sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O Reencontro

O Reencontro (The Magic of Belle Isle, 2012) é um drama dirigido pelo ator e diretor Rob Reiner e escrito por Guy Thomas, estrelando Morgan Freeman e Virginia Madsen. O filme mostra a história do famoso escritor de faroestes Monte Wildhorn (Freeman), paraplégico em uma cadeira de rodas, e que está há anos sem inspiração para escrever depois de ter a vida destruída pelo alcoolismo. Após muita insistência do filho, ele vai passar o verão em uma casa à beira de um lago na bucólica Belle Isle. Lá ele é recebido como uma celebridade pelos habitantes locais e conhece sua nova vizinha, Charlotte O'Neil (Madsen), uma bela mulher de meia idade que luta para criar sozinha suas filhas adolescentes. Sua vida muda após Charlotte lhe pedir para que tome conta de suas filhas por uma noite para que ela possa ir até uma cidade próxima para cuidar de assuntos relacionados ao divórcio dela. O ranzinza Wildhorn é conquistado pelas filhas de Charlotte e reencontra a inspiração para escrever, além de iniciar uma das garotas, que aspira se tornar escritora, na arte da escrita.


Um belo filme de baixo orçamento que por aqui foi lançado diretamente em DVD e que quase ninguém ouviu falar. Recomendado para todos que gostam do ator Morgan Freeman, que aqui faz um personagem fantástico que nos ensina que apesar da idade avançada e das tragédias pessoais, nunca é tarde para mudar o rumo de nossas vidas e reencontrar a inspiração e a felicidade.

O filme pode ser encontrado em DVD ou Bluray no site da Livraria Cultura.


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Carolyn Porco nos leva a Saturno

Carolyn Porco
Esta é a transcrição da palestra para o TED da cientista planetária Carolyn Porco, que trabalha para a NASA na missão Cassini-Huygens. Ela fala um pouco sobre a história da exploração do espaço e sobre algumas das descobertas realizadas pela sonda Cassini, que chegou em Saturno no ano de 2004 e até hoje orbita o planeta, e da Huygens, que em janeiro de 2005 pousou na lua Titã. Esta gigantesca lua possui uma densa atmosfera que acredita-se ser parecida com a atmosfera da Terra há bilhões de anos atrás, e possui imensos lagos de metano líquido nos pólos. Ficamos sabendo ainda das incríveis descobertas realizadas na lua Encélado, que se mostrou um dos locais mais interessantes do Sistema Solar para a busca de vida fora da Terra. Esta pequena lua possui um oceano subterrâneo de água líquida e gêiseres que expelem vapor a centenas de quilômetros no espaço.

Gêiseres em Encélado

Titã atrás dos anéis de Saturno

Imagens de radar de alguns lagos e rios de metano em Titã




Para ver o vídeo legendado clique aqui e em Show transcript acione as legendas Portuguese, Brazilian.  


Carolyn Porco nos leva a Saturno
Durante os próximos 18 minutos, eu os levarei em uma jornada. E é uma jornada em que eu e vocês estivemos por muitos anos agora, e ela começou a aproximadamente 50 anos atrás, quando humanos pela primeira vez deram um passo para fora de nosso planeta. E nesses 50 anos, não apenas nós literalmente, fisicamente pisamos na Lua, mas também lançamos sondas robóticas para todos os planetas -- todos os oito -- e aterrissamos em asteroides, fizemos contato com cometas, e neste exato momento, temos uma nave em seu caminho para Plutão, o corpo celeste previamente conhecido como um planeta. E todas essas missões robóticas são parte de uma jornada humana maior: uma viagem para entender algo, para termos uma noção do nosso lugar no cosmos, para entender algo de nossas origens, e como a Terra, nosso planeta, e nós, vivendo nela, surgimos.
E de todos os lugares no sistema solar aos quais nós podemos ir procurar respostas para perguntas como essas, há Saturno. E nós já estivemos em Saturno antes -- nós o visitamos no início dos anos 80 -- mas nossas investigações de Saturno tornaram-se muito mais profundas e detalhadas desde que a sonda Cassini, viajando através do espaço interplanetário por sete anos, planou para órbita em Saturno no verão de 2004, e tornou-se naquele momento o mais distante posto robótico que a humanidade já estabeleceu em torno do Sol.
Saturno é um sistema planetário muito rico. Ele oferece mistério, conhecimento científico e, obviamente, um esplendor sem igual. E a investigação desse sistema oferece um enorme entendimento cósmico. Na verdade, estudando apenas os seus anéis, aprendemos muito sobre os discos de estrelas e gás que nós chamamos de galáxias espirais. E aqui está uma bela imagem da Nebulosa de Andrômeda, que é a maior e mais próxima galáxia da Via Láctea. E eis uma bela imagem composta da Galáxia do Rodamoinho, tirada pelo telescópio espacial Hubble.
Então essa viagem de volta para Saturno é na verdade parte de -- e também uma metáfora para -- uma jornada humana muito maior para entender as inter-conexões de tudo o que nos cerca, e também onde os humanos se encaixam nisso. E é uma pena que eu não possa lhes dizer tudo o que aprendemos com a Cassini -- eu não posso lhes mostrar todas as belíssimas fotos que tiramos nos últimos 2 anos e meio, porque eu simplesmente não tenho esse tempo. Então eu vou me concentrar em duas das histórias mais interessantes que emergiram dessa grande expedição exploratória que estamos conduzindo em torno de Saturno, e em que estivemos nos últimos 2 anos e meio.
Saturno é acompanhado por uma grande e diversa coleção de luas. Elas variam de tamanho de poucos quilômetros até o tamanho dos EUA. A maioria das fotos que tiramos de Saturno, na verdade, mostram Saturno acompanhado de algumas de suas luas. Aqui está Saturno com Dione, e aqui está Saturno mostrando os anéis em pefil, mostrando o quanto eles são finos verticalmente, com a lua Encélado. Duas das 47 luas de Saturno são especiais.
Elas são Titã e Encélado. Titã é a maior lua de Saturno, e até Cassini chegar lá, era a maior área única de terreno inexplorado que tínhamos em nosso sistema solar. E é um corpo que há muito tem intrigado pessoas que observam os planetas. Ela tem uma grande e espessa atmosfera, e, na verdade, acreditava-se que o ambiente de sua superfície fosse mais semelhante ao ambiente que temos aqui na Terra, ou ao menos que tivemos no passado, do que qualquer outro corpo no sistema solar. Sua atmosfera é predominantemente de nitrogênio molecular, como o que vocês estão respirando aqui nesta sala, exceto que sua atmosfera é impregnada de substâncias orgânicas simples como metano, propano e etano. E essas moléculas no alto da atmosfera de Titã são quebradas, e seus produtos se combinam para formar partículas de névoa. Essa névoa é onipresente, global e envolve Titã por completo. E é por isso que não podemos observar a superfície com nossos olhos, utilizando a região visível do espectro.
Mas essas partículas de névoa, se conjecturou, antes de chegarmos lá com Cassini, no decorrer de bilhões e bilhões de anos lentamente se depositaram e cobriram a superfície na forma de um espesso lodo orgânico. O que seria o equivalente, em Titã, ao alcatrão, ou petróleo -- nós não sabíamos o quê. Mas isso é o que nós suspeitávamos. E essas moléculas, especialmente o metano e o etano, podem ser líquidos à temperatura da superfície de Titã. E então acontece que o metano é para Titã o que a água é para a Terra. Ele se condensa na atmosfera, e ao se reconhecer essa circunstância abre-se um mundo de possibilidades bizarras. Podemos ter nuvens de metano, Ok, e acima dessas nuvens existem dezenas de quilômetros de névoa que impedem que qualquer raio solar chegue à superfície. A temperatura na superfície é de aproximadamente 210 ºC abaixo de zero.
Mas apesar desse frio, poderia haver chuva caindo na superfície de Titã. E fazendo em Titã o que a chuva faz na Terra, ela escava ravinas, forma rios e cataratas. Pode criar cânions, acumular-se em grandes bacias e crateras. Ela pode arrastar o lodo do alto de montanhas e colinas para planícies. Então pare e pense por um minuto. Tente imaginar o que a superfície de Titã pode parecer. É escuro -- a noite em Titã é tão escura quanto o crepúsculo subterrâneo na Terra É frio, é sombrio, é nebuloso, pode estar chovendo, e você pode estar às margens do Lago Michigan completamente preenchido com thinner.
Esta era a visão que nós tínhamos da superfície de Titã antes de chegarmos lá com Cassini, e eu posso lhes dizer que o que encontramos em Titã, embora não seja o mesmo em detalhe, é tão fascinante quanto essa história. E para nós tem sido como -- para o pessoal da Cassini tem sido como uma verdadeira aventura de Júlio Verne. Como eu disse, ela tem uma espessa e extensa atmosfera. Essa é uma imagem de Titã contra o Sol, com os anéis formando um belo plano de fundo. E mais uma lua ali -- eu nem mesmo sei qual é. É uma atmosfera muito extensa. Nós temos instrumentos na Cassini que podem observar a superfície através da atmosfera, e meu sistema de câmeras é um deles. E nós tiramos fotos como essa. E o que você vê são regiões claras e escuras, e isso é até onde nós podemos chegar. Foi tão mistificante -- nós não conseguíamos entender o que estávamos vendo em Titã. Quando você olha mais próximo para esta região, você começa a ver coisas como canais sinuosos, nós não sabíamos. Você vê algumas coisas redondas. Isso, nós descobrimos mais tarde, é na verdade uma cratera, mas existem muito poucas crateras na superfície de Titã, significando que essa é uma superfície muito jovem. E existem alguns artefatos que parecem ser tectônicos. Parecem que eles foram separados. Sempre que você vê algo linear num planeta, quer dizer que houve uma fratura, como uma falha. Então, foi tectonicamente alterado.
Mas nós não conseguíamos achar sentido em nossas imagens, até seis meses depois de entrar em órbita, ocorreu um evento que muitos consideraram o auge da investigação de Titã pela Cassini. E isso foi o lançamento da sonda Huygens, a sonda espacial Huygens, construída na Europa, que Cassini carregou durante sete anos através do sistema solar. Nós a lançamos na atmosfera de Titã, e ela levou duas horas e meia para descer, aterrissando na superfície. E eu só gostaria de enfatizar o quão significante é esse evento. Esse é um dispositivo fabricado por humanos, e ele aterrissou no sistema solar externo pela primeira vez na história da humanidade. Isso é tão significante que, na minha cabeça, esse foi um evento que deveria ter sido celebrado com grandes paradas em todas as cidades através dos EUA e Europa, e infelizmente esse não foi o caso. (Risos)
E foi significante por outra razão. Essa foi uma missão internacional, e essa evento foi celebrado na Europa, na Alemanha, e as apresentações celebratórias foram dadas em sotaques ingleses, sotaques americanos, sotaques alemães, franceses, italianos e holandeses. Foi uma demonstração comovente do que as palavras "Nações Unidas" deveriam significar: uma verdadeira união de nações, juntas num colossal esforço para o bem. E nesse caso, foi um empreendimento massivo para explorar um planeta e chegar ao entendimento de um sistema planetário que por toda a história da humanidade tem sido inalcançável, e agora, humanos o tocaram. Então foi -- quer dizer, eu estou tendo arrepios só de falar nisso, foi um evento tremendamente emocional e é algo que eu pessoalmente nunca esquecerei, e vocês também não deveriam. (Aplausos)
Enfim, a sonda fez medições da atmosfera no seu caminho para a superfície, e também tirou fotos panorâmicas. E eu não sou capaz de descrever como foi ver as primeiras fotos da superfície de Titã vindas da sonda. E isso foi o que nós vimos. E foi uma surpresa, porque era tudo o que nós queríamos que aquelas outras imagens tiradas em órbita fossem. Era um padrão não-ambíguo, um padrão geológico. É um padrão de drenagem dendrítica que só pode ser formado pelo fluxo de líquidos. E você pode seguir esses canais e ver como todos eles convergem. E eles convergem nesse canal aqui, que drena para essa região. Vocês estão olhando para um litoral. Era um litoral de fluidos? Nós não sabíamos. Mas era algo como um litoral.
Essa imagem foi tirada a 16 quilômetros de altura. Essa foi tirada a 8 quilômetros, Ok? De novo, a margem do litoral. Ok, então 16 quilômetros, 8 quilômetros -- é aproximadamente a altitude de cruzeiro de um avião. Se você fosse fazer uma viagem de avião através dos EUA, você estaria voando nessas altitudes. Então essa seria a imagem que você teria se estivesse na janela de um avião das Aerolinhas Titânicas ao sobrevoar a superfície de Titã. (Risos)
E então, finalmente, a sonda pousou na superfície, e eu irei lhes mostrar, senhoras e senhores, a primeira foto já tirada da superfície de uma lua no sistema solar externo. E aqui está o horizonte, Ok? Isso são, provavelmente, pedras de água congelada, sim! (Aplausos) E, obviamente, a sonda pousou em uma dessas regiões planas e escuras e ela não afundou. Então não era fluido, aquilo em que aterrissamos. Aquilo no que a sonda pousou era basicamente o equivalente a uma superfície lamacenta em Titã. Isso é um terreno não-consolidado que é impregnado de metano líquido. E esse material provavelmente foi arrastado dos planaltos de Titã através desses canais que nós vimos, e foi drenado através de bilhões de anos para encher essas bacias. E foi nisso em que a sonda Huygens aterrissou.
Mas ainda assim, não havia sinais em nossas imagens, ou mesmo nas imagens da Huygens, de quaisquer grandes corpos de fluidos. Onde eles estavam? As coisas ficaram ainda mais enigmáticas quando achamos dunas. Ok, então esse é o nosso filme da região equatorial de Titã, mostrando essas dunas. Essas são dunas com 100 metros de altura, separadas por alguns poucos quilômetros, e elas continuam por milhas e milhas e milhas. Existem centenas, chegando a 1600 ou 1900 quilômetros de dunas. Esse é o deserto Saara de Titã. É um lugar obviamente muito seco, ou então não haveriam dunas.
Então, de novo, foi enigmático não existirem fluidos, até que finalmente nós vimos lagos nas regiões polares. E aqui está a cena de um lago na região polar sul de Titã. É aproximadamente do tamanho do Lago Ontário. E então, há apenas uma semana e meia atrás, nós sobrevoamos o pólo norte de Titã e achamos, novamente, nós achamos uma formação do tamanho do Mar Cáspio. Então, aparentemente, líquidos, por alguma razão que nós não entendemos, ou durante pelo menos essa estação, estão aparentemente nos pólos de Titã. E eu acho que vocês concordariam que nós achamos Titã um lugar excepcional e místico. É exótico, alienígena, mas, no entanto, ainda muito parecido com a Terra, e tendo formações geológicas que lembram as Terrestres e uma tremenda diversidade geográfica, e é um mundo fascinante, cujo único rival no sistema solar em complexidade e riqueza é a própria Terra.
E então, agora, partimos para Encélado. Encélado é uma pequena lua, aproximadamente um décimo do tamanho de Titã, e você pode vê-la aqui ao lado da Inglaterra. É só para lhes mostrar o tamanho; não é para ser considerado uma ameaça. (Risos) E Encélado é muito branco, muito brilhante, e sua superfície é obviamente devastada por fraturas, é um corpo muito ativo geologicamente. Mas a grande quantidade de descobertas em Encélado foram feitas no pólo sul -- e nós estamos olhando para o pólo sul aqui -- onde nós achamos esse sistema de fraturas. E elas são de uma cor diferente porque tem uma composição diferente. Elas são revestidas. Essas fraturas são revestidas de materiais orgânicos. Além disso, toda essa região, a região do pólo sul, possui temperaturas elevadas. É o lugar mais quente do planeta, do corpo. Isso é tão bizarro quanto descobrir que a Antártica na Terra é mais quente que os trópicos.
E então, quando nós tiramos mais fotos, descobrimos que dessas fraturas são expelidos jatos de finas partículas de gelo que se estendem por centenas de milhas para o espaço. E quando nós colorizamos essa imagem para realçar os fracos níveis de luz, nós vemos que esses jatos alimentam uma pluma que nós de fato vemos, em outras imagens, se estende por milhares de milhas para o espaço sobre Encélado. Meu time e eu examinamos imagens como essa, e como essa, e pensamos sobre os outros resultados de Cassini, E nós chegamos à conclusão de que esses jatos podem estar irrompendo a partir de bolsões de água líquida sob a superfície de Encélado.
Então nós temos, possivelmente, água líquida, materiais orgânicos e calor em excesso. Em outras palavras, nós provavelmente nos topamos com o Graal da exploração planetária moderna. Ou, em outras palavras, um ambiente que é potencialmente adequado para organismos vivos. E eu não acho que eu preciso lhes dizer que a descoberta de vida em algum outro lugar do nosso sistema solar, quer seja em Encélado ou outro lugar, teria enorme implicações culturais e científicas. Porque se nós pudéssemos demonstrar que a Gênese ocorreu não uma, mas duas vezes, independentemente em nosso sistema solar, então isso significa, por dedução, que ela ocorreu um imenso número de vezes através do universo e durante sua história de 13,7 milhões de anos.
Neste momento, a Terra é o único planeta que conhecemos que está repleto de vida. Ela é preciosa, é única, ela ainda é, até agora, o único lar que conhecemos. E se qualquer um de vocês esteve alerta e coerente nos anos 60 -- e nós perdoamos se você não esteve, Ok -- você se lembraria dessa famosa imagem tirada pelos astronautas da Apollo VIII em 1968. Foi a primeira vez que a Terra foi fotografada do espaço, e ela teve um enorme impacto na percepção do nosso lugar no universo, e nosso senso de responsabilidade pela proteção de nosso próprio planeta.
Bem, nós, com a Cassini, também tiramos uma "primeira" equivalente, uma imagem que nenhum olho humano viu antes. É um eclipse total do Sol, visto do outro lado de Saturno. E nessa foto inacreditavelmente bela você vê os principais anéis de Saturno contra a luz do Sol, você vê a imagem refratada do Sol e você vê o anel criado, na verdade, pelas exalações de Encélado. Mas como se isso não fosse brilhante o suficiente, nós podemos achar nessa bela imagem, uma vista do nosso próprio planeta, embalado nos braços dos anéis de Saturno.
Agora, existe algo profundamente comovente em a nós mesmos de tão longe, e capturar a vista do nosso pequeno planeta azul-oceano nos céus de outros mundos. E isso, e a perspectiva de nós mesmos que ganhamos disso, pode ser, no final, a melhor recompensa que receberemos dessa jornada de descobertas que começamos meio século atrás. E muito obrigado.
(Aplausos)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Ataque dos Titãs, de Hajime Isayama

Ataque dos Titãs #1
Ataque dos Titãs é um mangá escrito e desenhado pelo japonês Hajime Isayama, lançado em 2010 e que chegou ao Brasil em novembro de 2013 pela Panini Comics. O primeiro número esgotou-se rapidamente e uma segunda edição chegou nas bancas no mês de janeiro, quase junto com o número dois. Para quem não sabe, os mangás são os quadrinhos japoneses, cujas principais características são os desenhos de pessoas com olhos gigantes e a leitura no sentido oriental, da direita para a esquerda. A história se passa em um futuro distópico onde a civilização foi destruída por gigantes parecidos com zumbis, que comem seres humanos e são quase invulneráveis. O que aparentemente sobrou da humanidade vive em uma gigantesca área cercada por três muros concêntricos de 50 metros de altura em um mundo com tecnologia que lembra um pouco o steampunk. Todos vivem bem há mais de cem anos sem qualquer ataque, quando um titã gigantesco aparece e faz um buraco na muralha mais externa e uma invasão de titãs começa. Milhares morrem, incluindo a mãe do protagonista, um garoto chamado Eren Yeager, que sonha em conhecer o mundo além das muralhas.

Ataque dos Titãs #2
Depois do massacre, Eren e sua irmã, uma garota chamada Mikasa Ackerman, alistam-se no exército responsável por fazer o policiamento das cidades, proteger as muralhas e realizar missões de reconhecimento nas florestas além das muralhas para tentar descobrir mais sobre os titãs. Como armas os soldados deste exército utilizam o Equipamento de Manobras Tridimensionais, que é um cilindro de gás pressurizado que fica nas costas do combatente, com dois jatos laterais presos nas pernas para voos curtos, que também disparam arpões presos a cabos de aço e servem de bainhas para duas espadas, com dois controles manuais que ficam presos aos cabos destas.

A história é muito violenta e com classificação de imprópria para menores de 16 anos. As cenas dos titãs mastigando as pessoas são chocantes e há muitas mortes, mutilações e sangue nas páginas. O que achei mais legal na história foi o visual dos soldados em seus Equipamento de Manobras Tridimensionais e o mistério em torno da origem dos titãs, que aparentemente matam os humanos não para se alimentar, mas com o simples propósito de destruí-los. A trama é envolvente e quando comecei a ler não consegui parar até acabar o primeiro volume.

Imagem do anime de Ataque dos Titãs


Também existem um anime, jogos de vídeo game e está sendo produzido um filme em live action previsto para estrear em 2015. O anime ainda não foi lançado no Brasil, mas dado o sucesso que o mangá tem feito no país, com os exemplares se esgotando nas bancas no dia em que são lançados, isto é só uma questão de tempo. Ataque dos Titãs está saindo em volumes com quatro números encadernados com 196 páginas no total, por apenas R$ 11,90, e os números 1 e 2 ainda podem ser encontrados nas bancas. Ataque dos Titãs é uma boa entrada no fascinante mundo dos mangás.



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Brian Cox: Por que precisamos dos exploradores

Esta é a transcrição da fantástica palestra do físico do CERN Brian Cox, um dos melhores divulgadores da ciência da atualidade, autor de diversos livros e apresentador de diversos documentários que pretendo divulgar aqui em breve. Nesta palestra ele fala um pouco sobre a importância da ciência para a humanidade, principalmente as áreas voltadas para a exploração dos limites do conhecimento, como por exemplo a exploração do espaço e a física de partículas. São áreas que exigem o trabalho de milhares de técnicos, engenheiros e pesquisadores e consomem bilhões anualmente, cujos recursos sempre são diminuídos em tempos de crise. Ele nos mostra como as descobertas realizadas pela ciência tornam possíveis tecnologias que rendem muito mais recursos do que aqueles que são aplicados.

Mas infelizmente os governos ainda consideram os investimentos em ciências como gastos desnecessários e ainda gastam milhares de vezes mais com gastos militares do que com pesquisa. Isto falando de países desenvolvidos, que ainda investem, pois se falarmos sobre países em desenvolvimento como o Brasil...


  
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Brian Cox: Por que precisamos dos exploradores
Nós vivemos em tempos econômicos difíceis e desafiadores, é claro. E uma das primeiras vítimas de tempos econômicos difíceis, é gasto público de qualquer natureza, mas certamente na linha de tiro no momento é gasto público com ciência, em específico a ciência levada pela curiosidade e exploração. Então, quero tentar convencê-los em cerca de 15 minutos que isso é uma coisa ridícula de se fazer.
Mas para explicar a situação, quero mostrar -- o próximo slide não é uma tentativa de mostrar o pior TED slide na história do TED, mas é um pouco desorganizado. (Risos) Na verdade, não é minha culpa; é do jornal The Guardian. E é na verdade uma linda demonstração de quanto a ciência custa. Pois, já que eu quero falar sobre continuar investindo em ciência pela curiosidade e exploração, devo mostrar o quanto custa. Este é um jogo chamado "ache o orçamento para a ciência." Este é o gasto governamental do Reino Unido. Como podem ver, é cerca de 620 bilhões por ano.
O orçamento da ciência está -- se olharem para a esquerda, tem um conjunto de bolhas roxas e um conjunto de bolhas amarelas. E é um dos conjuntos de bolhas amarelas em volta da grande bolha amarela. É cerca de 3,3 bilhões de libras por ano dos 620 bilhões. Isso financia tudo no Reino Unido de pesquisa médica, exploração espacial, aonde eu trabalho, na CERN em Genebra, física de partículas, engenharia, até mesmo artes e humanitárias, financiados pelo orçamento da ciência, que é minúscula bolha amarela de 3,3 bilhões em volta da bolha laranja no canto esquerdo da tela. É sobre isso que estamos discutindo. Aquela porcentagem, na verdade, é mais ou menos a mesma nos EUA, na Alemanha e na França. Pesquisa e Desenvolvimento na economia, financiado pelo governo, consiste em cerca de 0,6% do PIB. Então é isso que estamos discutindo.
A primeira coisa que quero dizer, e isso vem direto do [programa da BBC] "Maravilhas do Sistema Solar," é que nossa exploração do sistema solar e do universo nos mostrou que é indescritivelmente lindo. Esta é uma foto que foi mandada pela sonda espacial Cassini em Saturno, depois que filmamos "Maravilhas do Sistema Solar." Então não está na série. É da lua Encélado. Então aquela esfera grande no canto é Saturno, que está no fundo da foto. E aquela crescente ali é a lua Encélado, que é tão grande quanto às Ilhas Britânicas. Tem cerca de 500 km de diâmetro. Lua minúscula. O que é fascinante e lindo... esta é uma foto não processada, devo dizer. É preta e branca, direto da órbita de Saturno.
O que é lindo é -- vocês podem ver ali na borda tufos de uma quase fumaça bem fraca saindo da borda. É assim que visualizamos isso no "Maravilhas do Sistema Solar." É uma imagem linda. Descobrimos que aqueles tufos fracos são na verdade fontes de gelo saindo da superfície desta lua minúscula. É fascinante e lindo por si só, mas achamos que o mecanismo que que dá força a essas fontes requer a existência de lagos de água líquida embaixo da superfície desta lua. E o importante nisso é que, no nosso planeta, na Terra, aonde encontramos água líquida, encontramos vida. Então, encontrar fortes evidências de líquido, poças de líquido, abaixo da superfície de uma lua a mais de um bilhão de quilômetros da Terra é realmente impressionante. O que estamos dizendo essencialmente é que talvez haja um habitat para vida no sistema solar. Bom, isso foi um gráfico. Eu quero mostrar esta foto. É mais uma foto de Encélado. Foi quando Cassini voou embaixo de Encélado. Foi um voo bem baixo, somente alguns quilômetros acima da superfície. E, de novo, uma foto real das fontes de gelo levantando para o espaço, absolutamente fascinante.
E este não é o primeiro candidato à vida no sistema solar. Existe um lugar, que é uma lua em Júpiter, Europa. E tivemos que voar até o sistema Joviano para ter uma ideia de que esta lua, assim como outras luas, não era apenas uma bola morta de rochas. É na verdade uma lua de gelo. Estamos olhando para a superfície da lua Europa, que é uma camada grossa de gelo, provavelmente uns 100 km. Mas ao medir a maneira que Europa interage com o campo magnético de Júpiter, e ao observar como as rachaduras no gelo que vocês veem ali naquele gráfico se movem inferimos enfaticamente que existe um oceano de líquido envolvendo toda a superfície de Europa. Então abaixo do gelo, existe um oceano de líquido em volta da lua. Achamos que poderia ter quilômetros de profundidade. Achamos que é água salgada, e isso significa que existe mais água nessa lua de Júpiter do que existe em todos os oceanos da Terra juntos. Então esse lugar, uma lua ao redor de Júpiter, é provavelmente o primeiro candidato para achar vida numa lua ou num corpo fora da Terra, que temos conhecimento. Uma descoberta enorme e linda.
Nossa exploração do sistema solar nos ensinou que o sistema solar é lindo. Também pode ter indicado o caminho para responder uma das questões mais profundas que podemos imaginar, "Estamos sozinhos no universo?" Existe algum outro uso para exploração e ciência além de questionamentos? Bem, existe sim. Esta é uma foto muito famosa tirada na minha primeira véspera de Natal, 24 de dezembro de 1968, quando eu tinha mais ou menos oito meses. Foi tirada pela Apollo 8 à medida que passava por trás da Lua. O "nascer da Terra" da Apollo 8. Uma foto famosa; muitos dizem que foi a foto que salvou 1968, que foi um ano turbulento -- a revolta dos estudantes em Paris, o auge da Guerra do Vietnã. A razão porque muitas pessoas pensam isso desta foto, e Al Gore disse isso muitas vezes no palco do TED, é que esta foto foi, possivelmente, o começo do movimento ambientalista. Porque, pela primeira vez, nós vimos nosso mundo não como um lugar sólido, imóvel e meio que indestrutível, mas um mundo muito pequeno e frágil pendurado na escuridão do espaço.
O que geralmente não é dito sobre exploração espacial, sobre o programa Apollo, é a sua contribuição econômica. Ao mesmo tempo que você argumenta que foi uma façanha tremenda e maravilhosa e proporcionou fotos como esta, foi muito caro, certo? Na verdade, muitos estudos foram feitos sobre a efetividade econômica, o impacto econômico do [programa] Apollo. O maior deles foi em 1975 pela Chase Econometrics. E mostrou que para cada dólar gasto no Apollo, 14 dólares retornaram para economia dos EUA. Então o programa Apollo se pagou em inspiração, em engenharia, conquistas e ao inspirar jovens cientistas e engenheiros 14 vezes mais. Então exploração pode se pagar.
E quanto à descoberta científica? E quanto ao incentivo à inovação? Isto parece uma foto de quase nada. Isto é uma foto do espectro de hidrogênio. Nos anos 1880, 1890, muitos cientistas, muitos observadores, olharam para a luz que saía dos átomos. E eles viram imagens estranhas como esta. O que você vê quando coloca isso através de um prisma é que você esquenta hidrogênio e isso não brilha como uma luz branca, isso emite luz em cores específicas, vermelho, azul claro, alguns azuis escuros. Isso levou a um entendimento da estrutura atômica pois isso explica que o átomo é um núcleo singular com elétrons movendo-se ao seu redor. E os elétrons só podem estar em lugares específicos. E quando eles pulam para o próximo lugar possível e voltam para o lugar anterior, eles produzem luz de cores específicas.
Então o fato de que os átomos quando aquecidos emitirem luz de cores muito específicas, foi um dos incentivos chave que levou ao desenvolvimento da teoria quântica, a teoria das estruturas dos átomos. Eu gostaria de mostrar esta foto pois isso é extraordinário. Esta é uma foto do espectro do Sol. E esta é uma foto de átomos na atmosfera do Sol absorvendo luz. E novamente, eles só absorvem luz em cores diferentes quando elétrons pulam e voltam, pulam e voltam. Mas olhem para o número de linhas pretas naquele espectro. E o elemento Hélio foi descoberto somente por observar a luz do Sol porque algumas das linhas pretas vistas não correspondiam a um elemento existente. E é por isso que Hélio é chamado de Hélio. É chamado "helios" -- helios do Sol.
Isso pode parecer esotérico, e na verdade foi uma busca esotérica, mas a teoria quântica rapidamente levou ao entendimento dos comportamentos dos elétrons em matérias, como o silício, por exemplo. A maneira como o silício se comporta, o fato de podermos construir transístores, é um fenômeno puramente quântico. Então sem o entendimento levado pela curiosidade da estrutura dos átomos, que resultou nessa teoria esotérica, mecânica quântica, não teríamos os transístores, não teríamos chips de silício, não teríamos o que é simplesmente a base da nossa economia moderna.
Tem mais uma surpresa neste conto maravilhoso. Em "Maravilhas do Sistema Solar," enfatizamos várias vezes que as leis da Física são universais. Uma das coisas mais incríveis sobre a Física e a compreensão da natureza que temos na Terra, é que podemos transportar, não somente aos planetas, mas até as estrelas e galáxias mais distantes. E uma das previsões surpreendentes da mecânica quântica, somente ao olhar para estrutura dos átomos -- a mesma teoria que descreve os transístores -- é não existem estrelas no universo que atingiram o fim de sua vida que são maiores que, especificamente, 1,4 vez a massa do Sol. Este é o limite imposto à massa das estrelas. Você pode calcular num pedaço de papel no laboratório, pegar um telescópio, apontar para o céu e descobrir que não há estrelas mortas maiores do que 1,4 vez a massa do Sol. Esta é uma previsão incrível.
O que acontece quando se tem uma estrela quase no limite dessa massa? Bem, esta é uma foto. Esta é uma foto de uma galáxia, uma galáxia típica "nosso jardim" com, o quê?, 100 bilhões de estrelas como nosso Sol. É somente uma das bilhões de galáxias no universo. Existem bilhões de estrelas no centro galático, e é por isso que brilha tão intensamente. Está distante cerca de 50 milhões de anos-luz, então é uma das nossas galáxias vizinhas. Mas aquela estrela brilhante ali é uma das estrelas da galáxia. Então aquela estrela também está distante 50 milhões de anos-luz. É parte da galáxia, e brilha tão intensamente quanto o centro da galáxia com um bilhão de estrelas. É uma explosão supernova Tipo 1a. É um fenômeno incrível porque é uma estrela que só está lá. É chamada de anã carbono-oxigênio. Ela é mais ou menos 1,3 vez a massa do Sol. E tem uma companhia binária que move ao seu redor, então uma estrela grande, uma grande bola de gás. E o que ela faz é sugar o gás da sua estrela companheira, até chegar ao limite chamado limite Chandrasekhar, e então ela explode. Ela explode e ela brilha tão intensamente quanto um bilhão de estrelas por cerca de duas semanas, e ela libera não somente energia, mas uma quantidade enorme de elementos químicos no universo. Na verdade, aquela é uma anã carbono-oxigênio.
Agora, não havia carbono e oxigênio no universo no Big Bang. E não havia carbono e oxigênio no universo durante a primeira geração de estrelas. Foi produzido em estrelas como esta, aprisionado e então devolvido ao universo em explosões como essa para então recondensar em planetas, estrelas, novos sistemas solares e, de fato, pessoas como nós. Acho que esta é uma demonstração extraordinária do poder e beleza e universalidade das leis da Física, porque entendemos o processo, porque entendemos a estrutura dos átomos aqui na Terra.
Esta é uma citação que achei -- estamos falando sobre acaso aqui -- de Alexander Fleming. "Quando eu acordei logo após a aurora em 28 de setembro de 1928, certamente não planejei revolucionar toda a medicina ao descobrir o primeiro antibiótico do mundo." Agora, os exploradores do mundo do átomo não pretendiam inventar o transístor. E certamente não pretendiam descrever a mecânica das explosões de supernovas, que acabou no fim nos dizendo onde os blocos de montar da vida foram sintetizados no universo. Então, acho que ciência pode ser -- acaso é importante. Pode ser lindo. Pode revelar coisas surpreendentes. Também pode finalmente revelar as ideias mais profundas sobre nosso lugar no universo e realmente o valor do nosso planeta.
Esta é uma foto espetacular do nosso planeta. Não parece ser o nosso planeta. Parece ser Saturno porque, é claro, é Saturno! Foi tirada pela sonda espacial Cassini. Mas é uma foto famosa, não por causa da da beleza e majestade dos anéis de Saturno, mas por causa de um pequeno ponto apagado pendurado embaixo de um dos anéis. E se eu aumentar a área, vocês podem ver. Parece ser uma lua, mas é na verdade uma foto da Terra. Foi uma foto da Terra tirada naquela parte de Saturno. Aquele é o nosso planeta a mais de um bilhão de quilômetros de distância. Acredito que a Terra tem um estranho fator que quanto mais nos distanciamos dela, mais linda ela se parece.
Mas esta não é a foto mais distante ou mais famosa do nosso planeta. Foi tirada por essa coisa, que é chamada de nave Voyager. E esta é uma foto minha na frente da nave para uma ideia de tamanho. A Voyager é uma máquina minúscula. Está atualmente a 16 bilhões de quilômetros da Terra, transmitindo com aquela "antena" com uma potência de 20 watts, e ainda estamos em contato com ela. Visitou Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. E depois que a nave visitou esses quatro planetas, Carl Sagan, que é um dos meus maiores heróis, teve a maravilhosa ideia de girar a Voyager e tirar uma foto de cada planeta visitado. E tirou esta foto da Terra. É difícil ver a Terra ali, é chamada de foto do "Ponto Azul Fraco", mas a Terra está suspensa naquela faixa de luz. Esta é a Terra a cerca de 6,5 bilhões de quilômetros.
E eu gostaria de ler para vocês o que Sagan escreveu sobre isso, para terminar, porque eu não consigo achar palavras tão lindas para descrever o que ele viu na foto que ele acabou tirando. Ele disse: "Considere de novo aquele ponto. Aquilo é aqui. Aquilo é nossa casa. Aquilo somos nós. Sobre ele, todos que você ama, todos que você conhece, todos que você já ouvir falar, cada ser humano que já viveu sua vida. O conjunto de alegria e sofrimento milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada um que caça e busca comida, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, criança esperançosa, inventor e explorador, cada professor de moral, cada político corrupto, cada celebridade, cada líder supremo, cada santo e pecador na história de nossa espécie, viveu ali, numa bola de poeira, suspensa num raio de sol. Foi dito que astronomia é uma experiência humilde e formadora de caráter. Talvez não haja demonstração melhor da insensatez da prepotência humana do que esta imagem distante do nosso pequeno mundo. Para mim, isso destaca nossa responsabilidade em lidar melhor com os outros, e preservar e estimar o ponto azul fraco, o único lar que conhecemos."
Lindas palavras sobre o poder da ciência e exploração. O argumento foi sempre dito, e sempre será dito, que conhecemos o suficiente sobre o universo. Poderia ser dito nos anos 1920; não teríamos tido a penicilina. Poderia ser dito nos anos 1890; não teríamos o transístor. E é dito hoje nessa época de dificuldades econômicas. Certamente, sabemos o suficiente. Não precisamos descobrir mais nada sobre o universo.
Deixarei as últimas palavras para alguém que está rapidamente se tornando um herói meu, Humphrey Davy, que foi cientista na virada do século 19. Ele estava claramente sob fogo cruzado o tempo todo. Sabemos o suficiente na virada do século 19. Apenas explore, apenas construa coisas. Ele disse isso: "Nada é mais fatal para o progresso da mente humana do que achar que nossas visões da ciência são definitivas, que nossos triunfos são completos, que não há mistérios na natureza, e que não há mundos novos a conquistar."
Obrigado.

(Aplausos)

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

All You Need Is Kill, de Hiroshi Sakurazaka

All You Need Is Kill (Haikasoru/VIZ Media, 2011), é um livro de ficção científica militar do escritor japonês Hiroshi Sakurazaka. Nele a humanidade luta há décadas contra uma horda de alienígenas conhecidos como mimics, que estão tornando o planeta Terra inabitável. Acompanhamos então a história do soldado Keiji Kiriya, um recruta da divisão de armaduras de combate do exército japonês que morre em sua primeira batalha mas acorda no dia anterior à sua morte. Antes de morrer ele encontra a lendária Full Metal Bitch, uma supersoldado das forças especiais americanas que luta com um machado gigantesco e vale por um exército inteiro. Não importa o que aconteça, ele sempre acaba morrendo e retornando ao mesmo dia anterior à batalha e decide então aproveitar a situação para melhorar suas habilidades de combate, como se tudo não passasse de um grande jogo de vídeo game. Em seu novo treinamento ele é ajudado pelo Sargento Ferrell Bartolome, um veterano de muitas batalhas contra os mimics, e que curiosamente é brasileiro, e por Rita Vrataski, a Full Metal Bitch.


HQ de All You Need Is Kill
O livro é muito bom, com combates sensacionais. Apesar de se tratar de uma guerra contra alienígenas, o relacionamento entre os soldados e as a descrição das batalhas são espetaculares. O personagem principal é muito bem desenvolvido e a história nos passa algo próximo ao que deve ser perder um companheiro em uma guerra. A explicação do loop temporal em que o soldado Keiji Kiriya está preso e a origem e motivação dos mimics, são bem coerentes e fundamentais no desenvolvimento da trama. O desfecho é arrasador e nos deixa chocados no final. Particularmente gostei muito da Rita Vrataski, a Full Metal Bitch, e de sua opção, em meio de uma guerra com armaduras tecnológicas de última geração, pelo uso do milenar machado e sua justificativa para tal, que é bem sensata.

Mangá de All You Need Is Kill


Poster do filme Edge of Tomorrow
O livro está sendo adaptado para o cinema americano sob o nome Edge of Tomorrow, com Tom Cruise no papel principal e Emily Blunt como Rita Vrataski/Full Metal Bitch, com estreia prevista para junho de 2014. Há ainda uma adaptação para mangá desenhada por Takeshi Obata, conhecido pelos desenhos de Hikaru No Go, Death Note e Bakuman, que começou a sair em janeiro de 2014 no Japão. Uma adaptação para os quadrinhos nos Estados Unidos está programada para ser lançada em maio de 2014, cuja capa horrorosa foi divulgada no ano passado.

Emily Blunt como Full Metal Bitch
Editoras brasileiras, lancem logo este livro em português por que o filme está chegando! Não demorem os mais de trinta anos que levaram para lançar por aqui o Forever War, do Joe Haldeman. Para quem dominar o inglês e não tiver paciência, há uma versão para o Kindle que você pode comprar pela Amazon e ler de imediato.







segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Sobre os rolezinhos

O assunto mais falado do momento é a questão dos rolezinhos, que são reuniões com dezenas ou até centenas de jovens, marcadas pelas redes sociais e que acontecem principalmente em shopping centers. Eles têm reunido milhares de jovens, causado alguns transtornos e munido os meios de comunicação com uma boa dose de polêmica. Já ouvi de tudo quando se fala sobre o assunto. Alguns os consideram perturbação da ordem pública, outros os consideram manifestações democráticas de protesto. A forma como os shoppings têm tentado barrar estas multidões de adentrar suas portas tem sido criticada por muitos, e até palavras como apartheid, fascismo e racismo eu já ouvi por aí.

Vamos imaginar dois casos hipotéticos:

1) Você está em um shopping center (não tenha vergonha de imaginar, pois não há nada errado em frequentar um, afinal milhões de brasileiros frequentam e trabalham neles, sejam pobres ou ricos) e um grupo de uns cinco jovens que estava passeando pelas lojas decide ir para a praça de alimentação. Estão conversando e se divertindo sem perturbar ninguém quando aparecem alguns seguranças e policiais e os expulsam do shopping sem justificativa.

2) Você está no mesmo shopping center, mas temos um grupo não de cinco, mas de duzentos jovens, cantando e gritando ofensas às pessoas presentes. Tente imaginar como você se sentiria quando esta multidão viesse em sua direção. Você sentiria medo? Seria correto sentir medo em uma situação destas? Continuando nosso caso imaginário, as pessoas ao verem a turba correm apavoradas, as lojas fecham as portas e logo em seguida vem a segurança do shopping e a polícia e expulsam o grupo do shopping.

Não sei você, mas por um brevíssimo momento um tênue pensamento surgido em algum recanto escondido da minha consciência me diz que os dois casos são bem diferentes. Mas após tantos "dotôres" e "intelectualóides" classificarem o segundo caso como segregação social e violação dos direitos e garantias individuais, e eu ter achado que isso só ocorreria na primeira hipótese e não na segunda, acho que há alguma coisa errada comigo. Talvez eu seja um escroto, ditador, mau caráter, fascista, racista e intolerante. Um ser desprezível.

Acho que existem direitos como a liberdade de expressão, educação, ir e vir, e tantos outros, que ninguém questiona e toda pessoa sensata concorda, assim como acredito que todos deveriam abominar a segregação social, o racismo e a violência. Mas como ocorre em toda discussão polêmica, certos ideais nobres e belos não poderiam deixar de sequestrados pelos guardiães da hipocrisia e do politicamente correto. O respeito aos direitos do cidadão e o combate à discriminação são bandeiras que todos gostam de levantar e ideais que qualquer um concordaria em apoiar.


O grande problema é que existem aqueles que promovem a desordem e a violência, mas não querem assumir que estão hasteando a bandeira do crime, mas sim, as bandeiras do respeito aos direitos do cidadão e a do combate à discriminação, pois estas são mais bonitinhas e bem vistas pela sociedade quando estão no alto de seus mastros. É como um navio pirata que em vez de hastear aquela bandeira negra com a caveira e os ossos cruzados hasteia uma branca com uma pomba carregando um ramo verde, mas que continua saqueando, matando e roubando pelos sete mares. Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço, ou talvez aquela do lobo na pele de cordeiro. Talvez sejam estas as ideias destas pessoas.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Leituras de 2013

O ano de 2013 foi um ano de muitos livros lidos, 58 no total. Foram 14.922 páginas, segundo o “paginômetro” do Skoob. Não foi o ano em que li mais livros, mas também não foi o que li menos. O grande destaque foi que vários deles foram lidos no Kindle, o leitor de ebooks da Amazon. Continuo sendo um fã dos livros impressos, mas para os livros importados, quase todos que li foram digitais. Outra novidade foi que comecei a ler livros em espanhol, então agradeço muito a minhas maestras Paloma e Carla pela ajuda no vocabulário e gramática. Toda vez que aprendemos a ler em um novo idioma, um novo universo de possibilidades de leituras se abre à nossa frente. Destaco também a minha entrada no Skoob, uma rede social de leitores de livros para quem está cansado das idiotices do Facebook. Infelizmente não registrei os quadrinhos que li no ano que se passou, mas pretendo começar em 2014. Segue abaixo a longa lista:

FICÇÃO (13 LIVROS)

Kafka à Beira-Mar
Haruki Murakami - 576 páginas – Alfaguara

O Bom Soldado
Ford Madox Ford - 240 páginas – Objetiva

Um Conto de Natal
Charles Dickens - 146 páginas - L&PM

O Lado Bom da Vida
Matthew Quick - 256 páginas – Intrínseca

As Aventuras de PI
 Yann Martel - 371 páginas - Nova Fronteira

1Q84 – Livro 2
Haruki Murakami - 376 páginas – Alfaguara

As Crônicas de Gelo e Fogo Vol. 3 - A Tormenta de Espadas
George R. R. Martin - 884 páginas - LeYa Brasil

Glória Sombria
Roberto de Sousa Causo - 176 páginas – Devir

Em Algum Lugar do Passado
Richard Matheson - 364 páginas - Edições Bestbolso

O Pacto
Joe Hill - 320 páginas – Sextante

Lolita
Vladimir Nabokov - 320 páginas - Biblioteca Folha

Juliette Society
Sasha Grey - 236 páginas - Quinta Essência

Proibida – The Black Door

Velvet - 276 páginas - Novo Século










COLETÂNEAS DE CONTOS (4 LIVROS)

Duplo Fantasia Heroica 2
Christopher Kastensmidt, Roberto de Sousa Causo - 128 páginas – Devir

Space Opera II
Carlos Orsi, Fábio Fernandes, Lidia Zuin, Marcelo Augusto Galvão, Octavio Aragão, Roberto de Sousa Causo, Tibor Moricz, Carlos Orsi, Fábio Fernandes, Lidia Zuin, Marcelo Augusto Galvão, Octavio Aragão, - 384 páginas – Draco

As Armas Secretas
Julio Cortázar - 160 páginas – Bestbolso

O Casamento da Lua
Vários autores - 128 páginas - Boa Companhia











POESIA (3 LIVROS)

Cartas a Um Jovem Poeta
Rainer Maria Rilke - 123 páginas – Globo

Caderno H
Mario Quintana - 368 páginas – Alfaguara

Para Viver com Poesia
Mario Quintana - 118 páginas - Editora Globo











NÃO-FICÇÃO (20 LIVROS)

Política – Quem Manda, Por Que Manda, Como Manda
João Ubaldo Ribeiro - 192 páginas – Objetiva

Imobilismo em Movimento
Marcos Nobre - 216 páginas - Companhia das Letras

Story – Substância, Estrutura, Estilo e os Princípios da Escrita de Roteiro
Robert Mckee - 432 páginas - Arte e Letra

Vou Chamar a Polícia
Irvin D. Yalom - 264 páginas – Agir

A Incrível Viagem de Shackleton
Alfred Lansing - 352 páginas – Sextante

A Magia da Realidade
Richard Dawkins - 272 páginas - Companhia das Letras

Por Que o Mundo Existe?
Jim Holt - 320 páginas – Intrínseca

1889
Laurentino Gomes - 416 páginas - Globo Livros

A Filosofia de Tyrion Lannister
George R. R. Martin - 160 páginas – LeYa

Roube Como Um Artista
Austin Kleon - 160 páginas – Rocco

Oficina de Escritores
Stephen Koch - 315 páginas - Martins Fontes

O Amor
André Conte-Sponville - 120 páginas - Martins Fontes

Quem Disse Que Não Tem Discussão?
Alberto Carlos Almeida - 308 páginas – Record

Não Há Dia Fácil 
Mark Owen, Kevin Maurer - 264 páginas – Paralela

Escrever Melhor
Dad Squarisi, Arlete Salvador - 224 páginas – Contexto

Cartas a Um Jovem Escritor
Mario Vargas Llosa - 182 páginas - Campus / Elsevier

Os Segredos da Criatividade
Silvia Adela Kohan - 104 páginas – Gutenberg

Escrever Com Criatividade
Luciano Martins - 120 páginas – Contexto

O Livro da Economia
Vários - 352 páginas - Globo Livros

Pura Picaretagem 
Daniel Bezerra, Carlos Orsi - 176 páginas – LeYa











LIVROS EM LÍNGUA ESTRANGEIRA (18 LIVROS)

EM INGLÊS

First Landing
Robert Zubrin - 272 páginas - Ace

Stories of Your Life and Others
Ted Chiang - 320 páginas - Big Mouth House

The Elephant Vanishes
Haruki Murakami - 336 páginas – VINTAGE

Writing Fiction for Dummies
Randy Ingermanson, Peter Economy - 384 páginas - For Dummies

Living Off the Land In Space
Gregory L. Matloff - 247 páginas – Copernicus

Mars Direct – Space Exploration, the Red Planet, and the Human Future
Robert Zubrin - 50 páginas - Penguin / Tarcher

Godless And Free
Pat Condell - 272 páginas - lulu.com

The Story Template
Amy Deardon - 260 páginas - Taegais Publishing

The Roving Mind
Isaac Asimov - 349 páginas - Prometheus Books

Make Good Art
Neil Gaiman - 80 páginas - William Morrow

Interplanetary Outpost - The Human and Technological Challenges of Exploring the Outer Planets
Erik Seedhouse - 261 páginas – Springer

The "Alabama Insert"
Richard Dawkins - 52 páginas - NewSouth Books

The Debunking Handbook
John Cook, Stephan Lewandowsky - 9 páginas - University of Queensland

The Anatomy of Story
John Truby - 445 páginas - Faber and Faber











EM ESPANHOL

El Principito
Antoine de Saint-Exupery - 111 páginas – Salamandra

El Científico Curioso
Francisco Mora - 316 páginas - Temas de Hoy

Escribir Sobre Uno Mismo
Silvia Adela Kohan - 112 páginas - Alba Editorial

Las Estrategias del Narrador
Silvia Adela Kohan - 147 páginas - Alba Editorial