Por Que as Nações Fracassam (Elsevier, 2012), do economista turco
Daron Acemoglu e do economista e cientista político britânico James Robinson, é
um livro fascinante que apresenta uma teoria bem original para tentar explicar
o desenvolvimento e o subdesenvolvimento das nações ao redor do mundo.
Diferentemente do senso comum brasileiro e seu viés marxista, que tenta
explicar a pobreza das nações subdesenvolvidas com base em fatores como o
“passado colonial”, “imperialismo”, “luta de classes”, “mais valia”, “divisão
internacional do trabalho”, “exploração capitalista”, “cultura”, “clima” e
outras baboseiras, os autores identificaram o fator crucial para a prosperidade
ou a pobreza de uma nação: o conjunto de suas instituições políticas e
econômicas, que podem ser inclusivas ou extrativistas. Esta diferença é
fundamental para se entender o sucesso ou fracasso de uma nação, como é
mostrado em vários exemplos mundo afora no decorrer da leitura do livro.
Instituições políticas inclusivas
são aquelas que permitem a participação de amplos segmentos da sociedade nas
decisões de governo, e a pluralidade impede a hegemonia dos interesses de
uma elite. As instituições econômicas inclusivas são aquelas que criam um
ambiente favorável à criação de riqueza, com o respeito à propriedade privada,
carga tributária simples e justa que não inviabilize a atividade econômica,
livre concorrência e outros incentivos à inovação e ao livre empreendimento.
Por outro lado, as instituições políticas extrativistas são aquelas que impedem
a participação política de amplos segmentos da sociedade e as decisões de
governo são exclusivas de um ditador e seus seguidores ou de uma elite entranhada
no poder, sem o pluralismo que traz limites ao poder estabelecido e impede seus
abusos. As instituições econômicas extrativistas são aquelas controladas por uma
elite econômica que através de monopólios e protecionismo, impedem a livre
concorrência, impossibilitando o livre empreendimento e a inovação advinda da
destruição criativa, além de criarem restrições à propriedade privada.
James Robinson & Daron Acemoglu |
Ao contrario do que diz o senso
comum, fatores como a geografia, passado colonial e a cultura são importantes,
mas não decisivos no sucesso ou fracasso de um país: o fator decisivo é sempre
o conjunto de instituições adotadas, que dependem da contingência histórica de
cada nação. Um exemplo marcante é o das Coréias: países com geografia, passado
colonial e cultura em comum, mas que divididos pela contingência histórica da
Guerra Fria, tiveram desenvolvimento político e econômico muito diferente. Enquanto
a Coréia do Sul acabou adotando um regime democrático e economia capitalista de
livre mercado, tornando-se desenvolvida e rica, a Coréia do Norte foi dominada
por uma ditadura socialista que implantou uma economia planificada e condenou
sua população à miséria e ao terror.
Interessantes também são os
capítulos sobre os círculos virtuosos e viciosos. Países com instituições
inclusivas tendem a reforçar estas instituições, pois nestes há pesos e
contrapesos que impedem a hegemonia de um segmento da sociedade e o abuso do
poder. Já nos países onde há instituições extrativistas, estas infelizmente
tendem a reforçar seu domínio e a exploração. É a chamada Lei de Ferro da Oligarquia,
em que mesmo a derrubada de uma elite do poder não necessariamente leva à
prosperidade e a criação de instituições políticas e econômicas inclusivas: uma
nova elite pode se aproveitar das instituições extrativistas existentes e
ampliar a exploração, como ocorreu na maioria dos países africanos, em que após
a independência, regimes brutais causaram ainda mais miséria e exploração que
as antigas metrópoles.
Mas segundo os autores, apesar de
difícil, não é impossível para um país derrubar suas instituições
extrativistas: a contingência histórica sempre pode proporcionar as
oportunidades para que instituições inclusivas tenham a sua vez. Países com
instituições econômicas extrativistas podem até ter um surto de crescimento
econômico, como no caso da Alemanha Nazista e da União Soviética no passado e da
China atualmente, mas este não se dá de forma sustentável e mais cedo ou mais
tarde terá um fim. No caso chinês, cujo vertiginoso crescimento econômico das
últimas décadas se deu após a adoção de instituições econômicas inclusivas na
década de 70, o crescimento no futuro dependerá da derrubada de suas
instituições políticas extrativistas para continuar se desenvolvendo de forma
sustentável. Esta é a grande lição deste livro fantástico, que nos deixa a
esperança de um futuro melhor para a humanidade e para os bilhões de pessoas que
ainda sofrem com a tirania e o subdesenvolvimento causados pelas instituições
extrativistas.
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