quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Muito além do nosso eu

O neurocientista Miguel Nicolelis é um dos cientistas brasileiros mais famosos da atualidade. Segundo especialistas, Nicolelis é o mais cotado para ser o primeiro brasileiro a ganhar um Prêmio Nobel. Neste livro ele descreve para o público leigo um pouco da história da neurologia, suas pesquisas sobre interface cérebro-máquina, sua teoria do cérebro relativista e faz algumas especulações sobre como a conexão entre o cérebro e as máquinas poderá revolucionar o futuro.
Nicolelis ficou famoso mundialmente após a experiência em que sua equipe conectou o cérebro de um macaco na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, a um robô em Kyoto, no Japão, que movimentou as pernas simulando uma caminhada através dos comandos cerebrais do animal, que caminhava em uma esteira. Atualmente ele desenvolve um exoesqueleto que será fixado nas pernas e conectado ao cérebro, que permitirá a paraplégicos caminhar novamente. O protótipo será visto em 2014, quando uma adolescente que perdeu o movimento das pernas dará o pontapé inicial pela Seleção Brasileira na abertura da Copa do Mundo de Futebol no Brasil.
Miguel Nicolelis
Para imaginar as possibilidades abertas por esta tecnologia pense nos limites impostos pelo nosso corpo aos dispositivos eletrônicos, caso por exemplo dos smartphones, que usam telas cada vez maiores para proporcionar uma melhor experiência visual de quem olha para suas telas, ao custo do prejuízo na portabilidade e do consumo maior de energia. Com o atual nível de miniaturização de circuitos eletrônicos um dispositivo destes poderia ter dimensões bem mais reduzidas se não fosse a necessidade de teclados, microfones, telas e autofalantes, para a entrada e saída de dados. Estes problemas não existirão quando dispositivos eletrônicos se conectarem diretamente no cérebro, sem a necessidade de utilização dos órgãos sensoriais.
No decorrer do livro ele conta os primórdios da neurociência e como a humanidade foi aos poucos entendendo o funcionamento do cérebro e de seu elemento fundamental, o neurônio. Nesta história, além de médicos, anatomistas e neurologistas propriamente ditos, tiveram fundamental importância também psicólogos, que desenvolveram diversos experimentos que expandiram o conhecimento sobre este complexo órgão.
Robô no japão que reproduziu os movimentos de um macaco
nos EUA através de comandos do cérebro do animal.
Ele nos apresenta também sua teoria sobre o funcionamento do cérebro, batizada de “teoria do cérebro relativístico”. A teoria mais aceita atualmente é a de que o cérebro é dividido em áreas que respondem cada uma a alguma atividade específica, que ele chama de “teoria localizacionista”, o que explicaria por exemplo a perda de determinados movimentos após um dano em uma região cerebral específica. Nicolelis vai de encontro a esta visão afirmando que o funcionamento do cérebro é muito mais complexo, e que que cada atividade cerebral é produto da interação entre áreas muito diferentes do cérebro. Neste contexto a perda de determinado movimento seria resultado não do dano na área em si, mas sim do impedimento nas comunicações entre neurônios espalhados entre diversas partes do cérebro.
Adolescente paraplégica dando o pontapé inicial na Copa do
Mundo no Brasil em 2014.
O que mais gostei no livro foram as especulações que Miguel Nicolelis faz para o futuro da neurociência e de como a ligação entre cérebros e máquinas um dia poderá possibilitar a criação de uma rede cerebral que ele chama de brainet, onde pessoas poderiam trocar diretamente experiências, emoções e pensamentos, em uma experiência muito além da comunicação visual, falada e escrita, como fazemos atualmente. Iremos muito além do nosso eu, como afirma o título.


Entrevista de Miguel Nicolelis no Programa do Jô


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