James Cameron |
Esta é a transcrição da palestra para
o TED do cineasta James Cameron, responsável pelos dois filmes de maior
bilheteria da história do cinema: Avatar
e Titanic. Ele também tem diversos outros
filmes de sucesso em seu currículo, como Exterminador
do Futuro (The Terminator, 1984), Aliens
– O resgate (Aliens, 1986), O Segredo
do Abismo (The Abyss, 1989), Exterminador
do Futuro 2 – O Julgamento Final (Terminator 2: Judgement Day, 1991), True Lies (1994), entre outros. Aqui ele
faz um resumo de sua vida, de um garoto fã de ficção científica à cineasta de
sucesso e explorador. Além de filmes, ele também fez diversos documentários,
principalmente no longo período entre os filmes Titanic, lançado em 1997, e
Avatar, em 2009. Deste período vem o sensacional documentário Criaturas das Profundezas (Aliens of the Deep),
onde ele, juntamente com alguns astrobiólogos da NASA, exploram em um submarino
russo, fontes termais nas profundezas do Oceano Atlântico em busca dos
estranhos seres vivos que ali vivem em um ecossistema totalmente independente
do Sol.
Alguns filmes de James Cameron |
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James
Cameron: Antes de Avatar... um garoto curioso
Cresci sob uma dieta regular de ficção
científica Durante o segundo grau tomava um ônibus para escola era uma hora de
ida, outra de volta, todos os dias e eu estava sempre absorto em um livro um
livro de ficção científica, que transportava minha mente a outros mundos, e
satisfazia, de uma forma narrativa, esta curiosidade insaciável que eu tinha
E vocês sabem que a curiosidade também se
manifestava no fato de que sempre que eu não estava na escola eu estava ao ar
livre, no mato, fazendo excursões e coletando "amostras", sapos e
cobras e insetos e água das poças, e trazendo-os de volta, examinando-os no
microscópio Vocês sabem, eu era realmente um fanático por ciência Mas tudo isso
se tratava de tentar entender o mundo, entender os limites das possibilidades.
E minha paixão por ficção científica de fato
parecia se refletir no mundo ao meu redor, por causa do que estava acontecendo,
isso era no fim dos anos 60, estávamos indo à lua, estávamos explorando os
oceanos profundos, Jacques Cousteau estava em nossas salas de estar com seus
programas especiais fantásticos que nos mostravam animais e lugares e um mundo
incrível que nunca poderíamos ter imaginado antes Então, isso parecia estar de
acordo com toda essa parte de ficção científica.
E eu era um artista. Eu desenhava. Eu
pintava. E eu descobri já que não havia video games e esse excesso de filmes feitos
por computador e todo esse imaginário no cenário da mídia, eu tinha que criar
essas imagens em minha cabeça. Vocês sabem, todos passamos por isso, quando
crianças tínhamos que ler um livro e através da descrição do autor criar algo
na tela da nossa mente Então, minha resposta era pintar, desenhar criaturas
alienígenas, mundos extra-terrestres, robôs, espaçonaves, todas essas coisas.
Eu era constantemente pego na aula de matemática rabiscando atrás do livro. Ou
seja, a criatividade tinha que encontrar um escape.
E uma coisa interessante aconteceu, os
programas de Jacques Cousteau realmente me deixaram muito entusiasmado sobre o
fato de que havia um mundo alienígena aqui na Terra Talvez eu realmente não vá
a um mundo extra-terrestre em uma espaçonave um dia. Isso parecia realmente
muito pouco provável. Mas havia um mundo que eu podia visitar, bem aqui na
Terra, que era rico e exótico como tudo que eu havia imaginado ao ler esses
livros.
Então eu decidi que seria um mergulhador
quando tinha 15 anos. O único problema é que eu vivia em uma cidadezinha do
Canadá, a 1000 km do oceano mais próximo. Mas não deixei que isso me
desanimasse. Insisti com meu pai até que ele finalmente encontrou aulas de
mergulho em Buffalo, Nova Iorque, cruzando a fronteira onde morávamos. E eu
realmente recebi meu certificado em uma piscina da ACM em pleno inverno em
Buffalo, Nova Iorque. E não vi um oceano, um oceano de verdade, por mais 2
anos, até que nos mudamos para Califórnia.
Desde então, nos próximos 40 anos, passei cerca
de 3.000 horas embaixo d´água, E 500 dessas horas foram em submersíveis. E
aprendi que o ambiente de um oceano profundo, e mesmo dos oceanos mais rasos,
são completamente ricos com uma vida incrível que está realmente além da nossa
imaginação. A imaginação da natureza é tão ilimitada comparada com nossa pobre
imaginação humana. Até hoje, ainda fico totalmente surpreso com o que vejo em
meus mergulhos. E minha história de amor com o oceano continua, tão forte como
sempre foi.
Mas, quando escolhi uma carreira, já adulto,
foi fazer filmes. E esta parecia ser a melhor maneira de conciliar minha
necessidade de contar histórias, com minha necessidade de criar imagens. E
quando criança eu estava sempre desenhando histórias em quadrinhos e coisas do
tipo. Então, fazer filmes era a maneira de colocar imagens e histórias juntos.
E isso fazia sentido. E claro que as histórias que escolhi contar eram
histórias de ficção científica: "Exterminador do Futuro",
"Aliens" e "O Abismo". E com "O Abismo", eu
estava juntando minha paixão pelo mundo aquático e mergulho, com a produção de
filmes. Então, vocês sabem, fundindo as duas paixões.
Algo interessante surgiu de "O
Abismo", que era resolver um problema específico de narrativa neste filme
que era criar um tipo de criatura aquática líquida, nós realmente abraçamos a
animação gerada por computador. E isso resultou na primeira superfície macia de
um personagem, de animação por computador que jamais existiu em um filme.
Apesar do filme não ter dado lucro, por pouco ficamos quites, devo dizer, fui
testemunha de algo incrível, que foi o público, o público global ficou
boquiaberto com esta aparente magia.
Vocês sabem, é a lei de Arthur Clarke de que
qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia. As pessoas
estavam vendo algo mágico. E isso me deixou muito entusiasmado. E pensei,
"Uau, isso é algo que precisa ser incorporado à arte
cinematográfica." Então, com "Exterminador do Futuro 2", que foi
meu próximo filme, levamos isso muito mais além. Trabalhando com ILM, criamos
uma figura de metal líquido no filme. O sucesso dependia do efeito funcionar ou
não. E funcionou. E criamos mágica outra vez. E tivemos o mesmo resultado com o
público. Apesar de que faturamos um pouco mais nesse filme.
Então, traçando uma linha entre esses dois
pontos de experiência, chegamos ao ponto de que seria um mundo totalmente novo,
era um mundo totalmente novo de criatividade para os artistas da indústria de
cinema. Então, comecei um negócio com Stan Winston, meu grande amigo Stan
Winston, que era número um em maquiagem e desenho de criaturas naquela época, e
se chamava Digital Domain. E o conceito da empresa era que pularíamos a fase
dos processos analógicos das impressoras ópticas e iríamos direto para produção
digital. E realmente fizemos isso, o que nos deu uma vantagem competitiva por
um tempo.
Mas, nos encontramos atrasados no meio dos
anos 90 no negócio de desenho de criaturas e personagens que era para o que
havíamos criado a empresa. Então, escrevi este texto chamado "Avatar",
que tinha a intenção de absolutamente inovar em efeitos visuais, de efeitos
gerados por computador, ir além com personagens realistas com emoções humanas
gerados por computador e os principais personagens seriam gerados por
computador e o mundo seria gerado por computador Mas era avançado demais. E
meus funcionários me disseram que não poderíamos fazer isso por algum tempo.
Então, arquivei a idéia, e fiz esse outro
filme sobre um enorme navio que afunda. (Risos) Vocês sabem, fui ao estúdio e
lancei essa idéia como " 'Romeu e Julieta' em um navio" Vai ser um
romance épico, um filme ardente. Secretamente, o que eu queria fazer era
mergulhar no mundo real do "Titanic". E foi por isso que eu fiz o
filme. (Aplausos) E essa é a verdade. Bem, o estúdio não sabia disso. Mas eu os
convenci. Eu disse, "Vamos mergulhar até o naufrágio. Vamos filmá-lo de
verdade. Vamos usar na abertura do filme. Vai ser muito importante. Será um
grande gancho de marketing." E eu os convenci a custear uma expedição.
(Risos)
Parece loucura. Mas isso nos faz voltar ao
assunto de que a sua imaginação cria a realidade. Porque nós realmente criamos
uma realidade onde seis meses depois eu me encontrei num submersível russo a 4
Km de profundidade no Atlântico norte, olhando para o verdadeiro Titanic
através de uma escotilha, não era filme, não era alta definição, era real.
(Aplausos)
Bem, aquilo foi impressionante. E exigiu
muita preparação, tivemos que construir câmeras e luzes e todo tipo de coisas.
Mas, me dei conta do quanto esse mergulho, esses mergulhos profundos eram como
uma missão espacial. Vocês sabem, onde tudo era altamente técnico, e exigia
muito planejamento. Você entra nessa cápsula, desce a essa escuridão um
ambiente hostil onde não existe possibilidade de salvamento se você não
conseguir voltar sozinho. E eu pensava, "Uau, estou vivendo um filme de
ficção científica. Isso é realmente fantástico."
E então, eu realmente fui contagiado pela
febre da exploração de oceanos profundos. Claro, a curiosidade, o componente
científico. Era tudo. Era aventura, Era curiosidade. Era imaginação. Era uma
experiência que Hollywood não podia me dar. Porque, vocês sabem, eu podia
imaginar uma criatura e podia criar um efeito visual para ela. Mas eu não podia
imaginar o que estava vendo por aquela janela. A medida que fazíamos nossas
futuras expedições Eu estava vendo criaturas em fontes hidrotermais e às vezes
coisas que eu nunca tinha visto antes, às vezes coisas que ninguém tinha visto
antes, que realmente não haviam sido descritas pela ciência no momento em as
vimos e as imaginamos.
Então, eu estava completamente fascinado com
isso e tinha que fazer mais. Então, eu de fato tomei uma decisão um tanto
curiosa. Após o sucesso de "Titanic," Eu disse, "Ok, vou dar uma
pausa em meu trabalho como criador de filmes de Hollywood, e vou ser explorador
por tempo integral durante um período." E então, começamos a planejar essas
expedições. E acabamos indo até o Bismark, e explorando-o com veículos
robóticos. Voltamos ao naufrágio do Titanic. Levamos pequenos robôs que
havíamos criado que desenrolavam uma fibra óptica. E a idéia era ir entrar e
fazer um levantamento interno uma pesquisa daquele navio, que nunca havia sido
feito. Ninguém nunca havia estado dentro do naufrágio. Eles não tinham os meios
para fazer isso, então criamos a tecnologia para isso.
Então, vocês sabem, aí estou, no deck do
Titanic, sentado em um submersível, e olhando para tábuas de madeira que se
pareciam muito com o local onde eu sabia que a banda havia tocado. E estou
conduzindo um pequeno veículo robótico pelo corredor do navio. Quando penso, eu
o estou conduzindo, mas minha mente está no veículo. Eu sentia que estava
fisicamente presente dentro do naufrágio do Titanic. E foi o tipo mais surreal
de experiência de deja vu que eu já tive, porque eu já sabia antes de virar em
alguma esquina o que ia estar lá antes que as luzes do veículo realmente a
revelassem, porque eu havia andado pelo set de filmagem por meses quando
estávamos fazendo o filme. E o set estava baseado em uma réplica exata dos
desenhos do navio.
Então, foi uma experiência absolutamente
impressionante. E me fez entender que a experiência de telepresença que você de
fato pode ter com esses avatares robóticos, que sua consciência é projetada
nesses veículos, nessa outra forma de existência. Foi realmente muito, muito
profundo. E pode ser que tenha sido uma pequena idéia do que poderá vir a acontecer
em algumas décadas ao começarmos a ter ciborgues para exploração ou para outros
fins em muitos tipos de futuros pós-humanos que eu posso imaginar, como fã de
ficção científica.
Então, ter feito essas expedições, e
realmente começar a apreciar o que estava lá, como por exemplo as fontes nas
fendas do fundo do mar onde temos esses animais fantásticos, fantásticos. Eles
são basicamente alienígenas aqui na Terra. Eles vivem em um ambiente de
quimiosíntese. Eles não sobrevivem com sistemas baseados na luz do sol, como
nós. Assim, você está vendo animais que vivem junto a jorros de água a 500
graus. Você acha que é impossível que eles existam.
Ao mesmo tempo Eu estava me interessando
muito por ciência espacial também, novamente, é a influência da ficção
científica, desde criança. E acabei me envolvendo com a comunidade espacial,
realmente envolvido com a NASA, participando do Conselho da NASA, planejando
missões espaciais reais, indo para Rússia, assistindo os protocolos biomédicos
pré-cosmonáuticos todo esse tipo de coisas, para realmente voar até à estação
espacial internacional com nosso sistema de câmeras 3D. E era fascinante. Mas o
que eu acabava fazendo era levar cientistas espaciais conosco para o fundo do
mar. E levá-los ao fundo para que eles tivessem acesso astrobiologistas,
cientistas planetários, pessoas interessadas nesses ambientes extremos,
levando-os para as fontes nas fendas para verem, e pegar amostras e levar
instrumentos para testes, e assim por diante.
Então, por fim estávamos fazendo
documentários, mas fazendo ciência de verdade, e de fato fazendo ciência
espacial. Eu havia fechado o círculo completamente entre ser um fã de ficção
científica, vocês sabem, quando criança, e fazer essas coisas de verdade. E
vocês sabem, durante esta jornada de descoberta, eu aprendi muito. Aprendi
muito sobre ciência. Mas também aprendi muito sobre liderança. Bem, você
imagina que um diretor tem que ser um bom líder, líder, capitão do navio, todo
esse tipo de coisa.
Eu realmente não tinha aprendido sobre
liderança até fazer essas expedições. Porque eu tinha, num certo ponto, dizer
"O que estou fazendo aqui? Por que estou fazendo isso? O que eu ganho com
isso?" Não fazemos dinheiro com esses benditos shows. Quase nem chegamos a
empatar. Não tem fama nisso. As pessoas pensaram que eu tinha desaparecido
entre "Titanic" e "Avatar" e estava curtindo em algum
lugar, numa praia. Fiz todos esses filmes, todos esses filmes documentais para
um público muito limitado.
Nada de fama, glória, dinheiro. O que você está
fazendo? Você está fazendo isso pela tarefa em si, pelo desafio e o oceano é o
ambiente mais desafiador que existe, pela emoção da descoberta, e pelo estranho
laço que se forma quando um pequeno grupo de pessoas forma uma equipe bem
ajustada. Pois fazíamos essas coisas com 10-12 pessoas trabalhando por anos e
por vez As vezes no mar por 2-3 meses.
E nesse laço, você percebe que a coisa mais
importante é o respeito que você tem por eles e que eles têm por você, que
vocês completaram uma tarefa que não tem como explicar para outra pessoa.
Quando você volta para a terra e diz, "Tivemos que fazer isso, e a fibra
ótica, e a atenuação e isso e aquilo outro, e toda tecnologia, e a dificuldade,
os aspectos do desempenho humano no trabalho no mar você não consegue explicar
isso para as pessoas. É uma coisa que talvez os policiais tenham, ou pessoas
que estiveram em combate e passaram por algo juntas e eles sabem que nunca vão
conseguir explicar. Isso cria um laço, cria um laço de respeito.
Então, quando voltei para fazer meu próximo
filme, que era "Avatar," Tentei aplicar os mesmos princípios de
liderança que é de respeito pela sua equipe, e que você ganha o respeito deles
em troca. E isso realmente mudou a dinâmica. Então, lá estava eu novamente com
uma pequena equipe, em um território não mapeado fazendo "Avatar",
trazendo novas tecnologias que não existiam antes. Super excitante. Super
desafiante. E nos tornamos uma família, por um período de quatro anos e meio. E
isso mudou completamente a maneira em que faço filmes. Então, as pessoas
comentaram como, bem, vocês sabem, você trouxe os organismos marinhos e os
colocou no planeta Pandora. Para mim era mais uma maneira fundamental de fazer
negócios, o processo em si mesmo, isso mudou como um resultado do que havia
aprendido.
Então, o que podemos sintetizar disso? Vocês
sabem, quais as lições aprendidas? Bem, acho que a número um é curiosidade. É a
coisa mais poderosa que você tem Imaginação é uma força que pode realmente
manifestar-se em uma realidade. E respeito da sua equipe é mais importante do
que todos as glórias do mundo. Eu conheço jovens cineastas que vem até mim e
dizem, "Qual o seu conselho para fazer isso." E eu digo, "Não
crie limites para você mesmo. Outras pessoas vão fazer isso por você, não o faça
a si mesmo, não aposte contra você mesmo. E arrisque."
A NASA tem uma frase que eles gostam:
"Fracasso não é uma opção." Mas fracassar tem que ser uma opção na
arte e na exploração, porque se trata de fé. E nenhum empreendimento que exigiu
inovação foi feito sem riscos. Você tem que estar disposto a assumir esses
riscos. Então, o pensamento que eu gostaria de deixar com vocês, é que em
qualquer coisa que você faça, fracassar é uma opção, mas o medo não. Obrigado.
Aplausos.
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