sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Neymar vale mais que um professor?

Na verdade ele vale mais que mil professores, se usarmos como parâmetro os ganhos dele e os compararmos com os de um professor da rede estadual de ensino do estado do Rio de Janeiro, por exemplo. Absurdo? Não, afinal o esporte em que ele é o mais valioso craque brasileiro da atualidade movimenta bilhões todos os anos. Por que? Porque eu, você, dezenas de milhões de pessoas no Brasil e centenas de milhões de pessoas ao redor no mundo adotam um time/seleção do coração e vamos aos estádios assistir e torcer por nossa equipe ou assistimos as partidas pela televisão – e também ao marketing de centenas de marcas e produtos –, compramos camisas e outros produtos, pagamos o jornal somente para ler o caderno de esportes, clicamos naquela notícia sobre futebol da internet, visitamos o blog daquele comentarista de futebol, conversamos e discutimos com os amigos e às vezes chegamos até as vias de fato! Seja no bar, no trabalho, na rua, na festa; na fila do banco, barbeiro, restaurante, médico, metrô, trem ou ônibus; dedicamos muito de nosso tempo para falar de futebol. O Neymar vale mais que mil professores do Brasil porque nós – eu, você e uns 200 milhões de brasileiros – valorizamos mais o futebol do que a escola; valorizamos mais o entretenimento que o conhecimento.

Tempo é realmente dinheiro e na disputa pelo nosso aqui no Brasil, o futebol ganha de goleada – é difícil até se comunicar sem uma analogia fulebolística! Sentimos tanto orgulho da seleção brasileira, que já ganhou 5 vezes a Copa do Mundo de Futebol, e dos nossos times de futebol, que já ganharam 17 vezes a Copa Libertadores da América e 10 vezes a Copa Intercontinental e o Campeonato Mundial de Clubes, entre tantas outras competições internacionais; mas nunca um brasileiro ganhou um Prêmio Nobel ou Oscar, nosso número de patentes registradas é irrisório e no ranking das melhores universidades do mundo, não temos nenhuma nem entre as cem primeiras, apesar de sermos a 7ª maior economia do planeta. Jogadores profissionais de futebol são milionários, moram em mansões e desfilam pelas ruas com carros de luxo, além de namorar atrizes, modelos e algumas das mulheres mais lindas e desejadas do momento que nos são apresentadas pela grande mídia. Em dias de jogos da Copa do Mundo ou finais de campeonatos, as ruas ficam desertas e feriados são decretados informalmente – e até oficialmente. O sonho de uma criança crescendo nesta sociedade certamente não será o de se tornar um grande cientista ou um grande escritor; e o professor certamente não será o profissional mais valorizado e admirado.

E o pior é que como vivemos em uma democracia e em uma sociedade democrática a vontade do povo tem que ser respeitada (para bem ou para o mal), bilhões de reais (públicos e privados) são gastos na construção de estádios e na criação e manutenção de uma enorme estrutura de transporte público, segurança e atendimento ao torcedor. Dinheiro jogado fora? Não, pois tudo isto é investimento, e o retorno aos cofres públicos – e às contas bancárias de entidades privadas – é alto, afinal, futebol no Brasil dá dinheiro, muito dinheiro. Não vamos jogar no governo nossa culpa pelo futebol ser um esporte tão popular e rentável. Se as Olimpíadas Internacionais de Astronomia movessem multidões e despertassem tanta paixão no Brasil, muitos e muitos bilhões seriam investidos nesta área em nosso país, alguns dos melhores astrônomos seriam brasileiros e teríamos o maior telescópio do mundo na cidade do Rio de Janeiro, que se chamaria “Grande Telescópio Maracanã”.


Cabe ao governo mudar esta situação? Sim, mas e nós, também não? O governo não é o pai dos nossos filhos, não liga e sintoniza nossas TVs, não escolhe os livros, jornais e websites que lemos, nem administra nossas agendas e rendas familiares. Se você não consegue fazer estas coisas direito sozinho e deseja que alguém o faça por você, sinto muito informar mas você é um idiota e provavelmente morrerá um idiota; se a grande massa é igual a você e também não consegue... então, pobres gerações futuras, que continuarão a viver em uma sociedade em que um jogador de futebol vale muito mais que um professor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário