Proclamação da República, em novembro de 1889 |
Em novembro de 1889, após a
Proclamação da República no Brasil sem participação popular significativa,
ficou famosa a frase do jurista, abolicionista e jornalista republicano Aristides
Lobo, que diante da apatia geral da população na época escreveu: “O povo assistiu àquilo bestializado,
atônito, surpreso, sem conhecer o que significava”. Diferentemente do que aconteceu no século XIX
hoje estamos no século XXI e mais especificamente em junho de 2013, durante a
realização da Copa das Confederações no Brasil, milhões de pessoas saíram às ruas
em manifestações que tomaram diversas cidades do país, em um misto de
insatisfação, ódio, manipulação política, oportunismo, ociosidade da juventude
burguesa, entre outros sentimentos que estavam reprimidos e que foram canalizados
para exigir o combate à corrupção, melhor aplicação dos recursos públicos, mais
investimentos em educação, transporte público de qualidade e outras aspirações
legítimas do povo brasileiro.
Manifestação no Rio de Janeiro, em junho de 2013 |
O sentimento de revolta surgiu e se
espalhou na velocidade de uma notícia ruim pelas redes sociais, aqueles canais
de comunicação por meio dos quais trocamos futilidades, e após muito quebra-quebra
e a dura repressão das polícias, a maioria se cansou, a revolta passou e o povo
voltou para casa. Pequenos focos de revolta aqui e ali ainda persistiram,
principalmente por parte da “burguesia enfastiada”, mas estes chamaram a
atenção mais pelos atos de vandalismo generalizado e violência gratuita do que
pela mobilização em massa da população, como se viu no início. Ainda tivemos algumas
grandes manifestações por parte dos professores da cidade do Rio de Janeiro,
que chamaram a atenção para o grave problema da desvalorização do professor e
da educação, mas aos poucos as coisas vão se acalmando e voltando ao normal. Ano
que vem nas eleições, nós, o glorioso povo brasileiro, iremos as urnas com a
mesma má vontade e despreparo de sempre e votaremos nos mesmos candidatos. Uma
boa quantidade de bons candidatos e um número muito maior de candidatos ruins
serão reeleitos, e duvido muito que aconteça uma renovação de sequer 5% de
nossos cargos eletivos.
Teremos que votar para
Presidente, Senador, Deputado Federal, Governador e Deputado Estadual, e como
sempre, votaremos naquele candidato que arranjou o ônibus no dia do enterro, que
nos arranjou aquela consulta no Posto de Saúde ou Hospital sem que
precisássemos madrugar na fila como todo mundo, arranjou a bola e as camisas da
pelada do fim de semana, enfim, naquele candidato gente boa que sempre nos ajuda
e que em troca só nos pede esta porcaria que não vale nada que é o nosso voto,
que somos obrigados a ir uma vez a cada dois anos putos da vida em um domingo
de manhã para digitar na urna eletrônica. Alguns são tão legais que até nos
pagam R$ 50,00 ou R$ 20,00 para isso! No caso de não conhecer ninguém, sempre teremos
a opção de votar nos candidatos daquele panfletinho mais limpinho ou mais
bonitinho que encontrarmos no chão próximo ao local de votação, jogado ali por alguém
fazendo boca de urna, afinal é muito difícil escolher cinco ou seis candidatos
e guardar seus números neste prazo tão curto de apenas alguns meses.
Urna eletrônica |
Mas se depois disso as mudanças
não acontecem na velocidade em que queremos, sempre podemos ir para as ruas
protestar e até quebrar e atear fogo em tudo que ver pela frente, ou atirar
pedras, coquetéis molotov e dar porrada na polícia, por que se formos presos, nada
acontece já que na Delegacia estará uma equipe de advogados da OAB para
defender nossos direitos. A culpa é sempre do presidente, do governador e do
prefeito! Somos um país democrático e muito diferente por exemplo da Rússia,
onde aqueles ativistas do Greenpeace (incluindo uma brasileira) foram presos
protestando contra a exploração de petróleo no Ártico e responderão pelos
crimes de pirataria, terrorismo, espionagem, invasão de territórios e outros
absurdos que a justiça russa puder imputar.
Mas não me entendam mal, sou um
otimista e acredito no futuro do Brasil. Vi muita coisa melhorar de verdade e
acho que o Brasil de hoje é muito melhor que o de nossos pais e avós. Os
avanços foram substanciais, e acreditem, o futuro do país é promissor! Apenas
acho que nossa geração é uma geração perdida e que consertar as coisas de forma
definitiva será uma tarefa para nossos netos e seus descendentes. Quanto às
manifestações de junho, parafraseando o que foi escrito há 123 anos atrás após
a Proclamação da República no Brasil: “O
povo e a elite foram às ruas e participaram daquilo bestializados, atônitos,
surpresos, sem conhecer o que significava”.
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