quarta-feira, 30 de outubro de 2013

El Científico Curioso

El Científico Curioso (Booket, 2008), do espanhol Francisco Mora, doutor em medicina e neurociências e catedrático em fisiologia humana, é uma coletânea de pequenos artigos sobre o cérebro para o público leigo, apresentando algumas das últimas descobertas, várias curiosidades e algumas possibilidades abertas em outras áreas do conhecimento humano pela neurociência. Quando lemos as boas obras disponíveis para o público leigo de autores como Francisco Mora, Steven Pinker e do brasileiro Miguel Nicolelis, descobrimos que nossa compreensão do cérebro avançou muito (muito mais do que eu imaginava!) e que apesar de ainda restarem perguntas sem resposta, estas não estão no domínio do sobrenatural e são uma questão de tempo e muita pesquisa séria.
Confesso que não tinha muito interesse nos estudos sobre o cérebro humano. Nos noticiários da TV, jornais, internet, livros de autoajuda ou através dos gurus da New Age, somos bombardeados por afirmações absurdas e contraditórias feitas por pseudoespecialistas sobre o poder do cérebro e como ele molda a realidade, como aumentar nossa inteligência, o poder do pensamento positivo, telepatia, etc., que dão uma aura de mistério impenetrável sobre o assunto. Como toda especialidade na vanguarda da ciência, caso da neurociência, as notícias sobre esta área são infestadas de mitos e pseudociência, que se aproveitam de algumas lacunas no conhecimento científico para justificar ideias absurdas, seja por pura ignorância ou má fé de quem quer lucrar enganando as pessoas. Mas o que realmente sabe a ciência sobre o cérebro?
Este é um livro que desmistifica o cérebro e fala da importância crescente da neurociência em ramos aparentemente sem conexão com ela, como economia, publicidade, ética e política. Nestas áreas o autor vislumbra uma união com a neurociência que criará novos ramos como a neuroeconomia, neuropublicidade, neuroética e neuropolítica. O conhecimento do cérebro será fundamental para as ciências humanas do futuro, pois explica nuances do comportamento humano e cada vez mais permite previsões confiáveis sobre o que esperar das pessoas. Ficamos sabendo ainda que muitos fenômenos tidos como experiências místicas, como os relatos de pessoas que afirmam ter levitado fora do corpo, ou passado por experiências pós-morte, abandono do eu, déjà vu, entre outras, longe de serem sobrenaturais, tem explicações sólidas por parte da neurociência e são meramente resultado da atividade cerebral.
Outros assuntos abordados pelo autor são a questão do envelhecimento e suas consequências sobre o cérebro, doenças neurodegenerativas, como manter o cérebro saudável por muito mais anos através do exercício de atividades intelectuais como a leitura e o aprendizado de outras línguas, algumas diferenças fisiológicas entre o corpo do homem e da mulher e suas consequências sobre o comportamento humano, genética e outros. Muito interessantes também são os artigos sobre o fenômenos da consciência e da inteligência e se estas são exclusivas dos seres humanos ou ocorrem também nos cérebros dos animais como cães, golfinhos, chipanzés e bonobos e se eles tem a capacidade de comunicação com os seres humanos através da linguagem.
Este livro é para aqueles que querem entender um pouco sobre o funcionamento deste órgão maravilhoso que é o nosso cérebro, de uma forma leve e afastada dos mitos que gravitam em torno do assunto. Não agradará a todos, pois sempre existirão aqueles que se satisfazem com falsos mistérios e dão de ombros para o conhecimento quando este vai de encontro com suas crenças. Afinal, é como nos diz o autor:

Ninguém, nenhum ser humano, pode aprender nada a menos que aquilo que aprenda tenha um significado emocional para ele. E este pode ser um doce, um sorriso, um gesto bonito ou uma curiosidade iluminadora.





segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Neil Gaiman’s ‘Make good art’ speech

Neil Gaiman's 'Make Good Art' speech,
Este pequeno livro é uma transcrição do inspirador discurso de Neil Gaiman (Sandman, Deuses Americanos, Coraline, The Graveyard Book, O Oceano no Fim do Caminho, e outros) na cerimônia de formatura da Philadelphia’s University of the Arts, em maio de 2012. Neste discurso ele conta seu início como escritor e fala sobre as dificuldades encontradas pelos iniciantes em vender o primeiro trabalho e viver da arte. Mais do que apenas conselhos para escritores, ele convida todos a lutarem por seus sonhos, serem originais em seu próprio estilo e não desanimarem diante das rejeições e críticas, e principalmente, fazer boa arte.
Conta que nunca planejou uma carreira, mas fez uma lista das coisas que um dia queria fazer, como escrever um romance adulto, um livro infantil, uma HQ, um filme, gravar um audiolivro, escrever um episódio da séria  Doctor Who, entre outros que acabou realizando de forma memorável. Para os interessados em ser artistas e, principalmente, viver da arte, dá cinco conselhos:

1) Quando você começa em uma carreira nas artes, você não sabe o que está fazendo. Isto é bom. Pessoas que sabem o que estão fazendo conhecem as regras e sabem o que é possível e impossível. Você não. E não deveria. As regras sobre o que possível e impossível nas artes foram feitas por pessoas que não testaram os limites do possível e não foram além deles. E você pode.

2) Se você tem uma ideia do que fazer, e se dispor a fazer, apenas vá adiante e faça.

3) Quando começar, você terá que aprender a lidar com o fracasso.

4 Se você está cometendo erros, significa que você está lá fora tentando fazer algo. E os erros em si podem ser úteis.

5) Enquanto você estiver nisto, faça sua arte. Faça aquilo que somente você pode fazer.

6) As pessoas continuam trabalhando em um mundo de trabalho independente, e cada vez mais o mundo é mais independente, porque: 1) O trabalho delas é bom; 2) Elas são fáceis de lidar; e, 3) Elas entregam seus trabalhos no prazo.

Neil Gaiman
Ele termina alertando sobre as mudanças que estão ocorrendo hoje no mundo com o advento das novas tecnologias, que estão virando do avesso a forma como se distribui a arte e entretenimento hoje. Em um mundo onde ficou tão fácil divulgar sua obra, a enxurrada de material que inunda o mercado acabou tornando ainda mais difícil a sobrevivência e o sucesso. Ainda que isso possa parecer assustador e desanimador, ele alerta que o futuro está cheio de novas possibilidades para quem souber aproveitá-las de forma inovadora e original.

As velhas regras estão desmoronando e ninguém sabe quais são as novas regras. Então invente suas próprias regras.


Soube deste discurso em um cartoon do sensacional Blog Zen Pencils, que você pode ver aqui, e depois descobri o livro na página da Livraria Cultura, que tem exemplares para pronta entrega. Veja abaixo o discurso na íntegra e com legendas:




sexta-feira, 25 de outubro de 2013

VOA News - Voice of America

Página principal de VOA Learning English

Uma excelente dica para quem quiser aprender inglês é a página da rádio americana Voice of America. A VOA é uma rádio criada pelo governo dos Estados Unidos durante a 2ª Guerra Mundial para transmitir notícias para a população de países devastados pela guerra (e fazer propaganda do American Way of Life também, é claro!), sendo mais ou menos o equivalente a famigerada “Voz do Brasil” aqui por estas bandas, só que com conteúdo mais diversificado. Com o advento da internet se tornou um amplo portal para o público internacional de notícias e artigos sobre o mundo, Estados Unidos, ciência, agricultura, língua inglesa, história dos EUA, entretenimento, política, entre outros, que estão disponíveis em texto, vídeo, áudio e até por e-mail.
Quando clicamos na palavra, uma janela com sua
definição e pronúncia se abre automaticamente.
Na seção VOA Learning English temos acesso a notícias, artigos e várias ferramentas muito úteis para aprender inglês e ainda se manter muito bem informado. As notícias são escritas em inglês simplificado e quando você clica em uma palavra é aberta automaticamente uma janela do Merriam-Webster Dictionary, onde aparece a definição e um botão de áudio com a pronúncia. Você também pode ouvir a notícia em áudio de forma bem pausada, narradas especialmente para iniciantes no inglês e se preferir, ainda pode ver em vídeo legendado ou baixar uma versão em PDF para imprimir. Ao final de cada artigo ou notícia você encontra ainda um vídeo com comentários sobre as principais palavras apresentadas e exercícios para fixação. A página é atualizada diariamente e gastando apenas alguns minutos por dia seu vocabulário aumentará exponencialmente. Para aqueles que possuem Tablet ou Smartphone com o sistema operacional Android, existe um aplicativo gratuito na Play Store. Nos comentários você ainda poderá interagir com estudantes de inglês ao redor do mundo.


No rodapé da página encontramos as notícias e artigos divididos por assunto.




Em "MULTIMEDIA" você pode ouvir de forma pausada o
audio da notícias e em "LINKS", baixar  o texto em PDF.

Ao final do texto você encontra um vídeo com as
principais palavras apresentadas no texto.

De vez em quando ouço pessoas reclamarem sobre como o inglês invade nosso idioma e acho patética a atitude de pessoas como o hoje Ministro dos Esportes Aldo Rabelo, que defendem até a proibição por lei da exposição exagerada de termos estrangeiros. Talvez a melhor defesa de nosso idioma fosse a criação por parte do governo brasileiro ou português de algo parecido com o VOA, que divulgaria nosso idioma para os interessados em outros países que desejassem aprendê-lo, e até mesmo para aqueles aqui no Brasil que quisessem melhorar seu português.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Ciência, esta incompreendida


Vivemos numa época em que a ciência e a tecnologia tornaram o mundo pequeno. Nossa compreensão da natureza e a expectativa de vida atingiram níveis nunca sonhados na história da humanidade. Pessoas de diferentes partes do mundo estão agora conectadas de forma instantânea e as ideias podem ser compartilhadas sem esforço. O homem conquistou cada recanto do planeta, sejam as montanhas mais altas, as grandes florestas tropicais, os desertos, as vastidões geladas dos polos e até as profundezas abissais dos oceanos. Temos um posto avançado com tripulação permanente em órbita da Terra, que é a Estação Espacial Internacional, já fomos à Lua, enviamos sondas robóticas que exploraram cada planeta do Sistema Solar e suas luas. Nas próximas décadas chegaremos à Marte e já vislumbramos formas de alcançar as estrelas inimaginavelmente distantes. Mas apesar de todas estas espetaculares realizações da vontade, da coragem e do intelecto humanos, a ciência, nossa principal ferramenta nestas conquistas, ainda sofre ataques e é vista com desconfiança por boa parte das pessoas.

Mais do que nunca, o fanatismo religioso, as superstições, seitas, crenças fantásticas, curas milagrosas, teorias da conspiração e pseudociências, ganham espaço. Fico abismado com a quantidade de pessoas (muitas delas inteligentes e instruídas) que acreditam em coisas como horóscopo, experiências fora do corpo, alienígenas ajudando civilizações antigas, curas quânticas e outros absurdos sem qualquer base na realidade (quando acreditam que exista uma realidade!). Sou um entusiasta da ciência, ainda que leigo, e muitas vezes, quando converso com amigos e tento contrapor algumas destas crenças com as teorias científicas bem estabelecidas, frequentemente ouço coisas como “mas são só teorias”, “isto é o que diz a ciência tradicional”, “isto é o que diz o pensamento cartesiano” e até mesmo “a ciência nunca conseguirá explicar isto”, finalizando com “você tem que manter a mente aberta”. Cheguei à conclusão que estas afirmações são consequência de um desconhecimento em relação ao uso correto do termo “teoria” e da adesão exagerada à ideia de “manter a mente aberta”.

A palavra teoria costuma ser muito confundida com hipótese, ou pior ainda, com palpite. Mas quando se fala em teoria, cientificamente falando, trata-se de um enunciado ou um conjunto de enunciados que tentam explicar a ocorrência de um fenômeno natural, que foram postos à prova repetidas vezes através de experiências em ambientes controlados realizadas por diferentes pessoas ao redor do mundo e que podem ser reproduzidas por quem quiser e interessar. São hipóteses que foram testadas exaustivamente e são amplamente aceitas pelos especialistas da área e que às vezes recebem até mesmo a denominação de “lei”, como por exemplo a lei da gravidade. Mas mesmo as teorias mais sólidas não são tratadas como verdades absolutas. Apesar das pedras sempre caírem em direção ao solo quando as soltamos, se algum dia alguém soltar uma pedra e ela flutuar, e esta experiência puder ser reproduzida em um ambiente controlado, as teorias que explicam a gravidade terão que ser revistas e uma nova e aperfeiçoada teoria da gravidade será proposta. Abandonar uma teoria equivocada e substituí-la por uma outra mais próxima da realidade do fenômeno que se quer explicar, não pode ser considerada uma fraqueza do método científico, mas sim, sua força, já que desta forma a ciência se aperfeiçoa e suas bases se tornam cada vez mais sólidas.

Método científico: Como nasce uma teoria.

Uma outra forma muito utilizada para se tentar justificar as crenças mais absurdas é a ideia de que devemos manter “a mente aberta para todas as possibilidades”. Vem do fato que na história da ciência, várias hipóteses tidas como absurdas em determinada época se tornaram as ideias mais aceitas no futuro, como aconteceu por exemplo quando a Teoria da Relatividade de Einstein substituiu a Gravitação Universal de Newton como explicação mais precisa para a gravidade, entre diversos outros exemplos. Quem usa este raciocínio deixa de observar duas coisas: 1) Para cada hipótese controversa que posteriormente se tornou aceita e revolucionou nosso conhecimento do universo, existem milhares que se provaram ser realmente falsas; 2) Hipóteses controversas que revolucionaram nosso conhecimento do universo foram postuladas por pessoas que conheciam muito bem as teorias estabelecidas na época e que provaram seus pontos de vista junto a seus pares utilizando-se do método científico.
É claro que devemos manter a mente aberta para novas ideias e conceitos, mas sempre tomando muito cuidado com a origem da informação e a intenção de quem a transmite, para não nos tornarmos vítimas de charlatões que agem de má fé ou passar desinformação adiante por pura ignorância. Para isso, um pouco de ceticismo e a compreensão do que é realmente o método científico são fundamentais. Existe uma frase que é atribuída ao grande astrônomo e divulgador da ciência Carl Sagan: “Devemos manter nossas mentes abertas, mas não a ponto de deixar que o cérebro caia pela abertura.”

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

As palavras mais comuns da língua inglesa

Quem gosta muito de ler já percebeu que os livros em português são uma ínfima parte dos livros publicados mundialmente. Livros que são verdadeiros clássicos não tem tradução para o português ou levam décadas para ganhar uma (quando são traduzidos!). Uma saída é aprender o inglês, e para quem sonha em um dia aprender esta língua, uma boa dica é começar através da lista das 750 palavras mais comuns da língua inglesa, organizada pelo autor Rubens Queiroz de Almeida. A lista foi feita através de estatísticas retiradas do Project Gutemberg, projeto que digitaliza livros cujos direitos caíram em domínio público e que conta com milhões de obras que podem ser baixadas gratuitamente.
Nesta lista somos apresentados às 750 palavras que mais apareceram nestes livros, e que segundo o autor, correspondem a mais de 80% da maioria dos textos em inglês. As palavras são apresentadas com seu significado e frases-exemplo com tradução, que acrescentam ainda mais palavras ao seu vocabulário.
No site mantido pelo autor, o IDHP – Instituto do Desenvolvimento do Potencial Humano, você encontra também um link para se cadastrar no grupo EFR e receber diariamente via e-mail um pequeno texto, frase ou piada em inglês com glossário. Tudo gratuito.

Quem preferir pode adquirir os livros As Palavras Mais Comuns da Língua Inglesa, com as 750 palavras mais comuns do inglês, e Read in English – Uma Maneira Divertida de Aprender Inglês, uma coletânea com os melhores textos do EFR. Ambos os livros são da editora Novatec.


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Não viver mais anos, mas sim, viver melhor

Este é um artigo retirado do livro El Científico Curioso, do neurocientista espanhol Francisco Mora, traduzido por mim do espanhol:

Não há um elixir ou fórmula mágica capaz de modificar, e muito menos prolongar, a vida de uma maneira clara e definitiva. Não há verdadeiramente em nossas mãos nada, seja procedimentos cirúrgicos, vitaminas, hormônios, antioxidantes ou técnica de engenharia genética, capaz, hoje, de mudar de modo significativo a esperança de vida já alcançada no século XXI. É certo, sem dúvida, que existem sim aproximações fisiológicas novas, reveladas pela biologia molecular e pela neurociência, capazes de modificar o processo de envelhecimento no sentido de fazer com que este se desenvolva com mais êxito, ou se preferir, de modo mais saudável. Definitivamente, não viver mais, mas sim, melhor, livres de incapacidades e dependências. Este é um sucesso que foi possível alcançar neste século, mas que durante muito tempo foi só um sonho. A conquista da dignidade da velhice de que falava Cícero quando declarou que “a velhice é honrosa quando não se depende de ninguém”.
Tudo parte da ideia, hoje sólida e extraída de múltiplas observações, de que o cérebro envelhecido segue conservando a plasticidade, ou seja, a capacidade de ser moldado, para o bem ou para o mal, pela interação do indivíduo com o meio físico emocional e social em que vive. O certo é que o homem envelhecido pode, em muito boa medida, conduzir seu próprio envelhecimento através de novos estilos de vida apropriados e em acordo com os nossos, cada vez mais cresce os conhecimentos científicos sobre o cérebro. Se quiser viver com êxito comece por não fumar, comer uma dieta saudável, equilibrada, suficiente mas nunca em excesso, e com ela, vigie seu peso, desafie constantemente seu cérebro aprendendo e memorizando, faça um exercício físico aeróbico todos os dias (correr ou caminhar). E, acima de tudo, não viva solitário. Esteja rodeado de familiares, ou ao menos de amigos que potencializem e deem sentido emocional a sua vida.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Muito além do nosso eu

O neurocientista Miguel Nicolelis é um dos cientistas brasileiros mais famosos da atualidade. Segundo especialistas, Nicolelis é o mais cotado para ser o primeiro brasileiro a ganhar um Prêmio Nobel. Neste livro ele descreve para o público leigo um pouco da história da neurologia, suas pesquisas sobre interface cérebro-máquina, sua teoria do cérebro relativista e faz algumas especulações sobre como a conexão entre o cérebro e as máquinas poderá revolucionar o futuro.
Nicolelis ficou famoso mundialmente após a experiência em que sua equipe conectou o cérebro de um macaco na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, a um robô em Kyoto, no Japão, que movimentou as pernas simulando uma caminhada através dos comandos cerebrais do animal, que caminhava em uma esteira. Atualmente ele desenvolve um exoesqueleto que será fixado nas pernas e conectado ao cérebro, que permitirá a paraplégicos caminhar novamente. O protótipo será visto em 2014, quando uma adolescente que perdeu o movimento das pernas dará o pontapé inicial pela Seleção Brasileira na abertura da Copa do Mundo de Futebol no Brasil.
Miguel Nicolelis
Para imaginar as possibilidades abertas por esta tecnologia pense nos limites impostos pelo nosso corpo aos dispositivos eletrônicos, caso por exemplo dos smartphones, que usam telas cada vez maiores para proporcionar uma melhor experiência visual de quem olha para suas telas, ao custo do prejuízo na portabilidade e do consumo maior de energia. Com o atual nível de miniaturização de circuitos eletrônicos um dispositivo destes poderia ter dimensões bem mais reduzidas se não fosse a necessidade de teclados, microfones, telas e autofalantes, para a entrada e saída de dados. Estes problemas não existirão quando dispositivos eletrônicos se conectarem diretamente no cérebro, sem a necessidade de utilização dos órgãos sensoriais.
No decorrer do livro ele conta os primórdios da neurociência e como a humanidade foi aos poucos entendendo o funcionamento do cérebro e de seu elemento fundamental, o neurônio. Nesta história, além de médicos, anatomistas e neurologistas propriamente ditos, tiveram fundamental importância também psicólogos, que desenvolveram diversos experimentos que expandiram o conhecimento sobre este complexo órgão.
Robô no japão que reproduziu os movimentos de um macaco
nos EUA através de comandos do cérebro do animal.
Ele nos apresenta também sua teoria sobre o funcionamento do cérebro, batizada de “teoria do cérebro relativístico”. A teoria mais aceita atualmente é a de que o cérebro é dividido em áreas que respondem cada uma a alguma atividade específica, que ele chama de “teoria localizacionista”, o que explicaria por exemplo a perda de determinados movimentos após um dano em uma região cerebral específica. Nicolelis vai de encontro a esta visão afirmando que o funcionamento do cérebro é muito mais complexo, e que que cada atividade cerebral é produto da interação entre áreas muito diferentes do cérebro. Neste contexto a perda de determinado movimento seria resultado não do dano na área em si, mas sim do impedimento nas comunicações entre neurônios espalhados entre diversas partes do cérebro.
Adolescente paraplégica dando o pontapé inicial na Copa do
Mundo no Brasil em 2014.
O que mais gostei no livro foram as especulações que Miguel Nicolelis faz para o futuro da neurociência e de como a ligação entre cérebros e máquinas um dia poderá possibilitar a criação de uma rede cerebral que ele chama de brainet, onde pessoas poderiam trocar diretamente experiências, emoções e pensamentos, em uma experiência muito além da comunicação visual, falada e escrita, como fazemos atualmente. Iremos muito além do nosso eu, como afirma o título.


Entrevista de Miguel Nicolelis no Programa do Jô


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Como Proust pode mudar sua vida

Mais um livro muito interessante do filósofo Alain de Botton, que apesar do nome que soa francês é suíço de nascimento e vive na Inglaterra. Considero-o um dos melhores popularizadores da filosofia na atualidade, junto com André Comte-Sponville, Michel Onfray, Luc Ferry, Julian Baggini, Jeremy Stangroom e Jostein Gaarder. Recentemente ele visitou o Brasil e fundou uma ONG que ensina filosofia nas comunidades que compõem o Morro do Alemão.
Neste livro ele continua seu trabalho de trazer o conhecimento dos filósofos para nos ajudar em nosso cotidiano, mostrando como a filosofia é fascinante e pode nos ajudar trazendo reflexão e conforto. Desta vez ele não utiliza um filósofo, mas o grande escritor francês Marcel Proust, que com os sete volumes que compõe o seu Em Busca do Tempo Perdido se tornou um dos maiores escritores do século XX. Em nove capítulos o autor nos apresenta a inspiradora visão de Proust sobre assuntos diversos como literatura, o sentido da vida, tempo livre, sucesso, expressar emoções, amizade, esclarecimento, amor e o hábito da leitura.
Um trecho do livro que gostei muito foi a resposta de Marcel Proust a uma enquete do jornal parisiense de L’Intransigieant feita à celebridades francesas pedindo a opinião sobre o que as pessoas fariam se soubessem que um cientista americano anunciasse um enorme cataclismo que traria o fim do mundo em breve:

Acredito que a vida nos pareceria subitamente maravilhosa se estivéssemos ameaçados de morrer da forma como você diz. Pense em quantos projetos, viagens, casos amorosos e estudos ela – a nossa vida – afasta de nós, tornando-os invisíveis devido à nossa preguiça, que, certa da existência de um futuro, os adia incessantemente.
Mas deixe todos esses projetos se tornarem impossíveis para sempre: como tudo se tornaria belo de novo! Ah! Se pelo menos o cataclismo não acontecer desta vez, não vamos deixar de visitar as novas galerias do Louvre, nem deixaremos de nos jogar aos pés da srta. X, nem viajar para a Índia.
Entretanto, se o cataclisma não acontece, nós não fazemos nada disso, porque estamos de volta ao coração da vida normal, na qual a negligência supera o desejo. E, no entanto, a verdade é que não precisamos do cataclisma para amar a vida hoje. Deveria ser suficiente pensarmos que somos humanos, e que a morte pode chegar nesta tarde.

Me recorda um pensamento de Mario Quintana:

No dia em que estiveres muito cheio de incomodações, imagina que morreste anteontem... Confessa: tudo aquilo teria mesmo tanta importância?

Como Proust pode mudar sua vida foi relançado pela Editora Intrínseca, que vem relançando vários títulos de Alain de Botton no Brasil e começou a lançar títulos inéditos também. Para conhecer um pouco as ideias do autor, veja uma palestra que ele deu para o TED:




sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Sandman – Prelúdios & Noturnos


Sandman Vol. 1: Prelúdios & Noturnos
Editora Conrad
Há alguns meses atrás decidi voltar a um prazer que tenho desde a minha infância, que são os quadrinhos. Comecei a reler alguns alguns antigos, ler alguns lançamentos e finalizar algumas leituras abandonadas. Comecei por Sandman, a obra-prima de Neil Gaiman, após retirar debaixo de um monte de poeira, teias de aranha e excrementos de insetos de espécies diversas, as 10 edições encadernadas de luxo da editora Conrad, das quais havia lido apenas os dois primeiros volumes mas nunca ido até o final da série.
A revista Sandman surgiu na época da “invasão britânica” dos quadrinhos estadunidenses, quando a DC Comics, editora que publica Batman, Superman, Mulher-Maravilha, entre outros, contratou jovens promessas da Grã-Bretanha, ofereceu-lhes alguns personagens quase desconhecidos e desafiou: “se conseguirem fazer algo que presta com isso, vocês são realmente bons!” Nessa época apareceram HQs que hoje são clássicas como por exemplo o Monstro do Pântano de Alan Moore, Homem Animal de Grant Morrison, Hellblazer de Jamie Delano e depois Garth Ennis e Sandman, provavelmente o mais bem sucedido deles, sucesso de crítica e público que de forma inédita arrebatou até prêmios literários. Em suas páginas encontramos várias referências dos quadrinhos, literatura, cinema, história, música, cultura pop e arte em geral, formando uma trama complexa em que mesmo após várias releituras, sempre encontramos algo novo, algum detalhe que deixamos passar despercebido. Sandman também se tornou o carro-chefe da recém-criada Vertigo, que é a linha de quadrinhos adulta da DC Comics que apresenta histórias mais maduras, violentas e com mais conteúdo.
Os dez volumes da editora Conrad compreendem as 75 edições de Sandman mais algumas edições especiais, e começa por “Prelúdios & Noturnos”. Neste primeiro volume que encaderna as revistas Sandman #1 à #8, acompanhamos Morfeus (Sandman, Lorde dos Sonhos, Lorde Moldador, entre outros nomes), membro dos perpétuos, que são Destino, Morte, Sonho, Desespero, Destruição, Desejo e Delírio, as entidades mais antigas do universo e que surgiram antes mesmo dos deuses, cada um ligado a uma característica humana. Descobrimos então como Morfeus é capturado por engano em um ritual de magia que tinha como objetivo capturar sua irmã Morte, como ele consegue fugir após 70 anos cativo e as consequências para seu reino, o Sonhar, após de todos estes anos sem seu soberano. Depois de reconquistar sua liberdade ele parte em uma jornada para reaver seus instrumentos, uma algibeira, um elmo e a pedra do sonho, que contém parte de seus poderes. Em sua jornada é auxiliado por alguns personagens conhecidos da DC como John Constantine e Etrigan, o demônio.

Se você ainda não leu Sandman, não sabe o que está perdendo. Não vou estragar as surpresas contando detalhes da trama, mas deixo abaixo um pequeno trecho para quem ainda não conhece ter uma pequena ideia do que aguardar em suas páginas. O trecho está em Sandman #4 na história “Uma esperança no inferno” e mostra o embate entre Morfeus e o demônio Chorozon. Simplesmente fantástico!







quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A Revolução dos Livros Digitais


Smartphone Nexus 4
Os livros digitais, ou ebooks, chegaram para ficar e com a chegada da Amazon ao Brasil e a parceria entre a Livraria Cultura e a canadense Kobo, esta realidade chegou também aos brasileiros. Vejo muita gente afirmar que os livros digitais nunca substituirão livro de papel, que seriam melhores por permitir a insubstituível experiência de manusear, cheirar, dobrar, colocar no bolso, enfeitar a estante e outras coisas que você nunca conseguirá com o digital. Sem contar o incômodo para a visão ao ler em uma tela de computador. Mas quem ainda se aferra a estes argumentos está desatualizado quanto às novas tecnologias.
Com o surgimento dos smartphones e tablets a mobilidade, que até então era a principal desvantagem para a leitura de livros digitais, foi praticamente superada. Agora você pode ler milhares de livros em um dispositivo leve, compacto e portátil que você pode levar no seu bolso, menor e mais leve até que um livro. Estes dispositivos estão se tornando tão presentes em nossas vidas que já existem escolas e universidades que substituíram os livros didáticos por arquivos digitais para serem lidos em tablets muitas das vezes fornecidos pela própria instituição.
Tablet Galaxy Tab 2

Ainda restava a questão do incômodo de ler em uma tela de LCD ou LED causado pelo brilho, então vieram as telas e-ink. Esta tecnologia consiste de uma tela que forma imagens através de microcápsulas de tinta, com alta definição e sem brilho. Outra vantagem é o baixíssimo consumo de energia, já que após a formação da imagem não há nenhum consumo. Como exemplo desta tecnologia temos hoje no Brasil o Kindle, da Amazon, e o Kobo, da Livraria Cultura/Kobo. As imagens nestes aparelhos são tão impressionantes que quase destruí meu recém-chegado Kindle com um estilete achando que havia um adesivo colado na tela.
Tablet Ipad
As duas empresas mencionadas chegaram com catálogos de milhões de livros, a maioria em inglês, mas já existem dezenas de milhares de títulos em português e este número tende a aumentar muito com a adesão cada vez maior das editoras brasileiras a este formato. Uma novidade interessante é a possibilidade de salvar seus livros em nuvem e a sincronização entre diversos dispositivos, que permitem a atualização de sua biblioteca virtual, página em que você parou, marcações e anotações entre diversos dispositivos (você pode iniciar a leitura em um smartphone, continuar em um tablet e terminar em um computador por exemplo e os dispositivos indicam onde você parou automaticamente).
eReader Kindle
O maior problema para a adoção do livro digital é psicológica, já que fomos alfabetizados com os livros impressos, crescemos lendo-os e nos afeiçoamos a eles. Não se engane, como seres humanos temos uma tendência inata a fazer as coisas não do jeito mais fácil, eficiente ou rápido, mas sim, da forma que temos feito por toda a nossa vida. Alguém já reparou como os idosos tem dificuldade com as TVs de controle remoto, aparelhos celulares e computadores? Isto acontece não por que as novas gerações são mais inteligentes, mas porque estes dispositivos não faziam parte da realidade das gerações anteriores, ou pior ainda, modificaram a forma como estas faziam as coisas.
eReader Kobo
Acho que os livros impressos ainda continuarão por aí durante muito tempo, mas conforme as novas gerações alfabetizadas em tablets nos substituirem, livros de papel serão uma curiosidade como hoje são os textos em papiros, peles de animais e tabuletas de barro. Talvez esta mudança não seja tão ruim quanto pareça, já que aumentará o acesso a leitura (livros digitais custam bem menos que suas versões impressas) e muitas árvores serão salvas. Apesar de muita relutância adotei o livro digital e descobri que na realidade mais do que os livros, o que amo mesmo é o prazer da leitura, este sim insubstituível.





Política: Para não ser idiota

Política: para não ser idiota, de Mario Sergio
Cortella e Renato Janine Ribeiro, Papirus 7 Mares
Nestes tempos em que manifestações tomam conta das ruas e todos parecem cada vez mais desacreditados com a política, acho oportuno divulgar este pequeno livro muito interessante que li recentemente, Política: para não ser idiota, de Mario Sergio Cortella e Renato Janine Ribeiro (Papirus 7 Mares, 2010). Em apenas 112 páginas, acompanhamos o debate de dois grandes pensadores sobre um tema importantíssimo para nossa sociedade democrática e que deveria interessar a todos os seus cidadãos.
O idiota no título não se refere ao uso mais comum e depreciativo que damos a esta palavra, mas sim, é utilizado no sentido original do termo, que vem da palavra grega idiótes, que significa aquele que se recolhe em sua vida privada. Nada poderia ser mais relevante na sociedade em que vivemos, onde temos verdadeira ojeriza à palavra política, sem ao menos perceber que ela é mais ampla que imaginamos e domina quase todos os aspectos de nossas vidas, seja no trabalho, escola, em casa, na igreja, bar, no prédio em que vivemos, na rua, bairro, cidade, estado, país e planeta. Acredite: se você não vive em uma caverna sozinho como um ermitão, você pratica política e é influenciado por ela.
O problema é que confundimos a política com a politicagem, corrupção, incompetência de algumas autoridades e a ineficiência de alguns serviços públicos. Política na verdade é algo muito mais amplo e trata da convivência pacífica entre as pessoas, onde a administração pública é apenas uma - ainda que mais importante - faceta. Sempre reclamamos dos políticos, mas poucos de nós sequer nos lembramos em quem votamos nas últimas eleições, onde fica a Câmara Municipal de sua Cidade, e sequer sabemos com segurança as atribuições do Presidente da República, dos Senadores, Deputados Federais, Ministros do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça, Governadores, Deputados Estaduais, Prefeitos, Vereadores e tantas outras autoridades que dirigem os rumos da nação e tanta influência exercem sobre nosso cotidiano. Ao invés disso, criamos uma entidade monstruosa, corrupta, malévola, onisciente, onipresente chamada governo, que é culpada de todos os nossos problemas e que é personificada pelo Presidente da República e às vezes pelo Governador ou Prefeito, mesmo quando nos referimos a problemas que não faz parte das atribuições destas autoridades.

Neste contexto acho muito proveitosa a leitura deste livro, que trata a política de forma muito mais ampla do que apenas falar sobre a administração pública, mostrando como a política faz sim parte do dia-a-dia de todos nós, quer queiramos ou não. Após a leitura deste livro, cheguei a conclusão de que mais que a corrupção e a incompetência, o maior problema da democracia brasileira é a apatia política de seus cidadãos. Esta em parte é resultado de falta de investimento na educação das massas, mas afeta também a parcela mais rica e esclarecida da população, pessoas que muitas das vezes se declaram orgulhosamente apolíticas, quando na verdade são apenas politicamente apáticas, o que deveria ser um motivo de vergonha e não orgulho.


sábado, 5 de outubro de 2013

Elysium: Zona Sul do Rio e Baixada Fluminense no ano de 2154


Poster de Elysium
Este sábado fui ver Elysium, o novo filme do diretor sul-africano Neill Blomkamp. Depois do curta Alive in Joburg e do longa Distrito 9 (favor não confundir com 13º Distrito, aquele filme policial cheio de le parkour), fui ao cinema empolgado esperando um filmaço. No caminho para o cinema, após atravessar parte da Baixada Fluminense indo de Nova Iguaçu até São João de Meriti enfrentando um engarrafamento na Rodovia Presidente Dutra, lutar meia hora para encontrar uma vaga para estacionar e enfrentar um Shopping abarrotado, já me sentia um pouco no planeta terra superpopuloso de 2154 do filme.
Elysium é um habitat espacial onde vivem os ricos, que fugiram de uma terra devastada e superpopulosa que parece uma favela gigantesca. É como se você pegasse a faixa litorânea que vai do Flamengo passando por Botafogo, Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, encaixasse estes bairros numa roda giratória de vários quilômetros de diâmetro girando em órbita da terra para produzir gravidade artificial e não permitisse que ninguém que não fosse morador entrasse nas praias e circulasse nos Shoppings Centers e ruas. Seguindo esta analogia a Baixada Fluminense estendida a todo o planeta seria o planeta terra de 2154.


Planeta Terra em 2154.
Uma das grandes atrações do filme para nós brasileiros é o ator Wagner Moura, arrebentando em sua estreia em Hollywood. O filme não foi muito bem aceito nos Estados Unidos, mas deve fazer muito sucesso nos países subdesenvolvidos como o nosso, cujos habitantes poderão se identificar com Max (Matt Damon) um ex-presidiário tentando se reabilitar trabalhando em uma fábrica de robôs e sofre um acidente em que é exposto a níveis letais de radiação. Para salvar sua vida ele deve ir para o único lugar em que existe tecnologia médica para curá-lo: Elysium. Para isso ele procura a única pessoa que consegue colocar alguém ilegalmente em Elysium, Spider (Wagner Moura), que é uma mistura de hacker, coyote e traficante carioca, que dará a Max um exoesqueleto que o tornará tão forte e rápido quanto os robôs policiais que patrulham a terra e que também fazem a segurança de Elysium.

Mulher toma banho de sol acompanhada por um empregado
robô em Elysium.
Como toda boa ficção científica o filme é uma metáfora para um problema de nosso mundo, neste caso o imenso abismo que existe entre os países ricos e pobres. A ambientação é assustadora, ainda mais se pensarmos que um planeta superpopuloso, exaurido de recursos e ecologicamente destruído é uma perspectiva bem real em um futuro não muito distante. Apesar de se passar mais de um século no futuro o filme retrata bem a realidade de centenas de milhões de pessoas pobres que não tem nenhuma perspectiva para o futuro. É sobre a segregação, seja entre países, seja entre camadas sociais dentro de mesmo país, que condena a maioria a viver como párias, sonhando com uma vida melhor em um outro lugar, seja emigrando para um país desenvolvido ou se mudando para um bairro mais rico dentro de sua própria cidade.

Elysium vista do espaço com a Terra ao fundo.

Spider (Wagner Moura) e Max (Matt Damon).
O que não gostei foi que o filme em certo momento sucumbe ao que parece ser uma norma dos filmes produzidos em Hollywood, que é abandonar a história para mostrar cenas inverossímeis e sem sentido de explosões e lutas onde pessoas são arremessadas dezenas de metros destruindo paredes, carros e tudo que estiver pela frente sem quebrar um osso sequer. Em certos momentos o Matt Damon parecia um robô do Transformers lutando. Ainda assim achei Elysium um bom filme, que diverte e traz reflexão no mesmo pacote e merece ser visto. Pela reflexão, pelo Wagner Moura, pela Alice Braga e o restante do elenco internacional, pelos efeitos especiais deslumbrantes e pela história diferente, contada a partir do ponto de vista do mundo subdesenvolvido, uma visão diferente da que costumamos ver nos grandes blockbusters.