segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta (Editora Globo/ Biblioteca Azul, 2013), é uma coletânea de cartas escritas entre 1903 e 1908 pelo poeta Rainer Maria Rilke (1875-1926) ao aspirante a poeta Franz Xaver Kappus (1883-1966). O jovem Kappus passava por um período de dúvidas sobre sua vocação para a poesia, quando através de um velho professor em comum, conseguiu se corresponder com o grande poeta Rainer Maria Rilke. As cartas do grande poeta, mais do que lições sobre a arte poética, são lições que cada um de nós podemos tomar para nossas vidas, sobre a verdadeira vocação, arte, educação, amor, felicidade e o maravilhamento diante do grande mistério da existência. Alguns anos após a morte de Rilke, em 29 de dezembro de 1926 quando este encontrava-se internado em um sanatório, Kappus decidiu publicar as cartas em formato de livro, que se tornou a obra mais famosa do grande poeta. Franz Xaver Kappus lutou na Primeira Guerra Mundial e mais tarde se tornou compositor, romancista e roteirista de cinema, até morrer em 9 de outubro de 1966.
Rainer Maria Rilke
Esta edição caprichada contém também o longo poema A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristóvão, com tradução da escritora e poeta brasileira Cecília Meireles, que também assina o Prefácio, e um Posfácio do grande romancista Robert Musil, escrito por ocasião da morte de Rainer Maria Rilke.
Segue abaixo a primeira carta enviada por Rilke para Kappus:






Paris, 17 de fevereiro de 1903


Prezadíssimo senhor,

SUA CARTA ALCANÇOU-ME APENAS HÁ POUCOS DIAS. Quero agradecer-lhe a grande e amável confiança. Pouco mais posso fazer. Não posso entrar em considerações acerca da feição de seus versos, pois sou alheio a toda e qualquer intenção crítica. Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que palavras de crítica, que sempre resultam em mal-entendidos mais ou menos felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do qualquer outra coisa são as obras de arte – seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.
Depois de feito este reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não tem feição própria, somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que sinto com a maior clareza no último poema “Minha alma”. Aí, algo de peculiar procura expressão e forma. No belo poema “A Leopardi”, talvez uma espécie de parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto, as poesias nada tem ainda de próprio e independente, nem mesmo a última, nem mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos sem que a pudesse definir explicitamente. Pergunta se seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os a outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um outro redator. Pois bem – usando da licença que me deu para aconselhá-lo -, peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar – ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto, acima de tudo, pergunte a si mesmo na hora mais tranquila de sua noite: “Sou forçado a escrever?”. Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples “sou”, então construa sua vida de acordo com essa necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde.
Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usuais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza – relate tudo isso com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de suas lembranças. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza em nenhum lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, essa esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas desse longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre lusco e fusco diante da qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar. Se depois dessa volta para dentro, desse ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Nesse caráter de origem está o seu critério – o único existente. Também, meu prezado senhor, não lhe posso dar outro conselho fora este: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra sua vida; na fonte desta é que encontrará a resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha a significar que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso, aceite o destino e carregue-o com seu peso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou.
Mas talvez se dê o caso de, após essa descida em si mesmo e em seu âmago solitário, ter o senhor de renunciar a se tornar poeta. (Basta, como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais ter o direito de fazê-lo.) Mesmo assim, o exame de consciência que lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe desejo, muito mais do que lhe posso exprimir.
Que devo mais lhe dizer? Parece-me que tudo foi acentuado segundo convinha. Afinal de contas, queria apenas sugerir-lhe que se deixasse com discrição e gravidade ao termo de sua evolução. Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa.
Foi com alegria que encontrei em sua carta o nome do professor Horaceck; guardo por esse amável sábio uma grande estima e uma gratidão que desafia os anos. Fale-lhe, por favor, deste meu sentimento. É bondade dele lembrar-se ainda de mim; e eu sei apreciá-la.
Restituo-lhe ao mesmo tempo os versos que me veio confiar amigavelmente. Agradeço-lhe mais uma vez a grandeza e a cordialidade de sua confiança. Procurarei por meio desta resposta sincera, feita o melhor que pude, tornar-me um pouco mais digno dela do que realmente sou, em minha qualidade de estranho.
Com todo o devotamento e toda a simpatia,

Rainer Maria Rilke

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Ernest Shackleton

Ernest Shackleton
Sir Ernest Shackleton (15 de fevereiro de 1874 – 05 de janeiro de 1922) foi um explorador inglês que ficou famoso após uma fracassada expedição ao continente antártico e a forma heroica como conseguiu liderar sua tripulação de 28 homens para escapar da morte certa naquela que era então a última e mais inóspita fronteira do planeta. A primeira vez que ouvi falar de Shackleton foi há alguns anos atrás quando lia o livro Mar Sem Fim, do explorador brasileiro Amir Klink, e  novamente anos mais tarde no livro Interplanetary Outpost – The Human and Technological Challenges of Exploring the Outer Planets, de Erik Seedhouse. Sua história de liderança, sobrevivência e superação de adversidades é simplesmente fantástica.

Robert Falcon Scott
Ainda adolescente Shackleton ingressou na Marinha Mercante e em 1916, aos 16 anos, fez sua primeira viagem de navio dobrando o Cabo Horn com destino ao Chile. Ao atravessar o mar tempestuoso daquele local, afirma ter recebido o “chamado do sul”, que iria se tornar sua obsessão até o dia de sua morte. Na virada do século 19 para o século 20 começava a corrida para se chegar ao pólo sul e em 1901, Shackleton embarca à bordo do Discovery na expedição de Robert Falcon Scott, a 1ª expedição britânica a tentar realizar a façanha. Não conseguiram chegar ao pólo e Shackleton adoeceu, começou a cuspir sangue e quase não conseguiu voltar vivo da expedição. Ao retornar da expedição de Scott, Shackleton saiu da Marinha Mercante e começou os preparativos para uma expedição independente. Anos depois, em janeiro de 1912, Scott conseguiria chegar ao polo na expedição Terra Nova, mas lá chegando encontrou uma bandeira da Noruega, colocada lá por Roald Amundsen, explorador norueguês que havia chegado cinco semanas antes dele. Robert Falcon Scott morreu no caminho de volta.

Roald Amundsen
Em 1907 Shackleton organizou uma expedição independente à bordo do navio Nimrod. Eles utilizaram pôneis ao invés de cães, e conseguiram chegar a apenas 156 Km do polo sul, mas tiveram que voltar pois não haveria suprimentos para o retorno e morreriam de fome se tentassem. Apesar do fracasso, aquele tinha sido o ponto mais próximo do polo sul que alguém já chegara até então, e por este feito, em 1909 Ernest Shackleton foi nomeado Sir.

Depois da chegada de Roald Amundsen e Robert Falcon Scott ao pólo sul, Shackleton planejou a primeira travessia do continente antártico. Ele sairia da baía de Vahsel, no mar de Weddell, atravessariam o continente com trenós puxados por cães, passando pelo pólo sul até chegarem ao estreito de McMurdo, no mar de Ross. Em meados de 1914 começava então a Expedição Imperial Transantártica, no navio Endurance, com 28 membros, que quase foi cancelada devido ao início da 1ª Guerra Mundial. Shackleton se ofereceu com sua tripulação para lutar, mas o governo inglês determinou que ele continuasse a expedição, pois se achava que a guerra não duraria muito. Mais de dois anos depois a guerra continuaria a todo vapor, terminando somente em 1918.

Endurance preso no gelo
Em novembro de 1914 Shackleton chegou à Geórgia do Sul e em 8 de dezembro partiu para o mar de Weddell. Em 19 de janeiro o Endurance ficou preso no gelo a menos de 100 Km da baía de Vahsel, seu objetivo inicial. Após várias tentativas de liberar o navio os membros desistiram e começaram a se preocupar em passar o inverno presos no pólo sul. Mas o que aconteceu foi pior que seus piores pesadelos: os blocos de gelo começaram a esmagar o navio, que foi abandonado em 27 de outubro e afundou em 21 de novembro de 1915.

Acamparam então no imenso bloco de gelo e permaneceram lá à deriva por mais de 4 meses, se alimentando de focas e pinguins. Flutuaram no gelo e foram empurrados pelo vento por 2.000 Km para o norte, e em abril de 1916, a banquisa onde se encontravam começou a rachar e tiveram de se lançar ao mar em três pequenos botes salva-vidas. Viajaram 7 dias nos botes passando fome, sede e frio terríveis, até chegarem à inóspita Ilha Elefante.

James Caird sendo lançado ao mar
A ilha era desabitada e ninguém nunca iria procurá-los naquele local, e em 24 de abril de 1916, lançaram-se novamente ao mar. Uma tripulação de 6 homens partiu no bote maior, nomeado James Caird em homenagem a um dos financiadores da expedição, com o objetivo de chegar à Ilha Geórgia do Sul, 1.200 Km dali no mar mais tempestuoso do planeta em um barco de apenas 8,23m de comprimento com velas improvisadas. Enfrentaram o frio, a umidade, tempestades com ventos de centenas de quilômetros por hora e ondas de mais de 30 metros!

Livro A Incrível Jornada de Shackleton
Em 10 de maio de 1916 conseguiram chegar à Geórgia do Sul, após 17 dias de viagem, mas ainda tinham que chegar ao norte da ilha onde havia uma estação baleeira, em uma viagem de 240 Km por mar. O barco estava muito danificado e não suportaria a viagem, então Shackleton e mais dois homens decidiram fazer a travessia por terra em 19 de maio de 1916, atravessando geleiras e montanhas de 3.000 metros de altura. Foi a primeira vez que alguém atravessava a ilha à pé e após chegarem à estação baleeira, Shackleton conseguiu ajuda e depois de três expedições fracassadas, finalmente conseguiu resgatar seus homens do outro lado da Ilha Geórgia do Sul e posteriormente o restante da tripulação que estava na Ilha Elefante, após um total de quase dois anos lutando pela sobrevivência.
Documentário Grandes Exploradores
A liderança de Shackleton foi fundamental para que nenhum dos 28 membros da expedição morresse e todos conseguissem sobreviver milagrosamente naquela que é considerado hoje a maior de todas as jornadas de sobrevivência. Shackleton morreu anos mais tarde, em 05 de janeiro de 1922, em uma nova expedição à Antártida, devido a um ataque do coração. Sua história pode ser acompanhada no livro A Incrível Jornada de Shackleton (Sextante, 2004), de Alfred Lansing, que baseou-se nos diários dos membros da tripulação, ou no documentário Grandes Exploradores: Ernest Shackleton – Até o fim da Terra, lançado no Brasil pela revista História Viva, da editora Duetto.








quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Roube como um artista

Roube como um artista – 10 dicas sobre criatividade (Rocco, 2012), de Austin Kleon, é um interessante livro que defende uma tese que à primeira vista pode parecer polêmica: nada é original. Mas não se deixe enganar pelo título do livro nem por esta frase, pois ele não é uma defesa do plágio, mas sim, da criatividade e da inovação. Na ciência, é dito que devemos nos “apoiar nos ombros dos gigantes”, significando que todas as descobertas científicas devem muito aos precursores que pensaram nelas décadas, e até séculos antes, desbravando os caminhos para que as soluções fossem encontradas nos dias de hoje. Assim também é a ideia do autor, que defende que criamos a partir daquilo que amamos: dos livros que lemos, dos filmes que assistimos, das músicas que ouvimos, de todas as obras de arte que apreciamos, e criamos, ainda que às vezes de forma inconsciente, a partir delas. Não se trata simplesmente de copiar o que já foi feito, mas de dar a sua versão a algo que reverbera no espírito de todos os seres humanos. Segundo o autor o artista é alguém que coleciona boas ideias.

Todo artista é um colecionador. Não um acumulador, há uma diferença: acumuladores colecionam indiscriminadamente, artistas colecionam seletivamente. Eles colecionam apenas coisas que realmente amam.

Dentro desta ideia o artista guarda as ideias para inspirar-se, não para copiá-las. Ao criar à partir das grandes ideias, o seu próprio estilo aparecerá. O livro é dividido em 10 capítulos:

1) Roube como um artista
2) Não espere até saber quem você é para começar
3) Escreva o livro que você quer ler
4) Use suas mãos
5) Projetos paralelos e hobbies são importantes
6) O segredo: faça um bom trabalho e compartilhe-o com as pessoas
7) A geografia não manda em nós
8) Seja legal (o mundo é uma cidade pequena)
9) Seja chato (é a única maneira de terminar um trabalho)
10) Criatividade é subtração

Um livro inspirador para todos que desejam seguir uma carreira artística, seja qual área for. Para quem se interessar, veja a palestra legendada de Austin Kleon sobre as ideias que ele defende no livro:


Steal Like An Artist: Austin Kleon at TEDxKC (legendado)







segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Urban Dictionary

http://www.urbandictionary.com/
UrbanDictionary é um site criado por Aaron Peckham em 1999 como uma paródia de dicionário e que é atualizado com definições e exemplos de usuários de todo mundo. Ele tem mais de 7 milhões de definições e é especialmente útil para encontrar o significado de gírias. Suas definições são muito irreverentes e algumas vezes lembram as do Devil’s Dictionary, do Ambrose Bierce. É a melhor fonte disponível para encontrar a definição daquelas gírias dificílimas e abreviações irritantes do discurso informal que você encontra nas falas do dia a dia das ruas e na internet, que você não encontrará em nenhum outro dicionário.


Veja abaixo algumas definições:

DICTIONARY 
1. dictionary 
What you're reading right now, but without all the assholes, anti-Americans, dumbass n00bs, atrocious grammar, made up words, slang, gibberish, and other crap.

The world is so lazy these days, that instead of reading the dictionary, they wait for the movie.

2. dictionary 
Fucking kidding me? lol You must be bored as hell.

I bought a dictionary. The first thing I did was look up the word dictionary. It said, "You're an asshole".
-Demetri Martin

C'MON
1. c'mon 
The contracted form of the phrase "come on". Eliminating the space between the two words, the letter "e" and substituting the "o" in "come" with an apostrophe.
Generally used to encourage one to hurry up or follow in one's path.

1) "C'mon! what are you waiting for?"
2) "Here, c'mon, I know a place we could go for dinner"

2. c'mon 
A horrible way to try and convince someone to go along with something or do something.

-Want to go to the movies?
-No thanks.
-C'mon!
-Oh alright you've convinced me.

EARTH 
2. earth
God's reality TV show.

That planet gets good ratings on Uranus.

4. earth
The place that the human race has for thousands of years tried to destroy, and are finally getting it right..

Nuke`s are nice

5. Earth 
It is a terrestial planet orbiting about 92 million miles away from a yellow dwarf star called the Sun. The sun and its planets, are in turn, orbiting the Milky Way Galaxy at about 300,000 light years away from the Galactic center.


Para quem tem Smartphone Android, na Google Play você encontra um aplicativo gratuito muito interessante e prático. Infelizmente este aplicativo só funciona online e não tem integração com leitores de livros.

Ícone do aplicativo Urban Dictionary


Aplicativo Urban Dictionay para Android



Há também alguns livros publicados com as melhores definições do site, que você pode comprar na versão digital ou impressa nas melhores lojas.

Livros do site Urban Dictionary




sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Batman – Terra Um

Batman – Terra Um (Panini Books, 2013) é uma reinvenção da origem de Batman em um universo alternativo. É escrita por Geoff Johns, autor de vários títulos para a DC Comics como Novos Titãs, Flash, Sociedade da Justiça, Novos 52, Aquaman, entre diversos outros; e desenhada por Gary Frank, famoso principalmente por seus trabalhos na Marvel Comics, como O Incrível Hulk, na sensacional fase escrita por Peter David,  e Poder Supremo, com o roteirista J. Michael Strakzynski.

Achei que esta fosse apenas mais uma imitação barata de Batman – Ano Um, a lendária HQ de Frank Miller, mas fui alegremente surpreendido por uma história muito original. É bem diferente daquela que estamos habituados nos quadrinhos, filmes, desenhos e games; mas os personagens icônicos das histórias do homem-morcego estão todos lá, ainda que um tanto modificados.

Na história acompanhamos a chegada de Alfred Pennyworth, ex-Fuzileiro Naval inglês, na mansão de seu velho amigo e companheiro de front na Guerra do Iraque, Thomas Wayne, homem mais rico de Gotham City e candidato favoritíssimo à prefeitura desta cidade na eleição próxima. Após o assassinato de seu amigo e sua esposa na frente do filho Bruce Wayne, Alfred fica como responsável legal do garoto, que se tornará o Batman e iniciará uma obsessiva luta contra o crime como forma de encontrar aquele que matou seus pais. Nesta luta ele enfrentará o principal suspeito de ser o mandante do crime, o prefeito de Gotham City Oswald Cobblepot.

Este é o Batman mais realista já feito (dentro dos limites de um cara vestido de morcego que combate o crime), sem aqueles gadgets incríveis que estamos acostumados e sem aquele treinamento ninja que o torna invencível nas lutas e o faz praticamente voar por entre os prédios. O Batman da Terra Um de vez em quando cai dos telhados, se machuca, e apanha muito quando luta com vários oponentes. Um ponto positivo foi a escolha do vilão, que desta vez não é o coringa, mas sim, Oswald Cobblepot, um temível pinguim, bem diferente daquela figura caricata que estamos acostumados nos quadrinhos.

Para aqueles que conhecem a história de Batman, é muito legal tentar identificar os personagens do cânone original e acompanhar sua nova função nesta reinvenção do mito do homem-morcego. Ponto também para o desenhista Gary Frank, que desenha um Batman com algumas características interessantes que já estamos acostumados a ver no cinema, mas que não tinha visto ainda em um quadrinho, que são os olhos visíveis sob a máscara ao invés de uma lente totalmente branca como o usual.

História sensacional que pode ser lida de um só fôlego, Batman – Terra Um foi lançado em Dezembro de 2013 e pode ser encontrado em qualquer banca de jornal, em edição de capa dura e papel especial, por apenas R$ 21,90. Vida longa à Panini no Brasil!




quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Vou chamar a polícia e outras histórias de terapia e literatura

Vou chamar a polícia e outras histórias de terapia e literatura (Agir, 2009) é um livro do psicoterapeuta e escritor Irvin D. Yalom, autor dos famosos romances best-sellers Quando Nietzsche Chorou e A Cura de Schopenhauer, que mesclam filosofia, psicologia e biografia histórica. Neste livro ele apresenta cinco textos onde descreve a influência das grandes obras da literatura universal sobre suas atividades de terapeuta e escritor, e o processo de criação de alguns de seus livros.

Em Vou chamar a polícia, que dá nome ao livro e foi escrito em coautoria com seu amigo e cirurgião cardíaco Robert L. Berger, ele fala sobre uma habilidade do cérebro que sempre me fascinou, que é a capacidade de guardar memórias em pontos inacessíveis ao consciente e conseguir resgatá-las após uma experiência sensorial como um cheiro, ouvir uma música, ver uma foto ou um quadro, entre outras. Acompanhamos o relato de Berger, cirurgião bem sucedido e viciado em trabalho mesmo após a aposentadoria, sobre como um incidente no aeroporto de Caracas, na Venezuela, em que ele se salvou de um sequestro ao chamar a polícia, trouxe de volta à tona uma experiência de sua adolescência, quando fazia parte da resistência contra o nazismo na Hungria. Nesta lembrança traumática há muito esquecida, ele foi capturado junto com um casal de idosos judeus por um miliciano nazista e foi salvo de forma similar após chamar um policial, mas mesmo conseguindo se salvar, não conseguiu salvar o casal. Yalom postula então que esta experiência teria sido fundamental na escolha de Berger pela medicina, como forma de se redimir salvando centenas de pessoas; inconscientemente tentando compensar a horrível morte do casal.

Irvin D. Yalom
O segundo texto, A literatura instrumentando a psicologia, fala sobre a influência da literatura no trabalho do autor como psicoterapeuta e em seus textos acadêmicos. Ele usa Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho, de Lewis Caroll, para falar sobre isolamento; Amor e Liberdade, no romance A Queda, de Albert Camus; A transferência, no monumental romance Guerra e Paz, de Leon Tolstói; Angústia, na peça As Moscas, de Jean-Paul Sartre; e Tomada de Decisão, na obra Grendel, de John Gardner. O autor defende a tese de que os primeiros psicólogos foram os grandes romancistas da literatura, pioneiros em desvendar a natureza humana.

O terceiro texto, A viagem da psicoterapia à ficção, fala sobre os bastidores de seu processo criativo e a relação entre sua atividade de psicoterapeuta e a literatura. Acompanhamos a interessante história por trás do livro Every Day Gets a Little Closer: A Twice-told Therapy, escrito em coautoria com sua paciente Ginny Elkin (pseudônimo), que é uma compilação dos relatos escritos pelo terapeuta e pela paciente descrevendo cada um sua versão sobre cada sessão de terapia. Foi uma maneira criativa de ajudar sua paciente Ginny, uma mulher insegura e aspirante a escritora que sofria de um forte bloqueio criativo, e ainda estimular o próprio Yalom a começar sua própria carreira literária.
Também ficamos sabendo como foi escrito outro sucesso de Yalom, O Carrasco do Amor, que é uma coletânea de dez contos inspirados em histórias reais de pacientes tratados por ele e que reproduzem aspectos da psicoterapia. Ele descreve os quatro dados que considera relevantes para a psicoterapia e que também são relevantes na literatura:

Descobri que quatro dados são particularmente relevantes para a psicoterapia: a inevitabilidade da morte para cada um de nós e para aqueles que amamos, a liberdade de viver como desejamos, nossa condição fundamental de solidão e, finalmente, a ausência de qualquer significado ou sentido óbvio para a vida. Embora esses dados possam parecer terríveis, eles contém as sementes da sabedoria e da redenção. Espero demonstrar nestes dez contos sobre psicoterapia, que é possível enfrentar as verdades da existência e aproveitar o seu poder para a mudança e o crescimento pessoais.

Somos agraciados com um destes contos, Se o Estupro fosse legal..., sobre um homem com câncer em estágio terminal que se mostra uma pessoa detestável com sua obsessão por sexo e seu desprezo pelas pessoas e seus sentimentos. Odiado pelos outros membros de seu grupo de terapia, tem sua vida mudada em uma sessão de terapia individual após uma reviravolta em que percebemos que ele não é uma pessoa tão desprezível assim. Este livro já entrou para a minha lista de leituras futuras!

No quarto texto, O Romance Pedagógico, ele descreve o processo de criação de seu livro mais famoso, Quando Nietzsche Chorou, em que faz uma abordagem existencial da psicoterapia utilizando-se da filosofia e de personagens históricos reais como Josef Breuer, Sigmund Freud, Lou Andreas-Salomé e o próprio Friedrich Nietzsche. Neste livro ele novamente aborda alguns de seus temas favoritos, que são a relação terapeuta-paciente, mostrando como ambos podem se beneficiar nas sessões de terapia; e a inversão dos papéis, onde o do paciente ajuda a curar o terapeuta, que como qualquer ser humano, também tem seus problemas existenciais. Nesta história ele também especula se as ideias de Freud não teriam sido influenciadas pelos textos de Nietzsche. Estes foram contemporâneos mas não há registros de que tenham se encontrado. Ele fala aqui da ideia de Nietzsche do super-homem, que é aquele que não teme a verdade e vive de acordo com ela, por mais dolorosa que seja; aquele que vive a vida mesmo que esta não tenha sentido, e acredita que esta é a melhor vida por ser a única que temos e teremos. Outra ideia central na filosofia de Nietzsche é o eterno retorno, um experimento mental onde imaginamos um universo infinito de tempo e possibilidades onde tudo poderia se repetir infinitas vezes. Segundo esta ideia, devemos viver a vida de maneira em que caso tivéssemos a oportunidade de viver a mesma vida infinitas vezes, viveríamos da mesma forma sem se arrepender de nada.

O romance psicológico, quinto e último texto do livro, fala sobre a criação do livro Mentiras no Divã, onde discute os limites éticos da psicoterapia e a relação entre o terapeuta e o paciente. Ele discute a questão da transparência e a interação entre o terapeuta e se este deve ser impessoal ou mais aberto. Surgem ainda questões sobre pagamento, amor e amizade. A dupla vida de terapeuta e romancista de Yalom é responsável por um de seus maiores temores, que é o seu medo que confundam seu trabalho acadêmico com sua ficção. Alguns críticos já o acusaram em resenhas e críticas que sua obra de ficção não seria ficção, mas sim, meros relatos de situações vividas em seu consultório.
O livro Mentiras no Divã é uma ficção sobre os limites éticos da terapia e sobre a onda de processos de pacientes contra terapeutas nos Estados Unidos. Ao final temos o prólogo deste livro onde o protagonista, Dr. Ernest Lash, um médico recém saído da residência e atuando em pesquisas de neuroquímica, relembra seu início de carreira, quando foi nomeado para o Comitê de Ética Médica do hospital onde trabalhava e teve que participar de uma ação disciplinar contra o Dr. Seymour Trotter, um idoso de 71 anos, renomado patriarca da comunidade psiquiátrica e ex-presidente da Associação Americana de Psiquiatria, acusado de má conduta sexual por uma paciente de 32 anos. O idoso médico, ao utilizar métodos nada ortodoxos para tentar curar sua paciente, se vê comprometido com uma promessa que pode acabar com sua carreira e seu casamento. A picante história do Dr. Trotter revela a verdadeira vocação do protagonista, que é a psicoterapia.


Um excelente livro para aqueles que se interessam por literatura e o processo de criação literária, e também para aqueles que se interessam por psicologia, psiquiatria e filosofia. Para quem não conhece Irvin D. Yalom, é uma interessante introdução aos seus principais livros. Quase todos os livros apresentados tem tradução para o português e podem ser encontrados facilmente nas livrarias.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

The Road Not Taken, by Robert Frost

The Road Not Taken é o poema mais famoso do grande poeta norte-americano Robert Frost (1874 – 1963), que fala sobre as escolhas que fazemos e como elas poderão repercutir em nossas vidas. Conheci este poema através de um cartoon do sensacional Blog Zen Pencils, que você pode ver aqui. 







The Road Not Taken, by Robert Frost
Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim
Because it was grassy and wanted wear,
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I,
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.


A Estrada Não Trilhada
Duas estradas divergiam em uma floresta no outono,
E infelizmente não poderia trilhar ambas.
E sendo apenas um viajante, por um tempo me detive
E olhei por uma delas abaixo o mais distante que pude
Por onde ela dobrava entre os arbustos;

Então tomei a outra, pois dava no mesmo,
E talvez tendo ela algum um atrativo melhor
Pois era mais verde e queria ser trilhada,
Embora aquele que tivesse passado por lá
A tivesse marcado da mesma forma,

E ambas naquela manhã estavam igualmente cobertas
De folhas que nenhum passo marcara.
Oh, me mantive na primeira no outro dia!
E mesmo sabendo como um caminho leva a outro
Duvidei se algum dia eu deveria voltar.

Eu deveria dizer isto com um suspiro
Em algum lugar muito, muito tempo desde então:
Duas estradas divergiam em uma floresta, e eu,
Segui pela menos trilhada,
E isto fez toda a diferença.



Neste vídeo do professor Kevin Murphy, do Ithaca College, temos uma aula sobre a vida e a obra do poeta Robert Frost, e uma interpretação diferente para seu famoso poema.




sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Californication

Californication é uma série de televisão do canal Showtime estrelada por David Duchovny (o Agente Fox Mulder da cultuada série Arquivo X), que interpreta Hank Moody, um escritor mulherengo que sofre com um persistente bloqueio criativo após a separação de sua mulher, Karen (Natascha McElhone), e uma malfadada adaptação de seu romance best-seller e sucesso de crítica God Hates Us All, que é transformado em uma comédia romântica. São capítulos de curta duração (apenas vinte e oito minutos) que seguem uma estrutura fixa em três fases, começando com sexo, drogas e Rock and Rolll, passando para a comédia e terminando em drama. A série é um sucesso de crítica e ganhou dois Prêmios Emmy e um Globo de Ouro para David Duchovny como melhor ator no ano de 2008.

Hank Moody é o estereótipo do sonho masculino de ser o cara irresistível para as mulheres e vai para a cama com praticamente com todas que aparecem na série, mas não consegue conquistar a única que realmente deseja, que é sua ex-esposa Karen, com que tem uma filha adolescente, Becca (Madeleine Martin). Seu outro problema é o bloqueio criativo, que vem o impedindo de escrever há muito tempo e que está deixando louco seu agente literário e melhor amigo, Charlie Runkle (Evan Handler), personagem que protagoniza as cenas mais hilárias de toda a série e que é casado com Marcy (Pamela Adlon).

No primeiro arco da série, Hank Moody é seduzido e vai para a cama com a bela jovem Mia Lewis (Madeline Zima) que mais tarde ele descobre ser uma adolescente de dezesseis anos. Para piorar ele descobre que ela é a filha de seu rival Bill Lewis (Damian Young), um homem maduro, bem sucedido e de personalidade correta, que é o seu oposto e está de casamento marcado com Karen. Este caso terá graves repercussões para a vida de Hank no decorrer da série. Acompanhamos também sua luta para ser um bom pai para sua filha adolescente que começa seus anos de revolta e despertar sexual.

Apesar da putaria e do uso indiscriminado de drogas pelos personagens (incluindo adolescentes!), gosto muito da série e não acho que ela seja uma pornografia sem sentido e inversão dos valores como muitos acham. Há uma insatisfação com a vida conjugal e um desprezo pela vida regrada, com os personagens sempre em busca da liberdade através do sexo sem compromisso e o uso de drogas. Mas em Californication esses atos quase sempre tem consequências graves e a tão sonhada liberdade cobra sempre seu alto preço, e invariavelmente, eles sempre retornam enfraquecidos ao ponto de partida. Fica a lição de que na maioria das vezes a verdadeira felicidade é estar junto daqueles que realmente nos amam, e de que isto não é uma prisão.


Infelizmente a sétima temporada, que irá ao ar nos Estados Unidos em abril de 2014, será a última. Aqui no Brasil você encontra à venda as primeiras cinco temporadas e a série pode ser vista no canal I.Sat e chegou a passar também no SBT.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sandman – Vidas Breves

No sétimo volume da série, Sandman - Vidas Breves (Conrad, 2007), escrito por Neil Gaiman e desenhado por Jill Thompson, somos apresentados à irmã mais nova de Morpheus, Delírio, que procura vários de seus irmãos perpétuos a fim de ajudá-la a encontrar seu irmão favorito, Destruição, que não é visto há mais de 300 anos. Um relutante Morpheus decide acompanhar Delírio e no caminho encontramos deuses esquecidos e os antigos, humanos imortais que estão vivos desde a aurora dos tempos e que começam a morrer de forma misteriosa em acidentes inexplicáveis durante a busca.

Uma coisa legal deste volume é que conhecemos mais os perpétuos, que têm um mais papel central na história, destaque para os diálogos loucos de Delírio e o sempre não confiável Desejo. Muito bom também é o cachorro falante de Destruição, Barnabé, com seu humor negro e frases cáusticas.

Mas o personagem que mais me fascinou nesta história foi Desespero, cujo reino é uma constante tarde nublada e gélida com névoa cobrindo todo o solo infestado de ratos, com milhares de janelas mostrando cenas desesperadoras em todo o universo. Veja a narração de Desespero para Delírio de uma cena repugnante vista de uma das janelas:

(Delírio) – Quem é esse?
(Desespero) – Gerente de supermercado no Nebraska. Ontem sua esposa descobriu uma coleção de fotos pornográficas na garagem. A maioria mostrava criancinhas envolvidas em vários atos sexuais com adultos. Ela reconheceu o marido e a sobrinha de 5 anos. A mulher foi embora e levou as fotos. Ele teme que já estejam com a polícia. Agora, ele está na sala de estar. Sabe que sua vida terminou e se pergunta se tem coragem para acabar de vez com ela. Não tem. Não é lindo?
(Delírio) – É legal. Acho. Pra quem curte essas coisas.




Neste volume também acontece o encontro final entre Morpheus e a cabeça de seu filho Orfeu, que terá sérias repercussões no fim da série. Termino mostrando abaixo como seria minha visão de uma das janelas do reino de desespero, que pra mim seria uma televisão ligada em uma tarde de sábado ou domingo no Brasil.


É ou não é desesperador?



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Toda água da Terra

Esta interessante imagem retirada do site do U.S. Geological Survey (USGS) mostra três esferas azuis que representam toda água do planeta Terra:



1) A Terra tem 12.756,2 Km na linha do equador;
2) A esfera maior tem cerca de 1.400 Km e representa toda água do planeta, presente nos mares, geleiras, lagos, rios, pântanos, subterrânea e em forma de vapor no ar;
3) A esfera bem menor à direita tem cerca de 270 Km de diâmetro e representa toda água doce do planeta, incluindo aí as geleiras, lagos, rios, pântanos e a água subterrânea, sendo que a maior parte desta está inacessível devido à profundidade em que se encontra;
4) A esfera menor logo abaixo tem apenas 64 Km e representa toda água na superfície, presente nos lagos, rios e pântanos, está sim disponível para a humanidade, incluindo aí uma boa parte daquela que poluímos e tornamos imprópria para o uso.

Uma das coisas que mais me irritam em filmes de ficção científica são aqueles alienígenas hostis que invadem a Terra em busca de água. A água é uma molécula bem comum no universo e no sistema solar existem vários locais com mais água que a Terra, como por exemplo a lua Europa, de Júpiter, e a Lua Titã, de Saturno, sem contar outras luas e os bilhões detritos espalhados por todo o Sistema Solar Exterior e Nuvem de Oort.




Mas infelizmente toda esta água ainda está indisponível para a humanidade, então, toda vez que você for lavar a louça com a torneira aberta, lavar o carro com uma mangueira ou tomar aquele banho de mais de meia hora, veja a imagem do início e reflita bem sobre o planeta que deixaremos para os nossos descendentes

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Pálido ponto azul

Um dos vídeos mais famosos da internet é o vídeo Nós estamos aqui: O Pálido ponto azul, que é uma montagem de fotografias, cenas de diversos filmes e a leitura de alguns trechos de Você está aqui, primeiro capítulo do fantástico livro Pálido Ponto Azul (Companhia das Letras, 1996), do cientista e divulgador da ciência Carl Sagan. Neste capítulo do livro, Sagan fala um pouco dos bastidores da NASA durante os preparativos para a série de 60 fotografias que a sonda espacial Voyager 1 tirou dos planetas do sistema solar a distância de cerca de 6 bilhões de quilômetros da terra, que ficou conhecida como “Foto de Família”. Falecido em 1996, ele é o autor dos livros de divulgação científica O Mundo Assombrado Pelos Demônios, Os Dragões do Éden, O Romance da Ciência, Bilhões e Bilhões, Cosmos, Pálido Ponto Azul, Cérebro de Broca, Variedades da Experiência Científica, do romance de ficção científica Contato, que virou o filme de mesmo nome estrelando Jodie Foster, e do sensacional documentário Cosmos

Terra vista da órbita de Saturno pela sonda Cassini
No belíssimo vídeo, temos uma lição de humildade para todos os seres humanos sobre nosso verdadeiro lugar no universo e como nossas preocupações parecem pequenas sob a perspectiva cósmica. Sempre me entristeceu muito olhar para um planisfério ou para um globo terrestre, com as divisões políticas em países formando uma colcha de retalhos coloridos sobre os continentes do planeta, e que parece tão sem sentido quando observamos uma fotografia da terra vista do espaço. Estas divisões parecem ainda mais absurdas quando vemos uma fotografia da Terra a bilhões de quilômetros, de onde ela é apenas um pontinho azul que mal percebemos. Ver as coisas sobre esta perspectiva é cada vez mais importante nos dias de hoje, onde problemas ambientais ultrapassam as fronteiras e põem em risco o futuro da vida no planeta, incluindo todos os seres humanos, seja de que nação pertencerem.


Olhem de novo para o ponto. É ali. É a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto, todos aqueles que amamos, que conhecemos, de quem já ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas. Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as inúmeras religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos os inventores e exploradores, professores de moral, políticos corruptos, “superastros”, “lideres supremos”, todos os santos e pecadores da história da nossa espécie, ali – num grão de poeira suspenso num raio de sol.



A viagem das sondas Voyager 1 e 2 foi um dos projetos mais ambiciosos e bem sucedidos da NASA, comparável ao pouso das naves Apolo na Lua e ao telescópio Espacial Hubble. Aproveitando-se de um raro alinhamento planetário, estas duas naves visitaram todos os planetas do sistema solar exterior, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e suas dezenas de luas, e enviam dados dos limites do Sistema Solar até hoje, mais de 30 anos após o lançamento. Segue abaixo o capítulo inteiro do livro, com a adição de algumas fotografias:

VOCÊ ESTA AQUI

A Terra inteira é somente um ponto, e o lugar de nossa habitação, apenas um canto minúsculo desse ponto.
MARCO AURÉLIO, IMPERADOR ROMANO, MEDITAÇÕES, LIVRO 4 (170 d.c.)

Como os astrônomos são unânimes em explicar, o circuito de toda a Terra, que nos parece infinito comparado com a grandeza do Universo, assemelha-se a um ponto diminuto.
AMMIANUS MARCELLINUS (330-395 d.c.)
O ÚLTIMO GRANDE HISTORIADOR ROMANO EM A CRÔNICA DOS ACONTECIMENTOS.

A nave espacial estava muito distante de casa, além da órbita do planeta mais afastado e bem acima do plano da eclíptica – que é uma superfície plana imaginária que podemos visualizar como uma pista de corrida onde as órbitas dos planetas ficam principalmente confinadas. A nave afastava-se aceleradamente do Sol a 60 mil quilômetros por hora. Mas, no início de fevereiro de 1990, foi alcançada por uma mensagem urgente da Terra.
Obedientemente, redirecionou suas câmeras para os já distantes planetas. Girando sua plataforma de varredura de um ponto a outro no espaço, tirou sessenta fotografias e as armazenou sob forma digital em seu gravador. Depois, lentamente, em março, abril e maio, radiotransmitiu os dados pra a Terra. Cada imagem era composta de 640 mil elementos individuais (“pixels"), como os pontos em uma fotografia de jornal transmitida por telégrafo ou em uma pintura pontilhista. A nave espacial estava a 6 bilhões de quilômetros da Terra, tão distante que cada pixel levava cinco horas e meia, viajando à velocidade da luz, para chegar até nós. As fotos poderiam ter sido enviadas mais cedo, mas os grandes radiotelescópios na Califórnia, na Espanha e na Austrália, que recebem esses sussurros da orla do Sistema Solar, tinham responsabilidades para com outras naves que transitam pelo mar espacial – entre elas, Magellan, rumo a Vênus, e Galileo, em sua travessia tortuosa por Júpiter.
A Voyager 1 estava tão acima do plano da eclíptica porque, em 1981, passara muito perto de Titã, a lua gigantesca de Saturno. Sua nave irmã, a Voyager 2, fora enviada numa trajetória diferente dentro do plano da eclíptica e, por isso, pudera realizar as célebres explorações de Urano e Netuno. Os dois robôs Voyager exploraram quatro planetas e quase sessenta luas. São triunfos da engenharia humana e uma das glórias do programa espacial norte-americano. Ainda estarão nos livros de história, quando muitos outros dados sobre nossa época já tiveram caído no esquecimento.
O funcionamento das Voyager só estava garantido até o encontro com Saturno. Achei que seria uma boa idéia, logo depois de Saturno, que elas lançassem um último olha para casa. Eu sabia que, vista a partir de Saturno, a Terra pareceria demasiado pequena para que a Voyager distinguisse algum detalhe. O nosso planeta seria apenas um ponto de luz, um pixel solitário, mal distinguível dos muitos outros pontos de luz que a Voyager podia divisar, planetas próximos e sóis distantes. Mas, justamente por causa da obscuridade de nosso mundo assim revelado, valeria a pena ter a fotografia.
Os marinheiros fizeram um levantamento meticuloso das costas litorâneas dos continentes. Os geógrafos traduziram essas descobertas em mapas e globos. Fotografias de pequenos fragmentos da Terra foram tiradas, primeiro por balões e aviões, depois por foguetes em vôos balísticos curtos e, finalmente, por naves espaciais em órbita – gerando uma perspectiva similar à que obtemos quando posicionamos o globo ocular uns três centímetros acima de uma grande esfera. Embora quase todo mundo aprenda que a Terra é um globo ao qual estamos, de certa forma, presos pela gravidade, a realidade de nossa circunstância só começou, de fato, a penetrar em nosso entendimento com a famosa fotografia Apollo 17 na última viagem de seres humanos à Lua.
Ela se tornou uma espécie de ícone da nossa era. Ali está a Antártida, que norte-americanos e europeus consideram a parte extrema da Terra, e toda a África estirando-se acima dela: vemos a Etiópia, a Tanzânia e o Quênia, onde viveram os primeiros seres humanos. No alto, à direita, estão a Arábia Saudita e o que os europeus chamam Oriente Médio. Mal e mal espiando no topo, está o mar Mediterrâneo, ao redor do qual surgiu uma parte tão grande de nossa civilização global. Podemos distinguir o azul do oceano, o amarelo-ocre do Saara e do deserto árabe, o castanho-esverdeado da floresta e dos prados.
Não há, entretanto, sinal de seres humanos na fotografia, nem de nosso reelaboração da superfície da Terra, nem de nossas máquinas, nem de nós mesmos: somos demasiado pequenos e nossa política é demasiado fraca para sermos vistos por uma nave espacial entre a Terra e a Lua. Desse ponto de observação, nossa obsessão com o nacionalismo não aparece em lugar algum. As fotografias Apollo da Terra inteira transmitiram às multidões algo bem conhecidos dos astrônomos: na escala de mundos – para não falar da escala de estrelas ou galáxias – os seres humanos são insignificantes, uma película fina de vida sobre um bloco obscuro e solitário de rocha e metal.
Parecia-me que outra fotografia da Terra, tirada de um ponto de centenas de milhares de vezes mais distantes, poderia ajudar no processo continuo de revelar-nos nossa verdadeira circunstância e condição. Os cientistas e filósofos da Antigüidade clássica tinham compreendido muito bem que a Terra era um simples ponto num vasto cosmo circundante, mas ninguém jamais a vira nessa condição. Era a nossa primeira oportunidade (e também a última em várias décadas).
Muitos membros do Projeto Voyage da NASA deram o seu apoio. Vista a partir da orla do Sistema Solar, porém, a Terra fica muito perto do Sol, como uma mariposa enfeitiçada ao voar ao redor de uma chama. Apontaríamos a câmera para tão perto do Sol, a ponto de correr o risco de queimar o sistema vidicon da nave espacial? Não seria melhor esperar ate que fossem obtidas todas as imagens cientificas de Urano e Netuno, se a nave espacial chegasse a durar tanto tempo?
E assim, esperamos – o que foi bom – de 1981, em Saturno, a 1986, em Urano, e a 1989, quando as duas naves espaciais já tinham passado das órbitas de Netuno e Plutão. Por fim, chegou a hora. Havia, porém, algumas calibrações instrumentais a serem feitas primeiro, e esperamos um pouco mais. Embora a nave espacial estivesse nos lugares certos, os instrumentos ainda funcionassem maravilhosamente, e não houvesse outras fotografias a serem tiradas, alguns membros do projeto se opuseram. Não era ciência, diziam. Descobrimos, então, que, numa NASA em dificuldades financeiras, os técnicos que projetavam e transmitiam os comandos de rádio para a Voyager estavam para ser dispensados imediatamente ou transferidos para outras tarefas. Se quiséssemos tirar a fotografia, tinha de ser naquele momento. No último minuto – na verdade, no meio do encontro da Voyager 2 com Netuno – o então administrador da NASA, contra-almirante Richard Truly, interveio e garantiu que as imagens fossem obtidas. Os cientistas espaciais Candy Hansen, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA (JPL), e Carolyn Porco, da Universidade do Arizona, projetaram a seqüência de comandos e calcularam os tempos de exposição da câmera.
Assim, aqui estão elas – um mosaico de quadrados dispostos sobre os planetas e uma coleção heterogênea de estrelas mais distantes ao fundo. Não só conseguimos fotografar a Terra, mas também outros cinco dos nove planetas conhecidos que giram em torno do Sol. No brilho deste, perdeu-se Mercúrio, o mais próximo. Marte e Plutão eram demasiado distantes. Urano e Netuno são tão indistintos que, para registrar a sua presença, foram necessárias longas exposições; conseqüentemente, devido ao movimento da nave espacial, suas imagens não ficaram nítidas. Essa seria a imagem eu os planetas ofereceriam a uma espaçonave alienígena que se aproximasse do Sistema Solar depois de uma longa viagem interestelar.


A partir dessa distância, os planetas parecem apenas pontos de luz, nítidos ou não – mesmo através do telescópio de alta resolução a bordo da Voyager. São como os planetas vistos a olho nu da superfície da Terra; pontos luminosos, mais brilhantes que a maioria das estrelas. Durante um período de meses, a Terra, como os outros planetas, pareceria mover-se entre as estrelas. Olhando simplesmente para um desses pontos, não se pode dizer como ele é, o que existe na sua superfície, qual foi seu passado e se, neste momento em particular, alguém vive ali.
Devido ao reflexo da luz do Sol na nave espacial, a Terra parece estar pousada num raio de luz, como se nosso pequeno mundo tivesse um significado especial. Mas é apenas um acidente de geometria e óptica. O Sol emite sua radiação eqüitativamente em todas as direções. Se a foto tivesse sido tirada um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde, nenhum raio de sol teria dado mais luz à Terra.
E por que essa cor cerúlea? O azul provém em parte do mar, em parte do céu. Embora transparente, a água em copo absorve um pouco mais de luz vermelha que de azul. Quando se tem dezenas de metros da substância ou mais, a luz vermelha é totalmente absorvida e o que se reflete no espaço é sobretudo o azul. Da mesma forma, o ar parece perfeitamente transparente num pequeno campo de visão. Ainda assim – algo que Leonardo da Vinci era mestre em pintar – quando mais distante o objeto, mas azul ele parece ser. Por quê? O ar dispersa muito melhora a luz azul do que a vermelha. O matiz azulado, portando, provém da atmosfera espessa, mas transparente, da Terra e de seus oceanos profundos e líquidos. E o branco? Em um dia normal, a Terra tem quase metade de sua superfície coberta por nuvens brancas de água.
Nós podemos explicar o azul-pálido desse pequeno mundo porque conhecemos muito bem. Se um cientista extraterrestre, recém chegado às imediações do nosso Sistema Solar, poderia fidedignamente inferir oceanos, nuvens e uma atmosfera espessa, já não é tão certo. Netuno, por exemplo, é azul, mas por razões inteiramente diferentes. Desse ponto de observação, a Terra talvez não apresentasse nenhum interesse especial.
Para nós, no entanto, ela é diferente. Olhem de novo para o ponto. É ali. É a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto, todos aqueles que amamos, que conhecemos, de quem já ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas. Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as inúmeras religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos os inventores e exploradores, professores de moral, políticos corruptos, “superastros”, “lideres supremos”, todos os santos e pecadores da história da nossa espécie, ali – num grão de poeira suspenso num raio de sol.
A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, na glória do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração desse ponto. Pesem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os habitantes mal distinguíveis de algum outro canto, em seus freqüentes conflitos, em sua ânsia de recíproca destruição, em seus ódios ardentes.
Nossas atitudes, nossa pretensa importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, tudo é posto em dúvida por esse ponto de luz pálida. O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, em meio a toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos.
A Terra é, até agora, o único mundo conhecido que abriga a vida. Não há nenhum outro lugar, ao menos no futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Goste-se ou não, no momento a Terra é o nosso posto.

Tem-se dito que a astronomia é uma experiência que forma o caráter e ensina humildade. Talvez não exista melhor comprovação da loucura das vaidades humanas do que esta distante imagem de nosso mundo minúsculo. Para min, ela sublinha a responsabilidade de nos relacionarmos mais bondosamente uns com os outros e de preservarmos e amarmos o pálido ponto azul, o único lar que conhecemos.

Planetas Vênus, Terra e Marte vistos da órbita de Saturno pela sonda Cassini.