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sábado, 21 de maio de 2016

How We’ll Live On Mars, de Stephen L. Petranek

How We’ll Live On Mars é um interessante livro sobre a possibilidade de uma missão tripulada ao planeta Marte ainda na próxima década. O autor Stephen L. Petranek é um recordista de visualizações do TED talks, e neste trabalho do selo A TED Original, apresenta algumas possibilidades para a realização de tal projeto, dando ênfase à exploração privada do espaço.

As dificuldades para se levar seres humanos para o planeta vermelho são muitas. Começando pela viagem de aproximadamente 8 meses de ida pelo espaço profundo, sem a proteção da magnetosfera terrestre contra o vento solar, recebendo por este tempo prolongado todo o poder destrutivo dos raios cósmicos, além dos efeitos da falta de gravidade, e tendo que contar somente com os suprimentos de ar, comida e água da nave. O total da viagem contando o tempo de permanência no planeta e a viagem de volta, ultrapassaria 2 anos. Tal projeto, além de arriscado, custaria dezenas de bilhões de dólares, e nestes tempos de crise econômica mundial, poucos países parecem dispostos a bancar tal empreitada. É aí que entra a iniciativa privada.

Stephen L. Petranek
Novos empreendedores da indústria astronáutica, em especial o sul africano naturalizado americano Elon Musk, parecem dispostos a tal. Musk e sua empresa Space X já fornecem transporte de suprimentos à Estação Espacial Internacional com sua nave Dragon e seu foguete Falcon, em um contrato bilionário com a NASA. Até o final da década a nave Falcon também fará o transporte de astronautas, tornando os EUA novamente independentes no setor, já que desde a aposentadoria dos ônibus espaciais, dependem das naves Soyuz russas. Ele também está desenvolvendo o Falcon Heavy, que será o maior foguete em operação no mundo, e que poderia levar ao espaço uma Falcon aprimorada para a viagem ao planeta vermelho. O empresário já declarou que o objetivo final de sua empresa é a exploração e colonização de Marte, e dados os seus fantásticos avanços, poucos duvidam de que irá conseguir.

Elon Musk, da Space X
Mais que um sonho, a exploração de Marte é uma necessidade para a humanidade. É essencial que nos tornemos uma civilização multiplanetária para a sobrevivência da vida da Terra no longo prazo, e nos livrar de vez do risco de extinção por alguma catástrofe na biosfera terrestre. Uma colônia no planeta vermelho poderia se tornar um novo polo de desenvolvimento tecnológico e servir de base avançada da humanidade na exploração dos recursos minerais quase ilimitados do cinturão de asteroides e do Sistema Solar exterior. A busca de vida em Marte e em outros planetas e luas também poderia nos responder à pergunta fundamental se estamos sozinhos no universo.

A NASA, que sempre projetou para 20 ou 30 anos no futuro a realização de tal missão tripulada, pela primeira vez corre o risco de ser ultrapassada; não por outra agência espacial, mas sim, por uma nova geração de visionários da iniciativa privada, livres das limitações orçamentárias, políticas e burocráticas dos governos.

Veja a palestra no TED em que o autor fala sobre o assunto:



Também é possível ver a palestra no website do TED, basta configurar as legendas em português, clicando aqui.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Eu, Lápis, de Leonard Read

Eu, Lápis (I, Pencil), é um famoso ensaio escrito pelo economista Leonard Read, fundador da Foundation for Economic Education (FEE) [Fundação para a Educação Econômica], sobre a complexidade e, por que não dizer, da beleza do livre mercado. É uma fantástica metáfora sobre o funcionamento da economia moderna, explicando para o público leigo como são complexas as interações entre os diversos agentes econômicos e a impossibilidade do planejamento central de uma economia, tudo através da genealogia de um simples lápis.

Nunca paramos para pensar, mas é impossível para um ser humano sozinho fabricar um simples lápis. É atordoante pensar na quantidade de pessoas que trabalharam para fabricar este simples objeto feito de madeira, grafite, borracha e metal: o lenhador que derrubou a árvore, quem fabricou as ferramentas e quem preparou o almoço do lenhador; os mineiros que retiraram o grafite das minas, aqueles que transportaram o grafite para a fábrica, os que fabricaram o caminhão que transportou a carga e os que prepararam o grafite e o moldaram no formato correto; aqueles que extraíram o metal de uma mina, a siderúrgica que preparou a liga metálica; os que extraíram a borracha de uma seringueira, e a prepararam, moldaram, transportaram e a encaixaram em seu lugar; são milhões de pessoas espalhadas por vários países do mundo!

Leonard E. Read
A esmagadora maioria destas milhões pessoas não tem a menor ideia de que uma ínfima, ainda que fundamental parte de seu tempo está sendo usado na fabricação de um mero lápis. Ninguém coordena, nem muito menos comanda esta multidão de pessoas e este gigantesco aparato logístico; somente as forças do mercado, que guiam os interesses individuais de cada envolvido na fabricação deste simples objeto, que compramos por um preço irrisório em uma papelaria.

O escrito de Read ficou famoso ao ser citado pelo economista Milton Friedman no documentário Free to Choose [Livre para Escolher] e é mais atual do que nunca nestes tempos em que os governos interferem cada vez mais na economia sob o pretexto de corrigir as falhas de mercado, com resultados catastróficos no desenvolvimento econômico, nas liberdades individuais e no bem-estar da população.

O artigo pode ser lido na íntegra no website da FEE (em inglês) clicando aqui.

Se preferir, o artigo pode ser lido também na íntegra e traduzido para o português na página do Instituto Ludwig von Mises Brasil clicando aqui.

Este é o vídeo feito pela FEE, dublado em português pelo Instituto Rothbard Brasil:



Este é um trecho do documentário Free to Choose, de Milton Friedman, que tornou famoso o ensaio de Leonard Read:


sexta-feira, 16 de maio de 2014

A Onda (The Wave, 1981)

Curta metragem A Onda

A Onda (The Wave, 1981) é um curta-metragem para a televisão dirigido por Alex Grasshoff e estrelado pelo ator Bruce Davison (o Senador Robert Kelly nos primeiros filmes dos X-Men). O filme é baseado em uma história real sobre um experimento realizado por um professor de história americano em sala de aula, que ficou conhecido como A Terceira Onda.

Bruce Davison
A Terceira Onda foi um experimento social realizado pelo professor de história e escritor americano Ron Jones, que em abril de 1967 dava aula para alunos do segundo ano da Cubberley High School, na cidade de Palo Alto, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Esta experiência fez parte das aulas de Jones naquele ano sobre o mundo contemporâneo, como parte dos estudos sobre a Alemanha nazista.  Teve o objetivo de mostrar como uma população inteira foi praticamente hipnotizada pelos nazistas, provando que mesmo em uma sociedade democrática as pessoas não estão livres da conversão ideológica por líderes carismáticos.

Die Welle, filme alemão baseado em A Onda
Jones começou seu experimento sugerindo aos seus alunos que a democracia possui vários problemas, decorrentes do fato de valorizar em demasia o indivíduo e sua liberdade, o que incentivaria o egoísmo; e que o segredo para se conseguir uma sociedade mais justa e forte era a disciplina e o espírito de grupo. Através da adoção de um cumprimento que diferenciava os seus estudantes dos demais – que lembrava o saudação fascista de Mussolini –, a utilização de um uniforme pelos integrantes, e o desprezo ao alunos que não eram da turma, ele criou um grupo coeso e disciplinado, atento e receptivo a qualquer ideia que lhes fosse transmitida por seu líder – o próprio professor Jones. O lema criado foi “força através da disciplina, força através da comunidade, força através da ação, força através do orgulho”. Repetido à exaustão, este mantra deu as linhas mestras para os integrantes do grupo e se tornou o dogma a ser seguido sem contestação – quem questionasse algo era excluído. No fim o professor dissolveu o grupo e revelou aos alunos que tudo não passou de um experimento, e eles não acreditaram em como puderam ser manipulados tão facilmente.

A história também deu origem ao filme alemão Die Welle, de 2008, um longa-metragem com um enredo bem parecido, mas com uma conclusão mais trágica. A história de Jones também deu origem ao livro The Wave, do escritor Todd Strasser, que é a romantização dos eventos ocorridos durante A Terceira Onda.

Manifestantes da Marcha da Família com Deus no ano de 2014


The Wave, livro de Todd Strasser
Em nossos tempos onde tanta gente participa de passeatas pedindo a volta da ditadura militar no Brasil – como vimos recentemente na marcha da família e no aniversário de 50 anos do golpe militar de 1964 – é sempre bom refletir sobre os perigos do autoritarismo e da conversão ideológica. Muitos reclamam da democracia e tem sido muito difundida no Brasil hoje a ideia de que a corrupção é exclusiva do novo regime democrático brasileiro. Alega-se uma suposta inversão de valores e clama-se pela imposição de códigos morais mais rígidos na sociedade; mas tudo tem o seu preço, e o preço da liberdade é a convivência com valores diferentes dos nossos; mas o seu oposto – o autoritarismo – é um pesadelo em que a individualidade é sufocada em nome da ideologia oficial, concorde você ou não. E nesta distopia a corrupção encontra um terreno fértil e seguro para se disseminar (inúmeros escândalos de corrupção também ocorreram durante a ditadura militar). Basta uma pesquisa rápida na internet para encontrar aterrorizantes relatos sobre fatos ocorridos em regimes totalitários como o da China, Irã, Arábia Saudita, Coreia do Norte, Cuba, entre tantos outros; países onde não há liberdade de expressão, a internet e a mídia são controladas, e governos autoritários controlam rigidamente todos os aspectos da vida dos cidadãos; censurando abertamente livros, filmes, teatro, notícias, discursos, artigos científicos e qualquer coisa que seja considerada subversiva e contra os ideais do governo, regime, revolução, líder, entre outros; criados para serem adorados e obedecidos sem questionamento, sob o risco de prisão, tortura e até morte.


A Onda (legendado)


A Onda (dublado)

A Onda (Die Welle) 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

The Mars Underground

The Mars Underground é um documentário sobre a possibilidade de futuras missões tripuladas ao planeta Marte utilizando o Mars Direct, criado pelo engenheiro aeroespacial Robert Zubrin. O vídeo questiona os motivos de missões tripuladas à Marte ainda não terem acontecido, discute a necessidade da exploração e colonização humana do planeta vermelho e sua importância para o futuro da humanidade. Outro assunto discutido no documentário é a atual estagnação do programa espacial americano. Após o sucesso total do Programa Apollo, que colocou os primeiros seres humanos na Lua, a NASA optou pelo desenvolvimento dos ônibus espaciais e a construção da Estação Espacial Internacional, em detrimento de uma missão tripulada à Marte.

Planeta Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar e fica distante entre 206 e 249 milhões de quilômetros do Sol, bem mais afastado que a Terra, que fica entre 147 e 152 milhões de quilômetros. Ele possui 6.792 Km de diâmetro, pouco mais da metade do diâmetro da Terra, que tem 12.756,2 Km. A atmosfera é constituída em cerca de 95% por dióxido de carbono, mas a pressão atmosférica equivale a menos de 1% da terrestre, com temperaturas baixíssimas de até -143 0C, mas que podem chegar acima de 20 0C durante o verão equatorial. Ele possui um dia de 24 horas e 40 minutos, quase o mesmo que o dia terrestre. Apesar da atmosfera extremamente rarefeita e das baixas temperaturas, é o local mais parecido com a Terra em todo o Sistema Solar e possui uma área de terra firme maior que a de nosso planeta, pelo fato de não possuir oceanos. Devido a todas essas características, Marte tem o melhor potencial para se tornar o segundo lar dos seres humanos. Robert Zubrin argumenta que com a tecnologia atual, uma missão tripulada poderia ser desenvolvida num prazo de 10 anos, caso houvesse recursos financeiros e vontade política.

Robert Zubrin
Robert Zubrin faz duras críticas à NASA, que segundo ele, estaria sem rumo desde os últimos pousos na Lua no início dos anos 70. Após o Programa Apollo, ao invés de investir em uma missão à Marte, a opção pelo desenvolvimento dos Ônibus Espaciais e posteriormente a construção da Estação Espacial Internacional, e desde então nenhum ser humano deixou a órbita baixa terrestre nas últimas 4 décadas. Em 1989, durante o governo Bush, houve uma tentativa de se criar um programa espacial que levaria o homem à Marte, que resultou em um projeto orçado em 450 bilhões de dólares e que envolvia a construção de uma gigantesca estação espacial, instalações industriais na Lua e a montagem de uma enorme nave com propulsão nuclear que faria uma viagem de ida e volta ao planeta vermelho com a previsão de apenas alguns dias de estada na superfície. Este projeto foi imediatamente rejeitado pelo congresso americano devido ao seu custo astronômico.

Ônibus Espacial
Após a rejeição do projeto, Robert Zubrin e alguns colaboradores que trabalhavam na empresa Martin Marietta Astronautics (atual Lookhed Martin) desenvolveram um projeto de missão que ficou conhecido como Mars Direct, cuja filosofia era viajar leve, rápido e barato. Diferentemente da gigantesca nave nuclear prevista no plano proposto durante a administração do presidente Bush, uma nave pequena aproveitaria o melhor alinhamento entre a Terra e Marte viajando apenas com o combustível de ida. Um módulo lançado previamente produziria o combustível da viagem de retorno utilizando como matéria prima a própria atmosfera marciana na superfície. Como mais de 90% do peso de um foguete é o seu combustível, o peso da nave seria bem menor, ela poderia viajar mais rápido e o seu custo seria bem mais baixo. A tripulação ficaria um ano e meio explorando a superfície e por fim aproveitaria o melhor alinhamento entre os planetas para realizar a viagem de retorno.

Estação Espacial Internacional
Zubrin faz uma defesa apaixonada da exploração humana de Marte e sua colonização, como forma de se criar um novo e dinâmico ramo da civilização, que poderia trazer benefícios para toda a humanidade. Além das novas tecnologias para o dia a dia que surgiriam no desenvolvimento da missão, se criaria um capital incalculável através da inspiração dos mais jovens a se tornarem engenheiros e cientistas, que desenvolveriam as novas tecnologias a serem utilizadas pelas futuras gerações. Além disso, aqueles que realizassem tais missões gravariam eternamente seus nomes como heróis na história da humanidade. Outra ideia, esta mais especulativa, seria a possibilidade de “terraformar” Marte, tornando o planeta mais parecido com Terra e habitável para os seres humanos.

Excelente documentário. Inspirador na forma como mostra que o futuro pode ser belo e vibrante se investirmos agora em grandes projetos para o bem das gerações futuras. Como citado no documentário, daqui a alguns séculos ninguém saberá quais eram as crises econômicas, as disputas políticas e as guerras da década de 60, mas todos se lembrarão dos primeiros passos do homem na Lua. Muita gente acha que investimentos em ciência e exploração são gastos desnecessários que poderiam ser usados melhor na solução dos problemas atuais da humanidade. Mas as soluções dos problemas atuais virão do futuro, e o futuro tem que ser construído no presente, e envolve novas tecnologias e a distribuição e o aperfeiçoamento das que já existem.



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

James Cameron: Antes de Avatar... um garoto curioso

James Cameron
Esta é a transcrição da palestra para o TED do cineasta James Cameron, responsável pelos dois filmes de maior bilheteria da história do cinema: Avatar e Titanic. Ele também tem diversos outros filmes de sucesso em seu currículo, como Exterminador do Futuro (The Terminator, 1984), Aliens – O resgate (Aliens, 1986), O Segredo do Abismo (The Abyss, 1989), Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final (Terminator 2: Judgement Day, 1991), True Lies (1994), entre outros. Aqui ele faz um resumo de sua vida, de um garoto fã de ficção científica à cineasta de sucesso e explorador. Além de filmes, ele também fez diversos documentários, principalmente no longo período entre os filmes Titanic, lançado em 1997, e Avatar, em 2009. Deste período vem o sensacional documentário Criaturas das Profundezas (Aliens of the Deep), onde ele, juntamente com alguns astrobiólogos da NASA, exploram em um submarino russo, fontes termais nas profundezas do Oceano Atlântico em busca dos estranhos seres vivos que ali vivem em um ecossistema totalmente independente do Sol.

Alguns filmes de James Cameron


Para ver o vídeo legendado clique aqui e em Show transcript acione as legendas Portuguese, Brazilian



James Cameron: Antes de Avatar... um garoto curioso

Cresci sob uma dieta regular de ficção científica Durante o segundo grau tomava um ônibus para escola era uma hora de ida, outra de volta, todos os dias e eu estava sempre absorto em um livro um livro de ficção científica, que transportava minha mente a outros mundos, e satisfazia, de uma forma narrativa, esta curiosidade insaciável que eu tinha
E vocês sabem que a curiosidade também se manifestava no fato de que sempre que eu não estava na escola eu estava ao ar livre, no mato, fazendo excursões e coletando "amostras", sapos e cobras e insetos e água das poças, e trazendo-os de volta, examinando-os no microscópio Vocês sabem, eu era realmente um fanático por ciência Mas tudo isso se tratava de tentar entender o mundo, entender os limites das possibilidades.
E minha paixão por ficção científica de fato parecia se refletir no mundo ao meu redor, por causa do que estava acontecendo, isso era no fim dos anos 60, estávamos indo à lua, estávamos explorando os oceanos profundos, Jacques Cousteau estava em nossas salas de estar com seus programas especiais fantásticos que nos mostravam animais e lugares e um mundo incrível que nunca poderíamos ter imaginado antes Então, isso parecia estar de acordo com toda essa parte de ficção científica.
E eu era um artista. Eu desenhava. Eu pintava. E eu descobri já que não havia video games e esse excesso de filmes feitos por computador e todo esse imaginário no cenário da mídia, eu tinha que criar essas imagens em minha cabeça. Vocês sabem, todos passamos por isso, quando crianças tínhamos que ler um livro e através da descrição do autor criar algo na tela da nossa mente Então, minha resposta era pintar, desenhar criaturas alienígenas, mundos extra-terrestres, robôs, espaçonaves, todas essas coisas. Eu era constantemente pego na aula de matemática rabiscando atrás do livro. Ou seja, a criatividade tinha que encontrar um escape.
E uma coisa interessante aconteceu, os programas de Jacques Cousteau realmente me deixaram muito entusiasmado sobre o fato de que havia um mundo alienígena aqui na Terra Talvez eu realmente não vá a um mundo extra-terrestre em uma espaçonave um dia. Isso parecia realmente muito pouco provável. Mas havia um mundo que eu podia visitar, bem aqui na Terra, que era rico e exótico como tudo que eu havia imaginado ao ler esses livros.
Então eu decidi que seria um mergulhador quando tinha 15 anos. O único problema é que eu vivia em uma cidadezinha do Canadá, a 1000 km do oceano mais próximo. Mas não deixei que isso me desanimasse. Insisti com meu pai até que ele finalmente encontrou aulas de mergulho em Buffalo, Nova Iorque, cruzando a fronteira onde morávamos. E eu realmente recebi meu certificado em uma piscina da ACM em pleno inverno em Buffalo, Nova Iorque. E não vi um oceano, um oceano de verdade, por mais 2 anos, até que nos mudamos para Califórnia.
Desde então, nos próximos 40 anos, passei cerca de 3.000 horas embaixo d´água, E 500 dessas horas foram em submersíveis. E aprendi que o ambiente de um oceano profundo, e mesmo dos oceanos mais rasos, são completamente ricos com uma vida incrível que está realmente além da nossa imaginação. A imaginação da natureza é tão ilimitada comparada com nossa pobre imaginação humana. Até hoje, ainda fico totalmente surpreso com o que vejo em meus mergulhos. E minha história de amor com o oceano continua, tão forte como sempre foi.
Mas, quando escolhi uma carreira, já adulto, foi fazer filmes. E esta parecia ser a melhor maneira de conciliar minha necessidade de contar histórias, com minha necessidade de criar imagens. E quando criança eu estava sempre desenhando histórias em quadrinhos e coisas do tipo. Então, fazer filmes era a maneira de colocar imagens e histórias juntos. E isso fazia sentido. E claro que as histórias que escolhi contar eram histórias de ficção científica: "Exterminador do Futuro", "Aliens" e "O Abismo". E com "O Abismo", eu estava juntando minha paixão pelo mundo aquático e mergulho, com a produção de filmes. Então, vocês sabem, fundindo as duas paixões.
Algo interessante surgiu de "O Abismo", que era resolver um problema específico de narrativa neste filme que era criar um tipo de criatura aquática líquida, nós realmente abraçamos a animação gerada por computador. E isso resultou na primeira superfície macia de um personagem, de animação por computador que jamais existiu em um filme. Apesar do filme não ter dado lucro, por pouco ficamos quites, devo dizer, fui testemunha de algo incrível, que foi o público, o público global ficou boquiaberto com esta aparente magia.
Vocês sabem, é a lei de Arthur Clarke de que qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia. As pessoas estavam vendo algo mágico. E isso me deixou muito entusiasmado. E pensei, "Uau, isso é algo que precisa ser incorporado à arte cinematográfica." Então, com "Exterminador do Futuro 2", que foi meu próximo filme, levamos isso muito mais além. Trabalhando com ILM, criamos uma figura de metal líquido no filme. O sucesso dependia do efeito funcionar ou não. E funcionou. E criamos mágica outra vez. E tivemos o mesmo resultado com o público. Apesar de que faturamos um pouco mais nesse filme.
Então, traçando uma linha entre esses dois pontos de experiência, chegamos ao ponto de que seria um mundo totalmente novo, era um mundo totalmente novo de criatividade para os artistas da indústria de cinema. Então, comecei um negócio com Stan Winston, meu grande amigo Stan Winston, que era número um em maquiagem e desenho de criaturas naquela época, e se chamava Digital Domain. E o conceito da empresa era que pularíamos a fase dos processos analógicos das impressoras ópticas e iríamos direto para produção digital. E realmente fizemos isso, o que nos deu uma vantagem competitiva por um tempo.
Mas, nos encontramos atrasados no meio dos anos 90 no negócio de desenho de criaturas e personagens que era para o que havíamos criado a empresa. Então, escrevi este texto chamado "Avatar", que tinha a intenção de absolutamente inovar em efeitos visuais, de efeitos gerados por computador, ir além com personagens realistas com emoções humanas gerados por computador e os principais personagens seriam gerados por computador e o mundo seria gerado por computador Mas era avançado demais. E meus funcionários me disseram que não poderíamos fazer isso por algum tempo.
Então, arquivei a idéia, e fiz esse outro filme sobre um enorme navio que afunda. (Risos) Vocês sabem, fui ao estúdio e lancei essa idéia como " 'Romeu e Julieta' em um navio" Vai ser um romance épico, um filme ardente. Secretamente, o que eu queria fazer era mergulhar no mundo real do "Titanic". E foi por isso que eu fiz o filme. (Aplausos) E essa é a verdade. Bem, o estúdio não sabia disso. Mas eu os convenci. Eu disse, "Vamos mergulhar até o naufrágio. Vamos filmá-lo de verdade. Vamos usar na abertura do filme. Vai ser muito importante. Será um grande gancho de marketing." E eu os convenci a custear uma expedição. (Risos)
Parece loucura. Mas isso nos faz voltar ao assunto de que a sua imaginação cria a realidade. Porque nós realmente criamos uma realidade onde seis meses depois eu me encontrei num submersível russo a 4 Km de profundidade no Atlântico norte, olhando para o verdadeiro Titanic através de uma escotilha, não era filme, não era alta definição, era real. (Aplausos)
Bem, aquilo foi impressionante. E exigiu muita preparação, tivemos que construir câmeras e luzes e todo tipo de coisas. Mas, me dei conta do quanto esse mergulho, esses mergulhos profundos eram como uma missão espacial. Vocês sabem, onde tudo era altamente técnico, e exigia muito planejamento. Você entra nessa cápsula, desce a essa escuridão um ambiente hostil onde não existe possibilidade de salvamento se você não conseguir voltar sozinho. E eu pensava, "Uau, estou vivendo um filme de ficção científica. Isso é realmente fantástico."
E então, eu realmente fui contagiado pela febre da exploração de oceanos profundos. Claro, a curiosidade, o componente científico. Era tudo. Era aventura, Era curiosidade. Era imaginação. Era uma experiência que Hollywood não podia me dar. Porque, vocês sabem, eu podia imaginar uma criatura e podia criar um efeito visual para ela. Mas eu não podia imaginar o que estava vendo por aquela janela. A medida que fazíamos nossas futuras expedições Eu estava vendo criaturas em fontes hidrotermais e às vezes coisas que eu nunca tinha visto antes, às vezes coisas que ninguém tinha visto antes, que realmente não haviam sido descritas pela ciência no momento em as vimos e as imaginamos.
Então, eu estava completamente fascinado com isso e tinha que fazer mais. Então, eu de fato tomei uma decisão um tanto curiosa. Após o sucesso de "Titanic," Eu disse, "Ok, vou dar uma pausa em meu trabalho como criador de filmes de Hollywood, e vou ser explorador por tempo integral durante um período." E então, começamos a planejar essas expedições. E acabamos indo até o Bismark, e explorando-o com veículos robóticos. Voltamos ao naufrágio do Titanic. Levamos pequenos robôs que havíamos criado que desenrolavam uma fibra óptica. E a idéia era ir entrar e fazer um levantamento interno uma pesquisa daquele navio, que nunca havia sido feito. Ninguém nunca havia estado dentro do naufrágio. Eles não tinham os meios para fazer isso, então criamos a tecnologia para isso.
Então, vocês sabem, aí estou, no deck do Titanic, sentado em um submersível, e olhando para tábuas de madeira que se pareciam muito com o local onde eu sabia que a banda havia tocado. E estou conduzindo um pequeno veículo robótico pelo corredor do navio. Quando penso, eu o estou conduzindo, mas minha mente está no veículo. Eu sentia que estava fisicamente presente dentro do naufrágio do Titanic. E foi o tipo mais surreal de experiência de deja vu que eu já tive, porque eu já sabia antes de virar em alguma esquina o que ia estar lá antes que as luzes do veículo realmente a revelassem, porque eu havia andado pelo set de filmagem por meses quando estávamos fazendo o filme. E o set estava baseado em uma réplica exata dos desenhos do navio.
Então, foi uma experiência absolutamente impressionante. E me fez entender que a experiência de telepresença que você de fato pode ter com esses avatares robóticos, que sua consciência é projetada nesses veículos, nessa outra forma de existência. Foi realmente muito, muito profundo. E pode ser que tenha sido uma pequena idéia do que poderá vir a acontecer em algumas décadas ao começarmos a ter ciborgues para exploração ou para outros fins em muitos tipos de futuros pós-humanos que eu posso imaginar, como fã de ficção científica.
Então, ter feito essas expedições, e realmente começar a apreciar o que estava lá, como por exemplo as fontes nas fendas do fundo do mar onde temos esses animais fantásticos, fantásticos. Eles são basicamente alienígenas aqui na Terra. Eles vivem em um ambiente de quimiosíntese. Eles não sobrevivem com sistemas baseados na luz do sol, como nós. Assim, você está vendo animais que vivem junto a jorros de água a 500 graus. Você acha que é impossível que eles existam.
Ao mesmo tempo Eu estava me interessando muito por ciência espacial também, novamente, é a influência da ficção científica, desde criança. E acabei me envolvendo com a comunidade espacial, realmente envolvido com a NASA, participando do Conselho da NASA, planejando missões espaciais reais, indo para Rússia, assistindo os protocolos biomédicos pré-cosmonáuticos todo esse tipo de coisas, para realmente voar até à estação espacial internacional com nosso sistema de câmeras 3D. E era fascinante. Mas o que eu acabava fazendo era levar cientistas espaciais conosco para o fundo do mar. E levá-los ao fundo para que eles tivessem acesso astrobiologistas, cientistas planetários, pessoas interessadas nesses ambientes extremos, levando-os para as fontes nas fendas para verem, e pegar amostras e levar instrumentos para testes, e assim por diante.
Então, por fim estávamos fazendo documentários, mas fazendo ciência de verdade, e de fato fazendo ciência espacial. Eu havia fechado o círculo completamente entre ser um fã de ficção científica, vocês sabem, quando criança, e fazer essas coisas de verdade. E vocês sabem, durante esta jornada de descoberta, eu aprendi muito. Aprendi muito sobre ciência. Mas também aprendi muito sobre liderança. Bem, você imagina que um diretor tem que ser um bom líder, líder, capitão do navio, todo esse tipo de coisa.
Eu realmente não tinha aprendido sobre liderança até fazer essas expedições. Porque eu tinha, num certo ponto, dizer "O que estou fazendo aqui? Por que estou fazendo isso? O que eu ganho com isso?" Não fazemos dinheiro com esses benditos shows. Quase nem chegamos a empatar. Não tem fama nisso. As pessoas pensaram que eu tinha desaparecido entre "Titanic" e "Avatar" e estava curtindo em algum lugar, numa praia. Fiz todos esses filmes, todos esses filmes documentais para um público muito limitado.
Nada de fama, glória, dinheiro. O que você está fazendo? Você está fazendo isso pela tarefa em si, pelo desafio e o oceano é o ambiente mais desafiador que existe, pela emoção da descoberta, e pelo estranho laço que se forma quando um pequeno grupo de pessoas forma uma equipe bem ajustada. Pois fazíamos essas coisas com 10-12 pessoas trabalhando por anos e por vez As vezes no mar por 2-3 meses.
E nesse laço, você percebe que a coisa mais importante é o respeito que você tem por eles e que eles têm por você, que vocês completaram uma tarefa que não tem como explicar para outra pessoa. Quando você volta para a terra e diz, "Tivemos que fazer isso, e a fibra ótica, e a atenuação e isso e aquilo outro, e toda tecnologia, e a dificuldade, os aspectos do desempenho humano no trabalho no mar você não consegue explicar isso para as pessoas. É uma coisa que talvez os policiais tenham, ou pessoas que estiveram em combate e passaram por algo juntas e eles sabem que nunca vão conseguir explicar. Isso cria um laço, cria um laço de respeito.
Então, quando voltei para fazer meu próximo filme, que era "Avatar," Tentei aplicar os mesmos princípios de liderança que é de respeito pela sua equipe, e que você ganha o respeito deles em troca. E isso realmente mudou a dinâmica. Então, lá estava eu novamente com uma pequena equipe, em um território não mapeado fazendo "Avatar", trazendo novas tecnologias que não existiam antes. Super excitante. Super desafiante. E nos tornamos uma família, por um período de quatro anos e meio. E isso mudou completamente a maneira em que faço filmes. Então, as pessoas comentaram como, bem, vocês sabem, você trouxe os organismos marinhos e os colocou no planeta Pandora. Para mim era mais uma maneira fundamental de fazer negócios, o processo em si mesmo, isso mudou como um resultado do que havia aprendido.
Então, o que podemos sintetizar disso? Vocês sabem, quais as lições aprendidas? Bem, acho que a número um é curiosidade. É a coisa mais poderosa que você tem Imaginação é uma força que pode realmente manifestar-se em uma realidade. E respeito da sua equipe é mais importante do que todos as glórias do mundo. Eu conheço jovens cineastas que vem até mim e dizem, "Qual o seu conselho para fazer isso." E eu digo, "Não crie limites para você mesmo. Outras pessoas vão fazer isso por você, não o faça a si mesmo, não aposte contra você mesmo. E arrisque."

A NASA tem uma frase que eles gostam: "Fracasso não é uma opção." Mas fracassar tem que ser uma opção na arte e na exploração, porque se trata de fé. E nenhum empreendimento que exigiu inovação foi feito sem riscos. Você tem que estar disposto a assumir esses riscos. Então, o pensamento que eu gostaria de deixar com vocês, é que em qualquer coisa que você faça, fracassar é uma opção, mas o medo não. Obrigado. Aplausos.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Brian Cox: Por que precisamos dos exploradores

Esta é a transcrição da fantástica palestra do físico do CERN Brian Cox, um dos melhores divulgadores da ciência da atualidade, autor de diversos livros e apresentador de diversos documentários que pretendo divulgar aqui em breve. Nesta palestra ele fala um pouco sobre a importância da ciência para a humanidade, principalmente as áreas voltadas para a exploração dos limites do conhecimento, como por exemplo a exploração do espaço e a física de partículas. São áreas que exigem o trabalho de milhares de técnicos, engenheiros e pesquisadores e consomem bilhões anualmente, cujos recursos sempre são diminuídos em tempos de crise. Ele nos mostra como as descobertas realizadas pela ciência tornam possíveis tecnologias que rendem muito mais recursos do que aqueles que são aplicados.

Mas infelizmente os governos ainda consideram os investimentos em ciências como gastos desnecessários e ainda gastam milhares de vezes mais com gastos militares do que com pesquisa. Isto falando de países desenvolvidos, que ainda investem, pois se falarmos sobre países em desenvolvimento como o Brasil...


  
Para ver o vídeo legendado clique aqui e em Show transcript acione as legendas Portuguese, Brazilian.  



Brian Cox: Por que precisamos dos exploradores
Nós vivemos em tempos econômicos difíceis e desafiadores, é claro. E uma das primeiras vítimas de tempos econômicos difíceis, é gasto público de qualquer natureza, mas certamente na linha de tiro no momento é gasto público com ciência, em específico a ciência levada pela curiosidade e exploração. Então, quero tentar convencê-los em cerca de 15 minutos que isso é uma coisa ridícula de se fazer.
Mas para explicar a situação, quero mostrar -- o próximo slide não é uma tentativa de mostrar o pior TED slide na história do TED, mas é um pouco desorganizado. (Risos) Na verdade, não é minha culpa; é do jornal The Guardian. E é na verdade uma linda demonstração de quanto a ciência custa. Pois, já que eu quero falar sobre continuar investindo em ciência pela curiosidade e exploração, devo mostrar o quanto custa. Este é um jogo chamado "ache o orçamento para a ciência." Este é o gasto governamental do Reino Unido. Como podem ver, é cerca de 620 bilhões por ano.
O orçamento da ciência está -- se olharem para a esquerda, tem um conjunto de bolhas roxas e um conjunto de bolhas amarelas. E é um dos conjuntos de bolhas amarelas em volta da grande bolha amarela. É cerca de 3,3 bilhões de libras por ano dos 620 bilhões. Isso financia tudo no Reino Unido de pesquisa médica, exploração espacial, aonde eu trabalho, na CERN em Genebra, física de partículas, engenharia, até mesmo artes e humanitárias, financiados pelo orçamento da ciência, que é minúscula bolha amarela de 3,3 bilhões em volta da bolha laranja no canto esquerdo da tela. É sobre isso que estamos discutindo. Aquela porcentagem, na verdade, é mais ou menos a mesma nos EUA, na Alemanha e na França. Pesquisa e Desenvolvimento na economia, financiado pelo governo, consiste em cerca de 0,6% do PIB. Então é isso que estamos discutindo.
A primeira coisa que quero dizer, e isso vem direto do [programa da BBC] "Maravilhas do Sistema Solar," é que nossa exploração do sistema solar e do universo nos mostrou que é indescritivelmente lindo. Esta é uma foto que foi mandada pela sonda espacial Cassini em Saturno, depois que filmamos "Maravilhas do Sistema Solar." Então não está na série. É da lua Encélado. Então aquela esfera grande no canto é Saturno, que está no fundo da foto. E aquela crescente ali é a lua Encélado, que é tão grande quanto às Ilhas Britânicas. Tem cerca de 500 km de diâmetro. Lua minúscula. O que é fascinante e lindo... esta é uma foto não processada, devo dizer. É preta e branca, direto da órbita de Saturno.
O que é lindo é -- vocês podem ver ali na borda tufos de uma quase fumaça bem fraca saindo da borda. É assim que visualizamos isso no "Maravilhas do Sistema Solar." É uma imagem linda. Descobrimos que aqueles tufos fracos são na verdade fontes de gelo saindo da superfície desta lua minúscula. É fascinante e lindo por si só, mas achamos que o mecanismo que que dá força a essas fontes requer a existência de lagos de água líquida embaixo da superfície desta lua. E o importante nisso é que, no nosso planeta, na Terra, aonde encontramos água líquida, encontramos vida. Então, encontrar fortes evidências de líquido, poças de líquido, abaixo da superfície de uma lua a mais de um bilhão de quilômetros da Terra é realmente impressionante. O que estamos dizendo essencialmente é que talvez haja um habitat para vida no sistema solar. Bom, isso foi um gráfico. Eu quero mostrar esta foto. É mais uma foto de Encélado. Foi quando Cassini voou embaixo de Encélado. Foi um voo bem baixo, somente alguns quilômetros acima da superfície. E, de novo, uma foto real das fontes de gelo levantando para o espaço, absolutamente fascinante.
E este não é o primeiro candidato à vida no sistema solar. Existe um lugar, que é uma lua em Júpiter, Europa. E tivemos que voar até o sistema Joviano para ter uma ideia de que esta lua, assim como outras luas, não era apenas uma bola morta de rochas. É na verdade uma lua de gelo. Estamos olhando para a superfície da lua Europa, que é uma camada grossa de gelo, provavelmente uns 100 km. Mas ao medir a maneira que Europa interage com o campo magnético de Júpiter, e ao observar como as rachaduras no gelo que vocês veem ali naquele gráfico se movem inferimos enfaticamente que existe um oceano de líquido envolvendo toda a superfície de Europa. Então abaixo do gelo, existe um oceano de líquido em volta da lua. Achamos que poderia ter quilômetros de profundidade. Achamos que é água salgada, e isso significa que existe mais água nessa lua de Júpiter do que existe em todos os oceanos da Terra juntos. Então esse lugar, uma lua ao redor de Júpiter, é provavelmente o primeiro candidato para achar vida numa lua ou num corpo fora da Terra, que temos conhecimento. Uma descoberta enorme e linda.
Nossa exploração do sistema solar nos ensinou que o sistema solar é lindo. Também pode ter indicado o caminho para responder uma das questões mais profundas que podemos imaginar, "Estamos sozinhos no universo?" Existe algum outro uso para exploração e ciência além de questionamentos? Bem, existe sim. Esta é uma foto muito famosa tirada na minha primeira véspera de Natal, 24 de dezembro de 1968, quando eu tinha mais ou menos oito meses. Foi tirada pela Apollo 8 à medida que passava por trás da Lua. O "nascer da Terra" da Apollo 8. Uma foto famosa; muitos dizem que foi a foto que salvou 1968, que foi um ano turbulento -- a revolta dos estudantes em Paris, o auge da Guerra do Vietnã. A razão porque muitas pessoas pensam isso desta foto, e Al Gore disse isso muitas vezes no palco do TED, é que esta foto foi, possivelmente, o começo do movimento ambientalista. Porque, pela primeira vez, nós vimos nosso mundo não como um lugar sólido, imóvel e meio que indestrutível, mas um mundo muito pequeno e frágil pendurado na escuridão do espaço.
O que geralmente não é dito sobre exploração espacial, sobre o programa Apollo, é a sua contribuição econômica. Ao mesmo tempo que você argumenta que foi uma façanha tremenda e maravilhosa e proporcionou fotos como esta, foi muito caro, certo? Na verdade, muitos estudos foram feitos sobre a efetividade econômica, o impacto econômico do [programa] Apollo. O maior deles foi em 1975 pela Chase Econometrics. E mostrou que para cada dólar gasto no Apollo, 14 dólares retornaram para economia dos EUA. Então o programa Apollo se pagou em inspiração, em engenharia, conquistas e ao inspirar jovens cientistas e engenheiros 14 vezes mais. Então exploração pode se pagar.
E quanto à descoberta científica? E quanto ao incentivo à inovação? Isto parece uma foto de quase nada. Isto é uma foto do espectro de hidrogênio. Nos anos 1880, 1890, muitos cientistas, muitos observadores, olharam para a luz que saía dos átomos. E eles viram imagens estranhas como esta. O que você vê quando coloca isso através de um prisma é que você esquenta hidrogênio e isso não brilha como uma luz branca, isso emite luz em cores específicas, vermelho, azul claro, alguns azuis escuros. Isso levou a um entendimento da estrutura atômica pois isso explica que o átomo é um núcleo singular com elétrons movendo-se ao seu redor. E os elétrons só podem estar em lugares específicos. E quando eles pulam para o próximo lugar possível e voltam para o lugar anterior, eles produzem luz de cores específicas.
Então o fato de que os átomos quando aquecidos emitirem luz de cores muito específicas, foi um dos incentivos chave que levou ao desenvolvimento da teoria quântica, a teoria das estruturas dos átomos. Eu gostaria de mostrar esta foto pois isso é extraordinário. Esta é uma foto do espectro do Sol. E esta é uma foto de átomos na atmosfera do Sol absorvendo luz. E novamente, eles só absorvem luz em cores diferentes quando elétrons pulam e voltam, pulam e voltam. Mas olhem para o número de linhas pretas naquele espectro. E o elemento Hélio foi descoberto somente por observar a luz do Sol porque algumas das linhas pretas vistas não correspondiam a um elemento existente. E é por isso que Hélio é chamado de Hélio. É chamado "helios" -- helios do Sol.
Isso pode parecer esotérico, e na verdade foi uma busca esotérica, mas a teoria quântica rapidamente levou ao entendimento dos comportamentos dos elétrons em matérias, como o silício, por exemplo. A maneira como o silício se comporta, o fato de podermos construir transístores, é um fenômeno puramente quântico. Então sem o entendimento levado pela curiosidade da estrutura dos átomos, que resultou nessa teoria esotérica, mecânica quântica, não teríamos os transístores, não teríamos chips de silício, não teríamos o que é simplesmente a base da nossa economia moderna.
Tem mais uma surpresa neste conto maravilhoso. Em "Maravilhas do Sistema Solar," enfatizamos várias vezes que as leis da Física são universais. Uma das coisas mais incríveis sobre a Física e a compreensão da natureza que temos na Terra, é que podemos transportar, não somente aos planetas, mas até as estrelas e galáxias mais distantes. E uma das previsões surpreendentes da mecânica quântica, somente ao olhar para estrutura dos átomos -- a mesma teoria que descreve os transístores -- é não existem estrelas no universo que atingiram o fim de sua vida que são maiores que, especificamente, 1,4 vez a massa do Sol. Este é o limite imposto à massa das estrelas. Você pode calcular num pedaço de papel no laboratório, pegar um telescópio, apontar para o céu e descobrir que não há estrelas mortas maiores do que 1,4 vez a massa do Sol. Esta é uma previsão incrível.
O que acontece quando se tem uma estrela quase no limite dessa massa? Bem, esta é uma foto. Esta é uma foto de uma galáxia, uma galáxia típica "nosso jardim" com, o quê?, 100 bilhões de estrelas como nosso Sol. É somente uma das bilhões de galáxias no universo. Existem bilhões de estrelas no centro galático, e é por isso que brilha tão intensamente. Está distante cerca de 50 milhões de anos-luz, então é uma das nossas galáxias vizinhas. Mas aquela estrela brilhante ali é uma das estrelas da galáxia. Então aquela estrela também está distante 50 milhões de anos-luz. É parte da galáxia, e brilha tão intensamente quanto o centro da galáxia com um bilhão de estrelas. É uma explosão supernova Tipo 1a. É um fenômeno incrível porque é uma estrela que só está lá. É chamada de anã carbono-oxigênio. Ela é mais ou menos 1,3 vez a massa do Sol. E tem uma companhia binária que move ao seu redor, então uma estrela grande, uma grande bola de gás. E o que ela faz é sugar o gás da sua estrela companheira, até chegar ao limite chamado limite Chandrasekhar, e então ela explode. Ela explode e ela brilha tão intensamente quanto um bilhão de estrelas por cerca de duas semanas, e ela libera não somente energia, mas uma quantidade enorme de elementos químicos no universo. Na verdade, aquela é uma anã carbono-oxigênio.
Agora, não havia carbono e oxigênio no universo no Big Bang. E não havia carbono e oxigênio no universo durante a primeira geração de estrelas. Foi produzido em estrelas como esta, aprisionado e então devolvido ao universo em explosões como essa para então recondensar em planetas, estrelas, novos sistemas solares e, de fato, pessoas como nós. Acho que esta é uma demonstração extraordinária do poder e beleza e universalidade das leis da Física, porque entendemos o processo, porque entendemos a estrutura dos átomos aqui na Terra.
Esta é uma citação que achei -- estamos falando sobre acaso aqui -- de Alexander Fleming. "Quando eu acordei logo após a aurora em 28 de setembro de 1928, certamente não planejei revolucionar toda a medicina ao descobrir o primeiro antibiótico do mundo." Agora, os exploradores do mundo do átomo não pretendiam inventar o transístor. E certamente não pretendiam descrever a mecânica das explosões de supernovas, que acabou no fim nos dizendo onde os blocos de montar da vida foram sintetizados no universo. Então, acho que ciência pode ser -- acaso é importante. Pode ser lindo. Pode revelar coisas surpreendentes. Também pode finalmente revelar as ideias mais profundas sobre nosso lugar no universo e realmente o valor do nosso planeta.
Esta é uma foto espetacular do nosso planeta. Não parece ser o nosso planeta. Parece ser Saturno porque, é claro, é Saturno! Foi tirada pela sonda espacial Cassini. Mas é uma foto famosa, não por causa da da beleza e majestade dos anéis de Saturno, mas por causa de um pequeno ponto apagado pendurado embaixo de um dos anéis. E se eu aumentar a área, vocês podem ver. Parece ser uma lua, mas é na verdade uma foto da Terra. Foi uma foto da Terra tirada naquela parte de Saturno. Aquele é o nosso planeta a mais de um bilhão de quilômetros de distância. Acredito que a Terra tem um estranho fator que quanto mais nos distanciamos dela, mais linda ela se parece.
Mas esta não é a foto mais distante ou mais famosa do nosso planeta. Foi tirada por essa coisa, que é chamada de nave Voyager. E esta é uma foto minha na frente da nave para uma ideia de tamanho. A Voyager é uma máquina minúscula. Está atualmente a 16 bilhões de quilômetros da Terra, transmitindo com aquela "antena" com uma potência de 20 watts, e ainda estamos em contato com ela. Visitou Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. E depois que a nave visitou esses quatro planetas, Carl Sagan, que é um dos meus maiores heróis, teve a maravilhosa ideia de girar a Voyager e tirar uma foto de cada planeta visitado. E tirou esta foto da Terra. É difícil ver a Terra ali, é chamada de foto do "Ponto Azul Fraco", mas a Terra está suspensa naquela faixa de luz. Esta é a Terra a cerca de 6,5 bilhões de quilômetros.
E eu gostaria de ler para vocês o que Sagan escreveu sobre isso, para terminar, porque eu não consigo achar palavras tão lindas para descrever o que ele viu na foto que ele acabou tirando. Ele disse: "Considere de novo aquele ponto. Aquilo é aqui. Aquilo é nossa casa. Aquilo somos nós. Sobre ele, todos que você ama, todos que você conhece, todos que você já ouvir falar, cada ser humano que já viveu sua vida. O conjunto de alegria e sofrimento milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada um que caça e busca comida, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, criança esperançosa, inventor e explorador, cada professor de moral, cada político corrupto, cada celebridade, cada líder supremo, cada santo e pecador na história de nossa espécie, viveu ali, numa bola de poeira, suspensa num raio de sol. Foi dito que astronomia é uma experiência humilde e formadora de caráter. Talvez não haja demonstração melhor da insensatez da prepotência humana do que esta imagem distante do nosso pequeno mundo. Para mim, isso destaca nossa responsabilidade em lidar melhor com os outros, e preservar e estimar o ponto azul fraco, o único lar que conhecemos."
Lindas palavras sobre o poder da ciência e exploração. O argumento foi sempre dito, e sempre será dito, que conhecemos o suficiente sobre o universo. Poderia ser dito nos anos 1920; não teríamos tido a penicilina. Poderia ser dito nos anos 1890; não teríamos o transístor. E é dito hoje nessa época de dificuldades econômicas. Certamente, sabemos o suficiente. Não precisamos descobrir mais nada sobre o universo.
Deixarei as últimas palavras para alguém que está rapidamente se tornando um herói meu, Humphrey Davy, que foi cientista na virada do século 19. Ele estava claramente sob fogo cruzado o tempo todo. Sabemos o suficiente na virada do século 19. Apenas explore, apenas construa coisas. Ele disse isso: "Nada é mais fatal para o progresso da mente humana do que achar que nossas visões da ciência são definitivas, que nossos triunfos são completos, que não há mistérios na natureza, e que não há mundos novos a conquistar."
Obrigado.

(Aplausos)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo

Antes de começar esta postagem gostaria de deixar registrada minha estranheza ao interessante fenômeno que é a tendência de muitas pessoas a considerar homossexual todos aqueles que ousam defender publicamente algum direito dos homossexuais.  É estranho como você pode sair em defesa das crianças sem ser chamado de bebê, defender os indígenas sem ser chamado de índio, ou mostrar seu repúdio à forma como se tratam os animais sem ser chamado de bicho, mas quando você fala sobre homossexualismo, sempre se escuta em algum momento: seu gay! Não sou homossexual, mas caso algum homofóbico leia esta postagem e quiser me chamar de gay nos comentários, tudo bem, sinta-se à vontade pois não me ofenderei, assim como espero que você também não se ofenda ao lhe informar que você é um doente mental (me perdoem por favor todos aqueles que sofrem de doenças, distúrbios e transtornos mentais pelo mau uso que faço aqui do termo, associando-o a um tipo tão desprezível de sujeito), pois não há outro termo que eu pense no momento para definir adequadamente uma pessoa que se incomode tanto com o que outras façam ou deixem de fazer com suas vidas privadas.

Vejo a homossexualidade como uma questão de preferências. Por exemplo, eu torço para o Flamengo e não torceria para o Vasco, Fluminense ou Botafogo, mas acho que todos tem o direito de torcer para o time de sua preferência, e que se todos torcessem para o mesmo time, o mundo seria uma merda. Dentro desta analogia, se alguém é vascaíno, tricolor ou botafoguense, não vejo nenhum motivo para espancar, humilhar, privar de algum direito ou tentar criar alguma lei no Congresso Nacional para considerar alguém doente. Todos tem o direito a ter o seu gosto ou mau gosto.

Na noite de 27 para 28 de novembro vi uma entrevista muito boa que o apresentador Jô Soares fez com a cantora Daniela Mercury, onde também apareceu a esposa desta, a jornalista Malu Verçosa. Para quem não sabe ou não se lembra, em 2011 os Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceram por unanimidade o direito à união estável entre pessoas do mesmo sexo com todos os direitos de um casamento, e em 2013 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução obrigando todos os cartórios do país a realizarem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O casamento de Daniela Mercury, mais do que uma cerimônia, foi um marco e um símbolo da consolidação do direito de milhões de brasileiros, por se tratar de uma celebridade e de ter tido grande repercussão na mídia.

Apesar de ser uma conquista, o fato de ter sido uma imposição do Poder Judiciário, e não uma mudança na legislação de iniciativa do Poder Legislativo (que em teoria representa o interesse de todos os brasileiros através de integrantes eleitos pelo voto), é uma coisa muito triste. Muito pelo contrário, nadando na contramão da sociedade, parte do legislativo ainda escolhe um fanático religioso para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (não citarei o nome porque acho que ele já teve publicidade demais em outros meios e não darei mais esta ajuda, pois já saquei a estratégia: falem mal mas falem de mim pois a eleição está chegando e meu nome precisa estar em evidência pois muitos milhões concordam comigo!). Mas não seria de outra forma em um país onde o voto tem que ser obrigatório para que a população vá às urnas votar e onde o assunto seja um tabu tão forte.


Um dos argumentos mais utilizados por quem é contra a decisão, é que a legislação brasileira definiria como casal a união entre o homem e mulher. Bom, assim como o cavalo já foi a definição de meio de transporte rápido, o arco e flecha era uma arma eficiente e mortífera, o escravo era uma propriedade e a monarquia sinônimo de estado moderno, a definição de casal também deve mudar. Não dá mais para negar o fato que milhões pessoas mantém relacionamentos afetivos estáveis com outras do mesmo sexo, vivento sob um mesmo teto, dividindo as despesas, dormindo na mesma cama e muitas vezes até mesmo criando filhos. A definição de casal já mudou e se achamos estranho que ela abranja o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, imagine se as possibilidades que o futuro nos reserva com androides, inteligências artificiais, mutantes, melhoramentos genéticos, alienígenas, etc. se tornarem realidade! Mas até lá acredito que nossos descendentes serão bem mais sábios para tratarem do assunto, e a homofobia será apenas mais uma chaga vergonhosa na história humana, como foram a escravidão, a inquisição o holocausto e tantos outros absurdos.

Para ver a entrevista com Daniela Mercury no Programa do Jô, clique aqui.