segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Imobilismo em Movimento

Imobilismo em movimento (Companhia das Letras, 2013), de Marcos Nobre, professor de filosofia do IFCH-Unicamp e pesquisador do Cebrap, é um livro que faz uma análise sobre a política e a economia do Brasil do período que vai da redemocratização até os dias de hoje, com foco no PMDB e seu papel como força conservadora que até hoje estaria freando o desenvolvimento pleno do país. Segundo o autor, a influência exercida pelo PMDB cria um modo de fazer política no Brasil que ele chama de “pemedebismo” que é a busca a qualquer custo dos governantes por alianças amplas que possibilitariam a “governabilidade”.

O primeiro capítulo, Do declínio do nacional-desenvolvimentismo à estabilização: 1979-94, é uma análise, com foco na economia, dos primeiros anos da redemocratização. Acompanhamos a criação dos principais partidos políticos atuais, a criação da Constituição de 1988, a luta contra a inflação e a conjuntura nacional e internacional que possibilitaram a criação do Plano Real e a estabilização econômica do Brasil.

O segundo capítulo, A desigualdade no centro da disputa: o sistema político polarizado dos anos FHC, fala sobre os bastidores do Plano Real, a ascensão de Fernando Henrique Cardoso ao poder e seus dois mandatos como presidente. Acompanhamos o tumultuado início do Real, as reformas, as privatizações e os choques provocados por sucessivas crises econômicas internacionais no final do segundo mandato. No plano político, o apoio do PMDB a FHC e a polarização da política nacional entre o PSDB do presidente e o PT, que realizou uma ferrenha oposição ao governo no período. Foi o período de luta pela consolidação da estabilização econômica proporcionada pelo Real e pela redução das desigualdades sociais, esta finalmente recebendo destaque, ainda que tímido, na política nacional.

No terceiro capítulo, O social-desenvolvimentismo e o fim da polarização: de Lula a Dilma, acompanhamos a chegada de Lula ao poder, seus dois mandatos e os primeiros anos de governo de Dilma Rousseff. Com o Real consolidado, o Brasil passa a focar no combate à pobreza, em um período que o país conseguiu grande crescimento econômico com redução das desigualdades sociais, mesmo após a crise internacional de 2008. No plano político vamos da tentativa inicial de governar sem uma aliança ampla com o PMDB até o escândalo do mensalão. Forte golpe na imagem do PT, o escândalo do mensalão foi determinante para a entrada do PMDB no governo e apesar de ter impedido um provável processo de impeachment do presidente Lula e ter possibilitado sua reeleição e a sucessão por Dilma Rousseff, deixou cicatrizes profundas na política nacional.

O último capítulo, Considerações finais, perspectivas: as revoltas de Junho e tendências do novo modelo de sociedade, temos especulações sobre as perspectivas do futuro e uma tentativa de explicar as manifestações por todo o Brasil a partir de junho de 2013. Segundo o autor estas manifestações são um reflexo do descontentamento da população com o ritmo lento das mudanças no país e com a forma de fazer política personificada no pemedebismo, ou seja, a busca por apoio amplo e o leilão de cargos no governo como forma de garantir este apoio.

No final temos o anexo “Pemedebismo” e “lulismo”: um debate com André Singer, sobre as divergências do autor com a análise política de André Singer, professor do departamento de ciência política da USP, no livro Os sentidos do lulismo: reforma gradual e pacto conservador (Companhia das Letras, 2012). Apesar do título do anexo, nada tem de debate já que apenas apresenta suas críticas à referida obra, sem participação do outro autor no texto, mas deixa um link do youtube para quem quiser assistir em vídeo a um debate entre os dois realizado em outra ocasião.


O livro é uma boa análise da história política e econômica recente do Brasil, mas parece defender uma tese que particularmente não concordo, que é a de que a busca por apoio e consenso é uma coisa ruim para a democracia. Acho que na realidade esta é a essência da democracia e em nossa sociedade tão apática politicamente, sem uma opinião pública influente, não há outra opção para governar. É muita ingenuidade pensar que seria possível governar sem alianças. Todos concordam que o Brasil tem muitos problemas e que suas soluções dependem de reformas drásticas em determinadas áreas, então, como seria possível estas mudanças em um Governo que esteja em guerra com o Congresso? Como um Governo aprovaria o orçamento e as leis necessárias para a implementação de seus projetos? Todo presidente é um refém do Congresso e mesmo com a força do início do mandato e apoio da opinião pública, ainda assim ele depende de resultados para governar e boas intenções sozinhas não são o suficiente. Você pode cruzar os braços e se negar a manter o diálogo em nome da integridade ideológica, então verá seu governo engessado, afundando em resultados ruins e ficará reclamando da falta de apoio, de como a política nacional é podre, como a mídia é manipuladora e como o povo é ingrato. Estará atolado até o pescoço em crises e no primeiro escândalo envolvendo algum membro de seu governo (e eles sempre ocorrerão, já que não se pode garantir a integridade dos milhares de pessoas nos cargos que são de sua responsabilidade direta ou indireta), se verá em um processo de impeachment, será execrado pela opinião pública e tachado de incompetente.


Quando se tem um país para administrar e tocar para a frente, não tem jeito. Você terá que trabalhar com o que tem à mão, e não existe um Congresso composto somente de Senadores e Deputados íntegros e favoráveis ao seu Governo pelo bem da nação, nem um quadro de milhões de servidores públicos honestos, motivados e interessados em colaborar com suas ideias e pôr em prática seus projetos apenas porque estes são muito bons e mudarão o Brasil para melhor. Os interesses pessoais, a incompetência e a corrupção são uma realidade e não adianta ficar parado reclamando e clamando por mudanças pois estas levam gerações e cabe a quem estiver no poder hoje aparar as arestas e canalizar tudo isto de forma que as boas ideias se tornem realidade. Talvez não da forma ideal ou mais eficiente, mas da forma possível de acordo com as regras do jogo, dialogando e buscando o apoio aos seus projetos, cedendo às vezes quando dentro de limites éticos, mas sempre em busca da justiça, da melhoria na qualidade de vida da população e da diminuição das desigualdades. Caso estes bens sejam alcançados, o esforço foi válido.

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