montagem de uma enorme nave com propulsão nuclear que faria uma
viagem de ida e volta ao planeta vermelho com a previsão de apenas alguns dias de
estada na superfície. Este projeto foi imediatamente rejeitado pelo congresso
americano devido ao seu custo astronômico.
Ônibus Espacial
Após a rejeição do projeto,
Robert Zubrin e alguns colaboradores que trabalhavam na empresa Martin Marietta Astronautics (atual Lookhed Martin) desenvolveram um projeto
de missão que ficou conhecido como Mars
Direct, cuja filosofia era viajar leve, rápido e barato. Diferentemente da
gigantesca nave nuclear prevista no plano proposto durante a administração do presidente
Bush, uma nave pequena aproveitaria o melhor alinhamento entre a Terra e Marte viajando
apenas com o combustível de ida. Um módulo lançado previamente produziria o
combustível da viagem de retorno utilizando como matéria prima a própria
atmosfera marciana na superfície. Como mais de 90% do peso de um foguete é o
seu combustível, o peso da nave seria bem menor, ela poderia viajar mais rápido
e o seu custo seria bem mais baixo. A tripulação ficaria um ano e meio
explorando a superfície e por fim aproveitaria o melhor alinhamento entre os
planetas para realizar a viagem de retorno.
Estação Espacial Internacional
Zubrin faz uma defesa apaixonada
da exploração humana de Marte e sua colonização, como forma de se criar um novo
e dinâmico ramo da civilização, que poderia trazer benefícios para toda a
humanidade. Além das novas tecnologias para o dia a dia que surgiriam no
desenvolvimento da missão, se criaria um capital incalculável através da
inspiração dos mais jovens a se tornarem engenheiros e cientistas, que
desenvolveriam as novas tecnologias a serem utilizadas pelas futuras gerações.
Além disso, aqueles que realizassem tais missões gravariam eternamente seus
nomes como heróis na história da humanidade. Outra ideia, esta mais
especulativa, seria a possibilidade de “terraformar” Marte, tornando o planeta
mais parecido com Terra e habitável para os seres humanos.
Excelente documentário.
Inspirador na forma como mostra que o futuro pode ser belo e vibrante se
investirmos agora em grandes projetos para o bem das gerações futuras. Como
citado no documentário, daqui a alguns séculos ninguém saberá quais eram as
crises econômicas, as disputas políticas e as guerras da década de 60, mas
todos se lembrarão dos primeiros passos do homem na Lua. Muita gente acha que
investimentos em ciência e exploração são gastos desnecessários que poderiam
ser usados melhor na solução dos problemas atuais da humanidade. Mas as soluções
dos problemas atuais virão do futuro, e o futuro tem que ser construído no
presente, e envolve novas tecnologias e a distribuição e o aperfeiçoamento das
que já existem.
Zen Pencils é um fantástico blog criado pelo cartunista australiano
Gavin Aung Than que adapta para tiras em quadrinhos algumas citações de grandes
nomes da literatura, quadrinhos, ciência, poesia, história, política, entre
outros. O Site foi criado no ano de 2012 após Gavin pedir demissão de seu
trabalho como designer gráfico, onde atuou por 8 anos, para se dedicar à sua
verdadeira paixão que é desenhar cartoons.
São tirinhas com mensagens edificantes sobre o sentido da vida, a beleza do
universo, e, principalmente, ir em busca de seus sonhos. Há várias delas já
traduzidas para o português.
The Voices of a Distant Star (Hoshi No Koe, Panini Comics/Planet Manga,
2010) é um mangá escrito pelo japonês Makoto Shinkai e desenhado por Mizu
Sahara. Apesar do nome em inglês, que significa “Vozes de uma estrela distante”, este mangá foi publicado em
português pela Panini Comics/Planet Manga no Brasil. Diferentemente das centenas
de volumes de outros mangás, este tem apenas dez capítulos em um volume único
de 244 páginas. A história se passa no ano de 2047 e conta a história de um
casal de jovens amigos, Mikako Nagamine e Noboru Terao, separados devido a uma
guerra entre a humanidade e alienígenas conhecidos como Tharsians. Os dois são
apenas adolescentes na escola quando Mikako é convocada para lutar na guerra
contra os Tharsians como piloto de um
Tracer, que é um gigantesco robô de
combate. Enquanto Noburu continua seus estudos na Terra, Mikako inicia seu
treinamento em Marte e depois viaja à bordo da nave de guerra Lysithea para Júpiter, Nuvem de Oort, e,
por fim, a guerra em um planeta da estrela Sirius, distante 8,6 anos-luz do Sol.
Voices of a Distant Star (anime)
Os dois se comunicam por
mensagens de texto enviadas através de telefone celular, que demoram cada vez
mais a chegar conforme Mikako vai se afastando do Sistema Solar, primeiro alguns
minutos, depois horas, meses, até 8 anos quando ela está na guerra em Sirius. Isto
ocorre por que a velocidade da luz no vácuo é de cerca de 300.000 Km/h, e como
as transmissões são feitas por ondas de rádio que viajam nesta velocidade, há
um atraso devido à distância em que os dois se encontram, que é de dezenas de
milhões de quilômetros entre a Terra e Marte, quase um bilhão até Júpiter,
dezenas de bilhões de quilômetros até a nuvem de Oort e dezenas de trilhões de
quilômetros até Sirius.
A história não é bem uma ficção
científica hard, nem uma Space Opera, mas uma bela história de
amor que faz um bom uso dos efeitos da dilatação temporal prevista na teoria da
relatividade. Segundo esta teoria, confirmada por inúmeros experimentos e
observações, o tempo passaria mais devagar para alguém viajando em uma nave
viajando próximo à velocidade da luz do que para alguém que ficasse na Terra.
Por este motivo, enquanto Noburu envelhecia na Terra, Mikako permaneceu com
praticamente a mesma idade à bordo da nave Lysithea.
É uma história belíssima sobre a amizade, o primeiro amor e a dor da separação.
Contada com muita sensibilidade, é uma história de um amor e amizade que apesar
das vastas distâncias no espaço-tempo, não morre nunca.
Eu tenho saudade de várias coisas.
Das nuvens de verão e da chuva gelada.
Do aroma do vento de outono e da maciez da
terra na primavera.
Da sensação de conforto ao encontrar uma
loja de conveniência aberta no meio da noite.
Do ar fresco no caminho de volta para casa
depois da aula.
Do cheiro do apagador do quadro negro.
Eu sempre quis partilhar essas sensações com
você.
Infelizmente a edição brasileira da
Panini está esgotada, mas para quem estiver interessado em adquirir um
exemplar, poderá encomendar um na loja virtual Comixpor apenas R$ 19,90 mais o valor do frete. Também há um
anime, que pode ser encontrado facilmente no Youtube.
Esta é a transcrição da palestra para o TED da cientista planetária Carolyn Porco, que trabalha para a NASA na missão Cassini-Huygens. Ela fala um pouco sobre
a história da exploração do espaço e sobre algumas das descobertas realizadas
pela sonda Cassini, que chegou em Saturno no ano de 2004 e até hoje orbita o
planeta, e da Huygens, que em janeiro
de 2005 pousou na lua Titã. Esta gigantesca lua possui uma densa atmosfera que
acredita-se ser parecida com a atmosfera da Terra há bilhões de anos atrás, e
possui imensos lagos de metano líquido nos pólos. Ficamos sabendo ainda das
incríveis descobertas realizadas na lua Encélado, que se mostrou um dos locais mais
interessantes do Sistema Solar para a busca de vida fora da Terra. Esta pequena
lua possui um oceano subterrâneo de água líquida e gêiseres que expelem vapor a
centenas de quilômetros no espaço.
Gêiseres em Encélado
Titã atrás dos anéis de Saturno
Imagens de radar de alguns lagos e rios de metano em Titã
Para ver o vídeo legendado clique
aquie em Show transcript acione
as legendas Portuguese, Brazilian.
Carolyn Porco nos leva a Saturno
Durante os próximos 18 minutos, eu os
levarei em uma jornada. E é uma jornada em que eu e vocês estivemos por muitos
anos agora, e ela começou a aproximadamente 50 anos atrás, quando humanos pela
primeira vez deram um passo para fora de nosso planeta. E nesses 50 anos, não
apenas nós literalmente, fisicamente pisamos na Lua, mas também lançamos sondas
robóticas para todos os planetas -- todos os oito -- e aterrissamos em asteroides,
fizemos contato com cometas, e neste exato momento, temos uma nave em seu caminho
para Plutão, o corpo celeste previamente conhecido como um planeta. E todas
essas missões robóticas são parte de uma jornada humana maior: uma viagem para
entender algo, para termos uma noção do nosso lugar no cosmos, para entender
algo de nossas origens, e como a Terra, nosso planeta, e nós, vivendo nela,
surgimos.
E de todos os lugares no sistema solar aos
quais nós podemos ir procurar respostas para perguntas como essas, há Saturno.
E nós já estivemos em Saturno antes -- nós o visitamos no início dos anos 80 --
mas nossas investigações de Saturno tornaram-se muito mais profundas e
detalhadas desde que a sonda Cassini, viajando através do espaço
interplanetário por sete anos, planou para órbita em Saturno no verão de 2004,
e tornou-se naquele momento o mais distante posto robótico que a humanidade já
estabeleceu em torno do Sol.
Saturno é um sistema planetário muito rico.
Ele oferece mistério, conhecimento científico e, obviamente, um esplendor sem
igual. E a investigação desse sistema oferece um enorme entendimento cósmico.
Na verdade, estudando apenas os seus anéis, aprendemos muito sobre os discos de
estrelas e gás que nós chamamos de galáxias espirais. E aqui está uma bela
imagem da Nebulosa de Andrômeda, que é a maior e mais próxima galáxia da Via
Láctea. E eis uma bela imagem composta da Galáxia do Rodamoinho, tirada pelo
telescópio espacial Hubble.
Então essa viagem de volta para Saturno é na
verdade parte de -- e também uma metáfora para -- uma jornada humana muito
maior para entender as inter-conexões de tudo o que nos cerca, e também onde os
humanos se encaixam nisso. E é uma pena que eu não possa lhes dizer tudo o que
aprendemos com a Cassini -- eu não posso lhes mostrar todas as belíssimas fotos
que tiramos nos últimos 2 anos e meio, porque eu simplesmente não tenho esse
tempo. Então eu vou me concentrar em duas das histórias mais interessantes que
emergiram dessa grande expedição exploratória que estamos conduzindo em torno
de Saturno, e em que estivemos nos últimos 2 anos e meio.
Saturno é acompanhado por uma grande e
diversa coleção de luas. Elas variam de tamanho de poucos quilômetros até o
tamanho dos EUA. A maioria das fotos que tiramos de Saturno, na verdade,
mostram Saturno acompanhado de algumas de suas luas. Aqui está Saturno com
Dione, e aqui está Saturno mostrando os anéis em pefil, mostrando o quanto eles
são finos verticalmente, com a lua Encélado. Duas das 47 luas de Saturno são
especiais.
Elas são Titã e Encélado. Titã é a maior lua
de Saturno, e até Cassini chegar lá, era a maior área única de terreno
inexplorado que tínhamos em nosso sistema solar. E é um corpo que há muito tem
intrigado pessoas que observam os planetas. Ela tem uma grande e espessa
atmosfera, e, na verdade, acreditava-se que o ambiente de sua superfície fosse
mais semelhante ao ambiente que temos aqui na Terra, ou ao menos que tivemos no
passado, do que qualquer outro corpo no sistema solar. Sua atmosfera é
predominantemente de nitrogênio molecular, como o que vocês estão respirando
aqui nesta sala, exceto que sua atmosfera é impregnada de substâncias orgânicas
simples como metano, propano e etano. E essas moléculas no alto da atmosfera de
Titã são quebradas, e seus produtos se combinam para formar partículas de
névoa. Essa névoa é onipresente, global e envolve Titã por completo. E é por
isso que não podemos observar a superfície com nossos olhos, utilizando a
região visível do espectro.
Mas essas partículas de névoa, se
conjecturou, antes de chegarmos lá com Cassini, no decorrer de bilhões e
bilhões de anos lentamente se depositaram e cobriram a superfície na forma de um
espesso lodo orgânico. O que seria o equivalente, em Titã, ao alcatrão, ou
petróleo -- nós não sabíamos o quê. Mas isso é o que nós suspeitávamos. E essas
moléculas, especialmente o metano e o etano, podem ser líquidos à temperatura
da superfície de Titã. E então acontece que o metano é para Titã o que a água é
para a Terra. Ele se condensa na atmosfera, e ao se reconhecer essa
circunstância abre-se um mundo de possibilidades bizarras. Podemos ter nuvens
de metano, Ok, e acima dessas nuvens existem dezenas de quilômetros de névoa
que impedem que qualquer raio solar chegue à superfície. A temperatura na
superfície é de aproximadamente 210 ºC abaixo de zero.
Mas apesar desse frio, poderia haver chuva
caindo na superfície de Titã. E fazendo em Titã o que a chuva faz na Terra, ela
escava ravinas, forma rios e cataratas. Pode criar cânions, acumular-se em
grandes bacias e crateras. Ela pode arrastar o lodo do alto de montanhas e
colinas para planícies. Então pare e pense por um minuto. Tente imaginar o que
a superfície de Titã pode parecer. É escuro -- a noite em Titã é tão escura
quanto o crepúsculo subterrâneo na Terra É frio, é sombrio, é nebuloso, pode
estar chovendo, e você pode estar às margens do Lago Michigan completamente
preenchido com thinner.
Esta era a visão que nós tínhamos da
superfície de Titã antes de chegarmos lá com Cassini, e eu posso lhes dizer que
o que encontramos em Titã, embora não seja o mesmo em detalhe, é tão fascinante
quanto essa história. E para nós tem sido como -- para o pessoal da Cassini tem
sido como uma verdadeira aventura de Júlio Verne. Como eu disse, ela tem uma
espessa e extensa atmosfera. Essa é uma imagem de Titã contra o Sol, com os
anéis formando um belo plano de fundo. E mais uma lua ali -- eu nem mesmo sei
qual é. É uma atmosfera muito extensa. Nós temos instrumentos na Cassini que
podem observar a superfície através da atmosfera, e meu sistema de câmeras é um
deles. E nós tiramos fotos como essa. E o que você vê são regiões claras e
escuras, e isso é até onde nós podemos chegar. Foi tão mistificante -- nós não
conseguíamos entender o que estávamos vendo em Titã. Quando você olha mais
próximo para esta região, você começa a ver coisas como canais sinuosos, nós
não sabíamos. Você vê algumas coisas redondas. Isso, nós descobrimos mais
tarde, é na verdade uma cratera, mas existem muito poucas crateras na
superfície de Titã, significando que essa é uma superfície muito jovem. E
existem alguns artefatos que parecem ser tectônicos. Parecem que eles foram
separados. Sempre que você vê algo linear num planeta, quer dizer que houve uma
fratura, como uma falha. Então, foi tectonicamente alterado.
Mas nós não conseguíamos achar sentido em
nossas imagens, até seis meses depois de entrar em órbita, ocorreu um evento
que muitos consideraram o auge da investigação de Titã pela Cassini. E isso foi
o lançamento da sonda Huygens, a sonda espacial Huygens, construída na Europa,
que Cassini carregou durante sete anos através do sistema solar. Nós a lançamos
na atmosfera de Titã, e ela levou duas horas e meia para descer, aterrissando
na superfície. E eu só gostaria de enfatizar o quão significante é esse evento.
Esse é um dispositivo fabricado por humanos, e ele aterrissou no sistema solar
externo pela primeira vez na história da humanidade. Isso é tão significante
que, na minha cabeça, esse foi um evento que deveria ter sido celebrado com
grandes paradas em todas as cidades através dos EUA e Europa, e infelizmente
esse não foi o caso. (Risos)
E foi significante por outra razão. Essa foi
uma missão internacional, e essa evento foi celebrado na Europa, na Alemanha, e
as apresentações celebratórias foram dadas em sotaques ingleses, sotaques
americanos, sotaques alemães, franceses, italianos e holandeses. Foi uma
demonstração comovente do que as palavras "Nações Unidas" deveriam
significar: uma verdadeira união de nações, juntas num colossal esforço para o
bem. E nesse caso, foi um empreendimento massivo para explorar um planeta e
chegar ao entendimento de um sistema planetário que por toda a história da
humanidade tem sido inalcançável, e agora, humanos o tocaram. Então foi -- quer
dizer, eu estou tendo arrepios só de falar nisso, foi um evento tremendamente
emocional e é algo que eu pessoalmente nunca esquecerei, e vocês também não
deveriam. (Aplausos)
Enfim, a sonda fez medições da atmosfera no
seu caminho para a superfície, e também tirou fotos panorâmicas. E eu não sou
capaz de descrever como foi ver as primeiras fotos da superfície de Titã vindas
da sonda. E isso foi o que nós vimos. E foi uma surpresa, porque era tudo o que
nós queríamos que aquelas outras imagens tiradas em órbita fossem. Era um
padrão não-ambíguo, um padrão geológico. É um padrão de drenagem dendrítica que
só pode ser formado pelo fluxo de líquidos. E você pode seguir esses canais e
ver como todos eles convergem. E eles convergem nesse canal aqui, que drena
para essa região. Vocês estão olhando para um litoral. Era um litoral de
fluidos? Nós não sabíamos. Mas era algo como um litoral.
Essa imagem foi tirada a 16 quilômetros de
altura. Essa foi tirada a 8 quilômetros, Ok? De novo, a margem do litoral. Ok,
então 16 quilômetros, 8 quilômetros -- é aproximadamente a altitude de cruzeiro
de um avião. Se você fosse fazer uma viagem de avião através dos EUA, você
estaria voando nessas altitudes. Então essa seria a imagem que você teria se
estivesse na janela de um avião das Aerolinhas Titânicas ao sobrevoar a
superfície de Titã. (Risos)
E então, finalmente, a sonda pousou na
superfície, e eu irei lhes mostrar, senhoras e senhores, a primeira foto já
tirada da superfície de uma lua no sistema solar externo. E aqui está o
horizonte, Ok? Isso são, provavelmente, pedras de água congelada, sim!
(Aplausos) E, obviamente, a sonda pousou em uma dessas regiões planas e escuras
e ela não afundou. Então não era fluido, aquilo em que aterrissamos. Aquilo no
que a sonda pousou era basicamente o equivalente a uma superfície lamacenta em
Titã. Isso é um terreno não-consolidado que é impregnado de metano líquido. E
esse material provavelmente foi arrastado dos planaltos de Titã através desses
canais que nós vimos, e foi drenado através de bilhões de anos para encher
essas bacias. E foi nisso em que a sonda Huygens aterrissou.
Mas ainda assim, não havia sinais em nossas
imagens, ou mesmo nas imagens da Huygens, de quaisquer grandes corpos de
fluidos. Onde eles estavam? As coisas ficaram ainda mais enigmáticas quando
achamos dunas. Ok, então esse é o nosso filme da região equatorial de Titã,
mostrando essas dunas. Essas são dunas com 100 metros de altura, separadas por
alguns poucos quilômetros, e elas continuam por milhas e milhas e milhas.
Existem centenas, chegando a 1600 ou 1900 quilômetros de dunas. Esse é o
deserto Saara de Titã. É um lugar obviamente muito seco, ou então não haveriam
dunas.
Então, de novo, foi enigmático não existirem
fluidos, até que finalmente nós vimos lagos nas regiões polares. E aqui está a
cena de um lago na região polar sul de Titã. É aproximadamente do tamanho do
Lago Ontário. E então, há apenas uma semana e meia atrás, nós sobrevoamos o
pólo norte de Titã e achamos, novamente, nós achamos uma formação do tamanho do
Mar Cáspio. Então, aparentemente, líquidos, por alguma razão que nós não
entendemos, ou durante pelo menos essa estação, estão aparentemente nos pólos
de Titã. E eu acho que vocês concordariam que nós achamos Titã um lugar
excepcional e místico. É exótico, alienígena, mas, no entanto, ainda muito
parecido com a Terra, e tendo formações geológicas que lembram as Terrestres e
uma tremenda diversidade geográfica, e é um mundo fascinante, cujo único rival
no sistema solar em complexidade e riqueza é a própria Terra.
E então, agora, partimos para Encélado.
Encélado é uma pequena lua, aproximadamente um décimo do tamanho de Titã, e
você pode vê-la aqui ao lado da Inglaterra. É só para lhes mostrar o tamanho;
não é para ser considerado uma ameaça. (Risos) E Encélado é muito branco, muito
brilhante, e sua superfície é obviamente devastada por fraturas, é um corpo
muito ativo geologicamente. Mas a grande quantidade de descobertas em Encélado
foram feitas no pólo sul -- e nós estamos olhando para o pólo sul aqui -- onde
nós achamos esse sistema de fraturas. E elas são de uma cor diferente porque
tem uma composição diferente. Elas são revestidas. Essas fraturas são revestidas
de materiais orgânicos. Além disso, toda essa região, a região do pólo sul,
possui temperaturas elevadas. É o lugar mais quente do planeta, do corpo. Isso
é tão bizarro quanto descobrir que a Antártica na Terra é mais quente que os
trópicos.
E então, quando nós tiramos mais fotos,
descobrimos que dessas fraturas são expelidos jatos de finas partículas de gelo
que se estendem por centenas de milhas para o espaço. E quando nós colorizamos
essa imagem para realçar os fracos níveis de luz, nós vemos que esses jatos
alimentam uma pluma que nós de fato vemos, em outras imagens, se estende por
milhares de milhas para o espaço sobre Encélado. Meu time e eu examinamos
imagens como essa, e como essa, e pensamos sobre os outros resultados de
Cassini, E nós chegamos à conclusão de que esses jatos podem estar irrompendo a
partir de bolsões de água líquida sob a superfície de Encélado.
Então nós temos, possivelmente, água
líquida, materiais orgânicos e calor em excesso. Em outras palavras, nós
provavelmente nos topamos com o Graal da exploração planetária moderna. Ou, em
outras palavras, um ambiente que é potencialmente adequado para organismos
vivos. E eu não acho que eu preciso lhes dizer que a descoberta de vida em
algum outro lugar do nosso sistema solar, quer seja em Encélado ou outro lugar,
teria enorme implicações culturais e científicas. Porque se nós pudéssemos
demonstrar que a Gênese ocorreu não uma, mas duas vezes, independentemente em
nosso sistema solar, então isso significa, por dedução, que ela ocorreu um
imenso número de vezes através do universo e durante sua história de 13,7
milhões de anos.
Neste momento, a Terra é o único planeta que
conhecemos que está repleto de vida. Ela é preciosa, é única, ela ainda é, até
agora, o único lar que conhecemos. E se qualquer um de vocês esteve alerta e
coerente nos anos 60 -- e nós perdoamos se você não esteve, Ok -- você se
lembraria dessa famosa imagem tirada pelos astronautas da Apollo VIII em 1968.
Foi a primeira vez que a Terra foi fotografada do espaço, e ela teve um enorme
impacto na percepção do nosso lugar no universo, e nosso senso de
responsabilidade pela proteção de nosso próprio planeta.
Bem, nós, com a Cassini, também tiramos uma
"primeira" equivalente, uma imagem que nenhum olho humano viu antes.
É um eclipse total do Sol, visto do outro lado de Saturno. E nessa foto
inacreditavelmente bela você vê os principais anéis de Saturno contra a luz do
Sol, você vê a imagem refratada do Sol e você vê o anel criado, na verdade,
pelas exalações de Encélado. Mas como se isso não fosse brilhante o suficiente,
nós podemos achar nessa bela imagem, uma vista do nosso próprio planeta,
embalado nos braços dos anéis de Saturno.
Agora, existe algo profundamente comovente
em a nós mesmos de tão longe, e capturar a vista do nosso pequeno planeta
azul-oceano nos céus de outros mundos. E isso, e a perspectiva de nós mesmos
que ganhamos disso, pode ser, no final, a melhor recompensa que receberemos
dessa jornada de descobertas que começamos meio século atrás. E muito obrigado.
Esta é a transcrição da
fantástica palestra do físico do CERN Brian Cox, um dos melhores divulgadores
da ciência da atualidade, autor de diversos livros e apresentador de diversos
documentários que pretendo divulgar aqui em breve. Nesta palestra ele fala um
pouco sobre a importância da ciência para a humanidade, principalmente as áreas
voltadas para a exploração dos limites do conhecimento, como por exemplo a
exploração do espaço e a física de partículas. São áreas que exigem o trabalho
de milhares de técnicos, engenheiros e pesquisadores e consomem bilhões anualmente,
cujos recursos sempre são diminuídos em tempos de crise. Ele nos mostra como as
descobertas realizadas pela ciência tornam possíveis tecnologias que rendem
muito mais recursos do que aqueles que são aplicados.
Mas infelizmente os governos
ainda consideram os investimentos em ciências como gastos desnecessários e
ainda gastam milhares de vezes mais com gastos militares do que com pesquisa.
Isto falando de países desenvolvidos, que ainda investem, pois se falarmos
sobre países em desenvolvimento como o Brasil...
Para ver o vídeo legendado clique
aquie em Show transcript acione
as legendas Portuguese, Brazilian.
Brian
Cox: Por que precisamos dos exploradores
Nós vivemos em tempos econômicos difíceis e
desafiadores, é claro. E uma das primeiras vítimas de tempos econômicos
difíceis, é gasto público de qualquer natureza, mas certamente na linha de tiro
no momento é gasto público com ciência, em específico a ciência levada pela
curiosidade e exploração. Então, quero tentar convencê-los em cerca de 15
minutos que isso é uma coisa ridícula de se fazer.
Mas para explicar a situação, quero mostrar
-- o próximo slide não é uma tentativa de mostrar o pior TED slide na história
do TED, mas é um pouco desorganizado. (Risos) Na verdade, não é minha culpa; é
do jornal The Guardian. E é na verdade uma linda demonstração de quanto a
ciência custa. Pois, já que eu quero falar sobre continuar investindo em
ciência pela curiosidade e exploração, devo mostrar o quanto custa. Este é um
jogo chamado "ache o orçamento para a ciência." Este é o gasto governamental
do Reino Unido. Como podem ver, é cerca de 620 bilhões por ano.
O orçamento da ciência está -- se olharem
para a esquerda, tem um conjunto de bolhas roxas e um conjunto de bolhas
amarelas. E é um dos conjuntos de bolhas amarelas em volta da grande bolha
amarela. É cerca de 3,3 bilhões de libras por ano dos 620 bilhões. Isso
financia tudo no Reino Unido de pesquisa médica, exploração espacial, aonde eu
trabalho, na CERN em Genebra, física de partículas, engenharia, até mesmo artes
e humanitárias, financiados pelo orçamento da ciência, que é minúscula bolha
amarela de 3,3 bilhões em volta da bolha laranja no canto esquerdo da tela. É
sobre isso que estamos discutindo. Aquela porcentagem, na verdade, é mais ou
menos a mesma nos EUA, na Alemanha e na França. Pesquisa e Desenvolvimento na
economia, financiado pelo governo, consiste em cerca de 0,6% do PIB. Então é
isso que estamos discutindo.
A primeira coisa que quero dizer, e isso vem
direto do [programa da BBC] "Maravilhas do Sistema Solar," é que nossa
exploração do sistema solar e do universo nos mostrou que é indescritivelmente
lindo. Esta é uma foto que foi mandada pela sonda espacial Cassini em Saturno,
depois que filmamos "Maravilhas do Sistema Solar." Então não está na
série. É da lua Encélado. Então aquela esfera grande no canto é Saturno, que
está no fundo da foto. E aquela crescente ali é a lua Encélado, que é tão
grande quanto às Ilhas Britânicas. Tem cerca de 500 km de diâmetro. Lua
minúscula. O que é fascinante e lindo... esta é uma foto não processada, devo
dizer. É preta e branca, direto da órbita de Saturno.
O que é lindo é -- vocês podem ver ali na
borda tufos de uma quase fumaça bem fraca saindo da borda. É assim que
visualizamos isso no "Maravilhas do Sistema Solar." É uma imagem linda.
Descobrimos que aqueles tufos fracos são na verdade fontes de gelo saindo da
superfície desta lua minúscula. É fascinante e lindo por si só, mas achamos que
o mecanismo que que dá força a essas fontes requer a existência de lagos de
água líquida embaixo da superfície desta lua. E o importante nisso é que, no
nosso planeta, na Terra, aonde encontramos água líquida, encontramos vida.
Então, encontrar fortes evidências de líquido, poças de líquido, abaixo da
superfície de uma lua a mais de um bilhão de quilômetros da Terra é realmente
impressionante. O que estamos dizendo essencialmente é que talvez haja um
habitat para vida no sistema solar. Bom, isso foi um gráfico. Eu quero mostrar
esta foto. É mais uma foto de Encélado. Foi quando Cassini voou embaixo de
Encélado. Foi um voo bem baixo, somente alguns quilômetros acima da superfície.
E, de novo, uma foto real das fontes de gelo levantando para o espaço,
absolutamente fascinante.
E este não é o primeiro candidato à vida no
sistema solar. Existe um lugar, que é uma lua em Júpiter, Europa. E tivemos que
voar até o sistema Joviano para ter uma ideia de que esta lua, assim como
outras luas, não era apenas uma bola morta de rochas. É na verdade uma lua de
gelo. Estamos olhando para a superfície da lua Europa, que é uma camada grossa
de gelo, provavelmente uns 100 km. Mas ao medir a maneira que Europa interage
com o campo magnético de Júpiter, e ao observar como as rachaduras no gelo que
vocês veem ali naquele gráfico se movem inferimos enfaticamente que existe um
oceano de líquido envolvendo toda a superfície de Europa. Então abaixo do gelo,
existe um oceano de líquido em volta da lua. Achamos que poderia ter
quilômetros de profundidade. Achamos que é água salgada, e isso significa que
existe mais água nessa lua de Júpiter do que existe em todos os oceanos da
Terra juntos. Então esse lugar, uma lua ao redor de Júpiter, é provavelmente o
primeiro candidato para achar vida numa lua ou num corpo fora da Terra, que
temos conhecimento. Uma descoberta enorme e linda.
Nossa exploração do sistema solar nos
ensinou que o sistema solar é lindo. Também pode ter indicado o caminho para
responder uma das questões mais profundas que podemos imaginar, "Estamos
sozinhos no universo?" Existe algum outro uso para exploração e ciência
além de questionamentos? Bem, existe sim. Esta é uma foto muito famosa tirada
na minha primeira véspera de Natal, 24 de dezembro de 1968, quando eu tinha
mais ou menos oito meses. Foi tirada pela Apollo 8 à medida que passava por
trás da Lua. O "nascer da Terra" da Apollo 8. Uma foto famosa; muitos
dizem que foi a foto que salvou 1968, que foi um ano turbulento -- a revolta
dos estudantes em Paris, o auge da Guerra do Vietnã. A razão porque muitas
pessoas pensam isso desta foto, e Al Gore disse isso muitas vezes no palco do
TED, é que esta foto foi, possivelmente, o começo do movimento ambientalista.
Porque, pela primeira vez, nós vimos nosso mundo não como um lugar sólido,
imóvel e meio que indestrutível, mas um mundo muito pequeno e frágil pendurado
na escuridão do espaço.
O que geralmente não é dito sobre exploração
espacial, sobre o programa Apollo, é a sua contribuição econômica. Ao mesmo
tempo que você argumenta que foi uma façanha tremenda e maravilhosa e
proporcionou fotos como esta, foi muito caro, certo? Na verdade, muitos estudos
foram feitos sobre a efetividade econômica, o impacto econômico do [programa]
Apollo. O maior deles foi em 1975 pela Chase Econometrics. E mostrou que para
cada dólar gasto no Apollo, 14 dólares retornaram para economia dos EUA. Então
o programa Apollo se pagou em inspiração, em engenharia, conquistas e ao
inspirar jovens cientistas e engenheiros 14 vezes mais. Então exploração pode
se pagar.
E quanto à descoberta científica? E quanto
ao incentivo à inovação? Isto parece uma foto de quase nada. Isto é uma foto do
espectro de hidrogênio. Nos anos 1880, 1890, muitos cientistas, muitos
observadores, olharam para a luz que saía dos átomos. E eles viram imagens
estranhas como esta. O que você vê quando coloca isso através de um prisma é
que você esquenta hidrogênio e isso não brilha como uma luz branca, isso emite
luz em cores específicas, vermelho, azul claro, alguns azuis escuros. Isso
levou a um entendimento da estrutura atômica pois isso explica que o átomo é um
núcleo singular com elétrons movendo-se ao seu redor. E os elétrons só podem
estar em lugares específicos. E quando eles pulam para o próximo lugar possível
e voltam para o lugar anterior, eles produzem luz de cores específicas.
Então o fato de que os átomos quando
aquecidos emitirem luz de cores muito específicas, foi um dos incentivos chave
que levou ao desenvolvimento da teoria quântica, a teoria das estruturas dos
átomos. Eu gostaria de mostrar esta foto pois isso é extraordinário. Esta é uma
foto do espectro do Sol. E esta é uma foto de átomos na atmosfera do Sol
absorvendo luz. E novamente, eles só absorvem luz em cores diferentes quando
elétrons pulam e voltam, pulam e voltam. Mas olhem para o número de linhas
pretas naquele espectro. E o elemento Hélio foi descoberto somente por observar
a luz do Sol porque algumas das linhas pretas vistas não correspondiam a um
elemento existente. E é por isso que Hélio é chamado de Hélio. É chamado
"helios" -- helios do Sol.
Isso pode parecer esotérico, e na verdade
foi uma busca esotérica, mas a teoria quântica rapidamente levou ao
entendimento dos comportamentos dos elétrons em matérias, como o silício, por
exemplo. A maneira como o silício se comporta, o fato de podermos construir
transístores, é um fenômeno puramente quântico. Então sem o entendimento levado
pela curiosidade da estrutura dos átomos, que resultou nessa teoria esotérica,
mecânica quântica, não teríamos os transístores, não teríamos chips de silício,
não teríamos o que é simplesmente a base da nossa economia moderna.
Tem mais uma surpresa neste conto
maravilhoso. Em "Maravilhas do Sistema Solar," enfatizamos várias
vezes que as leis da Física são universais. Uma das coisas mais incríveis sobre
a Física e a compreensão da natureza que temos na Terra, é que podemos
transportar, não somente aos planetas, mas até as estrelas e galáxias mais
distantes. E uma das previsões surpreendentes da mecânica quântica, somente ao
olhar para estrutura dos átomos -- a mesma teoria que descreve os transístores
-- é não existem estrelas no universo que atingiram o fim de sua vida que são
maiores que, especificamente, 1,4 vez a massa do Sol. Este é o limite imposto à
massa das estrelas. Você pode calcular num pedaço de papel no laboratório,
pegar um telescópio, apontar para o céu e descobrir que não há estrelas mortas
maiores do que 1,4 vez a massa do Sol. Esta é uma previsão incrível.
O que acontece quando se tem uma estrela
quase no limite dessa massa? Bem, esta é uma foto. Esta é uma foto de uma
galáxia, uma galáxia típica "nosso jardim" com, o quê?, 100 bilhões
de estrelas como nosso Sol. É somente uma das bilhões de galáxias no universo.
Existem bilhões de estrelas no centro galático, e é por isso que brilha tão
intensamente. Está distante cerca de 50 milhões de anos-luz, então é uma das
nossas galáxias vizinhas. Mas aquela estrela brilhante ali é uma das estrelas da
galáxia. Então aquela estrela também está distante 50 milhões de anos-luz. É
parte da galáxia, e brilha tão intensamente quanto o centro da galáxia com um
bilhão de estrelas. É uma explosão supernova Tipo 1a. É um fenômeno incrível
porque é uma estrela que só está lá. É chamada de anã carbono-oxigênio. Ela é
mais ou menos 1,3 vez a massa do Sol. E tem uma companhia binária que move ao
seu redor, então uma estrela grande, uma grande bola de gás. E o que ela faz é
sugar o gás da sua estrela companheira, até chegar ao limite chamado limite
Chandrasekhar, e então ela explode. Ela explode e ela brilha tão intensamente
quanto um bilhão de estrelas por cerca de duas semanas, e ela libera não
somente energia, mas uma quantidade enorme de elementos químicos no universo.
Na verdade, aquela é uma anã carbono-oxigênio.
Agora, não havia carbono e oxigênio no
universo no Big Bang. E não havia carbono e oxigênio no universo durante a
primeira geração de estrelas. Foi produzido em estrelas como esta, aprisionado
e então devolvido ao universo em explosões como essa para então recondensar em
planetas, estrelas, novos sistemas solares e, de fato, pessoas como nós. Acho
que esta é uma demonstração extraordinária do poder e beleza e universalidade
das leis da Física, porque entendemos o processo, porque entendemos a estrutura
dos átomos aqui na Terra.
Esta é uma citação que achei -- estamos
falando sobre acaso aqui -- de Alexander Fleming. "Quando eu acordei logo
após a aurora em 28 de setembro de 1928, certamente não planejei revolucionar
toda a medicina ao descobrir o primeiro antibiótico do mundo." Agora, os
exploradores do mundo do átomo não pretendiam inventar o transístor. E
certamente não pretendiam descrever a mecânica das explosões de supernovas, que
acabou no fim nos dizendo onde os blocos de montar da vida foram sintetizados
no universo. Então, acho que ciência pode ser -- acaso é importante. Pode ser
lindo. Pode revelar coisas surpreendentes. Também pode finalmente revelar as
ideias mais profundas sobre nosso lugar no universo e realmente o valor do
nosso planeta.
Esta é uma foto espetacular do nosso
planeta. Não parece ser o nosso planeta. Parece ser Saturno porque, é claro, é
Saturno! Foi tirada pela sonda espacial Cassini. Mas é uma foto famosa, não por
causa da da beleza e majestade dos anéis de Saturno, mas por causa de um
pequeno ponto apagado pendurado embaixo de um dos anéis. E se eu aumentar a
área, vocês podem ver. Parece ser uma lua, mas é na verdade uma foto da Terra.
Foi uma foto da Terra tirada naquela parte de Saturno. Aquele é o nosso planeta
a mais de um bilhão de quilômetros de distância. Acredito que a Terra tem um
estranho fator que quanto mais nos distanciamos dela, mais linda ela se parece.
Mas esta não é a foto mais distante ou mais
famosa do nosso planeta. Foi tirada por essa coisa, que é chamada de nave
Voyager. E esta é uma foto minha na frente da nave para uma ideia de tamanho. A
Voyager é uma máquina minúscula. Está atualmente a 16 bilhões de quilômetros da
Terra, transmitindo com aquela "antena" com uma potência de 20 watts,
e ainda estamos em contato com ela. Visitou Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. E
depois que a nave visitou esses quatro planetas, Carl Sagan, que é um dos meus
maiores heróis, teve a maravilhosa ideia de girar a Voyager e tirar uma foto de
cada planeta visitado. E tirou esta foto da Terra. É difícil ver a Terra ali, é
chamada de foto do "Ponto Azul Fraco", mas a Terra está suspensa
naquela faixa de luz. Esta é a Terra a cerca de 6,5 bilhões de quilômetros.
E eu gostaria de ler para vocês o que Sagan
escreveu sobre isso, para terminar, porque eu não consigo achar palavras tão
lindas para descrever o que ele viu na foto que ele acabou tirando. Ele disse:
"Considere de novo aquele ponto. Aquilo é aqui. Aquilo é nossa casa.
Aquilo somos nós. Sobre ele, todos que você ama, todos que você conhece, todos
que você já ouvir falar, cada ser humano que já viveu sua vida. O conjunto de
alegria e sofrimento milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas
confiantes, cada um que caça e busca comida, cada herói e covarde, cada criador
e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal apaixonado,
cada mãe e pai, criança esperançosa, inventor e explorador, cada professor de
moral, cada político corrupto, cada celebridade, cada líder supremo, cada santo
e pecador na história de nossa espécie, viveu ali, numa bola de poeira,
suspensa num raio de sol. Foi dito que astronomia é uma experiência humilde e
formadora de caráter. Talvez não haja demonstração melhor da insensatez da
prepotência humana do que esta imagem distante do nosso pequeno mundo. Para
mim, isso destaca nossa responsabilidade em lidar melhor com os outros, e
preservar e estimar o ponto azul fraco, o único lar que conhecemos."
Lindas palavras sobre o poder da ciência e
exploração. O argumento foi sempre dito, e sempre será dito, que conhecemos o
suficiente sobre o universo. Poderia ser dito nos anos 1920; não teríamos tido
a penicilina. Poderia ser dito nos anos 1890; não teríamos o transístor. E é
dito hoje nessa época de dificuldades econômicas. Certamente, sabemos o
suficiente. Não precisamos descobrir mais nada sobre o universo.
Deixarei as últimas palavras para alguém que
está rapidamente se tornando um herói meu, Humphrey Davy, que foi cientista na
virada do século 19. Ele estava claramente sob fogo cruzado o tempo todo.
Sabemos o suficiente na virada do século 19. Apenas explore, apenas construa
coisas. Ele disse isso: "Nada é mais fatal para o progresso da mente
humana do que achar que nossas visões da ciência são definitivas, que nossos
triunfos são completos, que não há mistérios na natureza, e que não há mundos
novos a conquistar."