Mais um livro muito interessante do
filósofo Alain de Botton, que apesar do nome que soa francês é suíço de
nascimento e vive na Inglaterra. Considero-o um dos melhores popularizadores da
filosofia na atualidade, junto com André Comte-Sponville, Michel Onfray, Luc
Ferry, Julian Baggini, Jeremy Stangroom e Jostein Gaarder. Recentemente ele visitou
o Brasil e fundou uma ONG que ensina filosofia nas comunidades que compõem o
Morro do Alemão.
Neste livro ele continua seu
trabalho de trazer o conhecimento dos filósofos para nos ajudar em nosso cotidiano,
mostrando como a filosofia é fascinante e pode nos ajudar trazendo reflexão e
conforto. Desta vez ele não utiliza um filósofo, mas o grande escritor francês Marcel
Proust, que com os sete volumes que compõe o seu Em Busca do Tempo Perdido se tornou um dos maiores escritores do
século XX. Em nove capítulos o autor nos apresenta a inspiradora visão de
Proust sobre assuntos diversos como literatura, o sentido da vida, tempo livre,
sucesso, expressar emoções, amizade, esclarecimento, amor e o hábito da
leitura.
Um trecho do livro que gostei
muito foi a resposta de Marcel Proust a uma enquete do jornal parisiense de L’Intransigieant feita à celebridades
francesas pedindo a opinião sobre o que as pessoas fariam se soubessem que um
cientista americano anunciasse um enorme cataclismo que traria o fim do mundo
em breve:
Acredito que a vida nos pareceria
subitamente maravilhosa se estivéssemos ameaçados de morrer da forma como você
diz. Pense em quantos projetos, viagens, casos amorosos e estudos ela – a nossa
vida – afasta de nós, tornando-os invisíveis devido à nossa preguiça, que,
certa da existência de um futuro, os adia incessantemente.
Mas deixe todos esses projetos se tornarem
impossíveis para sempre: como tudo se tornaria belo de novo! Ah! Se pelo menos
o cataclismo não acontecer desta vez, não vamos deixar de visitar as novas
galerias do Louvre, nem deixaremos de nos jogar aos pés da srta. X, nem viajar
para a Índia.
Entretanto, se o cataclisma não acontece,
nós não fazemos nada disso, porque estamos de volta ao coração da vida normal,
na qual a negligência supera o desejo. E, no entanto, a verdade é que não
precisamos do cataclisma para amar a vida hoje. Deveria ser suficiente
pensarmos que somos humanos, e que a morte pode chegar nesta tarde.
Me recorda um pensamento de Mario
Quintana:
No dia em que estiveres muito cheio de
incomodações, imagina que morreste anteontem... Confessa: tudo aquilo teria
mesmo tanta importância?
Como Proust pode mudar sua vida foi relançado pela Editora
Intrínseca, que vem relançando vários títulos de Alain de Botton no Brasil e
começou a lançar títulos inéditos também. Para conhecer um pouco as ideias do
autor, veja uma palestra que ele deu para o TED:
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