sábado, 24 de setembro de 2016

Trees, de Warren Ellis e Jason Howard

Trees (Image Comics) é uma nova série de quadrinhos de ficção científica escrita por Warren Ellis (Transmetropolitan, Planetary, Global Frequency, RED) e desenhada por Jason Howard (Super Dinosaur, Astonishing Wolf-Man). A série está em andamento e após vários atrasos encontra-se no nº 14 – publicado com 8 meses de atraso em relação ao nº 13! Duas edições encadernadas já foram lançadas.

Warren Ellis
A história se passa em um futuro próximo, 10 anos após uma estranha invasão alienígena. Nada de naves espaciais com ETs malignos matando pessoas com raios laser para destruir a humanidade e conquistar o planeta. Em Trees a descoberta de que não estamos sozinhos no universo veio com o surgimento de gigantescos artefatos alienígenas em forma de haste com vários quilômetros de altura, chegando até o espaço. Estas estruturas foram apelidadas de “árvores” (trees em inglês) e ninguém faz a menor ideia do que são; estão espalhadas pelo globo sem um padrão aparente e ignorando completamente a presença humana no planeta. Após o choque inicial, a humanidade acaba se acostumando à presença das misteriosas estruturas alienígenas – até favelas surgem ao redor delas no Rio de Janeiro! –, quando após anos em silêncio total, coisas estranhas começam a ocorrer e pela primeira vez surgem sinais de atividade nestes intrigantes objetos.

Jason Howard
No início da trama temos uma eletrizante sequência de ação em uma favela carioca ao redor de uma das estruturas, em que traficantes de drogas são perseguidos por uma polícia de pacificação altamente tecnológica, que utiliza drones em suas ações. As outras subtramas se passam em uma Nova York invadida pelas águas após a chegada das árvores; uma área cultural especial criada ao redor de uma árvore, chamada de Cidade de Shu, na China; uma Itália dominada por gangues fascistas, onde vive um misterioso professor aposentado; um incidente internacional envolvendo tropas militares russas nas árvores da Somália; e um grupo de cientistas em uma estação de pesquisas no ártico que parecem estar descobrindo o segredo por trás da recente atividade das árvores ao redor do mundo.

A trama criada por Warren Ellis é instigante e os desenhos de Jason Howard estão fabulosos. Há muitos mistérios na série que prendem completamente nossa atenção, com muitas conspirações e segredos guardados por alguns personagens, mas o principal deles ainda parece longe de uma resposta: afinal, o que são estas malditas árvores e qual é a intenção dos seus criadores? Espero que acabem os atrasos na série e que possamos saber algumas destas respostas em breve. Infelizmente ainda não há previsão de publicação no Brasil, e os interessados em ler a série terão que adquirir a versão digital na Comixology ou loja Kindle da Amazon; ou comprar os encadernados, que podem ser encontrados à venda no site da Amazon.com.br.





quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Ancillary Justice, de Ann Leckie

Ancillary Justice (Orbit, 2013) é um livro de ficção científica escrito pela americana Ann Leckie. É a estreia da autora, que ganhou os principais prêmios de ficção científica de 2014, entre eles o Hugo Award, Nebula Award, BSFA Award, Arthur C. Clarke Award e Locus Award, além de ter sido nomeado para diversas outras premiações.

A história se passa milhares de anos no futuro no espaço Radch, um império em permanente estado de guerra se expandindo por vários sistemas estelares da galáxia, anexando planetas e espalhando sua civilização e religião, apesar de assimilar alguns aspectos da cultura dominada – principalmente religiosos. Este império galáctico lembra muito o Império Romano, herdeiro dos gregos e que também assimilou aspectos culturais de outras civilizações em sua expansão. Já a religião lembra o cristianismo, que no início também assimilou várias características e rituais pagãos, o que facilitava a conversão entre os povos conquistados. Os Radchaai se veem como mais avançados e civilizados, e a assimilação de outras civilizações é violenta cruel, incluindo a transformação de milhares de prisioneiros em ancillaries. Neste processo a consciência é apagada, e através de implantes cibernéticos estes indivíduos passam a ser meros receptáculos das inteligências artificiais que comandam as naves de guerra e estações.

Naves do Império Radch
Acompanhamos então a história de Breq, a inteligência artificial de uma imensa nave estelar de guerra que agora habita apenas uma ancillary humana. Ela foi a única sobrevivente da destruição desta nave em uma conspiração, e se encontra sozinha e abandonada em um planeta gelado. Breq busca vingança contra o Lorde de Radch Anaander Mianaai, o imperador que de alguma forma foi o responsável pela destruição de sua nave. Em capítulos alternados, acompanhamos flashbacks que mostram Breq quando era a nave de guerra Justice of Toren e controlava milhares de ancillaries durante a conquista de um planeta oceânico. Durante o desenrolar das duas linhas narrativas alternando passado e presente, Breq descobre as raízes de uma conspiração que pode ameaçar o futuro do próprio Império Radch.

Ann Leckie
Nos capítulos em flashback a autora encontra uma forma inovadora de contar a história, através do ponto de vista em primeira pessoa da nave Justice of Toren, que se confunde com um ponto de vista em terceira pessoa, já que a consciência dela está espalhada por várias ancillaries, e desta forma, acompanhamos simultaneamente vários personagens em locais diferentes. Outro aspecto singular do romance é o fato de não haver definição de gênero – Breq se refere a todos como she (ela) – e temos muita dificuldade em definir o sexo dos personagens, mas que acaba se provando irrelevante para a história.

O livro Ancillary Justice faz parte da trilogia Imperial Radch e é seguido por Ancillary Sword (2014) e Ancillary Mercy (2015). Já há um projeto de transformar a história em uma série de televisão pela produtora Fabrik, que produz a série The Killing, para o canal Fox Television Studios. A editora Aleph prometeu o lançamento da versão em português para o segundo semestre de 2016.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

El Engaño Populista, de Axel Kaiser e Gloria Álvarez

É sabido que o inferno é o lar das boas intenções, mas a realidade é que este lugar quente e miserável – como nossa América Latina – está repleto mesmo daqueles que posam de abnegados e vociferam boas intenções em público, mas praticam atos demoníacos nas sombras do privado – nosso querido continente novamente. É a onipresente hipocrisia, que transportada para a política podemos chamar de populismo. El Engaño Populista: por qué se arruinan nuestros países y cómo rescatarlos (Deuso, Espanha, 2016), de Axel Kaiser e Gloria Álvarez, é um livro sobre o fenômeno do populismo, esta forma de governar que assola a América Latina há décadas, tem raízes profundas em nossa cultura e é o maior responsável pelo atraso dos países da nossa região. É o livro de estreia da cientista política guatemalteca Gloria Álvarez, crítica ferrenha do populismo em nosso continente, que ficou famosa após seu discurso no Parlamento Iberoamericano da Juventude, em Zaragoza, se tornar viral no YouTube com milhões de visualizações. Ela divide a autoria com o chileno Axel Kaiser, escritor liberal membro da Fundación para el Progreso, uma think tank do Chile que dissemina ideias liberais neste país.

Gloria Álvarez
O populismo é a forma de governar típica dos caudilhos carismáticos, que utilizando sempre o discurso de agir em nome e benefício do povo, em especial dos mais pobres, usam e abusam de todos os meios disponíveis – institucionais e autoritários – para se manterem no poder e beneficiarem a si próprios e seus aliados. Para isso, dividem a sociedade entre “povo” – do qual alegam fazer parte e serem os únicos e legítimos representantes – e “anti-povo” – todos aqueles que discordam de suas ideias, não pertencem ao partido ou grupo e são concorrentes ou opositores –, ou seja, em nós contra eles. Valendo-se de um suposto monopólio das virtudes e das boas intenções construído no imaginário popular, subvertem as instituições do Estado, seja de forma democrática ou autoritária, a fim de se perpetuarem no poder através do controle dos poderes Judiciário e Legislativo, ataques à imprensa livre, fraudes nas eleições, intimidações e calúnias a opositores, muita corrupção, entre outros subterfúgios. Já bem estabelecidos no poder, impõem políticas que violam as liberdades econômicas e individuais e invariavelmente acabam levando ao colapso econômico e social, aumentando ainda mais a miséria e o atraso em seus países. No momento em que isto acontece, usam do carisma, dos intelectuais e artistas cúmplices, e do controle dos meios de comunicação para pôr a culpa no anti-povo, o inimigo interno ou externo de sempre, que pode ser alguma potência estrangeira, a CIA, as elites, a oposição ou qualquer outro espantalho criado pelo regime, cuja ação conspiratória explicará o fracasso das medidas do governo. Isto justifica um aumento ainda maior das intervenções do Estado na economia e a supressão das liberdades individuais dos cidadãos, de forma cada vez mais autoritária. O exemplo mais dramático é o da Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, cujo regime levou o país ao caos econômico, e onde imperam as perseguições políticas, a repressão à mídia livre e os ataques à liberdade de expressão, cujo resultado foi a corrupção institucionalizada e o aumento da violência e da pobreza.

Axel Kaiser
Os novos governantes populistas da América Latina são herdeiros intelectuais do famigerado Foro de São Paulo, seminário criado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil em 1990 e que ainda se reúne a cada dois anos até hoje, e é frequentado por partidos e organizações de esquerda do continente – incluindo grupos guerrilheiros como as FARC. Nestas reuniões são traçadas as estratégias para a chegada e a manutenção no poder destes grupos em seus respectivos países, as diretrizes ideológicas e a colaboração entre as nações ideologicamente alinhadas ao socialismo/comunismo. A criação do Foro foi uma consequência direta da queda do Muro de Berlin e da derrocada do comunismo nos países que compunham a antiga União Soviética. A intenção do seminário foi o estabelecimento do novo norte ideológico para os partidos comunistas/socialistas da América Latina em Cuba, após a perda da referência que era a URSS. Entre os países governados por populistas alinhados ao Foro de São Paulo, podemos destacar, além da Venezuela, a Argentina dos Kirchner, o Equador de Rafael Correa, a Bolívia de Evo Morales, o Chile de Michelle Bachelet e o Brasil de Lula e Dilma Roussef, para ficar apenas naqueles onde esta ideologia está mais bem estabelecida. Muito além de se estabelecerem no poder, estes governantes lograram êxito em estabelecer uma hegemonia cultural do populismo de esquerda, que permeia toda a sociedade e está incrustada na política, na arte, nas escolas, universidades e meios de comunicação.

Como único meio eficaz de combater o populismo, os autores alertam para a necessidade urgente da disseminação das ideias liberais através das redes sociais, fundações, vídeos, publicação de livros e quaisquer outros meios de divulgação, como forma de conscientizar a população e desta forma quebrar a hegemonia desta ideologia em nosso continente. É necessário espalhar os ideais libertários que levaram à prosperidade tantos países do mundo, além de denunciar as ideias socialistas e a utopia do comunismo, que tanta morte, fome, pobreza e escravidão trouxeram a todos que tentaram adotá-la.  Derrotar o populismo não é eleger os líderes políticos certos que vão liderar nossos países rumo à prosperidade: políticos apenas seguem a ideologia da moda, e atualmente ela é o populismo de esquerda. Portanto, é necessário lutar contra a doutrinação ideológica que a esquerda populista vem realizando há décadas através da infiltração silenciosa no meio artístico, nos meios de comunicação e no ensino em nossas escolas e universidades. Somente vencendo esta batalha ideológica o populismo poderá ser definitivamente derrotado e poderemos ter verdadeiras repúblicas em nosso continente: prósperas, sem miséria e verdadeiramente democráticas e livres.

O livro (em espanhol) está na pré-venda na Amazon.com.br e já pode ser baixado na versão Kindle por R$ 36,08. Ele também pode ser encomendado no site da Amazon.com.es. Ainda não há notícia de nenhuma editora anunciando a sua publicação no Brasil.


Discurso da autora Gloria Álvarez sobre o populismo no Parlamento Iberoamericano da Juventude:



sábado, 21 de maio de 2016

How We’ll Live On Mars, de Stephen L. Petranek

How We’ll Live On Mars é um interessante livro sobre a possibilidade de uma missão tripulada ao planeta Marte ainda na próxima década. O autor Stephen L. Petranek é um recordista de visualizações do TED talks, e neste trabalho do selo A TED Original, apresenta algumas possibilidades para a realização de tal projeto, dando ênfase à exploração privada do espaço.

As dificuldades para se levar seres humanos para o planeta vermelho são muitas. Começando pela viagem de aproximadamente 8 meses de ida pelo espaço profundo, sem a proteção da magnetosfera terrestre contra o vento solar, recebendo por este tempo prolongado todo o poder destrutivo dos raios cósmicos, além dos efeitos da falta de gravidade, e tendo que contar somente com os suprimentos de ar, comida e água da nave. O total da viagem contando o tempo de permanência no planeta e a viagem de volta, ultrapassaria 2 anos. Tal projeto, além de arriscado, custaria dezenas de bilhões de dólares, e nestes tempos de crise econômica mundial, poucos países parecem dispostos a bancar tal empreitada. É aí que entra a iniciativa privada.

Stephen L. Petranek
Novos empreendedores da indústria astronáutica, em especial o sul africano naturalizado americano Elon Musk, parecem dispostos a tal. Musk e sua empresa Space X já fornecem transporte de suprimentos à Estação Espacial Internacional com sua nave Dragon e seu foguete Falcon, em um contrato bilionário com a NASA. Até o final da década a nave Falcon também fará o transporte de astronautas, tornando os EUA novamente independentes no setor, já que desde a aposentadoria dos ônibus espaciais, dependem das naves Soyuz russas. Ele também está desenvolvendo o Falcon Heavy, que será o maior foguete em operação no mundo, e que poderia levar ao espaço uma Falcon aprimorada para a viagem ao planeta vermelho. O empresário já declarou que o objetivo final de sua empresa é a exploração e colonização de Marte, e dados os seus fantásticos avanços, poucos duvidam de que irá conseguir.

Elon Musk, da Space X
Mais que um sonho, a exploração de Marte é uma necessidade para a humanidade. É essencial que nos tornemos uma civilização multiplanetária para a sobrevivência da vida da Terra no longo prazo, e nos livrar de vez do risco de extinção por alguma catástrofe na biosfera terrestre. Uma colônia no planeta vermelho poderia se tornar um novo polo de desenvolvimento tecnológico e servir de base avançada da humanidade na exploração dos recursos minerais quase ilimitados do cinturão de asteroides e do Sistema Solar exterior. A busca de vida em Marte e em outros planetas e luas também poderia nos responder à pergunta fundamental se estamos sozinhos no universo.

A NASA, que sempre projetou para 20 ou 30 anos no futuro a realização de tal missão tripulada, pela primeira vez corre o risco de ser ultrapassada; não por outra agência espacial, mas sim, por uma nova geração de visionários da iniciativa privada, livres das limitações orçamentárias, políticas e burocráticas dos governos.

Veja a palestra no TED em que o autor fala sobre o assunto:



Também é possível ver a palestra no website do TED, basta configurar as legendas em português, clicando aqui.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Eu, Lápis, de Leonard Read

Eu, Lápis (I, Pencil), é um famoso ensaio escrito pelo economista Leonard Read, fundador da Foundation for Economic Education (FEE) [Fundação para a Educação Econômica], sobre a complexidade e, por que não dizer, da beleza do livre mercado. É uma fantástica metáfora sobre o funcionamento da economia moderna, explicando para o público leigo como são complexas as interações entre os diversos agentes econômicos e a impossibilidade do planejamento central de uma economia, tudo através da genealogia de um simples lápis.

Nunca paramos para pensar, mas é impossível para um ser humano sozinho fabricar um simples lápis. É atordoante pensar na quantidade de pessoas que trabalharam para fabricar este simples objeto feito de madeira, grafite, borracha e metal: o lenhador que derrubou a árvore, quem fabricou as ferramentas e quem preparou o almoço do lenhador; os mineiros que retiraram o grafite das minas, aqueles que transportaram o grafite para a fábrica, os que fabricaram o caminhão que transportou a carga e os que prepararam o grafite e o moldaram no formato correto; aqueles que extraíram o metal de uma mina, a siderúrgica que preparou a liga metálica; os que extraíram a borracha de uma seringueira, e a prepararam, moldaram, transportaram e a encaixaram em seu lugar; são milhões de pessoas espalhadas por vários países do mundo!

Leonard E. Read
A esmagadora maioria destas milhões pessoas não tem a menor ideia de que uma ínfima, ainda que fundamental parte de seu tempo está sendo usado na fabricação de um mero lápis. Ninguém coordena, nem muito menos comanda esta multidão de pessoas e este gigantesco aparato logístico; somente as forças do mercado, que guiam os interesses individuais de cada envolvido na fabricação deste simples objeto, que compramos por um preço irrisório em uma papelaria.

O escrito de Read ficou famoso ao ser citado pelo economista Milton Friedman no documentário Free to Choose [Livre para Escolher] e é mais atual do que nunca nestes tempos em que os governos interferem cada vez mais na economia sob o pretexto de corrigir as falhas de mercado, com resultados catastróficos no desenvolvimento econômico, nas liberdades individuais e no bem-estar da população.

O artigo pode ser lido na íntegra no website da FEE (em inglês) clicando aqui.

Se preferir, o artigo pode ser lido também na íntegra e traduzido para o português na página do Instituto Ludwig von Mises Brasil clicando aqui.

Este é o vídeo feito pela FEE, dublado em português pelo Instituto Rothbard Brasil:



Este é um trecho do documentário Free to Choose, de Milton Friedman, que tornou famoso o ensaio de Leonard Read:


domingo, 15 de maio de 2016

Guerra do Velho, de John Scalzi

O livro Guerra do Velho (Old Man’s War, 2005), de John Scalzi, é uma das melhores ficções cientificas já publicadas, lançado agora no Brasil pela excelente editora Aleph. A história se passa em um futuro onde a humanidade se espalhou por vários sistemas estelares, e se deparou com várias raças alienígenas no caminho, as vezes cooperando e as vezes guerreando com elas. Mas a Terra permanece mais ou menos como a conhecemos hoje, pois toda tecnologia futurista está nas mãos das Forças de Defesa Colonial, que defende os interesses humanos nas diversas guerras empreendidas em outros planetas no espaço. É aí que vem a ideia central e mais interessante da trama: os soldados recrutados são idosos de 75 anos!

Ao completar a idade de 75 anos, todo cidadão pode escolher se alistar nas Forças de Defesa Colonial e lutar pela humanidade no espaço. Para isso, receberá um novo corpo, jovem e aperfeiçoado, mas deverá servir em um exército e lutar por 2 anos prorrogáveis por mais 8, e nunca mais poderá voltar para a Terra, se tornando um colono em alguma das várias colônias da humanidade no espaço após terminar o seu tempo de serviço – se sobreviver, é claro. O problema é que ninguém na Terra sabe exatamente o acontece lá fora, e as guerras no espaço podem ser bem mais difíceis e sangrentas do que qualquer um pode imaginar, com perigos que ninguém jamais poderá prever.

John Scalzi
Apesar do tema aparentemente lúgubre do livro, sua maior qualidade é o humor. O protagonista John Perry é hilário e tem sempre uma tirada engraçadíssima nas mais variadas situações, seja diante da entediada funcionária do centro de alistamento, no duro treinamento dos futuros soldados – com um instrutor escrotíssimo que lembra aquele do clássico “Nascido para matar”, do Stanley Kubrick –, e até nas batalhas mais bizarras que você já terá visto.

Guerra do Velho é uma história fechada, mas devido ao sucesso estrondoso teve mais seis continuações, e segue em The Ghost Brigades, The Last Colony, Zoe's Tale, The Human Division e The End of All Things; há também duas histórias curtas: The Sagan Diary, e After the Coup. Existe uma série de TV em produção no canal SyFy baseada em The Ghost Brigades, passada no universo do livro, e a Paramount comprou os direitos para uma futura adaptação cinematográfica. Torço para que o livro seja um sucesso de vendas no Brasil e que a editora Aleph possa publicar as continuações em nosso país.

Veja a resenha do livro em um vídeo da equipe da editora Aleph:



Aqui você pode ver uma mensagem do autor John Scalzi para os fãs brasileiros:



Acompanhe também o excelente Canal do YouTube da Editora Aleph, com lançamentos de livros, resenhas, notícias e muita coisa interessante.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Por Que as Nações Fracassam – As origens do poder, da prosperidade e da pobreza, de Daron Acemoglu & James Robinson

Por Que as Nações Fracassam (Elsevier, 2012), do economista turco Daron Acemoglu e do economista e cientista político britânico James Robinson, é um livro fascinante que apresenta uma teoria bem original para tentar explicar o desenvolvimento e o subdesenvolvimento das nações ao redor do mundo. Diferentemente do senso comum brasileiro e seu viés marxista, que tenta explicar a pobreza das nações subdesenvolvidas com base em fatores como o “passado colonial”, “imperialismo”, “luta de classes”, “mais valia”, “divisão internacional do trabalho”, “exploração capitalista”, “cultura”, “clima” e outras baboseiras, os autores identificaram o fator crucial para a prosperidade ou a pobreza de uma nação: o conjunto de suas instituições políticas e econômicas, que podem ser inclusivas ou extrativistas. Esta diferença é fundamental para se entender o sucesso ou fracasso de uma nação, como é mostrado em vários exemplos mundo afora no decorrer da leitura do livro.

Instituições políticas inclusivas são aquelas que permitem a participação de amplos segmentos da sociedade nas decisões de governo, e a pluralidade impede a hegemonia dos interesses de uma elite. As instituições econômicas inclusivas são aquelas que criam um ambiente favorável à criação de riqueza, com o respeito à propriedade privada, carga tributária simples e justa que não inviabilize a atividade econômica, livre concorrência e outros incentivos à inovação e ao livre empreendimento. Por outro lado, as instituições políticas extrativistas são aquelas que impedem a participação política de amplos segmentos da sociedade e as decisões de governo são exclusivas de um ditador e seus seguidores ou de uma elite entranhada no poder, sem o pluralismo que traz limites ao poder estabelecido e impede seus abusos. As instituições econômicas extrativistas são aquelas controladas por uma elite econômica que através de monopólios e protecionismo, impedem a livre concorrência, impossibilitando o livre empreendimento e a inovação advinda da destruição criativa, além de criarem restrições à propriedade privada.

James Robinson & Daron Acemoglu
Ao contrario do que diz o senso comum, fatores como a geografia, passado colonial e a cultura são importantes, mas não decisivos no sucesso ou fracasso de um país: o fator decisivo é sempre o conjunto de instituições adotadas, que dependem da contingência histórica de cada nação. Um exemplo marcante é o das Coréias: países com geografia, passado colonial e cultura em comum, mas que divididos pela contingência histórica da Guerra Fria, tiveram desenvolvimento político e econômico muito diferente. Enquanto a Coréia do Sul acabou adotando um regime democrático e economia capitalista de livre mercado, tornando-se desenvolvida e rica, a Coréia do Norte foi dominada por uma ditadura socialista que implantou uma economia planificada e condenou sua população à miséria e ao terror.

Interessantes também são os capítulos sobre os círculos virtuosos e viciosos. Países com instituições inclusivas tendem a reforçar estas instituições, pois nestes há pesos e contrapesos que impedem a hegemonia de um segmento da sociedade e o abuso do poder. Já nos países onde há instituições extrativistas, estas infelizmente tendem a reforçar seu domínio e a exploração. É a chamada Lei de Ferro da Oligarquia, em que mesmo a derrubada de uma elite do poder não necessariamente leva à prosperidade e a criação de instituições políticas e econômicas inclusivas: uma nova elite pode se aproveitar das instituições extrativistas existentes e ampliar a exploração, como ocorreu na maioria dos países africanos, em que após a independência, regimes brutais causaram ainda mais miséria e exploração que as antigas metrópoles.


Mas segundo os autores, apesar de difícil, não é impossível para um país derrubar suas instituições extrativistas: a contingência histórica sempre pode proporcionar as oportunidades para que instituições inclusivas tenham a sua vez. Países com instituições econômicas extrativistas podem até ter um surto de crescimento econômico, como no caso da Alemanha Nazista e da União Soviética no passado e da China atualmente, mas este não se dá de forma sustentável e mais cedo ou mais tarde terá um fim. No caso chinês, cujo vertiginoso crescimento econômico das últimas décadas se deu após a adoção de instituições econômicas inclusivas na década de 70, o crescimento no futuro dependerá da derrubada de suas instituições políticas extrativistas para continuar se desenvolvendo de forma sustentável. Esta é a grande lição deste livro fantástico, que nos deixa a esperança de um futuro melhor para a humanidade e para os bilhões de pessoas que ainda sofrem com a tirania e o subdesenvolvimento causados pelas instituições extrativistas.