Quem é fã do Robocop de 1987 e está preocupado com o resultado da nova versão de
2014 dirigida por José Padilha, pode ficar despreocupado. Apesar da falta de
violência, dos produtores, da maldição dos remakes
e da estreia do diretor no cinema americano, o filme é excelente. O original é
bem mais violento, e se fosse lançado hoje não seria liberado para menores de
18 anos, o que inviabilizaria uma produção de 100 milhões de dólares como esta.
Mas em compensação, o novo filme é mais complexo, trazendo à baila temas bem
atuais como a utilização de robôs na guerra, a desumanização de policiais e
soldados, a invasão da privacidade e o poder das grandes corporações.
O filme começa mostrando uma
ocupação americana em Teerã, no Irã, totalmente realizada por robôs. Gigantescos
ED 209 e vários robôs humanoides EM-208 patrulham as ruas e escaneiam os
moradores em busca de terroristas. Por ar há drones voadores que dão apoio
aéreo, bem parecidos com os que os Estados Unidos utilizam hoje no Afeganistão,
Iraque e Paquistão para matar terroristas. Filmes como Matrix e Exterminador do
Futuro tratam da ameaça tão explorada na ficção científica que é a guerra
das máquinas, que perdem o controle e submetem os seres humanos. José Padilha
apresenta uma reciclagem desta ideia ao mostrar que no futuro o que poderá
ocorrer é a dominação do homem por máquinas controladas por outros homens.
Robôs patrulhando as ruas de Teerã
Neste novo filme a família do
policial Alex Murphy tem papel fundamental, pois é bem explorado o tema da transformação
do homem em máquina. Quem está no controle, o homem ou a máquina? É a ilusão do livre arbítrio, como diz
um dos personagens. No original, o que movia o Robocop desde o início era a vingança contra aqueles que tentaram
assassiná-lo. Neste a vingança tem que aguardar um pouco enquanto é mostrada a
adaptação do policial Alex Murphy à sua nova condição, em uma cena chocante.
Outro tema explorado no filme é o
da violação de privacidade. Robocop
tem acesso a todas as câmeras da cidade e o registro de todos os cidadãos, e
através de leitura biométrica pode identificar qualquer um e buscar seus
antecedentes criminais e dados biográficos. Em um mundo em que centenas de
milhões de pessoas compartilham suas vidas em redes sociais, câmeras de
vigilância vigiam as ruas e governos espionam seus cidadãos, o tema é bem
oportuno.
José Padilha
Também interessante é o tema da
relação promíscua entre a imprensa, a política e as grandes corporações. Como estes
grupos conseguem através da mídia manipular a opinião pública, e, desta forma,
pressionar os políticos a aprovar leis que os interessam, ou, paralelamente a esta
tática, chantagear e/ou subornar os reticentes e os corruptos. Estas relações
ameaçam a democracia no mundo ao priorizar os interesses dos grandes grupos
econômicos em detrimento das necessidades da população, resultando em graves
crises econômicas e violações dos direitos das pessoas.
Segundo José Padilha em
entrevistas, não houve muita interferência dos produtores no desenvolvimento do
filme por ele ter colocado as cartas na mesa e exigido desde o início fazer o filme
à sua maneira, sem menosprezar a inteligência do público. É lógico que não há a
violência de um Tropa de Elite ou do
filme original, que teve que ser muito bem camuflada com o uso pelo policial do
futuro de uma arma de choque nas cenas diurnas e de uma conveniente escuridão
quando a arma era verdadeira, culpa da classificação etária de 13 anos do
filme. Mas a violência foi substituída pelo drama e a exploração dos limites
éticos de se submeter o ser humano com o auxílio de máquinas. Hoje só os
afegãos, iraquianos e paquistaneses sabem o que é ser atacado por um robô
controlado remotamente, mas e quando eles começarem a atuar dentro do próprio
território dos Estados Unidos? E quando um robô matar por engano um ser humano,
quem será julgado? E quando um regime totalitário utilizar robôs para controlar
seus cidadãos? São perguntas que teremos que responder em breve.
The Mars Underground é um documentário sobre a possibilidade de
futuras missões tripuladas ao planeta Marte utilizando o Mars Direct, criado pelo engenheiro aeroespacial Robert Zubrin. O
vídeo questiona os motivos de missões tripuladas à Marte ainda não terem
acontecido, discute a necessidade da exploração e colonização humana do planeta
vermelho e sua importância para o futuro da humanidade. Outro assunto discutido
no documentário é a atual estagnação do programa espacial americano. Após o sucesso
total do Programa Apollo, que colocou os primeiros seres humanos na Lua, a NASA
optou pelo desenvolvimento dos ônibus espaciais e a construção da Estação
Espacial Internacional, em detrimento de uma missão tripulada à Marte.
Planeta Marte
Marte é o quarto planeta do
Sistema Solar e fica distante entre 206 e 249 milhões de quilômetros do Sol, bem
mais afastado que a Terra, que fica entre 147 e 152 milhões de quilômetros. Ele
possui 6.792 Km de diâmetro, pouco mais da metade do diâmetro da Terra, que tem
12.756,2 Km. A atmosfera é constituída em cerca de 95% por dióxido de carbono,
mas a pressão atmosférica equivale a menos de 1% da terrestre, com temperaturas
baixíssimas de até -143 0C, mas que podem chegar acima de 20 0C
durante o verão equatorial. Ele possui um dia de 24 horas e 40 minutos, quase o
mesmo que o dia terrestre. Apesar da atmosfera extremamente rarefeita e das
baixas temperaturas, é o local mais parecido com a Terra em todo o Sistema
Solar e possui uma área de terra firme maior que a de nosso planeta, pelo fato
de não possuir oceanos. Devido a todas essas características, Marte tem o
melhor potencial para se tornar o segundo lar dos seres humanos. Robert Zubrin
argumenta que com a tecnologia atual, uma missão tripulada poderia ser
desenvolvida num prazo de 10 anos, caso houvesse recursos financeiros e vontade
política.
Robert Zubrin
Robert Zubrin faz duras críticas
à NASA, que segundo ele, estaria sem rumo desde os últimos pousos na Lua no
início dos anos 70. Após o Programa Apollo, ao invés de investir em uma missão
à Marte, a opção pelo desenvolvimento dos Ônibus Espaciais e posteriormente a
construção da Estação Espacial Internacional, e desde então nenhum ser humano deixou
a órbita baixa terrestre nas últimas 4 décadas. Em 1989, durante o governo
Bush, houve uma tentativa de se criar um programa espacial que levaria o homem
à Marte, que resultou em um projeto orçado em 450 bilhões de dólares e que
envolvia a construção de uma gigantesca estação espacial, instalações industriais
na Lua e a montagem de uma enorme nave com propulsão nuclear que faria uma
viagem de ida e volta ao planeta vermelho com a previsão de apenas alguns dias de
estada na superfície. Este projeto foi imediatamente rejeitado pelo congresso
americano devido ao seu custo astronômico.
Ônibus Espacial
Após a rejeição do projeto,
Robert Zubrin e alguns colaboradores que trabalhavam na empresa Martin Marietta Astronautics (atual Lookhed Martin) desenvolveram um projeto
de missão que ficou conhecido como Mars
Direct, cuja filosofia era viajar leve, rápido e barato. Diferentemente da
gigantesca nave nuclear prevista no plano proposto durante a administração do presidente
Bush, uma nave pequena aproveitaria o melhor alinhamento entre a Terra e Marte viajando
apenas com o combustível de ida. Um módulo lançado previamente produziria o
combustível da viagem de retorno utilizando como matéria prima a própria
atmosfera marciana na superfície. Como mais de 90% do peso de um foguete é o
seu combustível, o peso da nave seria bem menor, ela poderia viajar mais rápido
e o seu custo seria bem mais baixo. A tripulação ficaria um ano e meio
explorando a superfície e por fim aproveitaria o melhor alinhamento entre os
planetas para realizar a viagem de retorno.
Estação Espacial Internacional
Zubrin faz uma defesa apaixonada
da exploração humana de Marte e sua colonização, como forma de se criar um novo
e dinâmico ramo da civilização, que poderia trazer benefícios para toda a
humanidade. Além das novas tecnologias para o dia a dia que surgiriam no
desenvolvimento da missão, se criaria um capital incalculável através da
inspiração dos mais jovens a se tornarem engenheiros e cientistas, que
desenvolveriam as novas tecnologias a serem utilizadas pelas futuras gerações.
Além disso, aqueles que realizassem tais missões gravariam eternamente seus
nomes como heróis na história da humanidade. Outra ideia, esta mais
especulativa, seria a possibilidade de “terraformar” Marte, tornando o planeta
mais parecido com Terra e habitável para os seres humanos.
Excelente documentário.
Inspirador na forma como mostra que o futuro pode ser belo e vibrante se
investirmos agora em grandes projetos para o bem das gerações futuras. Como
citado no documentário, daqui a alguns séculos ninguém saberá quais eram as
crises econômicas, as disputas políticas e as guerras da década de 60, mas
todos se lembrarão dos primeiros passos do homem na Lua. Muita gente acha que
investimentos em ciência e exploração são gastos desnecessários que poderiam
ser usados melhor na solução dos problemas atuais da humanidade. Mas as soluções
dos problemas atuais virão do futuro, e o futuro tem que ser construído no
presente, e envolve novas tecnologias e a distribuição e o aperfeiçoamento das
que já existem.
Para quem ainda não sabe, a estreia
do novo Robocop nos cinemas
brasileiros é nesta sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014. Seria apenas mais um
da interminável série de remakes e
continuações de hollywood se não
fosse por um detalhe: José Padilha. É primeiro filme americano do diretor de Tropa de Elite e Tropa de Elite 2: O inimigo agora é outro. O filme já arrecadou 100 milhões
de dólares na primeira semana em cartaz.
Edge of Infinity é uma coletânea de contos de ficção científica hard editados por Jonathan Strahan,
lançada no ano de 2012. Todos os contos se passam dentro de nosso Sistema
Solar, que é a última fronteira do infinito até as estrelas que dá título ao
livro. São 13 contos dos autores Pat Cadigan, Elizabeth Bear, James S. A. Corey
(pseudônimo de Daniel Abraham e Ty Franck), Sandra McDonald, Stephen D. Covey, John
Barnes, Paul McAuley, Kristine Kathryn Rusch, Gwyneth Jones, Hannu Rajaniemi, Stephen
Baxter, Alastair Reynolds, An Owomoyela, e Bruce Sterling.
Jonathan Strahan
Entre os contos há até um ganhador
do prêmio Hugo, “The Girl-Thing Who Went Out for Sushi”, de Pat Cadigan, que
particularmente não gostei. Destaco os excelentes “Macy Minnot’s Last Christmas on
Dione, Ring Racing, Fiddler’s Green, the Potter’s Garden”, de Paul
McAuley, “Obelisk”, de Stephen Baxter, “Vainglory”, de Alastair
Reynolds, e “The Peak of Eternal Light”, de Bruce Sterling, como os quatro
melhores contos da antologia. Também dignos de registro são os contos “Drive”,
de James S. A. Corey, “The Road to NPS”, de Sandra
McDonald e Stephen D. Covey, e “Safety Tests”, de Kristine Kathryn
Rusch. Segue abaixo as sinopses dos contos presentes no livro, com minha
classificação pessoal, que vai de horrível (*), ruim (**), médio (***), bom
(****), e excelente (*****).
“The Girl-Thing Who Went Out for
Sushi”, de Pat Cadigan** – Pós-humanos conhecidos como “suhis” estão trabalhando
em uma base de operações em órbita de Júpiter e resgatam uma garota humana após
um acidente. Em um futuro onde seres humanos podem mudar de forma, a garota
decide durante a recuperação se submeter a uma série de cirurgias e se
transformar em uma “sushi”. Misteriosamente esta história é a mais prestigiada
da coletânea, ganhando o cobiçado prêmio Hugo de melhor noveleta em 2012.
“The Deeps of the Sky”, de
Elizabeth Bear*** – Uma nave de coleta de gases trabalhando na
atmosfera de Júpiter encontra uma nave alienígena à deriva na grande mancha
vermelha, que é um furacão permanente e principal marca do planeta.
“Drive”, de James S. A. Corey
(pseudônimo de Daniel Abraham e Ty Franck)**** – Um engenheiro de Marte
trabalha em um novo sistema de propulsão na véspera de um possível ataque militar da
Terra. Por causa de um defeito, a nave acelera descontroladamente a várias gravidades terrestres deixando-o imobilizado
ao assento enquanto ele tenta desesperadamente se comunicar com sua companheira para que ela desligue a
nave.
“The Road to NPS”, de Sandra
McDonald e Stephen D. Covey**** – Um funcionário de uma empresa baseada
em Europa, uma lua de Júpiter, tenta provar a viabilidade de uma rota de
transporte de cargas através da superfície. Se conseguir, ficará rico e poderá
cumprir a cláusula de rescisão de seu contrato e voltar para a Terra, caso
contrário, terá de trabalhar o resto da vida para pagar os custos da
empreitada. Mas um acidente com seu sócio e copiloto, uma passageira
clandestina e algumas surpresas na superfície, mostram que a viagem será bem
mais difícil do que parecia e ele primeiro terá de sobreviver no ambiente
hostil de Europa.
“Swift as a Dream and Fleeting as
a Sigh”, de John Barnes*** – Uma inteligência artificial que auxilia
humanos em uma empresa de mineração automatizada decide ir contra a lógica de sua
programação e aconselhar um casal em crise. A filha nascida desta união mudará
os rumos da humanidade e, principalmente, da própria inteligência artificial.
“Macy Minnot’s Last Christmas on
Dione, Ring Racing, Fiddler’s Green, the Potter’s Garden”, de Paul McAuley*****
– Em um dos melhores contos da antologia, uma filha decide viajar para Dione,
uma lua de Saturno, a fim de cumprir o último desejo do pai falecido. Lá ela conhece
o interessante modo de vida e a cultura dos habitantes do Sistema Solar
exterior e as histórias e lendas de personalidades que deixaram sua marca
nestas pessoas, incluindo o pai dela. A história se passa no mesmo universo de
um romance do autor, “The Quiet War”.
“Safety Tests”, de Kristine
Kathryn Rusch**** – Excelente conto sobre um funcionário rabugento e
desmotivado, responsável por avaliar candidatos a piloto de naves espaciais.
Quando uma ex-piloto militar suspensa de suas atividades por insubordinação e
desrespeito às normas de segurança precisa realizar um exame voltar a pilotar,
ele confirma o quanto sua profissão pode ser perigosa.
“Bricks, Sticks, Straw”, de Gwyneth
Jones*** – Uma releitura moderna do conto dos três porquinhos passada
nas luas de Júpiter, cujos protagonistas são robôs inteligentes que possuem a mesma
personalidade dos pesquisadores que os construíram. Após uma grande tempestade solar,
eles tentam continuar com suas atividades de exploração e retomar o contato com
a Terra diante da ameaça de uma estranha fera virtual que ameaça destruí-los.
“Tyche and the Ants”, de Hannu
Rajaniemi***– Uma mistura de ficção científica com o que de início parece
ser fantasia. Uma garota criada por robôs nos subterrâneos da Lua precisa fugir
de estranhas formigas mecânicas enviadas pela Terra em seu encalço. Ela
descobre então que seu mundo e os seres mágicos que o povoam não são o que
parecem e tudo o que ela acreditava pode ser uma grande ilusão.
“Obelisk”, de Stephen Baxter*****
– Melhor conto da antologia, conta a história de um piloto chinês que heroicamente
consegue levar sua nave avariada para Marte, mas com várias baixas na
tripulação. Agora prefeito de uma colônia no planeta, ele se associa a um
ex-golpista exilado da Terra que o convence a construir um imenso obelisco no
local do pouso e morte do piloto chinês que foi o primeiro ser humano a pisar
em Marte. Uma vigorosa economia se desenvolve durante a construção do obelisco,
transformando a colônia em uma imensa cidade e o planeta na grande potência
econômica e tecnológica do Sistema Solar.
“Vainglory”, de Alastair Reynolds*****
– Em outro excelente conto da antologia, uma escultora em busca de emprego em
Tritão, uma lua de Netuno, é procurada por uma investigadora particular que
conhece um segredo perturbador de seu passado. Ela relembra então a produção de
sua obra-prima desconhecida do público, a cabeça de Davi esculpida em um
gigantesco asteroide, e qual a sua ligação com a colisão de um asteroide que
destruiu a lua Naiade, que matou centenas de pessoas e criou um novo anel ao redor
de Netuno.
“Water Rights”, de An Owomoyela***
– Um acidente destrói parte de um elevador espacial que é o principal meio de
transporte da Terra para o espaço e corta o suprimento de água para uma imensa
colônia agrícola que abastece a população em órbita. A administradora agora tem
que negociar proteção e água para evitar a revolta da
população diante de um duro racionamento por vir e a morte das plantações.
“The Peak of Eternal Light”, de Bruce
Sterling***** – Uma colônia no planeta Mercúrio abriga uma sociedade
matriarcal com rígidas e conservadoras regras de casamento. Após a morte do
homem que transformou a colônia mercuriana em uma potência do Sistema Solar
após uma sangrenta guerra civil, um casal e seu filho acompanham o funeral no “Pico
da Luz Eterna”, o cume de uma montanha no lado oculto do planeta que recebe permanentemente
a luz do Sol.
Zen Pencils é um fantástico blog criado pelo cartunista australiano
Gavin Aung Than que adapta para tiras em quadrinhos algumas citações de grandes
nomes da literatura, quadrinhos, ciência, poesia, história, política, entre
outros. O Site foi criado no ano de 2012 após Gavin pedir demissão de seu
trabalho como designer gráfico, onde atuou por 8 anos, para se dedicar à sua
verdadeira paixão que é desenhar cartoons.
São tirinhas com mensagens edificantes sobre o sentido da vida, a beleza do
universo, e, principalmente, ir em busca de seus sonhos. Há várias delas já
traduzidas para o português.
Existe uma tendência a se reduzir
o problema da violência no Brasil à questão da desigualdade social. A origem da
violência estaria na falta de oportunidades e pobreza causadas pela
desigualdade social e os criminosos seriam meras vítimas da sociedade. Esta é uma
visão preconceituosa de quem só considera criminoso o pobre que comete crime.
Sim, por que se pobreza fosse a origem do crime, não existiria tantos
criminosos nas classes mais altas, nem pessoas tão dignas nas classes mais
baixas da sociedade. Para ficar em apenas um exemplo, traficante é apenas aquele
que vende drogas na favela ou aquele que vende drogas nas festas dos
apartamentos de luxo Zona Sul também é? Rico que comete crimes não é criminoso?
A pobreza sozinha pode ser considerada a responsável pela violência?
Todos os dias vários criminosos
são presos e a muitos destes ostentam uma extensa ficha criminal. São presos
diversas vezes após cometerem inúmeros crimes no prazo de poucos anos e serem soltos
em pouco tempo, beneficiados por nossas leis frouxas. Nossos intelectualóides
argumentariam que prisão não resolve o problema, que nossas prisões são escolas
de criminosos, que estas pessoas cometeram crimes pela falta de oportunidades e
pela histórica desigualdade social que assola o país, blá, blá, blá, blá, blá,
blá. Eles então continuam sendo soltos e destruindo a vida de tantas vítimas
por aí.
Policiais brasileiros fazem papel
de idiota em sua dura e arriscada labuta de enxugar o gelo, e, no fim, a culpa
é sempre da polícia por não usar de sua onisciência, onipresença e onipotência
para impedir que o crime aconteça. Prender e encarcerar talvez não resolva o
problema em definitivo, mas, passar a mão na cabeça e chamar de coitadinho com
certeza não ajuda em nada. Um réu primário às vezes merece uma nova chance, mas
e quem reincidiu uma, duas, três, dez, vinte vezes? A certeza da impunidade é
um dos motores da violência. Se um criminoso efetivamente cumprisse a pena
prevista no Código Penal para o seu crime (ainda que muitas vezes baixa),
teríamos menos um problema por alguns anos e inúmeros crimes deixariam de ser
cometidos por este indivíduo.
É como uma pessoa que teve
cirrose hepática por ser alcoólatra. A causa é, entre outras, a bebida, mas
parar de beber não a salvará, pois ela ainda teria um fígado destruído para
cuidar. Se hoje por um milagre o Brasil se tornasse o país mais justo do mundo
e sem desigualdade social, ainda teríamos milhares de criminosos matando,
roubando, traficando drogas, estuprando, desviando recursos públicos, entre
tantos outros crimes que ainda precisariam ser combatidos. A violência é um
problema muito complexo e de difícil solução, pois esta depende de todos. Não
adianta culpar apenas a desigualdade social e deixar de combater o problema.
Nem adianta tratar o bandido como um coitadinho vítima da sociedade. Bandido é
bandido e deve ser tratado como tal, seja ele pobre ou rico.
Esta é a transcrição da palestra para
o TED do cineasta James Cameron, responsável pelos dois filmes de maior
bilheteria da história do cinema: Avatar
e Titanic. Ele também tem diversos outros
filmes de sucesso em seu currículo, como Exterminador
do Futuro (The Terminator, 1984), Aliens
– O resgate (Aliens, 1986), O Segredo
do Abismo (The Abyss, 1989), Exterminador
do Futuro 2 – O Julgamento Final (Terminator 2: Judgement Day, 1991), True Lies (1994), entre outros. Aqui ele
faz um resumo de sua vida, de um garoto fã de ficção científica à cineasta de
sucesso e explorador. Além de filmes, ele também fez diversos documentários,
principalmente no longo período entre os filmes Titanic, lançado em 1997, e
Avatar, em 2009. Deste período vem o sensacional documentário Criaturas das Profundezas (Aliens of the Deep),
onde ele, juntamente com alguns astrobiólogos da NASA, exploram em um submarino
russo, fontes termais nas profundezas do Oceano Atlântico em busca dos
estranhos seres vivos que ali vivem em um ecossistema totalmente independente
do Sol.
Alguns filmes de James Cameron
Para ver o vídeo legendado clique
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acione as legendas Portuguese, Brazilian.
James
Cameron: Antes de Avatar... um garoto curioso
Cresci sob uma dieta regular de ficção
científica Durante o segundo grau tomava um ônibus para escola era uma hora de
ida, outra de volta, todos os dias e eu estava sempre absorto em um livro um
livro de ficção científica, que transportava minha mente a outros mundos, e
satisfazia, de uma forma narrativa, esta curiosidade insaciável que eu tinha
E vocês sabem que a curiosidade também se
manifestava no fato de que sempre que eu não estava na escola eu estava ao ar
livre, no mato, fazendo excursões e coletando "amostras", sapos e
cobras e insetos e água das poças, e trazendo-os de volta, examinando-os no
microscópio Vocês sabem, eu era realmente um fanático por ciência Mas tudo isso
se tratava de tentar entender o mundo, entender os limites das possibilidades.
E minha paixão por ficção científica de fato
parecia se refletir no mundo ao meu redor, por causa do que estava acontecendo,
isso era no fim dos anos 60, estávamos indo à lua, estávamos explorando os
oceanos profundos, Jacques Cousteau estava em nossas salas de estar com seus
programas especiais fantásticos que nos mostravam animais e lugares e um mundo
incrível que nunca poderíamos ter imaginado antes Então, isso parecia estar de
acordo com toda essa parte de ficção científica.
E eu era um artista. Eu desenhava. Eu
pintava. E eu descobri já que não havia video games e esse excesso de filmes feitos
por computador e todo esse imaginário no cenário da mídia, eu tinha que criar
essas imagens em minha cabeça. Vocês sabem, todos passamos por isso, quando
crianças tínhamos que ler um livro e através da descrição do autor criar algo
na tela da nossa mente Então, minha resposta era pintar, desenhar criaturas
alienígenas, mundos extra-terrestres, robôs, espaçonaves, todas essas coisas.
Eu era constantemente pego na aula de matemática rabiscando atrás do livro. Ou
seja, a criatividade tinha que encontrar um escape.
E uma coisa interessante aconteceu, os
programas de Jacques Cousteau realmente me deixaram muito entusiasmado sobre o
fato de que havia um mundo alienígena aqui na Terra Talvez eu realmente não vá
a um mundo extra-terrestre em uma espaçonave um dia. Isso parecia realmente
muito pouco provável. Mas havia um mundo que eu podia visitar, bem aqui na
Terra, que era rico e exótico como tudo que eu havia imaginado ao ler esses
livros.
Então eu decidi que seria um mergulhador
quando tinha 15 anos. O único problema é que eu vivia em uma cidadezinha do
Canadá, a 1000 km do oceano mais próximo. Mas não deixei que isso me
desanimasse. Insisti com meu pai até que ele finalmente encontrou aulas de
mergulho em Buffalo, Nova Iorque, cruzando a fronteira onde morávamos. E eu
realmente recebi meu certificado em uma piscina da ACM em pleno inverno em
Buffalo, Nova Iorque. E não vi um oceano, um oceano de verdade, por mais 2
anos, até que nos mudamos para Califórnia.
Desde então, nos próximos 40 anos, passei cerca
de 3.000 horas embaixo d´água, E 500 dessas horas foram em submersíveis. E
aprendi que o ambiente de um oceano profundo, e mesmo dos oceanos mais rasos,
são completamente ricos com uma vida incrível que está realmente além da nossa
imaginação. A imaginação da natureza é tão ilimitada comparada com nossa pobre
imaginação humana. Até hoje, ainda fico totalmente surpreso com o que vejo em
meus mergulhos. E minha história de amor com o oceano continua, tão forte como
sempre foi.
Mas, quando escolhi uma carreira, já adulto,
foi fazer filmes. E esta parecia ser a melhor maneira de conciliar minha
necessidade de contar histórias, com minha necessidade de criar imagens. E
quando criança eu estava sempre desenhando histórias em quadrinhos e coisas do
tipo. Então, fazer filmes era a maneira de colocar imagens e histórias juntos.
E isso fazia sentido. E claro que as histórias que escolhi contar eram
histórias de ficção científica: "Exterminador do Futuro",
"Aliens" e "O Abismo". E com "O Abismo", eu
estava juntando minha paixão pelo mundo aquático e mergulho, com a produção de
filmes. Então, vocês sabem, fundindo as duas paixões.
Algo interessante surgiu de "O
Abismo", que era resolver um problema específico de narrativa neste filme
que era criar um tipo de criatura aquática líquida, nós realmente abraçamos a
animação gerada por computador. E isso resultou na primeira superfície macia de
um personagem, de animação por computador que jamais existiu em um filme.
Apesar do filme não ter dado lucro, por pouco ficamos quites, devo dizer, fui
testemunha de algo incrível, que foi o público, o público global ficou
boquiaberto com esta aparente magia.
Vocês sabem, é a lei de Arthur Clarke de que
qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia. As pessoas
estavam vendo algo mágico. E isso me deixou muito entusiasmado. E pensei,
"Uau, isso é algo que precisa ser incorporado à arte
cinematográfica." Então, com "Exterminador do Futuro 2", que foi
meu próximo filme, levamos isso muito mais além. Trabalhando com ILM, criamos
uma figura de metal líquido no filme. O sucesso dependia do efeito funcionar ou
não. E funcionou. E criamos mágica outra vez. E tivemos o mesmo resultado com o
público. Apesar de que faturamos um pouco mais nesse filme.
Então, traçando uma linha entre esses dois
pontos de experiência, chegamos ao ponto de que seria um mundo totalmente novo,
era um mundo totalmente novo de criatividade para os artistas da indústria de
cinema. Então, comecei um negócio com Stan Winston, meu grande amigo Stan
Winston, que era número um em maquiagem e desenho de criaturas naquela época, e
se chamava Digital Domain. E o conceito da empresa era que pularíamos a fase
dos processos analógicos das impressoras ópticas e iríamos direto para produção
digital. E realmente fizemos isso, o que nos deu uma vantagem competitiva por
um tempo.
Mas, nos encontramos atrasados no meio dos
anos 90 no negócio de desenho de criaturas e personagens que era para o que
havíamos criado a empresa. Então, escrevi este texto chamado "Avatar",
que tinha a intenção de absolutamente inovar em efeitos visuais, de efeitos
gerados por computador, ir além com personagens realistas com emoções humanas
gerados por computador e os principais personagens seriam gerados por
computador e o mundo seria gerado por computador Mas era avançado demais. E
meus funcionários me disseram que não poderíamos fazer isso por algum tempo.
Então, arquivei a idéia, e fiz esse outro
filme sobre um enorme navio que afunda. (Risos) Vocês sabem, fui ao estúdio e
lancei essa idéia como " 'Romeu e Julieta' em um navio" Vai ser um
romance épico, um filme ardente. Secretamente, o que eu queria fazer era
mergulhar no mundo real do "Titanic". E foi por isso que eu fiz o
filme. (Aplausos) E essa é a verdade. Bem, o estúdio não sabia disso. Mas eu os
convenci. Eu disse, "Vamos mergulhar até o naufrágio. Vamos filmá-lo de
verdade. Vamos usar na abertura do filme. Vai ser muito importante. Será um
grande gancho de marketing." E eu os convenci a custear uma expedição.
(Risos)
Parece loucura. Mas isso nos faz voltar ao
assunto de que a sua imaginação cria a realidade. Porque nós realmente criamos
uma realidade onde seis meses depois eu me encontrei num submersível russo a 4
Km de profundidade no Atlântico norte, olhando para o verdadeiro Titanic
através de uma escotilha, não era filme, não era alta definição, era real.
(Aplausos)
Bem, aquilo foi impressionante. E exigiu
muita preparação, tivemos que construir câmeras e luzes e todo tipo de coisas.
Mas, me dei conta do quanto esse mergulho, esses mergulhos profundos eram como
uma missão espacial. Vocês sabem, onde tudo era altamente técnico, e exigia
muito planejamento. Você entra nessa cápsula, desce a essa escuridão um
ambiente hostil onde não existe possibilidade de salvamento se você não
conseguir voltar sozinho. E eu pensava, "Uau, estou vivendo um filme de
ficção científica. Isso é realmente fantástico."
E então, eu realmente fui contagiado pela
febre da exploração de oceanos profundos. Claro, a curiosidade, o componente
científico. Era tudo. Era aventura, Era curiosidade. Era imaginação. Era uma
experiência que Hollywood não podia me dar. Porque, vocês sabem, eu podia
imaginar uma criatura e podia criar um efeito visual para ela. Mas eu não podia
imaginar o que estava vendo por aquela janela. A medida que fazíamos nossas
futuras expedições Eu estava vendo criaturas em fontes hidrotermais e às vezes
coisas que eu nunca tinha visto antes, às vezes coisas que ninguém tinha visto
antes, que realmente não haviam sido descritas pela ciência no momento em as
vimos e as imaginamos.
Então, eu estava completamente fascinado com
isso e tinha que fazer mais. Então, eu de fato tomei uma decisão um tanto
curiosa. Após o sucesso de "Titanic," Eu disse, "Ok, vou dar uma
pausa em meu trabalho como criador de filmes de Hollywood, e vou ser explorador
por tempo integral durante um período." E então, começamos a planejar essas
expedições. E acabamos indo até o Bismark, e explorando-o com veículos
robóticos. Voltamos ao naufrágio do Titanic. Levamos pequenos robôs que
havíamos criado que desenrolavam uma fibra óptica. E a idéia era ir entrar e
fazer um levantamento interno uma pesquisa daquele navio, que nunca havia sido
feito. Ninguém nunca havia estado dentro do naufrágio. Eles não tinham os meios
para fazer isso, então criamos a tecnologia para isso.
Então, vocês sabem, aí estou, no deck do
Titanic, sentado em um submersível, e olhando para tábuas de madeira que se
pareciam muito com o local onde eu sabia que a banda havia tocado. E estou
conduzindo um pequeno veículo robótico pelo corredor do navio. Quando penso, eu
o estou conduzindo, mas minha mente está no veículo. Eu sentia que estava
fisicamente presente dentro do naufrágio do Titanic. E foi o tipo mais surreal
de experiência de deja vu que eu já tive, porque eu já sabia antes de virar em
alguma esquina o que ia estar lá antes que as luzes do veículo realmente a
revelassem, porque eu havia andado pelo set de filmagem por meses quando
estávamos fazendo o filme. E o set estava baseado em uma réplica exata dos
desenhos do navio.
Então, foi uma experiência absolutamente
impressionante. E me fez entender que a experiência de telepresença que você de
fato pode ter com esses avatares robóticos, que sua consciência é projetada
nesses veículos, nessa outra forma de existência. Foi realmente muito, muito
profundo. E pode ser que tenha sido uma pequena idéia do que poderá vir a acontecer
em algumas décadas ao começarmos a ter ciborgues para exploração ou para outros
fins em muitos tipos de futuros pós-humanos que eu posso imaginar, como fã de
ficção científica.
Então, ter feito essas expedições, e
realmente começar a apreciar o que estava lá, como por exemplo as fontes nas
fendas do fundo do mar onde temos esses animais fantásticos, fantásticos. Eles
são basicamente alienígenas aqui na Terra. Eles vivem em um ambiente de
quimiosíntese. Eles não sobrevivem com sistemas baseados na luz do sol, como
nós. Assim, você está vendo animais que vivem junto a jorros de água a 500
graus. Você acha que é impossível que eles existam.
Ao mesmo tempo Eu estava me interessando
muito por ciência espacial também, novamente, é a influência da ficção
científica, desde criança. E acabei me envolvendo com a comunidade espacial,
realmente envolvido com a NASA, participando do Conselho da NASA, planejando
missões espaciais reais, indo para Rússia, assistindo os protocolos biomédicos
pré-cosmonáuticos todo esse tipo de coisas, para realmente voar até à estação
espacial internacional com nosso sistema de câmeras 3D. E era fascinante. Mas o
que eu acabava fazendo era levar cientistas espaciais conosco para o fundo do
mar. E levá-los ao fundo para que eles tivessem acesso astrobiologistas,
cientistas planetários, pessoas interessadas nesses ambientes extremos,
levando-os para as fontes nas fendas para verem, e pegar amostras e levar
instrumentos para testes, e assim por diante.
Então, por fim estávamos fazendo
documentários, mas fazendo ciência de verdade, e de fato fazendo ciência
espacial. Eu havia fechado o círculo completamente entre ser um fã de ficção
científica, vocês sabem, quando criança, e fazer essas coisas de verdade. E
vocês sabem, durante esta jornada de descoberta, eu aprendi muito. Aprendi
muito sobre ciência. Mas também aprendi muito sobre liderança. Bem, você
imagina que um diretor tem que ser um bom líder, líder, capitão do navio, todo
esse tipo de coisa.
Eu realmente não tinha aprendido sobre
liderança até fazer essas expedições. Porque eu tinha, num certo ponto, dizer
"O que estou fazendo aqui? Por que estou fazendo isso? O que eu ganho com
isso?" Não fazemos dinheiro com esses benditos shows. Quase nem chegamos a
empatar. Não tem fama nisso. As pessoas pensaram que eu tinha desaparecido
entre "Titanic" e "Avatar" e estava curtindo em algum
lugar, numa praia. Fiz todos esses filmes, todos esses filmes documentais para
um público muito limitado.
Nada de fama, glória, dinheiro. O que você está
fazendo? Você está fazendo isso pela tarefa em si, pelo desafio e o oceano é o
ambiente mais desafiador que existe, pela emoção da descoberta, e pelo estranho
laço que se forma quando um pequeno grupo de pessoas forma uma equipe bem
ajustada. Pois fazíamos essas coisas com 10-12 pessoas trabalhando por anos e
por vez As vezes no mar por 2-3 meses.
E nesse laço, você percebe que a coisa mais
importante é o respeito que você tem por eles e que eles têm por você, que
vocês completaram uma tarefa que não tem como explicar para outra pessoa.
Quando você volta para a terra e diz, "Tivemos que fazer isso, e a fibra
ótica, e a atenuação e isso e aquilo outro, e toda tecnologia, e a dificuldade,
os aspectos do desempenho humano no trabalho no mar você não consegue explicar
isso para as pessoas. É uma coisa que talvez os policiais tenham, ou pessoas
que estiveram em combate e passaram por algo juntas e eles sabem que nunca vão
conseguir explicar. Isso cria um laço, cria um laço de respeito.
Então, quando voltei para fazer meu próximo
filme, que era "Avatar," Tentei aplicar os mesmos princípios de
liderança que é de respeito pela sua equipe, e que você ganha o respeito deles
em troca. E isso realmente mudou a dinâmica. Então, lá estava eu novamente com
uma pequena equipe, em um território não mapeado fazendo "Avatar",
trazendo novas tecnologias que não existiam antes. Super excitante. Super
desafiante. E nos tornamos uma família, por um período de quatro anos e meio. E
isso mudou completamente a maneira em que faço filmes. Então, as pessoas
comentaram como, bem, vocês sabem, você trouxe os organismos marinhos e os
colocou no planeta Pandora. Para mim era mais uma maneira fundamental de fazer
negócios, o processo em si mesmo, isso mudou como um resultado do que havia
aprendido.
Então, o que podemos sintetizar disso? Vocês
sabem, quais as lições aprendidas? Bem, acho que a número um é curiosidade. É a
coisa mais poderosa que você tem Imaginação é uma força que pode realmente
manifestar-se em uma realidade. E respeito da sua equipe é mais importante do
que todos as glórias do mundo. Eu conheço jovens cineastas que vem até mim e
dizem, "Qual o seu conselho para fazer isso." E eu digo, "Não
crie limites para você mesmo. Outras pessoas vão fazer isso por você, não o faça
a si mesmo, não aposte contra você mesmo. E arrisque."
A NASA tem uma frase que eles gostam:
"Fracasso não é uma opção." Mas fracassar tem que ser uma opção na
arte e na exploração, porque se trata de fé. E nenhum empreendimento que exigiu
inovação foi feito sem riscos. Você tem que estar disposto a assumir esses
riscos. Então, o pensamento que eu gostaria de deixar com vocês, é que em
qualquer coisa que você faça, fracassar é uma opção, mas o medo não. Obrigado.
Aplausos.
The Voices of a Distant Star (Hoshi No Koe, Panini Comics/Planet Manga,
2010) é um mangá escrito pelo japonês Makoto Shinkai e desenhado por Mizu
Sahara. Apesar do nome em inglês, que significa “Vozes de uma estrela distante”, este mangá foi publicado em
português pela Panini Comics/Planet Manga no Brasil. Diferentemente das centenas
de volumes de outros mangás, este tem apenas dez capítulos em um volume único
de 244 páginas. A história se passa no ano de 2047 e conta a história de um
casal de jovens amigos, Mikako Nagamine e Noboru Terao, separados devido a uma
guerra entre a humanidade e alienígenas conhecidos como Tharsians. Os dois são
apenas adolescentes na escola quando Mikako é convocada para lutar na guerra
contra os Tharsians como piloto de um
Tracer, que é um gigantesco robô de
combate. Enquanto Noburu continua seus estudos na Terra, Mikako inicia seu
treinamento em Marte e depois viaja à bordo da nave de guerra Lysithea para Júpiter, Nuvem de Oort, e,
por fim, a guerra em um planeta da estrela Sirius, distante 8,6 anos-luz do Sol.
Voices of a Distant Star (anime)
Os dois se comunicam por
mensagens de texto enviadas através de telefone celular, que demoram cada vez
mais a chegar conforme Mikako vai se afastando do Sistema Solar, primeiro alguns
minutos, depois horas, meses, até 8 anos quando ela está na guerra em Sirius. Isto
ocorre por que a velocidade da luz no vácuo é de cerca de 300.000 Km/h, e como
as transmissões são feitas por ondas de rádio que viajam nesta velocidade, há
um atraso devido à distância em que os dois se encontram, que é de dezenas de
milhões de quilômetros entre a Terra e Marte, quase um bilhão até Júpiter,
dezenas de bilhões de quilômetros até a nuvem de Oort e dezenas de trilhões de
quilômetros até Sirius.
A história não é bem uma ficção
científica hard, nem uma Space Opera, mas uma bela história de
amor que faz um bom uso dos efeitos da dilatação temporal prevista na teoria da
relatividade. Segundo esta teoria, confirmada por inúmeros experimentos e
observações, o tempo passaria mais devagar para alguém viajando em uma nave
viajando próximo à velocidade da luz do que para alguém que ficasse na Terra.
Por este motivo, enquanto Noburu envelhecia na Terra, Mikako permaneceu com
praticamente a mesma idade à bordo da nave Lysithea.
É uma história belíssima sobre a amizade, o primeiro amor e a dor da separação.
Contada com muita sensibilidade, é uma história de um amor e amizade que apesar
das vastas distâncias no espaço-tempo, não morre nunca.
Eu tenho saudade de várias coisas.
Das nuvens de verão e da chuva gelada.
Do aroma do vento de outono e da maciez da
terra na primavera.
Da sensação de conforto ao encontrar uma
loja de conveniência aberta no meio da noite.
Do ar fresco no caminho de volta para casa
depois da aula.
Do cheiro do apagador do quadro negro.
Eu sempre quis partilhar essas sensações com
você.
Infelizmente a edição brasileira da
Panini está esgotada, mas para quem estiver interessado em adquirir um
exemplar, poderá encomendar um na loja virtual Comixpor apenas R$ 19,90 mais o valor do frete. Também há um
anime, que pode ser encontrado facilmente no Youtube.
Iniciantes (Companhia das Letras, 2009) é uma coletânea de contos
do escritor americano Raymond Carver (1938-1988), considerado um dos maiores
escritores dos Estados Unidos na segunda metade do século XX. Estes contos foram
publicados originalmente em 1981 sob o título What we talk about when we talk about love (Do que nós falamos
quando falamos sobre amor). Curiosamente, este título inspirou o escritor
japonês Haruki Murakami – fã confesso de Carver – a nomear seu livro sobre
corridas “Do que eu falo quando falo
sobre corrida”. Na primeira publicação destes contos, eles foram editados e
cortados em cerca de 50%, além de vários títulos terem sido modificados, a
começar pelo conto que deu nome à coletânea, que originalmente se chamava Beginners
(iniciantes). Esta edição caprichada da Companhia das Letras traz as versões
originais destes contos, sem cortes e com os títulos originais, da maneira que
Carver os entregou ao editor.
São contos sobre pessoas simples,
vivendo nos subúrbios em pequenas cidades americanas, com suas virtudes e
fraquezas. O estilo de Carver é muito envolvente. Sua escrita é simples e é fácil
de identificar com alguns de seus personagens, ainda que seja triste quando
isto acontece com um dos derrotados. Mas talvez a grande lição dos destes
contos seja que a vida tem seus altos e baixos, e mesmo nos períodos mais
felizes o abismo está sempre à espreita, aguardando um simples deslize nosso em
um momento de fraqueza.
É necessário ter estômago para ler
alguns deles, que retratam pessoas com vidas arruinadas pelo alcoolismo, casais
vivendo de aparências, casamentos arruinados pela rotina ou pelo adultério,
entre outras. São pessoas caminhando à beira do abismo, afogadas em mágoas e
arrependimento por sonhos nunca realizados que a idade tornou inalcançáveis.
Destes, destaco o horripilante “Diga à mulheres que a gente já vai”, um conto com
ritmo tenso sobre como podemos destruir nossas vidas em segundos com um simples
ato impensado.
Raymond Carver
Mas não há só desgraças nos
contos de Carver. O conto “Iniciantes”, que dá o título à coletânea, é
belíssimo e tocante. Outro conto que gostei muito foi “Uma coisinha boa”, que
apesar da grande tragédia, tem um final surpreendente. No geral, a maioria dos
contos são excelentes e valem a leitura.
O Chinês Americano (Quadrinhos na Cia, 2009), é uma Graphic Novel escrita e desenhada pelo
americano filho imigrantes chineses Gene Luen Yang, e em 2006 foi a primeira
história em quadrinhos indicada e finalista do prestigiado prêmio National Book Awards, além de ter sido vencedora
do Michael L. Printz Award e do Eisner Award, entre outros.
O história é composta de três
narrativas que se revezam:
Na primeira narrativa temos uma
releitura moderna de um conto chinês do século XVI sobre o Rei Macaco, que é
barrado e ridicularizado ao tentar entrar no salão dos deuses. Ele se enfurece com
as ofensas e derrota todos os deuses em uma luta, e após se recolher em
meditação, muda de forma e se auto intitula “O grande sábio, um igual nos céus”,
passando a viajar pelo universo em busca de reconhecimento.
Na segunda narrativa acompanhamos
um garoto chamado Jin Wang, filho de imigrantes chineses que viviam em um
bairro chinês de São Francisco que se mudam para um bairro do subúrbio composto
quase que exclusivamente de americanos brancos. Jin passa a estudar em uma nova
escola e tem muitas dificuldades em fazer amigos, se relacionar com as outras
crianças e adotar a cultura americana.
Na terceira narrativa conhecemos
um jovem americano chamado Danny, que recebe a visita anual de seu primo Chin-Kee,
que representa todos os estereótipos de um chinês visto por um americano médio.
A visita deste primo que mora na China é sempre motivo de muitos problemas para
Danny, que tem vergonha do modo de falar, de se vestir e de agir dele, e tenta
escondê-lo de seus amigos.
Gene Luen Yang
De forma surpreendente as
narrativas se unem em uma fantástica conclusão, em que aprendemos uma grande
lição sobre aceitarmos nossa identidade e a importância de se respeitar as diferenças
entre as pessoas. Nestes tempos em que tanto se discute o bullying nas escolas e o preconceito e a intolerância na sociedade,
O Chinês Americano é uma leitura
obrigatória para todos, sejam pais, filhos, estudantes, professores, ou
qualquer um interessado em um mundo melhor para as futuras gerações.
O Chinês Americano tem 240
páginas em papel couché e custa R$ 52,00, podendo ser encontrado em qualquer
boa livraria ou lojas virtuais da internet como Livraria Cultura, Saraiva, Fnac
ou Submarino. Vale a pena a leitura e é um excelente presente para crianças e
adolescentes em idade escolar.