Viagem à Lua de Júpiter (Europa Report, 2013) é um filme de ficção
científica de baixo orçamento dirigido pelo equatoriano Sebastián Cordero sobre
uma missão tripulada com financiamento privado à Europa, uma lua do planeta
Júpiter que tem um imenso oceano submerso onde os astrobiólogos pensam existir
vida. É um suspense bem realista com temas atuais como a exploração privada do
espaço e a busca por vida fora do planeta Terra, que que fará a alegria dos fãs
de 2001: Uma Odisseia no Espaço, o
grande clássico de ficção científica de Stanley Kubric e Arthur C. Clarke. O
filme foi muito bem recebido pela crítica e surpreendentemente chega agora ao
Brasil em DVD.
Júpiter e suas luas são os locais
mais interessantes de todo Sistema Solar. O planeta foi visitado pelas sonda Voyager 1 e 2 nas décadas de 70 e 80 e na década de 90 ganhou a missão de uma
sonda exclusiva, a Galileu, que fez a
exploração mais completa até hoje do sistema jupiteriano. Esta última missão foi
batizada em homenagem ao grande cientista Galileu Galilei, que no século XVII descobriu
os quatro grandes satélites do planeta Júpiter: Ganimedes, Calisto, Europa e Io.
Com os dados destas missões descobrimos que o planeta não é uma simples bola de
gás e suas luas estão longe de serem apenas bolas de gelo e rochas sem graça,
como se imaginava anteriormente. Júpiter tem uma atmosfera complexa e turbulenta,
e suas grandes luas são geologicamente ativas. Destaque para Io, com dezenas de
vulcões em atividade que fazem dela o corpo geologicamente mais ativo de todo o
Sistema Solar; e Europa, que tudo indica possuir um oceano salgado com centenas
de quilômetros de profundidade sob a espessa camada de gelo que compõe sua
superfície. Onde há água líquida, substâncias complexas e uma fonte de energia,
pode existir vida como a conhecemos aqui na Terra, daí o grande interesse em
Europa.
No futuro próximo imaginado por
Cordero, uma empresa fictícia, a EuropaVentures, projeta, financia e lança uma missão tripulada para Europa, com o
objetivo de investigar se há vida nesta lua do planeta Júpiter. O filme se
passa após um aparente fracasso e é contado na forma de documentário. Através
de flashbacks e entrevistas fictícias
com a CEO da empresa e cientistas da missão, aos poucos vamos sabendo aconteceu
à missão Europa One e o que sua
tripulação descobriu por lá. Esta descoberta pode ter custado a vida de vários
membros da tripulação.
Planeta Júpiter com Europa ao fundo em cena de Europa Report. |
Com a ascensão de várias empresas
espaciais privadas como a Space X e a
Virgin Galactic, o tema da
privatização das viagens espaciais mostrada no filme é pertinente e atual. Com
o programa espacial tripulado americano patinando após a aposentadoria dos
ônibus espaciais, e uma missão tripulada à Marte cada vez mais distante, as
maiores esperanças hoje para o avanço da humanidade no espaço são as empresas
privadas (e o programa espacial chinês). Hoje os astronautas dos Estados Unidos
tem de contar com a carona das naves russas Soyuz
para chegar até a Estação Espacial Internacional. Com a atual crise diplomática
na Criméia e os pesados embargos impostos à Rússia, esta provavelmente deixará
os Estados Unidos “à pé” no espaço em retaliação.
Apesar do baixo orçamento, o
filme é muito bem feito. O interior e o exterior da nave são perfeitos, com
cenas muito boas em gravidade zero e no espaço. A chegada ao planeta Júpiter e
o pouso em Europa são de tirar o fôlego e as tomadas na superfície são bem
realistas. Cenas reais do lançamento de um foguete e sua inserção em órbita, além
de fotos reais do planeta Júpiter e de Europa tiradas durante a missão Galileu da NASA foram utilizadas, barateando
os custos com efeitos especiais e dando ainda mais realismo ao filme. Há muito suspense
e a história é contada de uma forma diferente, não linear, com um final
surpreendente, realista e satisfatório. Para os fãs de ficção científica hard, um filme imperdível!