Na verdade ele vale mais que mil
professores, se usarmos como parâmetro os ganhos dele e os compararmos com os
de um professor da rede estadual de ensino do estado do Rio de Janeiro, por
exemplo. Absurdo? Não, afinal o esporte em que ele é o mais valioso craque brasileiro
da atualidade movimenta bilhões todos os anos. Por que? Porque eu, você,
dezenas de milhões de pessoas no Brasil e centenas de milhões de pessoas ao
redor no mundo adotam um time/seleção do coração e vamos aos estádios assistir
e torcer por nossa equipe ou assistimos as partidas pela televisão – e também
ao marketing de centenas de marcas e produtos –, compramos camisas e outros produtos, pagamos o jornal somente para
ler o caderno de esportes, clicamos naquela notícia sobre futebol da internet,
visitamos o blog daquele comentarista de futebol, conversamos e discutimos com
os amigos e às vezes chegamos até as vias de fato! Seja no bar, no trabalho, na
rua, na festa; na fila do banco, barbeiro, restaurante, médico, metrô, trem ou ônibus;
dedicamos muito de nosso tempo para falar de futebol. O Neymar vale mais que
mil professores do Brasil porque nós – eu, você e uns 200 milhões de
brasileiros – valorizamos mais o futebol do que a escola; valorizamos mais o
entretenimento que o conhecimento.
Tempo é realmente dinheiro e na
disputa pelo nosso aqui no Brasil, o futebol ganha de goleada – é difícil até
se comunicar sem uma analogia fulebolística! Sentimos tanto orgulho da seleção
brasileira, que já ganhou 5 vezes a Copa do Mundo de Futebol, e dos nossos
times de futebol, que já ganharam 17 vezes a Copa Libertadores da América e 10 vezes
a Copa Intercontinental e o Campeonato Mundial de Clubes, entre tantas outras
competições internacionais; mas nunca um brasileiro ganhou um Prêmio Nobel ou
Oscar, nosso número de patentes registradas é irrisório e no ranking das melhores
universidades do mundo, não temos nenhuma nem entre as cem primeiras, apesar de
sermos a 7ª maior economia do planeta. Jogadores profissionais de futebol são milionários,
moram em mansões e desfilam pelas ruas com carros de luxo, além de namorar atrizes,
modelos e algumas das mulheres mais lindas e desejadas do momento que nos são
apresentadas pela grande mídia. Em dias de jogos da Copa do Mundo ou finais de
campeonatos, as ruas ficam desertas e feriados são decretados informalmente – e
até oficialmente. O sonho de uma criança crescendo nesta sociedade certamente
não será o de se tornar um grande cientista ou um grande escritor; e o professor
certamente não será o profissional mais valorizado e admirado.
E o pior é que como vivemos em
uma democracia e em uma sociedade democrática a vontade do povo tem que ser respeitada
(para bem ou para o mal), bilhões de reais (públicos e privados) são gastos na
construção de estádios e na criação e manutenção de uma enorme estrutura de
transporte público, segurança e atendimento ao torcedor. Dinheiro jogado fora?
Não, pois tudo isto é investimento, e o retorno aos cofres públicos – e às
contas bancárias de entidades privadas – é alto, afinal, futebol no Brasil dá
dinheiro, muito dinheiro. Não vamos jogar no governo nossa culpa pelo futebol
ser um esporte tão popular e rentável. Se as Olimpíadas Internacionais de Astronomia
movessem multidões e despertassem tanta paixão no Brasil, muitos e muitos bilhões
seriam investidos nesta área em nosso país, alguns dos melhores astrônomos seriam
brasileiros e teríamos o maior telescópio do mundo na cidade do Rio de Janeiro,
que se chamaria “Grande Telescópio Maracanã”.
Cabe ao governo mudar esta
situação? Sim, mas e nós, também não? O governo não é o pai dos nossos filhos,
não liga e sintoniza nossas TVs, não escolhe os livros, jornais e websites que
lemos, nem administra nossas agendas e rendas familiares. Se você não consegue
fazer estas coisas direito sozinho e deseja que alguém o faça por você, sinto
muito informar mas você é um idiota e provavelmente morrerá um idiota; se a grande
massa é igual a você e também não consegue... então, pobres gerações futuras,
que continuarão a viver em uma sociedade em que um jogador de futebol vale
muito mais que um professor.
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