quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo

Antes de começar esta postagem gostaria de deixar registrada minha estranheza ao interessante fenômeno que é a tendência de muitas pessoas a considerar homossexual todos aqueles que ousam defender publicamente algum direito dos homossexuais.  É estranho como você pode sair em defesa das crianças sem ser chamado de bebê, defender os indígenas sem ser chamado de índio, ou mostrar seu repúdio à forma como se tratam os animais sem ser chamado de bicho, mas quando você fala sobre homossexualismo, sempre se escuta em algum momento: seu gay! Não sou homossexual, mas caso algum homofóbico leia esta postagem e quiser me chamar de gay nos comentários, tudo bem, sinta-se à vontade pois não me ofenderei, assim como espero que você também não se ofenda ao lhe informar que você é um doente mental (me perdoem por favor todos aqueles que sofrem de doenças, distúrbios e transtornos mentais pelo mau uso que faço aqui do termo, associando-o a um tipo tão desprezível de sujeito), pois não há outro termo que eu pense no momento para definir adequadamente uma pessoa que se incomode tanto com o que outras façam ou deixem de fazer com suas vidas privadas.

Vejo a homossexualidade como uma questão de preferências. Por exemplo, eu torço para o Flamengo e não torceria para o Vasco, Fluminense ou Botafogo, mas acho que todos tem o direito de torcer para o time de sua preferência, e que se todos torcessem para o mesmo time, o mundo seria uma merda. Dentro desta analogia, se alguém é vascaíno, tricolor ou botafoguense, não vejo nenhum motivo para espancar, humilhar, privar de algum direito ou tentar criar alguma lei no Congresso Nacional para considerar alguém doente. Todos tem o direito a ter o seu gosto ou mau gosto.

Na noite de 27 para 28 de novembro vi uma entrevista muito boa que o apresentador Jô Soares fez com a cantora Daniela Mercury, onde também apareceu a esposa desta, a jornalista Malu Verçosa. Para quem não sabe ou não se lembra, em 2011 os Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceram por unanimidade o direito à união estável entre pessoas do mesmo sexo com todos os direitos de um casamento, e em 2013 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução obrigando todos os cartórios do país a realizarem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O casamento de Daniela Mercury, mais do que uma cerimônia, foi um marco e um símbolo da consolidação do direito de milhões de brasileiros, por se tratar de uma celebridade e de ter tido grande repercussão na mídia.

Apesar de ser uma conquista, o fato de ter sido uma imposição do Poder Judiciário, e não uma mudança na legislação de iniciativa do Poder Legislativo (que em teoria representa o interesse de todos os brasileiros através de integrantes eleitos pelo voto), é uma coisa muito triste. Muito pelo contrário, nadando na contramão da sociedade, parte do legislativo ainda escolhe um fanático religioso para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (não citarei o nome porque acho que ele já teve publicidade demais em outros meios e não darei mais esta ajuda, pois já saquei a estratégia: falem mal mas falem de mim pois a eleição está chegando e meu nome precisa estar em evidência pois muitos milhões concordam comigo!). Mas não seria de outra forma em um país onde o voto tem que ser obrigatório para que a população vá às urnas votar e onde o assunto seja um tabu tão forte.


Um dos argumentos mais utilizados por quem é contra a decisão, é que a legislação brasileira definiria como casal a união entre o homem e mulher. Bom, assim como o cavalo já foi a definição de meio de transporte rápido, o arco e flecha era uma arma eficiente e mortífera, o escravo era uma propriedade e a monarquia sinônimo de estado moderno, a definição de casal também deve mudar. Não dá mais para negar o fato que milhões pessoas mantém relacionamentos afetivos estáveis com outras do mesmo sexo, vivento sob um mesmo teto, dividindo as despesas, dormindo na mesma cama e muitas vezes até mesmo criando filhos. A definição de casal já mudou e se achamos estranho que ela abranja o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, imagine se as possibilidades que o futuro nos reserva com androides, inteligências artificiais, mutantes, melhoramentos genéticos, alienígenas, etc. se tornarem realidade! Mas até lá acredito que nossos descendentes serão bem mais sábios para tratarem do assunto, e a homofobia será apenas mais uma chaga vergonhosa na história humana, como foram a escravidão, a inquisição o holocausto e tantos outros absurdos.

Para ver a entrevista com Daniela Mercury no Programa do Jô, clique aqui.

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