segunda-feira, 19 de maio de 2014

A Arte: Conversas imaginárias com minha mãe, de Juamjo Sáez

A Arte: Conversas imaginárias com minha mãe (WMF Martins Fontes, 2013), é um livro sobre arte escrito e ilustrado pelo espanhol Juamjo Sáez. Através de um diálogo fictício entre o autor e sua mãe, ele tenta explicar a arte para o público leigo, destacando grandes artistas do século XX, como Pablo Picasso, Andy Warhol, Salvador Dalí, Alexander Calder, Antoni Tàpies, Eduardo Chillida, Joan Miró, entre outros.

Se você não entende nada de arte (como eu) e deseja começar a compreender o deslumbramento causado por todos aqueles montes de rabiscos e manchas de tinta; aquelas pilhas de metal retorcido; ou aquelas esculturas geométricas em posições impossíveis – que às vezes custam milhões de dólares! –, este livro é um bom começo. O livro é ilustrado em um estilo que é algo entre o infantil e o cartunesco, intencionalmente amador; o texto são garranchos que mantém os erros ocorridos durante a escrita com rabiscos por cima, dando a aparência de um rascunho.

Juamjo Sáez
O livro é bem divertido e mostra que para admirar a arte – e fazer arte também – não é preciso ser um especialista, nem ter uma ampla bagagem cultural. Apesar do conhecimento ajudar, ele não é estritamente necessário para despertar a emoção – ou perplexidade – diante de um belo quadro ou escultura. Para fazer arte precisamos apenas de criatividade, sensibilidade e intuição, coisas que fazem parte de todos os seres humanos e que não aprendemos na escola ou universidade. Mas apesar de defender a liberdade artística e a criatividade, o autor também faz uma crítica bem humorada ao rumo que a arte vem por vezes tomando: um vale-tudo em que o dedo do artista prestigiado a apontar qualquer bizarrice é o que define algo como arte.


sexta-feira, 16 de maio de 2014

A Onda (The Wave, 1981)

Curta metragem A Onda

A Onda (The Wave, 1981) é um curta-metragem para a televisão dirigido por Alex Grasshoff e estrelado pelo ator Bruce Davison (o Senador Robert Kelly nos primeiros filmes dos X-Men). O filme é baseado em uma história real sobre um experimento realizado por um professor de história americano em sala de aula, que ficou conhecido como A Terceira Onda.

Bruce Davison
A Terceira Onda foi um experimento social realizado pelo professor de história e escritor americano Ron Jones, que em abril de 1967 dava aula para alunos do segundo ano da Cubberley High School, na cidade de Palo Alto, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Esta experiência fez parte das aulas de Jones naquele ano sobre o mundo contemporâneo, como parte dos estudos sobre a Alemanha nazista.  Teve o objetivo de mostrar como uma população inteira foi praticamente hipnotizada pelos nazistas, provando que mesmo em uma sociedade democrática as pessoas não estão livres da conversão ideológica por líderes carismáticos.

Die Welle, filme alemão baseado em A Onda
Jones começou seu experimento sugerindo aos seus alunos que a democracia possui vários problemas, decorrentes do fato de valorizar em demasia o indivíduo e sua liberdade, o que incentivaria o egoísmo; e que o segredo para se conseguir uma sociedade mais justa e forte era a disciplina e o espírito de grupo. Através da adoção de um cumprimento que diferenciava os seus estudantes dos demais – que lembrava o saudação fascista de Mussolini –, a utilização de um uniforme pelos integrantes, e o desprezo ao alunos que não eram da turma, ele criou um grupo coeso e disciplinado, atento e receptivo a qualquer ideia que lhes fosse transmitida por seu líder – o próprio professor Jones. O lema criado foi “força através da disciplina, força através da comunidade, força através da ação, força através do orgulho”. Repetido à exaustão, este mantra deu as linhas mestras para os integrantes do grupo e se tornou o dogma a ser seguido sem contestação – quem questionasse algo era excluído. No fim o professor dissolveu o grupo e revelou aos alunos que tudo não passou de um experimento, e eles não acreditaram em como puderam ser manipulados tão facilmente.

A história também deu origem ao filme alemão Die Welle, de 2008, um longa-metragem com um enredo bem parecido, mas com uma conclusão mais trágica. A história de Jones também deu origem ao livro The Wave, do escritor Todd Strasser, que é a romantização dos eventos ocorridos durante A Terceira Onda.

Manifestantes da Marcha da Família com Deus no ano de 2014


The Wave, livro de Todd Strasser
Em nossos tempos onde tanta gente participa de passeatas pedindo a volta da ditadura militar no Brasil – como vimos recentemente na marcha da família e no aniversário de 50 anos do golpe militar de 1964 – é sempre bom refletir sobre os perigos do autoritarismo e da conversão ideológica. Muitos reclamam da democracia e tem sido muito difundida no Brasil hoje a ideia de que a corrupção é exclusiva do novo regime democrático brasileiro. Alega-se uma suposta inversão de valores e clama-se pela imposição de códigos morais mais rígidos na sociedade; mas tudo tem o seu preço, e o preço da liberdade é a convivência com valores diferentes dos nossos; mas o seu oposto – o autoritarismo – é um pesadelo em que a individualidade é sufocada em nome da ideologia oficial, concorde você ou não. E nesta distopia a corrupção encontra um terreno fértil e seguro para se disseminar (inúmeros escândalos de corrupção também ocorreram durante a ditadura militar). Basta uma pesquisa rápida na internet para encontrar aterrorizantes relatos sobre fatos ocorridos em regimes totalitários como o da China, Irã, Arábia Saudita, Coreia do Norte, Cuba, entre tantos outros; países onde não há liberdade de expressão, a internet e a mídia são controladas, e governos autoritários controlam rigidamente todos os aspectos da vida dos cidadãos; censurando abertamente livros, filmes, teatro, notícias, discursos, artigos científicos e qualquer coisa que seja considerada subversiva e contra os ideais do governo, regime, revolução, líder, entre outros; criados para serem adorados e obedecidos sem questionamento, sob o risco de prisão, tortura e até morte.


A Onda (legendado)


A Onda (dublado)

A Onda (Die Welle) 

terça-feira, 13 de maio de 2014

A Estação Espacial Internacional e a vista do planeta Terra ao vivo

Vista da Terra no ISS HD Earth Viewing Experiment
No dia 30 de abril de 2014 foram instaladas 4 câmeras de vídeo na Estação Espacial Internacional, que podem ser acessadas gratuitamente através de streaming e possibilitam observar a Terra em tempo real do espaço no  ISS HD Earth Viewing Experiment. Esta iniciativa tem o objetivo de avaliar o desgaste sofrido por equipamentos eletrônicos no ambiente espacial, além de testar novas tecnologias para gravação de vídeos no espaço para futuras missões. Você pode ver as imagens ao vivo no website da USTREAM clicando no link abaixo:


Caso a imagem mostrada seja uma tela negra, significa que a Estação está no lado escuro da Terra e passando por uma zona desabitada; se a tela está cinza, está acontecendo uma troca entre as câmeras. A estação está em uma altitude média de 360 Km e completa uma volta ao redor do planeta a cada 90 minutos com uma velocidade aproximada de 27.000 Km/h.

Estação Espacial Internacional


A Estação Espacial Internacional é a maior estrutura já construída pelo homem no espaço, e pode ser vista até a olho nu! Para saber a posição da Estação e o dia em que ela pode ser vista de sua localidade, acesse o link abaixo do website da NASA e selecione seu país e a cidade mais próxima:




Módulo Zaria
A Estação Espacial Internacional é um laboratório orbital que foi construído através da colaboração entre 16 países (incluindo o Brasil!) a um custo de mais de 100 bilhões de dólares. Seus módulos foram construídos em terra pela Agência Espacial americana (NASA), Agência Espacial Russa (ROSKOSMOS), Agência Espacial Europeia (ESA), Agência Espacial Canadense (CSA/ASC) e Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa (JAXA); e lançados ao espaço em foguetes russos e ônibus espaciais americanos.

A primeira missão de montagem foi em 20 de novembro de 1998 com a ISS Assembly Mission 1 A/R, quando um foguete russo Proton-K lançou o módulo de controle Zaria, responsável por fornecer energia elétrica através de baterias e pelo armazenamento de combustível. Em 24 de fevereiro de 2014 – após treze anos e quarenta lançamentos de foguetes russos e ônibus espaciais americanos – a ISS Assembly Mission ULF5 realizada pelo ônibus espacial Discovery instalou os módulos Leonardo e EXPRESS Carrier 4 e finalizou a Estação. Apesar de sua conclusão oficial em 2011, ainda há projetos para a instalação de mais módulos e a realização de várias melhorias na estação, que ficaram um pouco atrasados agora por causa da crise na economia internacional e a redução dos investimentos no espaço. Com a atual tensão entre a Rússia e os países da União Europeia e Estados Unidos por causa dos conflitos na Ucrânia, talvez estas melhorias estarão ainda mais longe no futuro.

Atual configuração da Estação Espacial Internacional:



Desde o ano 2000 ela é permanentemente tripulada com um mínimo de dois e um máximo de seis astronautas, que realizaram milhares de experimentos em áreas diversas como medicina, engenharia, astronomia, geologia, biologia, eletrônica, entre outras. Estas pesquisas possibilitaram o desenvolvimento de novas tecnologias que, segundo especialistas, possibilitaram um retorno estimado de seis vezes o valor investido na construção da estação. Apesar de todo este sucesso, muitos criticam a opção pelo projeto da Estação Espacial em detrimento de uma missão tripulada à Marte ou a construção de novos telescópios orbitais e o desenvolvimento de mais missões não tripuladas ao Sistema Solar, projetos que segundo os críticos trariam muito mais retorno científico.

O astronauta brasileiro Marcos Pontes
O Brasil tinha um acordo com a NASA desde o ano de 1996 e foi um dos países que assinaram o acordo de cooperação para a construção da Estação Espacial Internacional, e seria o responsável pela construção do módulo EXPRESS (clique aqui) e de vários outros equipamentos, em um investimento estimado de 120 milhões de dólares. Nessa época o Capitão da Força Aérea Brasileira Marcos Pontes foi o escolhido para ser o primeiro astronauta brasileiro e realizou treinamento na NASA para tripular um ônibus espacial, mas o acidente com o Columbia, que matou sete astronautas, atrasou os planos. Ele foi mandado então para a Rússia, onde treinou pela Agência Espacial ROSKOSMOS e acabou tripulando uma nave Soyuz em 2006 na “Missão Centenário”, que comemorou os 100 anos do voo de Santos Dumont no 14 Bis. Após sucessivos atrasos na liberação de verbas e no pagamento das empresas desenvolvedoras, e a opção em ir para o espaço com os russos, o país foi cortado do consórcio em 2007 pela NASA e suas associadas, sem conseguir cumprir com sua parte no acordo. Hoje a bandeira do Brasil não figura mais entre as dos países membros do projeto.