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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Os melhores livros de ficção científica militar

Ficção científica militar é um subgênero da ficção científica com tramas que se passam em guerras, sejam no espaço ou na Terra, em que os protagonistas lutam em exércitos regulares. Desta forma, histórias sobre grupos rebeldes lutando contra regimes galácticos opressores, como em Star Wars, não se encaixam nesta categoria, sendo classificadas mais adequadamente como Space Operas.

Este ramo da ficção científica não deve ser acusado de propaganda à guerra e ao militarismo – livros como Forever War fazem críticas contundentes à guerra. São histórias que exaltam a luta pela sobrevivência nos campos de batalha, o companheirismo entre os soldados, a defesa da humanidade, e a coragem, determinação e união que são exigidas para derrotar inimigos muito mais poderosos.

A lista segue a ordem cronológica de lançamento. Os que estão com o título em português foram publicados no Brasil.


1) Tropas Estelares (Starship Troopers), de Robert Heinlein, 1959

Livro que inaugurou o gênero, mostra a humanidade representada pela Confederação Terrestre em uma guerra interestelar contra alienígenas com formato de insetos do planeta Klendathu. O protagonista é Juan “Johnnie” Rico, um recruta da Infantaria Móvel de um exército futurista de soldados equipados com poderosas armaduras de combate, as Jump Suits. A trama acompanha sua ascensão de soldado até oficial nas fileiras do exército e suas diversas batalhas contra os bugs.

É o livro mais controverso da lista, pois mostra um futuro em que só é cidadão com direito ao voto aquele que serve nas forças armadas da Confederação Terrestre. O livro também toca em temas como pena de morte, castigos físicos, militarismo, democracia e liberdade. Seu autor, Robert Heinlein, foi oficial da Marinha dos Estados Unidos e é considerado um dos maiores escritores de ficção científica de todos os tempos, sendo sempre colocado ao lado de nomes como Isaac Asimov e Arthur C. Clarke. Ele foi acusado diversas vezes de fascismo por Tropas Estelares, mas é curioso como anos mais tarde este mesmo autor escreveu Stranger In a Strange Land, livro se tornou inspiração para os hippies e a geração Sexo, Drogas e Rock ’n’ Roll.

O livro ganhou o prêmio Hugo de melhor romance em 1960 e foi adaptado para o cinema por Paul Verhoeven em 1997. O filme não respeita muito a história original e não fez muito sucesso nas bilheterias, mas é considerado um cult e foi muito elogiado pela crítica como uma sátira fascista do militarismo americano. O filme teve duas continuações horrorosas de baixo orçamento, Starship Troopers 2: Hero of the Federation, de 2004, e Starship Troopers 3: Marauder, de 2008; uma série de animação com 37 episódios, Roughnecks: Starship Troopers Chronicles; um longa em animação gráfica chamado Starship Troopers: Invasion; e várias minisséries em quadrinhos pela editora Dark Horse Comics. Há planos para uma nova adaptação para o cinema, desta vez mais fiel ao material original.


2) Guerra Sem Fim (Forever War), de Joe Haldeman, 1974

Mais um clássico da ficção científica militar, neste livro acompanhamos a história do recruta William Mandela, que se alista nas forças armadas das Nações Unidas para lutar em uma guerra interestelar contra alienígenas conhecidos como Taurianos. Para viajar as vastas distâncias interestelares as naves viajam através de portais chamados colapsares, que permitem viajar muitos anos-luz em segundos, mas com pesados efeitos relativísticos – no planeta Terra se passam décadas ou até séculos a cada viagem.

Este livro não é apenas uma imitação de Tropas Estelares ou uma Space Opera qualquer. O recruta William Mandela não é um herói que salva o dia com grandes atos de heroísmo e bravura, mas sim, uma pessoa comum relutando em lutar uma guerra que não entende e está mais preocupado em sobreviver e voltar para casa. Ele continua vivo mais por sorte do que por sua habilidade como guerreiro ou da estratégia adotada por seus comandantes, em uma guerra onde milhares morrem no interior das naves sem sequer ter a chance de lutar contra o inimigo.

O foco da história é nas mudanças ocorridas na sociedade terrestre após as décadas que se passam até o seu retorno – devido à dilatação temporal – e em sua dificuldade de adaptação aos novos tempos. Com a economia mundial cada vez mais destroçada por causa da guerra, o planeta é um local cada vez mais perigoso, com a ruas dominadas por bandidos; governos racionam alimentos e tentam conter o crescimento populacional incentivando cada vez mais o controle de natalidade e as relações homossexuais. Com o passar dos séculos praticamente todo cidadão é gay, e os costumes e a linguagem mudam tanto que nosso protagonista quase não consegue se comunicar com outras pessoas. A cada retorno o mundo se torna um lugar tão diferente que ele se sente cada vez mais deslocado e sem vontade de se adaptar, à vontade somente na presença de outros veteranos, o que faz ele continuar na carreira militar.

Um alerta: não há nenhuma crítica ao homossexualismo nesta história! O autor foi veterano da guerra do Vietnã, sendo ferido em combate e condecorado com uma das mais altas comendas das forças armadas americanas. Guerra Sem Fim é uma metáfora da situação daqueles que lutaram nesta guerra e voltaram para a casa no final dos anos 60 e início dos anos 70 – época de algumas das maiores transformações culturais já vistas na história da humanidade – e encontravam uma sociedade muito diferente daquela que deixaram. Foi a época dos grandes protestos contra a guerra, os arsenais nucleares, o preconceito racial e sexual; e pelos direitos civis, a liberação sexual, a liberalização das drogas e a paz mundial.

Guerra Sem Fim ganhou o prêmio Nebula em 1975, e os prêmios Hugo e Locus em 1976. Teve duas continuações: Forever Free, de 1997 e Forever Peace, de 1999. Em 2008 o cineasta Ridley Scott anunciou ter comprado os direitos para adaptar o livro para o cinema.


3) Armor, de John Steakley, 1984

O menos badalado da lista – mas nem por isso de qualidade inferior –, este livro pode parecer à primeira vista uma imitação barata de Starship Troopers se você ler desatentamente alguma resenha sobre ele, mas esta impressão é desfeita logo nas primeiras páginas. No futuro a humanidade está envolvida até o pescoço na Antwar, uma guerra contra alienígenas de três metros de altura em formato de insetos conhecidos como ants. Para combatê-los, os soldados humanos lutam com super-armaduras que são o produto de centenas de anos de evolução tecnológica. Felix é um soldado batedor enviado para Banshee, planeta de origem dos alienígenas, em uma grande ofensiva da humanidade em território inimigo. Os humanos são emboscados e massacradas pelos insetos, que estão em esmagadora maioria e contam com armas desconhecidas que pegam as tropas de surpresa. Em meio ao enxame de inimigos uma estranha entidade chamada engine assume o comando da mente de Felix e ele começa a lutar com uma ferocidade e habilidade jamais vistos em um ser humano, transformando-se em uma máquina de matar. Após uma verdadeira carnificina em meio a milhares de inimigos, Felix se vê como o único sobrevivente das tropas enviadas ao planeta, e logo depois de ser resgatado é enviado novamente ao front. Ele sobrevive batalha após batalha, suportando as mais duras provações, sempre salvo nos momentos cruciais pela engine; com o tempo ele acaba se questionando sobre a razão desta guerra e como ele se tornou o ser humano com mais combates no currículo, além da misteriosa natureza da entidade que o comanda quando ele está em perigo.

Em outra trama paralela, um pirata espacial que adotou a alcunha de Jack Crow consegue fugir de uma prisão alienígena e se junta à tripulação da nave de um grupo de desertores da Antwar. A nave do grupo vai até Sanction, um distante planeta com uma colônia de pesquisa onde Jack terá de se infiltrar entre os pesquisadores e traí-los para roubar seu combustível para a nave. Mas conforme ele vai vivendo o dia a dia da colônia e se envolvendo cada vez mais com seus habitantes, sua lealdade começa a mudar de lado. Enquanto isso, em uma nave perdida no espaço, uma armadura carrega as lembranças de um soldado que lutou diversas batalhas na Antwar. Esta é a armadura de Felix, o melhor mais experiente soldado da humanidade.

Que fim levou Felix e como sua armadura foi parar em uma nave perdida no espaço? Quem terá a lealdade de Jack Crow? As duas tramas se unem em um dos finais mais eletrizantes que eu já li.


4) All You Need Is Kill (Ōru Yū Nīdo Izu Kiru), de Hiroshi Sakurazaka, 2004

Único livro da lista de um autor que não é americano – Hiroshi Sakurazaka é japonês, como o nome já indica – e o único que se passa na Terra. Neste a humanidade luta há anos contra uma horda de alienígenas conhecidos como mimics. Acompanhamos o soldado Keiji Kiriya, um recruta da divisão de armaduras de combate do exército japonês que morre em poucos minutos na sua primeira batalha, mas acorda no dia anterior à sua morte. Antes de morrer ele encontra a lendária Full Metal Bitch, uma supersoldado das forças especiais americanas que luta com um machado gigantesco e é a melhor combatente da humanidade.

Ele então percebe que sempre que morre, acaba retornando à mesma hora do dia anterior à batalha e decide então aproveitar a situação para melhorar suas habilidades de combate, como em um grande jogo de vídeo game. Em seu novo treinamento ele é ajudado pelo Sargento Ferrell Bartolome, um veterano de muitas batalhas contra os mimics – e que curiosamente é brasileiro – e por Rita Vrataski, a Full Metal Bitch.

O livro é muito bom e tem batalhas sensacionais. Apesar de narrar uma guerra contra alienígenas, a forma como são descritos o relacionamento entre os soldados e as batalhas é bem realista. A história nos passa algo próximo ao que deve ser lutar em uma guerra e perder companheiros em combate. A explicação do loop temporal em que o soldado Keiji Kiriya está preso e a origem e dos mimics são bem criadas e fundamentais no desenvolvimento da trama. O desfecho é arrasador.

Gostei muito da Rita Vrataski/Full Metal Bitch e de sua opção, em meio de uma guerra com armaduras tecnológicas de última geração, pelo uso do milenar machado e sua justificativa bem sensata para tal. Esta personagem rouba a cena!

O livro foi adaptado para o cinema americano sob o nome Edge of Tomorrow (No Limite do Amanhã por aqui), com Tom Cruise no papel principal e Emily Blunt como Rita Vrataski/Full Metal Bitch. Há ainda uma adaptação para mangá desenhada por Takeshi Obata, conhecido pelos desenhos de Hikaru No Go, Death Note e Bakuman, que será lançado ainda este ano no Brasil pela JBC. Também existe uma adaptação horrorosa para os quadrinhos nos Estados Unidos.


5) Old Man’s War, de John Scalzi, 2005

“Eu fiz duas coisas em meu aniversário de setenta e cinco anos. Visitei o túmulo de minha esposa. Então me alistei no exército.”

Com esta fantástica abertura começa o mais recente livro desta lista. Esta é a história de John Perry, que aos 75 anos decide entrar para as Forças de Defesa Colonial em um futuro onde a humanidade está se espalhando entre vários sistemas estelares na galáxia. Mas em seu caminho há várias espécies alienígenas que não estão dispostas a dividir seu espaço, e há guerra em muitas frentes. A FDC não está interessada em recrutas jovens, ela prefere pessoas experientes dispostas a abandonar suas vidas na Terra, lutar por um período e depois colonizar um planeta distante, sem jamais voltar ao planeta de origem da humanidade. Para isso elas ganham corpos geneticamente alterados e modificados com nanotecnologia que lhes dão força, velocidade e resistência amplificados, para poderem lutar contra as mais diversas raças alienígenas que encontrarão na expansão e defesa das colônias humanas. Todos também possuem um implante neural que funciona como dispositivo de comunicação e computador pessoal, que realiza comunicação diretamente com o cérebro do combatente e serve de tradutor, mapa, controle de armamento entre outros.

Romance de estreia do escritor John Scalzi, Old Man’s War é marcada por um excelente protagonista, com personagens coadjuvantes muito interessantes – muitos dos quais infelizmente morrem – e, principalmente, muito bom humor. Há passagens muito hilárias, com destaque para o período de recrutamento e o Sargento que fica responsável pelo treinamento dos futuros soldados. O livro brinca com nossos preconceitos quando mostra espécies alienígenas de aparência ameaçadora, mas que são superavançados e pacíficos; enquanto outras tem uma aparência amigável mas são inimigos letais. A cada batalha milhares de soldados podem morrer antes mesmo de sequer compreender o que é o inimigo contra o qual estão lutando, como em uma batalha onde uma espécie controlava a forma da água e mata milhares de soldados afogados; ou outra que não passava de um fungo subterrâneo que mata uma colônia inteira com dezenas de milhares de humanos antes que estes pudessem entender o que estava acontecendo. Há também inimigos hilários como os covandu, seres humanoides minúsculos que podem ser mortos simplesmente pisando-se neles.


A série Old Man’s War conta atualmente com cinco livros e segue em The Ghost Brigades, The Last Colony, Zoe's Tale, e The Human Division. Está previsto para 2015 o lançamento do sexto livro, The End of All Things. Há também duas histórias curtas: The Sagan Diary, e After the Coup. Existem planos para uma série de TV no canal SyFy e a Paramount comprou os direitos para uma futura adaptação cinematográfica.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Fase 3 da Marvel nos Cinemas


Depois de deixar todos com água na boca com o trailer de Vingadores: A Era de Ultron, a Marvel Studios deixa todos loucos novamente com o anúncio dos filmes da fase 3 de seu universo cinematográfico. Veja os lançamentos previstos:







Avengers: Infinity War - Part I - 4 de maio de 2018
Avengers: Infinity War - Part II - 3 de maio de 2019
Finalmente os Vingadores enfrentarão o vilão Thanos. Muito provavelmente eles somarão forças com os Guardiões da Galáxia, no terceiro e quarto filmes da superequipe da Marvel.



Captain America: Civil War - 6 de maio de 2016
Capitão América e Homem de Ferro se enfrentam no terceiro filme do Sentinela da Liberdade. Evento especulado há anos para o terceiro filme dos Vingadores acontecerá na verdade no terceiro Capitão América.



Doctor Strange - 4 de novembro de 2016
A magia entra no universo cinematográfico da Marvel no filme do maior mago dos quadrinhos, que provavelmente será vivido pelo ator inglês Benedict Cumberbatch.



Guardians of the Galaxy 2 - 5 de Maio de 2017
O segundo filme dos Guardiões da Galáxia é antecipado para uma nova data.



Thor: Ragnarok - 28 de julho de 2017
O terceiro filme do deus do trovão finalmente é anunciado e será a adaptação da saga Ragnarok dos quadrinhos do Thor.



Black Panther - 3 de novembro de 2017
A DC Comics anunciou o filme do Ciborgue, que seria o primeiro filme de um super-herói negro nesta nova fase de adaptações de quadrinhos, mas a Marvel foi lá e anunciou o filme do Pantera Negra que será lançado antes do filme da rival. O ator Chadwick Boseman viverá o herói no cinema, e também foi apresentada uma arte conceitual:





Captain Marvel - 6 de julho de 2018
A DC Comics anunciou o filme da Mulher-Maravilha e em resposta a Marvel anuncia a Capitã Marvel. A Capitã Marvel será a Carol Denvers.



Inhumans - 2 de novembro de 2018

Quem não tem X-Men vai de Inumanos mesmo! O filme tão especulado dos Inumanos vai finalmente acontecer e talvez eles ainda farão uma participação no quarto filme dos Vingadores.


Mas o próximo filme é o Vingadores: A Era de Ultron. Confira o trailer:



sexta-feira, 16 de maio de 2014

A Onda (The Wave, 1981)

Curta metragem A Onda

A Onda (The Wave, 1981) é um curta-metragem para a televisão dirigido por Alex Grasshoff e estrelado pelo ator Bruce Davison (o Senador Robert Kelly nos primeiros filmes dos X-Men). O filme é baseado em uma história real sobre um experimento realizado por um professor de história americano em sala de aula, que ficou conhecido como A Terceira Onda.

Bruce Davison
A Terceira Onda foi um experimento social realizado pelo professor de história e escritor americano Ron Jones, que em abril de 1967 dava aula para alunos do segundo ano da Cubberley High School, na cidade de Palo Alto, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Esta experiência fez parte das aulas de Jones naquele ano sobre o mundo contemporâneo, como parte dos estudos sobre a Alemanha nazista.  Teve o objetivo de mostrar como uma população inteira foi praticamente hipnotizada pelos nazistas, provando que mesmo em uma sociedade democrática as pessoas não estão livres da conversão ideológica por líderes carismáticos.

Die Welle, filme alemão baseado em A Onda
Jones começou seu experimento sugerindo aos seus alunos que a democracia possui vários problemas, decorrentes do fato de valorizar em demasia o indivíduo e sua liberdade, o que incentivaria o egoísmo; e que o segredo para se conseguir uma sociedade mais justa e forte era a disciplina e o espírito de grupo. Através da adoção de um cumprimento que diferenciava os seus estudantes dos demais – que lembrava o saudação fascista de Mussolini –, a utilização de um uniforme pelos integrantes, e o desprezo ao alunos que não eram da turma, ele criou um grupo coeso e disciplinado, atento e receptivo a qualquer ideia que lhes fosse transmitida por seu líder – o próprio professor Jones. O lema criado foi “força através da disciplina, força através da comunidade, força através da ação, força através do orgulho”. Repetido à exaustão, este mantra deu as linhas mestras para os integrantes do grupo e se tornou o dogma a ser seguido sem contestação – quem questionasse algo era excluído. No fim o professor dissolveu o grupo e revelou aos alunos que tudo não passou de um experimento, e eles não acreditaram em como puderam ser manipulados tão facilmente.

A história também deu origem ao filme alemão Die Welle, de 2008, um longa-metragem com um enredo bem parecido, mas com uma conclusão mais trágica. A história de Jones também deu origem ao livro The Wave, do escritor Todd Strasser, que é a romantização dos eventos ocorridos durante A Terceira Onda.

Manifestantes da Marcha da Família com Deus no ano de 2014


The Wave, livro de Todd Strasser
Em nossos tempos onde tanta gente participa de passeatas pedindo a volta da ditadura militar no Brasil – como vimos recentemente na marcha da família e no aniversário de 50 anos do golpe militar de 1964 – é sempre bom refletir sobre os perigos do autoritarismo e da conversão ideológica. Muitos reclamam da democracia e tem sido muito difundida no Brasil hoje a ideia de que a corrupção é exclusiva do novo regime democrático brasileiro. Alega-se uma suposta inversão de valores e clama-se pela imposição de códigos morais mais rígidos na sociedade; mas tudo tem o seu preço, e o preço da liberdade é a convivência com valores diferentes dos nossos; mas o seu oposto – o autoritarismo – é um pesadelo em que a individualidade é sufocada em nome da ideologia oficial, concorde você ou não. E nesta distopia a corrupção encontra um terreno fértil e seguro para se disseminar (inúmeros escândalos de corrupção também ocorreram durante a ditadura militar). Basta uma pesquisa rápida na internet para encontrar aterrorizantes relatos sobre fatos ocorridos em regimes totalitários como o da China, Irã, Arábia Saudita, Coreia do Norte, Cuba, entre tantos outros; países onde não há liberdade de expressão, a internet e a mídia são controladas, e governos autoritários controlam rigidamente todos os aspectos da vida dos cidadãos; censurando abertamente livros, filmes, teatro, notícias, discursos, artigos científicos e qualquer coisa que seja considerada subversiva e contra os ideais do governo, regime, revolução, líder, entre outros; criados para serem adorados e obedecidos sem questionamento, sob o risco de prisão, tortura e até morte.


A Onda (legendado)


A Onda (dublado)

A Onda (Die Welle) 

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O Coração das Trevas, de Joseph Conrad

O Coração das Trevas (Heart of Darkness, 1899) é o livro mais famoso e perturbador do escritor Joseph Conrad (1857-1924), autor nascido na Polônia mas estabelecido na Inglaterra. O livro é considerado uma das maiores obras da literatura ocidental do século XX – apesar de ter sido publicado pela primeira vez em 1899 na revista literária Maga – e a história ficou mundialmente famosa por ter inspirado o filme Apocalypse Now, do grande cineasta Francis Ford Coppola. É uma obra quase autobiográfica onde Conrad faz uma dura crítica ao imperialismo.

Joseph Conrad foi testemunha dos horrores do imperialismo: viu sua Polônia natal ser ocupada pela Rússia e trabalhou no Congo como Capitão de um navio a vapor. Desta última experiência veio a inspiração para escrever O Coração das Trevas. Assim como o protagonista, ele também trabalhou para uma empresa Belga e comandou um navio a vapor no Congo – na época uma propriedade do Leopoldo II da Bélgica. Seu navio foi avariado e ele também adentrou o Rio Congo em direção ao posto mais longínquo da companhia rio abaixo; retornando com o administrador Georges-Antonie Klein, que morreu doente no retorno.

Joseph Conrad
O livro começa como uma narrativa em primeira pessoa em uma tarde em um estuário no Rio Tâmisa, em Londres, onde vários marinheiros estão passando o tempo escutando a narrativa de um aventureiro chamado Charles Marlow. Começa então a narrativa principal, contada por Marlow, sobre seu emprego em uma companhia belga de comércio e sua aventura comandando um navio fluvial a vapor que transportava marfim por um grande rio na África Colonial. No caminho ele ouve falar do lendário Sr. Kurtz, um administrador que comanda o posto mais avançado da companhia rio abaixo. No caminho ele testemunha o tratamento brutal dado aos nativos negros; o brutal desequilíbrio de forças entre colonizadores e nativos quando vê um navio de guerra francês bombardeando uma aldeia; e todo o sangue e o esforço realizado naquele local distante e isolado da civilização com o único intuito de explorar o marfim. No início ele acredita no colonialismo como uma forma de levar a civilização aos povos bárbaros e atrasados, mas conforme vai avançando mais no coração negro da floresta (o “coração das trevas” do título) em busca do Sr. Kurtz, ele descobre os horrores que se escondem por trás do processo civilizatório. O Sr. Kurtz é adorado como um deus pelos nativos e em seu isolamento prolongado extrapolou todos os limites da barbárie, mostrando que quando ultrapassamos as fronteiras psicológicas da civilização adentramos no território da insanidade.

Apesar de inspirado em O Coração das Trevas, a história do filme Apocalypse Now (1979) tem poucas semelhanças com o livro de Joseph Conrad – apesar da ambientação e do clima de insanidade serem idênticos. O filme de Francis Ford Coppola se passa na Guerra do Vietnã, onde o Capitão do exército americano Benjamin L. Willard (Martin Sheen) recebe a missão de adentrar o Rio Nung em plena guerra para matar o desertor Coronel Walter E. Kurtz (Marlon Brando), que enlouqueceu e vive entre nativos nos confins da floresta tropical do Camboja. O filme tem um elenco estelar contando, além de Martin Sheen e Marlon Brando, com nomes como Harrison Ford, Robert Duvall, Laurence Fishburne e Dennis Hopper. Como cenas inesquecíveis destaco o início, em que o personagem de Martin Sheen pira no interior de um apartamento em Saigon ao som da canção The End, da banda The Doors, e a cena do ataque dos helicópteros a uma vila vietnamita ao som da Cavalgada das Valquírias, de Richard Wagner.

Marlon Brando irreconhecível como Coronel Kurtz em Apocalypse Now.

Uma história universal e atualíssima nestes tempos em que testemunhamos a intervenção das grandes potências em países do Oriente Médio e África, sob o pretexto de levar a democracia e combater o terrorismo; e a anexação de territórios por grandes potências, como ocorreu no caso da Criméia pela Rússia. O horror! O horror!, como diz o Sr. Kurtz no livro.

É uma leitura curta mas que exige muita atenção e concentração para não perder nenhuma das sutilezas do texto. A edição que li é a edição bilíngue da Editora Landmark, que ainda pode ser encontrada nas livrarias, mas há também várias outras boas versões por outras editoras.

“Entretanto, como vocês podem perceber, eu não me juntei a Kurtz nem ali e nem depois. Eu permaneci a sonhar o pesadelo até o final e a demonstrar sempre a minha lealdade para com Kurtz. Destino. Meu destino! A vida é uma coisa engraçada: um arranjo misterioso de lógica sem misericórdia para um propósito fútil. O máximo que se pode esperar dela é algum conhecimento de si mesmo... que chega tarde demais... um amontoado de arrependimentos inextinguíveis. Eu tenho lutado contra a morte. É a competição mais entediante que vocês podem imaginar. Ela acontece numa mediocridade intangível, com nada sob os nossos pés, com nada entorno, sem espectadores, sem um clamor, sem glória, sem o grande desejo de vitória, sem o grande temor da derrota, dentro de uma atmosfera doentia de cepticismo morno, sem se acreditar no próprio direito e ainda muito menos quanto ao direito do adversário. Se for aquela a imagem da derradeira sabedoria, então a vida é um enigma maior do que alguns de nós poderiam sequer supor que seja. [...]”




segunda-feira, 31 de março de 2014

Viagem à Lua de Júpiter (Europa Report)


Viagem à Lua de Júpiter (Europa Report, 2013) é um filme de ficção científica de baixo orçamento dirigido pelo equatoriano Sebastián Cordero sobre uma missão tripulada com financiamento privado à Europa, uma lua do planeta Júpiter que tem um imenso oceano submerso onde os astrobiólogos pensam existir vida. É um suspense bem realista com temas atuais como a exploração privada do espaço e a busca por vida fora do planeta Terra, que que fará a alegria dos fãs de 2001: Uma Odisseia no Espaço, o grande clássico de ficção científica de Stanley Kubric e Arthur C. Clarke. O filme foi muito bem recebido pela crítica e surpreendentemente chega agora ao Brasil em DVD.

Júpiter e suas luas são os locais mais interessantes de todo Sistema Solar. O planeta foi visitado pelas sonda Voyager 1 e 2 nas décadas de 70 e 80 e na década de 90 ganhou a missão de uma sonda exclusiva, a Galileu, que fez a exploração mais completa até hoje do sistema jupiteriano. Esta última missão foi batizada em homenagem ao grande cientista Galileu Galilei, que no século XVII descobriu os quatro grandes satélites do planeta Júpiter: Ganimedes, Calisto, Europa e Io. Com os dados destas missões descobrimos que o planeta não é uma simples bola de gás e suas luas estão longe de serem apenas bolas de gelo e rochas sem graça, como se imaginava anteriormente. Júpiter tem uma atmosfera complexa e turbulenta, e suas grandes luas são geologicamente ativas. Destaque para Io, com dezenas de vulcões em atividade que fazem dela o corpo geologicamente mais ativo de todo o Sistema Solar; e Europa, que tudo indica possuir um oceano salgado com centenas de quilômetros de profundidade sob a espessa camada de gelo que compõe sua superfície. Onde há água líquida, substâncias complexas e uma fonte de energia, pode existir vida como a conhecemos aqui na Terra, daí o grande interesse em Europa.

No futuro próximo imaginado por Cordero, uma empresa fictícia, a EuropaVentures, projeta, financia e lança uma missão tripulada para Europa, com o objetivo de investigar se há vida nesta lua do planeta Júpiter. O filme se passa após um aparente fracasso e é contado na forma de documentário. Através de flashbacks e entrevistas fictícias com a CEO da empresa e cientistas da missão, aos poucos vamos sabendo aconteceu à missão Europa One e o que sua tripulação descobriu por lá. Esta descoberta pode ter custado a vida de vários membros da tripulação.

Planeta Júpiter com Europa ao fundo em cena de Europa Report.
Com a ascensão de várias empresas espaciais privadas como a Space X e a Virgin Galactic, o tema da privatização das viagens espaciais mostrada no filme é pertinente e atual. Com o programa espacial tripulado americano patinando após a aposentadoria dos ônibus espaciais, e uma missão tripulada à Marte cada vez mais distante, as maiores esperanças hoje para o avanço da humanidade no espaço são as empresas privadas (e o programa espacial chinês). Hoje os astronautas dos Estados Unidos tem de contar com a carona das naves russas Soyuz para chegar até a Estação Espacial Internacional. Com a atual crise diplomática na Criméia e os pesados embargos impostos à Rússia, esta provavelmente deixará os Estados Unidos “à pé” no espaço em retaliação.

Apesar do baixo orçamento, o filme é muito bem feito. O interior e o exterior da nave são perfeitos, com cenas muito boas em gravidade zero e no espaço. A chegada ao planeta Júpiter e o pouso em Europa são de tirar o fôlego e as tomadas na superfície são bem realistas. Cenas reais do lançamento de um foguete e sua inserção em órbita, além de fotos reais do planeta Júpiter e de Europa tiradas durante a missão Galileu da NASA foram utilizadas, barateando os custos com efeitos especiais e dando ainda mais realismo ao filme. Há muito suspense e a história é contada de uma forma diferente, não linear, com um final surpreendente, realista e satisfatório. Para os fãs de ficção científica hard, um filme imperdível!



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Robocop (2014)

Quem é fã do Robocop de 1987 e está preocupado com o resultado da nova versão de 2014 dirigida por José Padilha, pode ficar despreocupado. Apesar da falta de violência, dos produtores, da maldição dos remakes e da estreia do diretor no cinema americano, o filme é excelente. O original é bem mais violento, e se fosse lançado hoje não seria liberado para menores de 18 anos, o que inviabilizaria uma produção de 100 milhões de dólares como esta. Mas em compensação, o novo filme é mais complexo, trazendo à baila temas bem atuais como a utilização de robôs na guerra, a desumanização de policiais e soldados, a invasão da privacidade e o poder das grandes corporações.

O filme começa mostrando uma ocupação americana em Teerã, no Irã, totalmente realizada por robôs. Gigantescos ED 209 e vários robôs humanoides EM-208 patrulham as ruas e escaneiam os moradores em busca de terroristas. Por ar há drones voadores que dão apoio aéreo, bem parecidos com os que os Estados Unidos utilizam hoje no Afeganistão, Iraque e Paquistão para matar terroristas. Filmes como Matrix e Exterminador do Futuro tratam da ameaça tão explorada na ficção científica que é a guerra das máquinas, que perdem o controle e submetem os seres humanos. José Padilha apresenta uma reciclagem desta ideia ao mostrar que no futuro o que poderá ocorrer é a dominação do homem por máquinas controladas por outros homens.

Robôs patrulhando as ruas de Teerã
Neste novo filme a família do policial Alex Murphy tem papel fundamental, pois é bem explorado o tema da transformação do homem em máquina. Quem está no controle, o homem ou a máquina? É a ilusão do livre arbítrio, como diz um dos personagens. No original, o que movia o Robocop desde o início era a vingança contra aqueles que tentaram assassiná-lo. Neste a vingança tem que aguardar um pouco enquanto é mostrada a adaptação do policial Alex Murphy à sua nova condição, em uma cena chocante.

Outro tema explorado no filme é o da violação de privacidade. Robocop tem acesso a todas as câmeras da cidade e o registro de todos os cidadãos, e através de leitura biométrica pode identificar qualquer um e buscar seus antecedentes criminais e dados biográficos. Em um mundo em que centenas de milhões de pessoas compartilham suas vidas em redes sociais, câmeras de vigilância vigiam as ruas e governos espionam seus cidadãos, o tema é bem oportuno.

José Padilha
Também interessante é o tema da relação promíscua entre a imprensa, a política e as grandes corporações. Como estes grupos conseguem através da mídia manipular a opinião pública, e, desta forma, pressionar os políticos a aprovar leis que os interessam, ou, paralelamente a esta tática, chantagear e/ou subornar os reticentes e os corruptos. Estas relações ameaçam a democracia no mundo ao priorizar os interesses dos grandes grupos econômicos em detrimento das necessidades da população, resultando em graves crises econômicas e violações dos direitos das pessoas.


Segundo José Padilha em entrevistas, não houve muita interferência dos produtores no desenvolvimento do filme por ele ter colocado as cartas na mesa e exigido desde o início fazer o filme à sua maneira, sem menosprezar a inteligência do público. É lógico que não há a violência de um Tropa de Elite ou do filme original, que teve que ser muito bem camuflada com o uso pelo policial do futuro de uma arma de choque nas cenas diurnas e de uma conveniente escuridão quando a arma era verdadeira, culpa da classificação etária de 13 anos do filme. Mas a violência foi substituída pelo drama e a exploração dos limites éticos de se submeter o ser humano com o auxílio de máquinas. Hoje só os afegãos, iraquianos e paquistaneses sabem o que é ser atacado por um robô controlado remotamente, mas e quando eles começarem a atuar dentro do próprio território dos Estados Unidos? E quando um robô matar por engano um ser humano, quem será julgado? E quando um regime totalitário utilizar robôs para controlar seus cidadãos? São perguntas que teremos que responder em breve.


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Estreia de Robocop

José Padilha e o novo Robocop
Para quem ainda não sabe, a estreia do novo Robocop nos cinemas brasileiros é nesta sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014. Seria apenas mais um da interminável série de remakes e continuações de hollywood se não fosse por um detalhe: José Padilha. É primeiro filme americano do diretor de Tropa de Elite e Tropa de Elite 2: O inimigo agora é outro. O filme já arrecadou 100 milhões de dólares na primeira semana em cartaz.

Segue abaixo o trailer:



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

James Cameron: Antes de Avatar... um garoto curioso

James Cameron
Esta é a transcrição da palestra para o TED do cineasta James Cameron, responsável pelos dois filmes de maior bilheteria da história do cinema: Avatar e Titanic. Ele também tem diversos outros filmes de sucesso em seu currículo, como Exterminador do Futuro (The Terminator, 1984), Aliens – O resgate (Aliens, 1986), O Segredo do Abismo (The Abyss, 1989), Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final (Terminator 2: Judgement Day, 1991), True Lies (1994), entre outros. Aqui ele faz um resumo de sua vida, de um garoto fã de ficção científica à cineasta de sucesso e explorador. Além de filmes, ele também fez diversos documentários, principalmente no longo período entre os filmes Titanic, lançado em 1997, e Avatar, em 2009. Deste período vem o sensacional documentário Criaturas das Profundezas (Aliens of the Deep), onde ele, juntamente com alguns astrobiólogos da NASA, exploram em um submarino russo, fontes termais nas profundezas do Oceano Atlântico em busca dos estranhos seres vivos que ali vivem em um ecossistema totalmente independente do Sol.

Alguns filmes de James Cameron


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James Cameron: Antes de Avatar... um garoto curioso

Cresci sob uma dieta regular de ficção científica Durante o segundo grau tomava um ônibus para escola era uma hora de ida, outra de volta, todos os dias e eu estava sempre absorto em um livro um livro de ficção científica, que transportava minha mente a outros mundos, e satisfazia, de uma forma narrativa, esta curiosidade insaciável que eu tinha
E vocês sabem que a curiosidade também se manifestava no fato de que sempre que eu não estava na escola eu estava ao ar livre, no mato, fazendo excursões e coletando "amostras", sapos e cobras e insetos e água das poças, e trazendo-os de volta, examinando-os no microscópio Vocês sabem, eu era realmente um fanático por ciência Mas tudo isso se tratava de tentar entender o mundo, entender os limites das possibilidades.
E minha paixão por ficção científica de fato parecia se refletir no mundo ao meu redor, por causa do que estava acontecendo, isso era no fim dos anos 60, estávamos indo à lua, estávamos explorando os oceanos profundos, Jacques Cousteau estava em nossas salas de estar com seus programas especiais fantásticos que nos mostravam animais e lugares e um mundo incrível que nunca poderíamos ter imaginado antes Então, isso parecia estar de acordo com toda essa parte de ficção científica.
E eu era um artista. Eu desenhava. Eu pintava. E eu descobri já que não havia video games e esse excesso de filmes feitos por computador e todo esse imaginário no cenário da mídia, eu tinha que criar essas imagens em minha cabeça. Vocês sabem, todos passamos por isso, quando crianças tínhamos que ler um livro e através da descrição do autor criar algo na tela da nossa mente Então, minha resposta era pintar, desenhar criaturas alienígenas, mundos extra-terrestres, robôs, espaçonaves, todas essas coisas. Eu era constantemente pego na aula de matemática rabiscando atrás do livro. Ou seja, a criatividade tinha que encontrar um escape.
E uma coisa interessante aconteceu, os programas de Jacques Cousteau realmente me deixaram muito entusiasmado sobre o fato de que havia um mundo alienígena aqui na Terra Talvez eu realmente não vá a um mundo extra-terrestre em uma espaçonave um dia. Isso parecia realmente muito pouco provável. Mas havia um mundo que eu podia visitar, bem aqui na Terra, que era rico e exótico como tudo que eu havia imaginado ao ler esses livros.
Então eu decidi que seria um mergulhador quando tinha 15 anos. O único problema é que eu vivia em uma cidadezinha do Canadá, a 1000 km do oceano mais próximo. Mas não deixei que isso me desanimasse. Insisti com meu pai até que ele finalmente encontrou aulas de mergulho em Buffalo, Nova Iorque, cruzando a fronteira onde morávamos. E eu realmente recebi meu certificado em uma piscina da ACM em pleno inverno em Buffalo, Nova Iorque. E não vi um oceano, um oceano de verdade, por mais 2 anos, até que nos mudamos para Califórnia.
Desde então, nos próximos 40 anos, passei cerca de 3.000 horas embaixo d´água, E 500 dessas horas foram em submersíveis. E aprendi que o ambiente de um oceano profundo, e mesmo dos oceanos mais rasos, são completamente ricos com uma vida incrível que está realmente além da nossa imaginação. A imaginação da natureza é tão ilimitada comparada com nossa pobre imaginação humana. Até hoje, ainda fico totalmente surpreso com o que vejo em meus mergulhos. E minha história de amor com o oceano continua, tão forte como sempre foi.
Mas, quando escolhi uma carreira, já adulto, foi fazer filmes. E esta parecia ser a melhor maneira de conciliar minha necessidade de contar histórias, com minha necessidade de criar imagens. E quando criança eu estava sempre desenhando histórias em quadrinhos e coisas do tipo. Então, fazer filmes era a maneira de colocar imagens e histórias juntos. E isso fazia sentido. E claro que as histórias que escolhi contar eram histórias de ficção científica: "Exterminador do Futuro", "Aliens" e "O Abismo". E com "O Abismo", eu estava juntando minha paixão pelo mundo aquático e mergulho, com a produção de filmes. Então, vocês sabem, fundindo as duas paixões.
Algo interessante surgiu de "O Abismo", que era resolver um problema específico de narrativa neste filme que era criar um tipo de criatura aquática líquida, nós realmente abraçamos a animação gerada por computador. E isso resultou na primeira superfície macia de um personagem, de animação por computador que jamais existiu em um filme. Apesar do filme não ter dado lucro, por pouco ficamos quites, devo dizer, fui testemunha de algo incrível, que foi o público, o público global ficou boquiaberto com esta aparente magia.
Vocês sabem, é a lei de Arthur Clarke de que qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia. As pessoas estavam vendo algo mágico. E isso me deixou muito entusiasmado. E pensei, "Uau, isso é algo que precisa ser incorporado à arte cinematográfica." Então, com "Exterminador do Futuro 2", que foi meu próximo filme, levamos isso muito mais além. Trabalhando com ILM, criamos uma figura de metal líquido no filme. O sucesso dependia do efeito funcionar ou não. E funcionou. E criamos mágica outra vez. E tivemos o mesmo resultado com o público. Apesar de que faturamos um pouco mais nesse filme.
Então, traçando uma linha entre esses dois pontos de experiência, chegamos ao ponto de que seria um mundo totalmente novo, era um mundo totalmente novo de criatividade para os artistas da indústria de cinema. Então, comecei um negócio com Stan Winston, meu grande amigo Stan Winston, que era número um em maquiagem e desenho de criaturas naquela época, e se chamava Digital Domain. E o conceito da empresa era que pularíamos a fase dos processos analógicos das impressoras ópticas e iríamos direto para produção digital. E realmente fizemos isso, o que nos deu uma vantagem competitiva por um tempo.
Mas, nos encontramos atrasados no meio dos anos 90 no negócio de desenho de criaturas e personagens que era para o que havíamos criado a empresa. Então, escrevi este texto chamado "Avatar", que tinha a intenção de absolutamente inovar em efeitos visuais, de efeitos gerados por computador, ir além com personagens realistas com emoções humanas gerados por computador e os principais personagens seriam gerados por computador e o mundo seria gerado por computador Mas era avançado demais. E meus funcionários me disseram que não poderíamos fazer isso por algum tempo.
Então, arquivei a idéia, e fiz esse outro filme sobre um enorme navio que afunda. (Risos) Vocês sabem, fui ao estúdio e lancei essa idéia como " 'Romeu e Julieta' em um navio" Vai ser um romance épico, um filme ardente. Secretamente, o que eu queria fazer era mergulhar no mundo real do "Titanic". E foi por isso que eu fiz o filme. (Aplausos) E essa é a verdade. Bem, o estúdio não sabia disso. Mas eu os convenci. Eu disse, "Vamos mergulhar até o naufrágio. Vamos filmá-lo de verdade. Vamos usar na abertura do filme. Vai ser muito importante. Será um grande gancho de marketing." E eu os convenci a custear uma expedição. (Risos)
Parece loucura. Mas isso nos faz voltar ao assunto de que a sua imaginação cria a realidade. Porque nós realmente criamos uma realidade onde seis meses depois eu me encontrei num submersível russo a 4 Km de profundidade no Atlântico norte, olhando para o verdadeiro Titanic através de uma escotilha, não era filme, não era alta definição, era real. (Aplausos)
Bem, aquilo foi impressionante. E exigiu muita preparação, tivemos que construir câmeras e luzes e todo tipo de coisas. Mas, me dei conta do quanto esse mergulho, esses mergulhos profundos eram como uma missão espacial. Vocês sabem, onde tudo era altamente técnico, e exigia muito planejamento. Você entra nessa cápsula, desce a essa escuridão um ambiente hostil onde não existe possibilidade de salvamento se você não conseguir voltar sozinho. E eu pensava, "Uau, estou vivendo um filme de ficção científica. Isso é realmente fantástico."
E então, eu realmente fui contagiado pela febre da exploração de oceanos profundos. Claro, a curiosidade, o componente científico. Era tudo. Era aventura, Era curiosidade. Era imaginação. Era uma experiência que Hollywood não podia me dar. Porque, vocês sabem, eu podia imaginar uma criatura e podia criar um efeito visual para ela. Mas eu não podia imaginar o que estava vendo por aquela janela. A medida que fazíamos nossas futuras expedições Eu estava vendo criaturas em fontes hidrotermais e às vezes coisas que eu nunca tinha visto antes, às vezes coisas que ninguém tinha visto antes, que realmente não haviam sido descritas pela ciência no momento em as vimos e as imaginamos.
Então, eu estava completamente fascinado com isso e tinha que fazer mais. Então, eu de fato tomei uma decisão um tanto curiosa. Após o sucesso de "Titanic," Eu disse, "Ok, vou dar uma pausa em meu trabalho como criador de filmes de Hollywood, e vou ser explorador por tempo integral durante um período." E então, começamos a planejar essas expedições. E acabamos indo até o Bismark, e explorando-o com veículos robóticos. Voltamos ao naufrágio do Titanic. Levamos pequenos robôs que havíamos criado que desenrolavam uma fibra óptica. E a idéia era ir entrar e fazer um levantamento interno uma pesquisa daquele navio, que nunca havia sido feito. Ninguém nunca havia estado dentro do naufrágio. Eles não tinham os meios para fazer isso, então criamos a tecnologia para isso.
Então, vocês sabem, aí estou, no deck do Titanic, sentado em um submersível, e olhando para tábuas de madeira que se pareciam muito com o local onde eu sabia que a banda havia tocado. E estou conduzindo um pequeno veículo robótico pelo corredor do navio. Quando penso, eu o estou conduzindo, mas minha mente está no veículo. Eu sentia que estava fisicamente presente dentro do naufrágio do Titanic. E foi o tipo mais surreal de experiência de deja vu que eu já tive, porque eu já sabia antes de virar em alguma esquina o que ia estar lá antes que as luzes do veículo realmente a revelassem, porque eu havia andado pelo set de filmagem por meses quando estávamos fazendo o filme. E o set estava baseado em uma réplica exata dos desenhos do navio.
Então, foi uma experiência absolutamente impressionante. E me fez entender que a experiência de telepresença que você de fato pode ter com esses avatares robóticos, que sua consciência é projetada nesses veículos, nessa outra forma de existência. Foi realmente muito, muito profundo. E pode ser que tenha sido uma pequena idéia do que poderá vir a acontecer em algumas décadas ao começarmos a ter ciborgues para exploração ou para outros fins em muitos tipos de futuros pós-humanos que eu posso imaginar, como fã de ficção científica.
Então, ter feito essas expedições, e realmente começar a apreciar o que estava lá, como por exemplo as fontes nas fendas do fundo do mar onde temos esses animais fantásticos, fantásticos. Eles são basicamente alienígenas aqui na Terra. Eles vivem em um ambiente de quimiosíntese. Eles não sobrevivem com sistemas baseados na luz do sol, como nós. Assim, você está vendo animais que vivem junto a jorros de água a 500 graus. Você acha que é impossível que eles existam.
Ao mesmo tempo Eu estava me interessando muito por ciência espacial também, novamente, é a influência da ficção científica, desde criança. E acabei me envolvendo com a comunidade espacial, realmente envolvido com a NASA, participando do Conselho da NASA, planejando missões espaciais reais, indo para Rússia, assistindo os protocolos biomédicos pré-cosmonáuticos todo esse tipo de coisas, para realmente voar até à estação espacial internacional com nosso sistema de câmeras 3D. E era fascinante. Mas o que eu acabava fazendo era levar cientistas espaciais conosco para o fundo do mar. E levá-los ao fundo para que eles tivessem acesso astrobiologistas, cientistas planetários, pessoas interessadas nesses ambientes extremos, levando-os para as fontes nas fendas para verem, e pegar amostras e levar instrumentos para testes, e assim por diante.
Então, por fim estávamos fazendo documentários, mas fazendo ciência de verdade, e de fato fazendo ciência espacial. Eu havia fechado o círculo completamente entre ser um fã de ficção científica, vocês sabem, quando criança, e fazer essas coisas de verdade. E vocês sabem, durante esta jornada de descoberta, eu aprendi muito. Aprendi muito sobre ciência. Mas também aprendi muito sobre liderança. Bem, você imagina que um diretor tem que ser um bom líder, líder, capitão do navio, todo esse tipo de coisa.
Eu realmente não tinha aprendido sobre liderança até fazer essas expedições. Porque eu tinha, num certo ponto, dizer "O que estou fazendo aqui? Por que estou fazendo isso? O que eu ganho com isso?" Não fazemos dinheiro com esses benditos shows. Quase nem chegamos a empatar. Não tem fama nisso. As pessoas pensaram que eu tinha desaparecido entre "Titanic" e "Avatar" e estava curtindo em algum lugar, numa praia. Fiz todos esses filmes, todos esses filmes documentais para um público muito limitado.
Nada de fama, glória, dinheiro. O que você está fazendo? Você está fazendo isso pela tarefa em si, pelo desafio e o oceano é o ambiente mais desafiador que existe, pela emoção da descoberta, e pelo estranho laço que se forma quando um pequeno grupo de pessoas forma uma equipe bem ajustada. Pois fazíamos essas coisas com 10-12 pessoas trabalhando por anos e por vez As vezes no mar por 2-3 meses.
E nesse laço, você percebe que a coisa mais importante é o respeito que você tem por eles e que eles têm por você, que vocês completaram uma tarefa que não tem como explicar para outra pessoa. Quando você volta para a terra e diz, "Tivemos que fazer isso, e a fibra ótica, e a atenuação e isso e aquilo outro, e toda tecnologia, e a dificuldade, os aspectos do desempenho humano no trabalho no mar você não consegue explicar isso para as pessoas. É uma coisa que talvez os policiais tenham, ou pessoas que estiveram em combate e passaram por algo juntas e eles sabem que nunca vão conseguir explicar. Isso cria um laço, cria um laço de respeito.
Então, quando voltei para fazer meu próximo filme, que era "Avatar," Tentei aplicar os mesmos princípios de liderança que é de respeito pela sua equipe, e que você ganha o respeito deles em troca. E isso realmente mudou a dinâmica. Então, lá estava eu novamente com uma pequena equipe, em um território não mapeado fazendo "Avatar", trazendo novas tecnologias que não existiam antes. Super excitante. Super desafiante. E nos tornamos uma família, por um período de quatro anos e meio. E isso mudou completamente a maneira em que faço filmes. Então, as pessoas comentaram como, bem, vocês sabem, você trouxe os organismos marinhos e os colocou no planeta Pandora. Para mim era mais uma maneira fundamental de fazer negócios, o processo em si mesmo, isso mudou como um resultado do que havia aprendido.
Então, o que podemos sintetizar disso? Vocês sabem, quais as lições aprendidas? Bem, acho que a número um é curiosidade. É a coisa mais poderosa que você tem Imaginação é uma força que pode realmente manifestar-se em uma realidade. E respeito da sua equipe é mais importante do que todos as glórias do mundo. Eu conheço jovens cineastas que vem até mim e dizem, "Qual o seu conselho para fazer isso." E eu digo, "Não crie limites para você mesmo. Outras pessoas vão fazer isso por você, não o faça a si mesmo, não aposte contra você mesmo. E arrisque."

A NASA tem uma frase que eles gostam: "Fracasso não é uma opção." Mas fracassar tem que ser uma opção na arte e na exploração, porque se trata de fé. E nenhum empreendimento que exigiu inovação foi feito sem riscos. Você tem que estar disposto a assumir esses riscos. Então, o pensamento que eu gostaria de deixar com vocês, é que em qualquer coisa que você faça, fracassar é uma opção, mas o medo não. Obrigado. Aplausos.