quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Robocop (2014)

Quem é fã do Robocop de 1987 e está preocupado com o resultado da nova versão de 2014 dirigida por José Padilha, pode ficar despreocupado. Apesar da falta de violência, dos produtores, da maldição dos remakes e da estreia do diretor no cinema americano, o filme é excelente. O original é bem mais violento, e se fosse lançado hoje não seria liberado para menores de 18 anos, o que inviabilizaria uma produção de 100 milhões de dólares como esta. Mas em compensação, o novo filme é mais complexo, trazendo à baila temas bem atuais como a utilização de robôs na guerra, a desumanização de policiais e soldados, a invasão da privacidade e o poder das grandes corporações.

O filme começa mostrando uma ocupação americana em Teerã, no Irã, totalmente realizada por robôs. Gigantescos ED 209 e vários robôs humanoides EM-208 patrulham as ruas e escaneiam os moradores em busca de terroristas. Por ar há drones voadores que dão apoio aéreo, bem parecidos com os que os Estados Unidos utilizam hoje no Afeganistão, Iraque e Paquistão para matar terroristas. Filmes como Matrix e Exterminador do Futuro tratam da ameaça tão explorada na ficção científica que é a guerra das máquinas, que perdem o controle e submetem os seres humanos. José Padilha apresenta uma reciclagem desta ideia ao mostrar que no futuro o que poderá ocorrer é a dominação do homem por máquinas controladas por outros homens.

Robôs patrulhando as ruas de Teerã
Neste novo filme a família do policial Alex Murphy tem papel fundamental, pois é bem explorado o tema da transformação do homem em máquina. Quem está no controle, o homem ou a máquina? É a ilusão do livre arbítrio, como diz um dos personagens. No original, o que movia o Robocop desde o início era a vingança contra aqueles que tentaram assassiná-lo. Neste a vingança tem que aguardar um pouco enquanto é mostrada a adaptação do policial Alex Murphy à sua nova condição, em uma cena chocante.

Outro tema explorado no filme é o da violação de privacidade. Robocop tem acesso a todas as câmeras da cidade e o registro de todos os cidadãos, e através de leitura biométrica pode identificar qualquer um e buscar seus antecedentes criminais e dados biográficos. Em um mundo em que centenas de milhões de pessoas compartilham suas vidas em redes sociais, câmeras de vigilância vigiam as ruas e governos espionam seus cidadãos, o tema é bem oportuno.

José Padilha
Também interessante é o tema da relação promíscua entre a imprensa, a política e as grandes corporações. Como estes grupos conseguem através da mídia manipular a opinião pública, e, desta forma, pressionar os políticos a aprovar leis que os interessam, ou, paralelamente a esta tática, chantagear e/ou subornar os reticentes e os corruptos. Estas relações ameaçam a democracia no mundo ao priorizar os interesses dos grandes grupos econômicos em detrimento das necessidades da população, resultando em graves crises econômicas e violações dos direitos das pessoas.


Segundo José Padilha em entrevistas, não houve muita interferência dos produtores no desenvolvimento do filme por ele ter colocado as cartas na mesa e exigido desde o início fazer o filme à sua maneira, sem menosprezar a inteligência do público. É lógico que não há a violência de um Tropa de Elite ou do filme original, que teve que ser muito bem camuflada com o uso pelo policial do futuro de uma arma de choque nas cenas diurnas e de uma conveniente escuridão quando a arma era verdadeira, culpa da classificação etária de 13 anos do filme. Mas a violência foi substituída pelo drama e a exploração dos limites éticos de se submeter o ser humano com o auxílio de máquinas. Hoje só os afegãos, iraquianos e paquistaneses sabem o que é ser atacado por um robô controlado remotamente, mas e quando eles começarem a atuar dentro do próprio território dos Estados Unidos? E quando um robô matar por engano um ser humano, quem será julgado? E quando um regime totalitário utilizar robôs para controlar seus cidadãos? São perguntas que teremos que responder em breve.


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