terça-feira, 4 de novembro de 2014

Os melhores livros de ficção científica militar

Ficção científica militar é um subgênero da ficção científica com tramas que se passam em guerras, sejam no espaço ou na Terra, em que os protagonistas lutam em exércitos regulares. Desta forma, histórias sobre grupos rebeldes lutando contra regimes galácticos opressores, como em Star Wars, não se encaixam nesta categoria, sendo classificadas mais adequadamente como Space Operas.

Este ramo da ficção científica não deve ser acusado de propaganda à guerra e ao militarismo – livros como Forever War fazem críticas contundentes à guerra. São histórias que exaltam a luta pela sobrevivência nos campos de batalha, o companheirismo entre os soldados, a defesa da humanidade, e a coragem, determinação e união que são exigidas para derrotar inimigos muito mais poderosos.

A lista segue a ordem cronológica de lançamento. Os que estão com o título em português foram publicados no Brasil.


1) Tropas Estelares (Starship Troopers), de Robert Heinlein, 1959

Livro que inaugurou o gênero, mostra a humanidade representada pela Confederação Terrestre em uma guerra interestelar contra alienígenas com formato de insetos do planeta Klendathu. O protagonista é Juan “Johnnie” Rico, um recruta da Infantaria Móvel de um exército futurista de soldados equipados com poderosas armaduras de combate, as Jump Suits. A trama acompanha sua ascensão de soldado até oficial nas fileiras do exército e suas diversas batalhas contra os bugs.

É o livro mais controverso da lista, pois mostra um futuro em que só é cidadão com direito ao voto aquele que serve nas forças armadas da Confederação Terrestre. O livro também toca em temas como pena de morte, castigos físicos, militarismo, democracia e liberdade. Seu autor, Robert Heinlein, foi oficial da Marinha dos Estados Unidos e é considerado um dos maiores escritores de ficção científica de todos os tempos, sendo sempre colocado ao lado de nomes como Isaac Asimov e Arthur C. Clarke. Ele foi acusado diversas vezes de fascismo por Tropas Estelares, mas é curioso como anos mais tarde este mesmo autor escreveu Stranger In a Strange Land, livro se tornou inspiração para os hippies e a geração Sexo, Drogas e Rock ’n’ Roll.

O livro ganhou o prêmio Hugo de melhor romance em 1960 e foi adaptado para o cinema por Paul Verhoeven em 1997. O filme não respeita muito a história original e não fez muito sucesso nas bilheterias, mas é considerado um cult e foi muito elogiado pela crítica como uma sátira fascista do militarismo americano. O filme teve duas continuações horrorosas de baixo orçamento, Starship Troopers 2: Hero of the Federation, de 2004, e Starship Troopers 3: Marauder, de 2008; uma série de animação com 37 episódios, Roughnecks: Starship Troopers Chronicles; um longa em animação gráfica chamado Starship Troopers: Invasion; e várias minisséries em quadrinhos pela editora Dark Horse Comics. Há planos para uma nova adaptação para o cinema, desta vez mais fiel ao material original.


2) Guerra Sem Fim (Forever War), de Joe Haldeman, 1974

Mais um clássico da ficção científica militar, neste livro acompanhamos a história do recruta William Mandela, que se alista nas forças armadas das Nações Unidas para lutar em uma guerra interestelar contra alienígenas conhecidos como Taurianos. Para viajar as vastas distâncias interestelares as naves viajam através de portais chamados colapsares, que permitem viajar muitos anos-luz em segundos, mas com pesados efeitos relativísticos – no planeta Terra se passam décadas ou até séculos a cada viagem.

Este livro não é apenas uma imitação de Tropas Estelares ou uma Space Opera qualquer. O recruta William Mandela não é um herói que salva o dia com grandes atos de heroísmo e bravura, mas sim, uma pessoa comum relutando em lutar uma guerra que não entende e está mais preocupado em sobreviver e voltar para casa. Ele continua vivo mais por sorte do que por sua habilidade como guerreiro ou da estratégia adotada por seus comandantes, em uma guerra onde milhares morrem no interior das naves sem sequer ter a chance de lutar contra o inimigo.

O foco da história é nas mudanças ocorridas na sociedade terrestre após as décadas que se passam até o seu retorno – devido à dilatação temporal – e em sua dificuldade de adaptação aos novos tempos. Com a economia mundial cada vez mais destroçada por causa da guerra, o planeta é um local cada vez mais perigoso, com a ruas dominadas por bandidos; governos racionam alimentos e tentam conter o crescimento populacional incentivando cada vez mais o controle de natalidade e as relações homossexuais. Com o passar dos séculos praticamente todo cidadão é gay, e os costumes e a linguagem mudam tanto que nosso protagonista quase não consegue se comunicar com outras pessoas. A cada retorno o mundo se torna um lugar tão diferente que ele se sente cada vez mais deslocado e sem vontade de se adaptar, à vontade somente na presença de outros veteranos, o que faz ele continuar na carreira militar.

Um alerta: não há nenhuma crítica ao homossexualismo nesta história! O autor foi veterano da guerra do Vietnã, sendo ferido em combate e condecorado com uma das mais altas comendas das forças armadas americanas. Guerra Sem Fim é uma metáfora da situação daqueles que lutaram nesta guerra e voltaram para a casa no final dos anos 60 e início dos anos 70 – época de algumas das maiores transformações culturais já vistas na história da humanidade – e encontravam uma sociedade muito diferente daquela que deixaram. Foi a época dos grandes protestos contra a guerra, os arsenais nucleares, o preconceito racial e sexual; e pelos direitos civis, a liberação sexual, a liberalização das drogas e a paz mundial.

Guerra Sem Fim ganhou o prêmio Nebula em 1975, e os prêmios Hugo e Locus em 1976. Teve duas continuações: Forever Free, de 1997 e Forever Peace, de 1999. Em 2008 o cineasta Ridley Scott anunciou ter comprado os direitos para adaptar o livro para o cinema.


3) Armor, de John Steakley, 1984

O menos badalado da lista – mas nem por isso de qualidade inferior –, este livro pode parecer à primeira vista uma imitação barata de Starship Troopers se você ler desatentamente alguma resenha sobre ele, mas esta impressão é desfeita logo nas primeiras páginas. No futuro a humanidade está envolvida até o pescoço na Antwar, uma guerra contra alienígenas de três metros de altura em formato de insetos conhecidos como ants. Para combatê-los, os soldados humanos lutam com super-armaduras que são o produto de centenas de anos de evolução tecnológica. Felix é um soldado batedor enviado para Banshee, planeta de origem dos alienígenas, em uma grande ofensiva da humanidade em território inimigo. Os humanos são emboscados e massacradas pelos insetos, que estão em esmagadora maioria e contam com armas desconhecidas que pegam as tropas de surpresa. Em meio ao enxame de inimigos uma estranha entidade chamada engine assume o comando da mente de Felix e ele começa a lutar com uma ferocidade e habilidade jamais vistos em um ser humano, transformando-se em uma máquina de matar. Após uma verdadeira carnificina em meio a milhares de inimigos, Felix se vê como o único sobrevivente das tropas enviadas ao planeta, e logo depois de ser resgatado é enviado novamente ao front. Ele sobrevive batalha após batalha, suportando as mais duras provações, sempre salvo nos momentos cruciais pela engine; com o tempo ele acaba se questionando sobre a razão desta guerra e como ele se tornou o ser humano com mais combates no currículo, além da misteriosa natureza da entidade que o comanda quando ele está em perigo.

Em outra trama paralela, um pirata espacial que adotou a alcunha de Jack Crow consegue fugir de uma prisão alienígena e se junta à tripulação da nave de um grupo de desertores da Antwar. A nave do grupo vai até Sanction, um distante planeta com uma colônia de pesquisa onde Jack terá de se infiltrar entre os pesquisadores e traí-los para roubar seu combustível para a nave. Mas conforme ele vai vivendo o dia a dia da colônia e se envolvendo cada vez mais com seus habitantes, sua lealdade começa a mudar de lado. Enquanto isso, em uma nave perdida no espaço, uma armadura carrega as lembranças de um soldado que lutou diversas batalhas na Antwar. Esta é a armadura de Felix, o melhor mais experiente soldado da humanidade.

Que fim levou Felix e como sua armadura foi parar em uma nave perdida no espaço? Quem terá a lealdade de Jack Crow? As duas tramas se unem em um dos finais mais eletrizantes que eu já li.


4) All You Need Is Kill (Ōru Yū Nīdo Izu Kiru), de Hiroshi Sakurazaka, 2004

Único livro da lista de um autor que não é americano – Hiroshi Sakurazaka é japonês, como o nome já indica – e o único que se passa na Terra. Neste a humanidade luta há anos contra uma horda de alienígenas conhecidos como mimics. Acompanhamos o soldado Keiji Kiriya, um recruta da divisão de armaduras de combate do exército japonês que morre em poucos minutos na sua primeira batalha, mas acorda no dia anterior à sua morte. Antes de morrer ele encontra a lendária Full Metal Bitch, uma supersoldado das forças especiais americanas que luta com um machado gigantesco e é a melhor combatente da humanidade.

Ele então percebe que sempre que morre, acaba retornando à mesma hora do dia anterior à batalha e decide então aproveitar a situação para melhorar suas habilidades de combate, como em um grande jogo de vídeo game. Em seu novo treinamento ele é ajudado pelo Sargento Ferrell Bartolome, um veterano de muitas batalhas contra os mimics – e que curiosamente é brasileiro – e por Rita Vrataski, a Full Metal Bitch.

O livro é muito bom e tem batalhas sensacionais. Apesar de narrar uma guerra contra alienígenas, a forma como são descritos o relacionamento entre os soldados e as batalhas é bem realista. A história nos passa algo próximo ao que deve ser lutar em uma guerra e perder companheiros em combate. A explicação do loop temporal em que o soldado Keiji Kiriya está preso e a origem e dos mimics são bem criadas e fundamentais no desenvolvimento da trama. O desfecho é arrasador.

Gostei muito da Rita Vrataski/Full Metal Bitch e de sua opção, em meio de uma guerra com armaduras tecnológicas de última geração, pelo uso do milenar machado e sua justificativa bem sensata para tal. Esta personagem rouba a cena!

O livro foi adaptado para o cinema americano sob o nome Edge of Tomorrow (No Limite do Amanhã por aqui), com Tom Cruise no papel principal e Emily Blunt como Rita Vrataski/Full Metal Bitch. Há ainda uma adaptação para mangá desenhada por Takeshi Obata, conhecido pelos desenhos de Hikaru No Go, Death Note e Bakuman, que será lançado ainda este ano no Brasil pela JBC. Também existe uma adaptação horrorosa para os quadrinhos nos Estados Unidos.


5) Old Man’s War, de John Scalzi, 2005

“Eu fiz duas coisas em meu aniversário de setenta e cinco anos. Visitei o túmulo de minha esposa. Então me alistei no exército.”

Com esta fantástica abertura começa o mais recente livro desta lista. Esta é a história de John Perry, que aos 75 anos decide entrar para as Forças de Defesa Colonial em um futuro onde a humanidade está se espalhando entre vários sistemas estelares na galáxia. Mas em seu caminho há várias espécies alienígenas que não estão dispostas a dividir seu espaço, e há guerra em muitas frentes. A FDC não está interessada em recrutas jovens, ela prefere pessoas experientes dispostas a abandonar suas vidas na Terra, lutar por um período e depois colonizar um planeta distante, sem jamais voltar ao planeta de origem da humanidade. Para isso elas ganham corpos geneticamente alterados e modificados com nanotecnologia que lhes dão força, velocidade e resistência amplificados, para poderem lutar contra as mais diversas raças alienígenas que encontrarão na expansão e defesa das colônias humanas. Todos também possuem um implante neural que funciona como dispositivo de comunicação e computador pessoal, que realiza comunicação diretamente com o cérebro do combatente e serve de tradutor, mapa, controle de armamento entre outros.

Romance de estreia do escritor John Scalzi, Old Man’s War é marcada por um excelente protagonista, com personagens coadjuvantes muito interessantes – muitos dos quais infelizmente morrem – e, principalmente, muito bom humor. Há passagens muito hilárias, com destaque para o período de recrutamento e o Sargento que fica responsável pelo treinamento dos futuros soldados. O livro brinca com nossos preconceitos quando mostra espécies alienígenas de aparência ameaçadora, mas que são superavançados e pacíficos; enquanto outras tem uma aparência amigável mas são inimigos letais. A cada batalha milhares de soldados podem morrer antes mesmo de sequer compreender o que é o inimigo contra o qual estão lutando, como em uma batalha onde uma espécie controlava a forma da água e mata milhares de soldados afogados; ou outra que não passava de um fungo subterrâneo que mata uma colônia inteira com dezenas de milhares de humanos antes que estes pudessem entender o que estava acontecendo. Há também inimigos hilários como os covandu, seres humanoides minúsculos que podem ser mortos simplesmente pisando-se neles.


A série Old Man’s War conta atualmente com cinco livros e segue em The Ghost Brigades, The Last Colony, Zoe's Tale, e The Human Division. Está previsto para 2015 o lançamento do sexto livro, The End of All Things. Há também duas histórias curtas: The Sagan Diary, e After the Coup. Existem planos para uma série de TV no canal SyFy e a Paramount comprou os direitos para uma futura adaptação cinematográfica.

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