O neurocientista Miguel Nicolelis
é um dos cientistas brasileiros mais famosos da atualidade. Segundo
especialistas, Nicolelis é o mais cotado para ser o primeiro brasileiro a
ganhar um Prêmio Nobel. Neste livro ele descreve para o público leigo um pouco
da história da neurologia, suas pesquisas sobre interface cérebro-máquina, sua
teoria do cérebro relativista e faz algumas especulações sobre como a conexão
entre o cérebro e as máquinas poderá revolucionar o futuro.
Nicolelis ficou famoso mundialmente
após a experiência em que sua equipe conectou o cérebro de um macaco na
Universidade de Duke, nos Estados Unidos, a um robô em Kyoto, no Japão, que
movimentou as pernas simulando uma caminhada através dos comandos cerebrais do
animal, que caminhava em uma esteira. Atualmente ele desenvolve um exoesqueleto
que será fixado nas pernas e conectado ao cérebro, que permitirá a paraplégicos
caminhar novamente. O protótipo será visto em 2014, quando uma adolescente que
perdeu o movimento das pernas dará o pontapé inicial pela Seleção Brasileira na
abertura da Copa do Mundo de Futebol no Brasil.
Miguel Nicolelis |
Para imaginar as possibilidades
abertas por esta tecnologia pense nos limites impostos pelo nosso corpo aos
dispositivos eletrônicos, caso por exemplo dos smartphones, que usam telas cada
vez maiores para proporcionar uma melhor experiência visual de quem olha para
suas telas, ao custo do prejuízo na portabilidade e do consumo maior de
energia. Com o atual nível de miniaturização de circuitos eletrônicos um
dispositivo destes poderia ter dimensões bem mais reduzidas se não fosse a
necessidade de teclados, microfones, telas e autofalantes, para a entrada e
saída de dados. Estes problemas não existirão quando dispositivos eletrônicos
se conectarem diretamente no cérebro, sem a necessidade de utilização dos
órgãos sensoriais.
No decorrer do livro ele conta os
primórdios da neurociência e como a humanidade foi aos poucos entendendo o
funcionamento do cérebro e de seu elemento fundamental, o neurônio. Nesta
história, além de médicos, anatomistas e neurologistas propriamente ditos,
tiveram fundamental importância também psicólogos, que desenvolveram diversos
experimentos que expandiram o conhecimento sobre este complexo órgão.
Robô no japão que reproduziu os movimentos de um macaco nos EUA através de comandos do cérebro do animal. |
Ele nos apresenta também sua
teoria sobre o funcionamento do cérebro, batizada de “teoria do cérebro relativístico”.
A teoria mais aceita atualmente é a de que o cérebro é dividido em áreas que
respondem cada uma a alguma atividade específica, que ele chama de “teoria
localizacionista”, o que explicaria por exemplo a perda de determinados
movimentos após um dano em uma região cerebral específica. Nicolelis vai de
encontro a esta visão afirmando que o funcionamento do cérebro é muito mais
complexo, e que que cada atividade cerebral é produto da interação entre áreas
muito diferentes do cérebro. Neste contexto a perda de determinado movimento
seria resultado não do dano na área em si, mas sim do impedimento nas
comunicações entre neurônios espalhados entre diversas partes do cérebro.
Adolescente paraplégica dando o pontapé inicial na Copa do Mundo no Brasil em 2014. |
O que mais gostei no livro foram
as especulações que Miguel Nicolelis faz para o futuro da neurociência e de
como a ligação entre cérebros e máquinas um dia poderá possibilitar a criação
de uma rede cerebral que ele chama de brainet, onde pessoas poderiam trocar
diretamente experiências, emoções e pensamentos, em uma experiência muito além
da comunicação visual, falada e escrita, como fazemos atualmente. Iremos muito
além do nosso eu, como afirma o título.
Entrevista de Miguel Nicolelis no Programa do Jô
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