É
sabido que o inferno é o lar das boas intenções, mas a realidade é que este
lugar quente e miserável – como nossa América Latina – está repleto mesmo daqueles
que posam de abnegados e vociferam boas intenções em público, mas praticam atos
demoníacos nas sombras do privado – nosso querido continente novamente. É a
onipresente hipocrisia, que transportada para a política podemos chamar de
populismo. El Engaño Populista: por qué
se arruinan nuestros países y cómo rescatarlos (Deuso, Espanha, 2016), de
Axel Kaiser e Gloria Álvarez, é um livro sobre o fenômeno do populismo, esta
forma de governar que assola a América Latina há décadas, tem raízes profundas
em nossa cultura e é o maior responsável pelo atraso dos países da nossa região.
É o livro de estreia da cientista política guatemalteca Gloria Álvarez, crítica
ferrenha do populismo em nosso continente, que ficou famosa após seu discurso
no Parlamento Iberoamericano da Juventude, em Zaragoza, se tornar viral no
YouTube com milhões de visualizações. Ela divide a autoria com o chileno Axel
Kaiser, escritor liberal membro da Fundación
para el Progreso, uma think tank
do Chile que dissemina ideias liberais neste país.
Gloria Álvarez |
O
populismo é a forma de governar típica dos caudilhos carismáticos, que utilizando
sempre o discurso de agir em nome e benefício do povo, em especial dos mais
pobres, usam e abusam de todos os meios disponíveis – institucionais e
autoritários – para se manterem no poder e beneficiarem a si próprios e seus aliados.
Para isso, dividem a sociedade entre “povo” – do qual alegam fazer parte e
serem os únicos e legítimos representantes – e “anti-povo” – todos aqueles que
discordam de suas ideias, não pertencem ao partido ou grupo e são concorrentes
ou opositores –, ou seja, em nós contra eles. Valendo-se de um suposto
monopólio das virtudes e das boas intenções construído no imaginário popular,
subvertem as instituições do Estado, seja de forma democrática ou autoritária, a
fim de se perpetuarem no poder através do controle dos poderes Judiciário e
Legislativo, ataques à imprensa livre, fraudes nas eleições, intimidações e
calúnias a opositores, muita corrupção, entre outros subterfúgios. Já bem
estabelecidos no poder, impõem políticas que violam as liberdades econômicas e individuais
e invariavelmente acabam levando ao colapso econômico e social, aumentando
ainda mais a miséria e o atraso em seus países. No momento em que isto
acontece, usam do carisma, dos intelectuais e artistas cúmplices, e do controle
dos meios de comunicação para pôr a culpa no anti-povo, o inimigo interno ou
externo de sempre, que pode ser alguma potência estrangeira, a CIA, as elites,
a oposição ou qualquer outro espantalho criado pelo regime, cuja ação
conspiratória explicará o fracasso das medidas do governo. Isto justifica um
aumento ainda maior das intervenções do Estado na economia e a supressão das
liberdades individuais dos cidadãos, de forma cada vez mais autoritária. O exemplo
mais dramático é o da Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, cujo regime levou
o país ao caos econômico, e onde imperam as perseguições políticas, a repressão
à mídia livre e os ataques à liberdade de expressão, cujo resultado foi a
corrupção institucionalizada e o aumento da violência e da pobreza.
Axel Kaiser |
Os
novos governantes populistas da América Latina são herdeiros intelectuais do
famigerado Foro de São Paulo, seminário criado pelo Partido dos Trabalhadores
(PT) no Brasil em 1990 e que ainda se reúne a cada dois anos até hoje, e é frequentado
por partidos e organizações de esquerda do continente – incluindo grupos
guerrilheiros como as FARC. Nestas reuniões são traçadas as estratégias para a
chegada e a manutenção no poder destes grupos em seus respectivos países, as diretrizes
ideológicas e a colaboração entre as nações ideologicamente alinhadas ao
socialismo/comunismo. A criação do Foro foi uma consequência direta da queda do
Muro de Berlin e da derrocada do comunismo nos países que compunham a antiga
União Soviética. A intenção do seminário foi o estabelecimento do novo norte ideológico
para os partidos comunistas/socialistas da América Latina em Cuba, após a perda
da referência que era a URSS. Entre os países governados por populistas
alinhados ao Foro de São Paulo, podemos destacar, além da Venezuela, a
Argentina dos Kirchner, o Equador de Rafael Correa, a Bolívia de Evo Morales, o
Chile de Michelle Bachelet e o Brasil de Lula e Dilma Roussef, para ficar apenas
naqueles onde esta ideologia está mais bem estabelecida. Muito além de se
estabelecerem no poder, estes governantes lograram êxito em estabelecer uma
hegemonia cultural do populismo de esquerda, que permeia toda a sociedade e
está incrustada na política, na arte, nas escolas, universidades e meios de
comunicação.
Como
único meio eficaz de combater o populismo, os autores alertam para a
necessidade urgente da disseminação das ideias liberais através das redes
sociais, fundações, vídeos, publicação de livros e quaisquer outros meios de
divulgação, como forma de conscientizar a população e desta forma quebrar a
hegemonia desta ideologia em nosso continente. É necessário espalhar os ideais
libertários que levaram à prosperidade tantos países do mundo, além de
denunciar as ideias socialistas e a utopia do comunismo, que tanta morte, fome,
pobreza e escravidão trouxeram a todos que tentaram adotá-la. Derrotar o populismo não é eleger os líderes políticos
certos que vão liderar nossos países rumo à prosperidade: políticos apenas seguem
a ideologia da moda, e atualmente ela é o populismo de esquerda. Portanto, é
necessário lutar contra a doutrinação ideológica que a esquerda populista vem
realizando há décadas através da infiltração silenciosa no meio artístico, nos
meios de comunicação e no ensino em nossas escolas e universidades. Somente
vencendo esta batalha ideológica o populismo poderá ser definitivamente
derrotado e poderemos ter verdadeiras repúblicas em nosso continente: prósperas,
sem miséria e verdadeiramente democráticas e livres.
O
livro (em espanhol) está na pré-venda na Amazon.com.br e já pode ser baixado na
versão Kindle por R$ 36,08. Ele também pode ser encomendado no site da
Amazon.com.es. Ainda não há notícia de nenhuma editora anunciando a sua
publicação no Brasil.
Discurso
da autora Gloria Álvarez sobre o populismo no Parlamento Iberoamericano da
Juventude: