quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Ciência, esta incompreendida


Vivemos numa época em que a ciência e a tecnologia tornaram o mundo pequeno. Nossa compreensão da natureza e a expectativa de vida atingiram níveis nunca sonhados na história da humanidade. Pessoas de diferentes partes do mundo estão agora conectadas de forma instantânea e as ideias podem ser compartilhadas sem esforço. O homem conquistou cada recanto do planeta, sejam as montanhas mais altas, as grandes florestas tropicais, os desertos, as vastidões geladas dos polos e até as profundezas abissais dos oceanos. Temos um posto avançado com tripulação permanente em órbita da Terra, que é a Estação Espacial Internacional, já fomos à Lua, enviamos sondas robóticas que exploraram cada planeta do Sistema Solar e suas luas. Nas próximas décadas chegaremos à Marte e já vislumbramos formas de alcançar as estrelas inimaginavelmente distantes. Mas apesar de todas estas espetaculares realizações da vontade, da coragem e do intelecto humanos, a ciência, nossa principal ferramenta nestas conquistas, ainda sofre ataques e é vista com desconfiança por boa parte das pessoas.

Mais do que nunca, o fanatismo religioso, as superstições, seitas, crenças fantásticas, curas milagrosas, teorias da conspiração e pseudociências, ganham espaço. Fico abismado com a quantidade de pessoas (muitas delas inteligentes e instruídas) que acreditam em coisas como horóscopo, experiências fora do corpo, alienígenas ajudando civilizações antigas, curas quânticas e outros absurdos sem qualquer base na realidade (quando acreditam que exista uma realidade!). Sou um entusiasta da ciência, ainda que leigo, e muitas vezes, quando converso com amigos e tento contrapor algumas destas crenças com as teorias científicas bem estabelecidas, frequentemente ouço coisas como “mas são só teorias”, “isto é o que diz a ciência tradicional”, “isto é o que diz o pensamento cartesiano” e até mesmo “a ciência nunca conseguirá explicar isto”, finalizando com “você tem que manter a mente aberta”. Cheguei à conclusão que estas afirmações são consequência de um desconhecimento em relação ao uso correto do termo “teoria” e da adesão exagerada à ideia de “manter a mente aberta”.

A palavra teoria costuma ser muito confundida com hipótese, ou pior ainda, com palpite. Mas quando se fala em teoria, cientificamente falando, trata-se de um enunciado ou um conjunto de enunciados que tentam explicar a ocorrência de um fenômeno natural, que foram postos à prova repetidas vezes através de experiências em ambientes controlados realizadas por diferentes pessoas ao redor do mundo e que podem ser reproduzidas por quem quiser e interessar. São hipóteses que foram testadas exaustivamente e são amplamente aceitas pelos especialistas da área e que às vezes recebem até mesmo a denominação de “lei”, como por exemplo a lei da gravidade. Mas mesmo as teorias mais sólidas não são tratadas como verdades absolutas. Apesar das pedras sempre caírem em direção ao solo quando as soltamos, se algum dia alguém soltar uma pedra e ela flutuar, e esta experiência puder ser reproduzida em um ambiente controlado, as teorias que explicam a gravidade terão que ser revistas e uma nova e aperfeiçoada teoria da gravidade será proposta. Abandonar uma teoria equivocada e substituí-la por uma outra mais próxima da realidade do fenômeno que se quer explicar, não pode ser considerada uma fraqueza do método científico, mas sim, sua força, já que desta forma a ciência se aperfeiçoa e suas bases se tornam cada vez mais sólidas.

Método científico: Como nasce uma teoria.

Uma outra forma muito utilizada para se tentar justificar as crenças mais absurdas é a ideia de que devemos manter “a mente aberta para todas as possibilidades”. Vem do fato que na história da ciência, várias hipóteses tidas como absurdas em determinada época se tornaram as ideias mais aceitas no futuro, como aconteceu por exemplo quando a Teoria da Relatividade de Einstein substituiu a Gravitação Universal de Newton como explicação mais precisa para a gravidade, entre diversos outros exemplos. Quem usa este raciocínio deixa de observar duas coisas: 1) Para cada hipótese controversa que posteriormente se tornou aceita e revolucionou nosso conhecimento do universo, existem milhares que se provaram ser realmente falsas; 2) Hipóteses controversas que revolucionaram nosso conhecimento do universo foram postuladas por pessoas que conheciam muito bem as teorias estabelecidas na época e que provaram seus pontos de vista junto a seus pares utilizando-se do método científico.
É claro que devemos manter a mente aberta para novas ideias e conceitos, mas sempre tomando muito cuidado com a origem da informação e a intenção de quem a transmite, para não nos tornarmos vítimas de charlatões que agem de má fé ou passar desinformação adiante por pura ignorância. Para isso, um pouco de ceticismo e a compreensão do que é realmente o método científico são fundamentais. Existe uma frase que é atribuída ao grande astrônomo e divulgador da ciência Carl Sagan: “Devemos manter nossas mentes abertas, mas não a ponto de deixar que o cérebro caia pela abertura.”

Um comentário:

  1. Os que possuem cérebros pequenos têm razão em ter medo de abrir a mente. O cérebro pode cair pela abertura.

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